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quinta-feira, 12 de julho de 2018

Salamandra

  por estatuadesal

(Dieter Dellinger, 11/07/2018)

salamandra

Depois de andar a ver a série belga "Salamander" convenço-me que em Portugal também pode eventualmente existir uma organização secreta que mete mandantes e pagantes de incendiários com gente de alta finança como o dono da Cofina, Celtejo e mais duas fábricas de pasta de papel, pessoal da justiça, polícia, exército, banqueiros, políticos da direita, etc.
A quantidade de incendiários e incêndios foi demasiado grande para que não haja uma organização por detrás e que manda ou dela fazem parte a maior parte dos responsáveis de comunicação social, incluindo, talvez, alguns da RTP/RDP estatais.
Convém ligar as palavras de políticos da oposição com noticiário do Correio da Manhã que deve estar no centro dessa organização criminosa em conjunto mesmo com procuradores e juízes, isto como hipótese.
A forma frouxa como a magistratura encara o crime de fogo posto parece indicar a pertença a algo de secreto, pelo menos de algumas pessoas.
Posso estar errado, mas convém saber o que escrevem certos jornais e O Observador e fazer ligações.

A prova mais evidente da existência de uma organização criminosa de conquista do poder é, sem dúvida, aquilo que parece ser uma ligação do Juiz Carlos Alexandre e/ou os procuradores ao Correio da Manhã.

Só no âmbito de uma projeto criminoso é que podia vir tanta coisa para a rua e outras, em número e valores milhares de vezes superior, ficarem fechadas nas gavetas. Refiro-me, entre muitas outras coisas, à transferência de 10 mil milhões de euros do BES para o Panamá com a conivência de secretários de Estado do governo anterior e até do BP que nada divulgaram em termos estatísticos como manda a legislação em vigor.
Enfim, podem ser coincidências, mas acho que são muitas para não estarem interligadas.

Trumpestade em Bruxelas

Trumpestade em Bruxelas

A generalidade do “populismo” ocidental – incluindo o de Donald Trump – associa a globalização em que vivemos a uma elite separada da realidade, e pensa que o remédio está em voltar a um mítico realismo em que cada um cuida de si.

Uma vasta plêiade de comentaristas que foram até hoje tidos como porta-vozes do establishment pró-Atlântico (veja-se a capa do Economist de 07/07) vinha há já várias semanas a assinalar com imensa preocupação a cimeira de Julho em Bruxelas da “Organização do Atlântico Norte”, pelos riscos de esta levar ao fim das relações transatlânticas tais como as conhecemos até hoje.

A cimeira começou com um pequeno-almoço do presidente norte-americano com o secretário-geral da organização, em que através das imagens difundidas pela comunicação social pudemos ver um dos mais contundentes mas certeiros comentários a que eu já assisti na vida:

… tenho a dizer que acho muito triste quando a Alemanha faz um enorme negócio de petróleo e gás com a Rússia, quando era suposto que estivesse a conter a Rússia, e a Alemanha fica a pagar todos os anos muitos biliões de dólares à Rússia, e portanto nós estamos a proteger a Alemanha, nós estamos a proteger a França, nós estamos a proteger todos estes países, e vários entre eles resolvem fazer um gasoduto com a Rússia (…)

… E eu penso que isto é muito inapropriado, que um antigo chanceler da Alemanha [Gerhard Schröder] seja o presidente da companhia do gasoduto que fornece o gás, e que fará com que a Alemanha venha a depender em 70% do gás natural russo. Por isso diga-me, acha isto aceitável? Eu tenho protestado contra isto desde que entrei em funções e acho que isto nunca deveria ter sido permitido, porque a Alemanha fica completamente sob controlo russo. Acho que temos de falar à Alemanha disto.

… Ainda por cima, a Alemanha paga um pouco mais de 1%, enquanto os EUA pagam 4.2% de um PIB muito maior. Também acho isto inaceitável!”

Estamos naturalmente perante uma lógica de discurso directo despido de eufemismos e circunvalações a que a as elites político-burocráticas não estavam de forma alguma habituadas, mas que exprime de forma clara o que pensam muitos norte-americanos e europeus da situação em que hoje vivemos.

Como é costume, não faltaram as críticas ao vocabulário curto e aos pontapés na sintaxe e na gramática do presidente norte-americano, acima de tudo porque não foi possível às nossas elites rebater a essência das palavras de Trump.

A oposição a Trump investiu todo o seu capital na acusação do conluio de Trump com Putin e fica por isso desarmada quando este põe a nu o conluio dessa mesma oposição com a Rússia.

  1. O agudizar da crise

A reconstrução da Europa pelo plano Marshall e pelas instituições europeias que dele surgiram, o sistema político e de defesa que permitiu essa reconstrução, realidades que estão quase a assinalar sete décadas, estão em tensão crescente há muitos anos.

Se, no início, a parte norte americana compreendeu plenamente o esforço feito, com o passar do tempo foi cada vez menos entendendo que o esforço de defesa e as principais responsabilidades de manutenção do sistema ficassem a cargo dos EUA, enquanto a Europa aproveitava as condições para gerir uma política diplomática e comercial apenas orientada pelos seus interesses.

Do lado europeu, houve sempre a tendência para minimizar o significado do esforço americano; porque o plano Marshall desenvolvia produção americana e habituava os europeus à ‘manteiga de amendoim’, porque o complexo militar-industrial assegurava o crescimento económico americano; porque a consagração do dólar como moeda internacional traz grandes vantagens ao seu emissor; porque talvez os vizinhos russos não fossem assim tão maus; etc.

Tirando a “manteiga de amendoim”, ou seja, a minimização da importância do plano Marshall, há alguma verdade no que se diz na Europa, havendo naturalmente espaço para se encontrarem equilíbrios.

A queda da cortina de ferro veio encorajar os que pensam que o sistema transatlântico económico e de segurança deixou de fazer sentido, se não se desse o caso de com Putin, a Rússia ter voltado à sua vocação imperial, de o Jihadismo querer acabar com tudo o que o Ocidente representa e de, finalmente, a China se ter tornado num colosso mundial a que só é possível de responder no quadro transatlântico.

A emergência da Alemanha reunificada como centro incontestado da “Nova Europa” colocou no entanto novos desafios que exacerbaram as divergências que vinham do passado. Tornando-se a principal herdeira do ‘consenso de Washington’ dos anos setenta, a doutrina alemã do “ordoliberalismo” recuperou o mercantilismo europeu do século XVIII.

Nada ilustrou melhor esse facto que a crise ucraniana provocada por uma iniciativa comercial europeia de inspiração alemã que oferecia aos ucranianos um acesso praticamente livre ao mercado europeu.

Para a Rússia, tratava-se de uma provocação, de uma disputa a um território que ela considerava estar no seu espaço de influência e, claro, quando os ucranianos se revoltaram contra o diktat de Putin, ele nada mais viu do que uma conspiração ocidental, e reagiu em consequência.

A Alemanha (e aliás as instituições europeias e transatlânticas) não percebeu nada do que deveria ser óbvio e ficou totalmente surpreendida com a reacção russa. Pior, apesar de ter aceite algumas sanções, não pôs em causa negócios como os petrolíferos para sustentar a sua defesa.

Tal como Donald Trump diz, a única coisa que impede o avanço russo são as muitas divisões americanas estacionadas na Europa (na Alemanha, na Polónia e no Báltico), sendo inaceitável que a Alemanha faça negócios com o adversário e mantenha as suas forças armadas em estado de quase inoperacionalidade.

  1. O que está em jogo?

A generalidade do “populismo” ocidental – incluindo o de Donald Trump – associa a globalização em que vivemos a uma elite separada da realidade, e pensa que o remédio está em voltar a um mítico realismo em que cada um cuida de si.

Nesta perspectiva, não se trata de reequilibrar a aliança atlântica, ou de reformar a união europeia, mas acabar com ambas. Nada poderá satisfazer mais todos os inimigos do Ocidente e dos seus valores e revelar-se mais destrutivo para todos nós, incluindo os EUA, do que a materialização desta perspectiva.

Quem por outro lado pretende defender o “status quo” a todo o custo, organizações europeias e transatlânticas não reformadas, está a laborar num erro de consequências equivalentes, porque a deriva das nossas instituições as torna incapazes de responder aos desafios que temos perante nós.

Penso por isso que estamos a andar no fio da navalha, e que precisamos de quem seja capaz de nos dirigir para reformas profundas sem perder de vista a razão de ser dos valores e princípios que nos devem unir. Precisamos por isso de aproveitar esta “trumpestade” para repensar profundamente as instituições que nos governam.

Olha uma última vez para o lugar que estás a deixar

Opinião

Miguel Guedes

Ontem às 00:06

ÚLTIMAS DESTE AUTOR

O acto de saída é um momento como nenhum outro. Não significa a despedida de algo ou que a sua presença se retire de nós. Estamos muito longe de um qualquer abandono. Na despedida por vontade, somos nós a bater à retirada de algo que, ainda assim, sentimos como hipótese de transportar para sempre. A forma como se olha uma última vez para o lugar que estamos a deixar, não definirá o estado emocional que temos presente pela saída mas determina, certamente, a forma como o vamos carregar no futuro. Ainda que o queiramos esquecer à força, obrigar ao fim que merece, um tudo magoado ou um tanto de partido. Fechar os olhos não chega.

Não há qualquer drama em mudar para melhor, costuma dizer-se de forma apressada. Tudo depende da história anterior, sobretudo daquela que se fez no pretérito imperfeito. Os rapazes tailandeses, salvos pela ciência do milagre, têm nome e memória e bem mais do que uma história para contar. Contar-se-ão pelos dedos os pesadelos a sério, já bem bosquejados pela presença dos limites, e somam-se agora os sonhos a que têm direito com vantagem agravada. Mais do que o documentário que se monta ou o filme de ficção que se antecipa e inspira em forma-novelo, mais do que os livros que se escrevem, já e agora, há gente que merece muitíssimo o momento de ser deixada em paz e viva.

É nesta altura que se impõe um instante de luto pelo que não aconteceu e o recatado júbilo, conciso, pelo último olhar antes do início do salvamento, a derradeira visão da escuridão que os agarrou juntos, como tábuas pregadas a ar rarefeito, por tantos dias. Impõe-se um derradeiro olhar, largo. Ninguém pode fechar os olhos para esquecer o terror no momento de um fim.

Faltavam quatro programas para o fim do "Late night" de David Letterman na CBS, uma vida marcada por 33 anos de "talk shows" quase diários, ultrapassada que estava a marca de longevidade do seu mentor e predecessor Johnny Carson. Nessa noite, a 14 de Maio de 2015, Tom Waits entra em palco para render a Letterman uma homenagem de despedida através de um tema inédito: "Esta é para ti, Dave", segredou na introdução antes de se entregar a "Take one last look". A canção, feita fato à medida, não é só de ocasião. A exigência do último olhar diz-nos muito sobre a precisão da imagem e o valor da memória, sobre a exigência que devemos impor aos outros no respeito da nossa partida. Na beleza ou atrocidade romântica de uma despedida, será mais fácil convocar alguma paz que permaneça como um lullaby de sobrevivência. O refrão pode ler-se no título.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

MÚSICO E ADVOGADO

A traição não mete férias

Novo artigo em Aventar


por António Fernando Nabais

Os professores, de modo tranquilo e inteligente, têm conseguido levar a cabo uma greve histórica. Hoje, ministério e sindicatos sentaram-se à mesa para alegadamente negociar. De acordo com declarações de representantes dos sindicatos, o ministério terá manifestado abertura para negociar o tempo de serviço, o que foi visto como um avanço, quando, na realidade, é uma simulação.

Para além de um moderado e/ou aparente regozijo, o resultado desta alegada negociação consiste na criação de uma comissão que irá analisar o real impacto financeiro da recuperação integral do tempo de serviço dos professores. Todas as contas deverão ser feitas, como é evidente, mas há várias razões para não perceber qual é a utilidade da dita comissão.

(Na realidade, sabe-se que uma das melhores maneiras de não resolver um problema ou de fugir de um problema é criar uma comissão. É essa a utilidade da comissão.)

Em primeiro lugar, António Costa, na sua qualidade de primeiro-ministro e não como membro de uma tertúlia de copos, disse que as reivindicações dos professores custariam 600 milhões de euros. Em que se baseou Costa? Se a dita comissão desmentir o primeiro-ministro, o que acontecerá?

No âmbito de uma negociação acerca da recuperação do tempo de serviço, que sentido faz criar uma comissão para saber qual o valor em causa?

Mais: se os sindicatos participaram numa reunião para discutir o tempo e o modo de recuperação do tempo de serviço, por que razão integram um grupo de trabalho que não se dedica a esse assunto?

Entretanto, a greve convocada pelos sindicatos desta plataforma terminará no dia 13 de Julho e poderá ser retomada em Setembro, quando o trunfo da greve às avaliações já não existir. A luta, pelos vistos, vai de férias, irá mesmo a banhos, depois de nada se ter conseguido, porque, diante da magnitude da greve, é nada a possibilidade de o ministério ponderar a recuperação do tempo de serviço, o anúncio de uma comissão sobre a importância dos gambozinos e a promessa de retoma da luta sob a forma de folclore.

Muitos dos professores que estiveram a participar na greve às avaliações sentir-se-ão traídos. Do ministério nada havia a esperar, já se sabe. Quem traiu?

Más notícias para a Internet, novamente

Novo artigo em Aventar


por j. manuel cordeiro

Os conservadores norte-americanos têm engolido muitos sapos vindos de Trump, tal como sucedeu no caso do envolvimento deste com uma prostituta, situação que normalmente, faria disparar a hipocrisia moralista desse grupo de políticos e eleitores.

Uma possibilidade para estarem a fechar de olhos tem sido a possibilidade de Trump vir a nomear um juiz claramente conservador para o Supremo Tribunal, assim deslocando o fiel da balança para os republicanos. Até agora havia 2 juízes democratas e 3 republicanos, tendo um destes, Anthony Kennedy, algumas vezes votado com os republicanos e outras vezes com os democratas.

E essa nomeação acabou por acontecer. Com a reforma de Kennedy e com a nomeação de Brett Kavanaugh, o lado republicano passará a contar com decisões deste tribunal que lhe sejam mais favoráveis. Ter engolido sapos até à indigestão irá compensar para os conservadores.

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