Translate

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Cartas em cima da mesa, faz favor

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Expresso Diário, 21/04/2020)

A reunião desta quinta-feira do Conselho Europeu é talvez a mais importante da história da União Europeia e é realizada nas piores condições. O Conselho vai acrescentar ao nada do Eurogrupo alguma coisa que pareça caridade, isso é certo. O custo político de não fingir é imenso.


À medida que a campanha pela abolição da homenagem ao 25 de Abril se vai reduzindo ao seu esqueleto, que é a disputa entre o CDS e o Chega pelo protagonismo na extrema-direita, o nevoeiro dissipa-se e podemos voltar a discutir o essencial. Não é pouca coisa, é a reunião do Conselho Europeu desta 5ª feira. É talvez a reunião mais importante da história da União Europeia e é realizada nas piores condições, a que já aqui me referi, sem um esforço meticuloso de negociação e de preparação de propostas convergentes.

Em todo o caso, a afobação é fácil de perceber. Não foi há tantos dias que nos embalaram com a doce notícia de um Eurogrupo esforçado, que se aplaudiu a si próprio e que oferecia rios de mel e euros para aliviar as chagas europeias. Poucas horas passadas, já todos os governos tinham avisado que não tocariam nesse tóxico Mecanismo de Estabilidade, pelo estigma que imporia aos pedintes. O plano do Eurogrupo ficou de imediato reduzido à insignificância de um catálogo de empréstimos, aliás geridos por outras entidades. Exit Eurogrupo. Sobra o Conselho, o mesmo organismo que não conseguiu chegar a nenhuma conclusão no seu último encontro.

Um dos indicadores da dificuldade negocial está no facto de vários dos protagonistas atuarem virados para as suas disputas políticas nacionais. O famigerado ministro das Finanças holandês, Hoekstra, prepara-se para disputar a liderança do seu partido democrata cristão e para ser concorrente do atual primeiro-ministro, Mark Rutte, nas próximas legislativas. Acumula trunfos ao recusar acordos com Espanha e Itália, ser “repugnante” dá votos, Rutte não lhe pode ceder terreno. A Holanda é um campo de minas e o seu Parlamento já estabeleceu que não há dinheiro para os países devastados pela pandemia.

Merkel, que tem uma aliança enfraquecida e que conta os dias para a sua retirada, manteve o dogma alemão contra a cooperação europeia, apesar de sempre incensada pelos governantes a quem recusa estender a mão.

Conte, à frente de uma coligação dividida sobre assuntos europeus e perante sondagens que confirmam a vantagem de Salvini, procura salvar o seu ministério.

Pedro Sánchez está em minoria no Parlamento e perante a pressão de uma direita ainda suspensa da guerra civil da década de 1930. Se todos estes governantes atuarem em antecipação das aberturas dos telejornais nacionais do dia seguinte, é mais fácil que cuidem da dissimulação do que da recuperação das economias. Não é tarefa impossível, há uma galeria de comentadores e analistas ansiosos por apresentarem o que quer que resulte da reunião como o quinto milagre de Fátima. Vão fazer uma parada na 6ª feira, aconteça o que acontecer. No entanto, há algo que ninguém conseguirá evitar. É a realidade.

O Conselho vai acrescentar ao nada do Eurogrupo alguma coisa que pareça caridade, isso é certo. O custo político de não fingir é imenso, alguns pensam que maior do que o custo de falhar, pois um é pago agora e outro só no futuro, sabe-se lá por quem. Assim, até o governo holandês propõe um fundinho de 20 mil milhões, o que daria a Portugal 0,2% do PIB. Macron propõe 400 mil milhões, o que daria para Portugal metade do défice que é previsto para este ano, nas análises mais otimistas. Não está esclarecido como isso seria financiado e a questão não é de somenos: qualquer coisa que seja um empréstimo terá um custo político e social grave. Estes muitos zeros, para lembrar as palavras de Centeno numa entrevista desta terça-feira, são muitos perigos. A Moody's e a Fitch, velhos piratas que sabemos ao que vêm, já anunciaram reduzir o rating da dívida e da banca portuguesa.

A Comissão, com pouco poder, percebeu que está num beco e tentou lançar ideias mais ousadas nos últimos dias: Von der Leyen refere-se a um grande fundo e Gentiloni, o comissário da Economia, avançou, não se sabe se em termos pessoais ou como prospetor da Comissão, a verba de um bilião a ser suportada pelo orçamento comunitário, o que se aproxima da proposta italiana. Isso implicaria que Alemanha, Holanda, Áustria e Finlândia aceitassem uma expansão razoável do orçamento e por muito tempo. É improvável que aceitem.

Sánchez avança uma proposta mais ousada: emissão de títulos perpétuos no valor de 1,5 biliões, a ser suportada pelos orçamentos futuros mas em valores anuais contidos, com transferências diretas e sem retorno para os países mais atingidos pela pandemia. É a proposta que Portugal devia apoiar. Mas, para ela se impor, terá que ser intransigente e vetar soluções alternativas prejudiciais. Se for trocada por empréstimos, a União vira as costas aos países do sul, mesmo que subam à mesa para dançar o fandango ou o vira no fim da reunião. Em qualquer caso, o primeiro-ministro de Madrid fez bem: mostrou as cartas, disse ao que ia, tornou mais difícil um recuo.

O governo português, que costuma ter aquela matreirice de querer estar bem com todos, esperando que venha o menos mau dos cenários, devia dizer o que quer e o que considera ser a sua fronteira na negociação. Também com isso faria um favor à Europa e à democracia e, assim, saberemos se a solução que resulte (ou que não resulte) do Conselho cumpre ou não essa regra de solidariedade. Cartas em cima da mesa.

“Read my lips”? Uma resposta a António Costa

Curto

David Dinis

David Dinis

Director-adjunto

23 ABRIL 2020

Partilhar

Facebook
Twitter
Email
Facebook

As palavras foram escolhidas com pinças. Quando teve que falar pela primeira vez em austeridade, no programa de Manuel Luís Goucha, na TVI, António Costa escolheu os verbos a dedo: disse que espera" e quer "evitar" austeridade. A Liliana Valente anotou as expressões logo, num texto aqui no Expresso: “A primeira formulação é a de ‘esperar que a austeridade não entre na vida dos portugueses’. A segunda a de ‘evitar’. ‘Temos de evitar a todo o custo ter austeridade, não ajudaria, só complicaria’, disse.”
Foi assim que nasceu a pergunta que levámos a São Bento, para fazer ao primeiro-ministro. A pergunta a que ele não queria responder. “Na última semana perguntaram-lhe sobre se admite que venha a ser necessário aplicar medidas de austeridade. Escolheu sempre as palavras “espero que não”, “evitar”…
O primeiro-ministro interrompeu a pergunta a meio, para vincar o que sabemos: que não quer austeridade (algum chefe de Governo alguma vez quis?). Mas à nossa insistência abriu os verbos, respondendo com uma pergunta que era, na verdade, uma resposta: “Lembra-se da sua pergunta anterior sobre a incerteza?”
Nós lembrávamo-nos, sim. E como já antevíamos que António Costa não tinha muita vontade de responder (algum chefe de Governo alguma vez quis?), também levávamos uma nova pergunta: “Ia perguntar se não estamos na circunstância do ex-Presidente dos EUA, que respondeu a uma pergunta assim dizendo ‘read my lips’”. E, para nossa surpresa, António Costa respondeu com realismo: “[Risos] Pode ler à vontade o que está nos meus lábios [sorriso]. Mas já ando nisto há muitos anos para não dar hoje uma resposta que amanhã não possa garantir.”
No fim desta resposta acabou a entrevista. Ficou tudo muito claro: o chefe de Governo acha que aplicar medidas ditas de austeridade no fim desta crise (a sanitária e a económica) seria um erro; mas o primeiro-ministro também sabe que o futuro não está inteiramente nas suas mãos.
Foi assim que nasceu o título da edição de sábado. ("Austeridade? 'Não dou uma resposta que amanhã não possa garantir', diz Costa"). Título esse que o mesmo António Costa ontem quis desmentir no plenário do Parlamento. Ficou para a ata registar, de Expresso na mão: “Os títulos não sou que escrevo. A resposta que aqui está [no título que o Expresso fez] responde a outra pergunta”.
Só que não é verdade.
Esqueça o teatro político, isto é muito a sério: se leu com atenção a sequência de perguntas e respostas que acima lhe descrevi e que ontem republicámos com áudio incluído (para a ata registar), perceberá que o “read my lips” não era uma pergunta sobre outra coisa, como António Costa quis fazer parecer. Era uma pergunta sobre se ele, primeiro-ministro, se sente em condições de garantir uma coisa (que não aplicaria austeridade) que depois não tivesse de quebrar a promessa.
Daí o “read my leaps da pergunta”. A nossa referência a George Bush (pai) não era inocente: o ex-Presidente dos EUA prometeu com essas palavras que não aumentaria impostos (“no more taxes”) durante a sua primeira campanha eleitoral, mas a realidade levou-o a quebrar a promessa. Na campanha seguinte todos cobraram a George Bush a promessa que não cumpriu. Bush perdeu a corrida à recandidatura - o único presidente americano em muitas décadas a quem isso aconteceu.
Agora, a promessa é de António Costa. "Austeridade foi uma má ideia e seria uma má ideia. Espero que seja a última vez que tenha de esclarecer”, disse ontem no Parlamento.
Ficou na ata também. Ele, que anda cá há muitos anos (como ele diz), sabe que o tempo lhe pode vir a cobrar a promessa.
Vamos ser claros: é evidente que a questão da austeridade não se colocará agora. Portugal, como todos os países do mundo, ainda está na primeira fase de resposta à pandemia. Depois, virá a tentativa de recuperação da economia - e essa, todos concordam, exigirá despesa e investimento. Muito.
O problema é que, sem a vacina à mão, a recuperação da economia será lenta. E cheia de incertezas. Sejam sobre uma segunda vaga (e o medo que isso criará nos investidores e empresários), seja sobre a capacidade da Europa em responder unida, assumindo em conjunto os custos do que aí vem. O debate sobre as coronabonds é o reverso da discussão sobre a austeridade: todos queremos que venham (mas ninguém pode contar com ela).
O facto é que as dívidas dos países vão disparar (135% este ano em Portugal, diz o FMI), e para países como Portugal isso é uma camisa de forças. Nós, que ainda há poucos anos passámos por isso, sabemos bem o custo.
Não sabemos como vai ser, mas sabemos que um dia chegará o problema. “Também há amanhã”, dizia sabiamente, na entrevista ao Expresso, o mesmo António Costa que agora jura que não haverá austeridade. O mesmo que dizia, também no sábado, que “a despesa de hoje são impostos de amanhã”.
O problema, agora, é este: até sábado, sabíamos que António Costa não queria ter de aplicar qualquer medida de austeridade, mas que estava consciente que a “incerteza" não lhe permitia fazer promessas. Agora já não sabemos outra vez.
E este é um problema de confiança (“Já ando nisto há muitos anos para não dar hoje uma resposta que amanhã não possa garantir. E acho que há um fator fundamental para sairmos desta crise, que é mantermos confiança. E a confiança tem de assentar em todos percebermos qual é o grau de incerteza em que vivemos e qual é o grau de compromisso que podemos assumir”, afirmava o próprio Costa ao Expresso).
Mas também é uma relevante questão política: nós sabemos que António Costa tem uma maioria política para investir e subir a despesa, mas não sabemos se tem uma para a apertar.
Assim, ficaremos com aquela pergunta em aberto: todos esperamos que, desta vez, tudo seja diferente, mas se tiver de ser, António Costa sai?
Read my lips?

Primeiro escolhe-se o caminho, depois a companhia

Posted: 23 Apr 2020 04:07 AM PDT

«Ficaria muito desiludido se tivéssemos de chegar à conclusão que só podemos contar com o PCP e com o Bloco de Esquerdo em momentos de vacas gordas e em que a economia está a crescer." A frase de António Costa traz tanta água no bico que só um pelicano aguentaria. É verdade que Costa disse que não tenciona aplicar a mesma receita do governo de Passos Coelho, porque esta crise é muito diferente. Só que, como se verá quando as taxas de juro da dívida dispararem por causa da crise económica e da inevitável derrapagem do défice, rapidamente se tornará bastante semelhante, apenas com muito maior intensidade.

Mas ao dizer que não concorda com o “preconceito” de que "o PCP e o Bloco de Esquerda carecem do sentido de responsabilidade para compreender que a vida política não é só aumentos de salário e aumentos de direitos", Costa acaba por explicar que o seu olhar não é, por agora, assim tão distante do de Passos. Porque é ele mesmo que contrapõe recuperação económica a aumentos de salários e de direitos, como se uma e outra coisa fossem incompatíveis. Como ele próprio explicou durante anos, é nas crises que devemos evitar a austeridade.

As alianças não se fazem por razões fúteis. Fazem-se em trono de programas. É absurdo António Costa começar a discutir se conta ou não conta com os partidos à sua esquerda antes de esclarecer para que os quer como companhia. Bem sei que é cedo. Mas se é cedo para apontar um caminho talvez seja cedo para começar a exigir fidelidades. Agora estamos a combater o vírus e não lhe tem faltado apoio de quase todos. Depois, que diga para onde quer ir. Quando passarmos a fase da crise sanitária, não são o BE e o PCP que terão de fazer a primeira escolha. É António Costa. Se for a que a Europa lhe aponta neste momento (veremos o que acontece amanhã), dificilmente poderá contar com quem se opôs a Passos Coelho. Nem deveria contar com o seu próprio partido. Se for a oposta – uma política contracíclica, em que o Estado garanta o estímulo à economia que os privados não podem dar, como muito bem aconselhou o insuspeito "Financial Times" – é justíssimo exigir a companhia dos partidos mais à esquerda. Mas se o caminho for esse o confronto com a União Europeia é, pelo menos olhando para os primeiros sinais, inevitável. Estará António Costa disponível para ir para além das bravatas com a Holanda? Se sim, os primeiros aliados em que tem de pensar não são o BE ou o PCP. São a Itália, a Espanha e outros países periféricos. E pensar se Mário Centeno é o homem ideal para essa batalha.

Se a escolha de António Costa for distribuir equitativamente os sacrifícios que existam e promover uma política de investimento público para contrariar a profunda depressão em que as empresas vão entrar, esta crise será uma oportunidade para retirar o país da decadência profunda em que se encontra há duas décadas. Foi em momentos especialmente difíceis que os melhores estados sociais se construíram. Se Costa tiver os aliados europeus para a receita oposta à de 2011 duvido que lhe faltem os aliados internos. Mas se os de cá de dentro servirem apenas como párachoques a ao enésimo programa de austeridade que adia soluções e aprofunda problemas, possibilidade que ele próprio não consegue pôr de lado, imposto de fora, espero que não os tenha à esquerda. Seria um imperdoável erro que esse apoio lhe fosse dado.

A questão não é se António Costa conta com o resto da esquerda para as vacas magras como contou para as vacas gordas. É se a esquerda, no seu conjunto, tem um programa diferente do da direita para tempo de vacas magras. E se contamos com um Costa diferente de Passos quando lá chegarmos. Ou se a direita tem razão e a esquerda só se consegue distinguir quando as vacas estão anafadas. Se o António Costa de agora for o do tempo da troika, com as mesmas propostas e posições, duvido que Catarina Martins e Jerónimo de Sousa lhe faltem. Na realidade, nem chega ser o mesmo. A crise será tal que tem de ser mais audacioso do que então defendia.

Se pretende ter o BE e o PCP para fazer o que criticou em 2011, serei o primeiro a apontar o dedo a estes partidos por um crime contra a democracia. Estariam a entregar a resistência a mais a uma onda irracional de austeridade à extrema-direita, juntando à crise económica e social uma crise política. A democracia precisa destes partidos para cumprirem uma de duas funções: serem aliados do PS na construção de uma alternativa política diferente de 2011; ou serem opositores do PS se este aceitar ser o executor de uma receita que torna este país cada vez mais inviável. Se o PS seguir o caminhos da austeridade, o seu aliado natural é outro e até já lhe dedicou inúmeros elogios: o PSD.

Claro que todas estas afirmações extemporâneas, pedindo companhia para uma caminhada que ainda nem sabe para onde será, podem ser a mera preparação de mais uma estratégia de dramatização. Costa pode querer ir a votos enquanto a popularidade por uma boa gestão da crise sanitária está em alta e antes das escolhas difíceis para lidar com a crise económica. Se for isto, é compreensível para os seus interesses mas indiferente para os interesses do país. Nenhum partido tem de alinhar neste jogo e duvido que o PSD o faça. Se for mais do que isto, que António Costa diga que rumo quer seguir e descobrirá rapidamente quem o pode acompanhar. São as grandes escolhas políticas que determinam os aliados que se merecerem.»

Daniel Oliveira

EUA, um país rico ou um país pobre?

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 23/04/2020)

Num texto que publiquei em 31-03 p.p, que titulei de “O Combate ao Covid 19” eu escrevi acerca de Trump e da “sua” América o seguinte, ainda a Pandemia lá não tinha assentado arraiais:

Na sua postura inicial arrogante Trump não cuidou de saber, nem soube ouvir, que perante um vírus desta natureza os EUA estariam tão frágeis como quaisquer outros países, mas mais frágeis ficaram quando subestimando a sua propagação foi tardio a tomar medidas.

E, posto isto, tendo em consideração os seus precários Sistemas de Saúde, onde prevalecem os Seguros (quase um terço da população ou não têm qualquer Seguro ou tem apenas o mais básico) e de Assistência Social, muito se teme que possa vir a acontecer uma autêntica desgraça humanitária naquele que dizem ser o país mais rico do mundo…”

Passados pouco mais de três semanas, para além do que eu previ, e também não era exercício extraordinário prevê-lo, ficaram ou vieram à superfície e de um modo clamoroso, todas as debilidades dessa “grande América”, grande sim mas só para uns quantos.

E o que vemos? Vemos um país sem infraestruturas básicas que salvaguardem as pessoas mais débeis; vemos uma ausência de um Estado Social universal e igualitário; uma ausência total de uma Assistência Social também ela universal; vemos uma Saúde só para quem pode, através dos Seguros, que exclui e abandona todos os que não os possuem…

Vemos uma Sociedade, mais de um terço da sua população, abandonada à sua sorte e agora ao sabor de um Vírus…

E essa “grande América” começou agora, realmente, a mostrar a sua verdadeira face: um país comandado por algumas elites egoistas e egocêntricas, completamente desfasadas do seu  Povo e da sua realidade e apenas confiando em que a “ caridade” das pessoas mais conscientes e as comunidades possam obviar…

Mas a eles o que os preocupa são as suas acções na Bolsa e tudo o resto são números pois a única coisa que sabem ler são números…

Mas os números são muitas vezes traiçoeiros e chega até a dar pena assistir aos avanços e recuos de um presidente que, não percebendo nada do que se está a passar, a dirige apenas sob o impulso da sua intuição para os negócios, como se isto de isso algo fosse…

E vai-se notando o seu ar de assustado: para quem, qual “Super Homem” que ele julgava encarnar, vê de olhos esbugalhados que no total de infectados no mundo inteiro pela Covid 19 o seu  “grande” país representa mais de um terço e os mortos idem.

Mas não só: é também o desprezo total que vem demonstrando pelos seus cidadãos quando permite, e vimos imagens de Nova York, que gente, pessoas humanas iguais a si tanto na nascença como na morte, sejam despejadas para uma vala comum por, mesmo sendo cidadãos, não merecerem da sua Pátria qualquer consideração…

Mas a História, como nos ensinava o Nosso Pai, ela volta sempre por mais voltas que possamos dar,  e muitas vezes  castigadora até, pois faz humildemente de nós todos iguais perante o seu poder…

E Trump está a provar dessa “cicuta”: o seu “poderoso”  States em pouco mais de um mês já perdeu cerca de trinta milhões de “Jobs” e todos foram direitinhos para as portas do Fundo de Desemprego! Mas Trump, num acto de autêntica e magnânima compaixão, vai mandar a todos eles um cheque de mil dólares, mas assinado por ele, para saberem quem os salvou…por um mês!

É que à pobreza de sentimentos junta-se muitas vezes, e neste caso também, uma ainda maior: a pobreza de espírito…”Quo Vadis America”?

A suposta “grande América” perante um desafio destes reage assim…mas pagando pelos seus enormes pecados, mas sempre mais o justo que o pecador…

Será que o “balão” que é a sua “riqueza”, feita de especulação e dívida, ainda lhe vai rebentar nas mãos?

Sonhar com uma bazuca no 25 de Abril?

Curto

Filipe Garcia

Filipe Garcia

24 ABRIL 2020

Partilhar

Facebook
Twitter
Email
Facebook

Bom dia,

Começo por apresentar as minhas desculpas, mas ainda não é hoje o dia em que o Expresso Curto volta a ser servido livre da pandemia. É que mesmo que a discussão já esteja sobretudo centrada em como se relançarão economias e vidas, a ordem continua a ser para ficar em casa, para ter cuidado, para usar máscara e não facilitar. Afinal, não diziam há umas semanas que é de uma guerra que se trata?
António Costa já falou do medo de ter de se valer de uma fisga, do risco de ter de lutar com uma ligeira pressão de ar e do sonho de contar com uma bazuca para a batalha que se avizinha dura. Na busca de armas que reúnam consenso, ontem foi dia de mais um Conselho Europeu e a versão menos letal parece ter ficado afastada. “Fisga não será de certeza. Resta saber se será pressão de ar ou uma bazuca”, disse o primeiro-ministro no final da reunião.

Para já foram aprovadas linhas de apoio rápidas a rondar os 540 mil milhões de euros e que deverão começar a ser disponibilizados aos 27 membros no próximo mês. Parece muito dinheiro? Não é. A 'bazuca' com que António Costa sonha é um fundo de recuperação que poderá rondar os 1,5 biliões de euros. O que se sabe e o que ainda está por definir, pode ler AQUI.

Venha a festa de Abril

E lá chegámos à véspera do 25 de Abril que mais polémica gerou nos últimos anos. O local da celebração, as ausências e as presenças, o número de convidados, as regras e o local da celebração, tudo foi discutido. Afinal, em época de pandemia e, sobretudo, com críticos e apoiantes com demasiado tempo livre, é fácil lançar abaixo-assinados contra e a favor, trocar insultos e ofensas durante dias a fio. Numa altura em que liberdades e direitos se discutem como nunca, o essencial será cumprido e a data não deixará de ser assinalada, na Assembleia da República, à janela a cantar a Grândola Vila Morena ou pelo Facebook. Os detalhes pode ler aqui, 25 de Abril sempre, mas em modo virtual. As comemorações pelo país.

O trambolhão do comércio internacional

As últimas previsões do Fundo Monetário Internacional são tudo menos animadoras. Se com a crise de 2009 o produto mundial registou uma quebra de 0,1%, agora a estimativa é que a redução seja de 3%, resultado de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, da instabilidade no mercado petrolífero e, naturalmente, de uma pandemia cuja total extensão dos danos continua por se descobrir. Para tentar perceber o titubeante equilíbrio da economia global, vale a pena ler “Como a covid-19 provocou o colapso do comércio internacional”.