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quarta-feira, 20 de março de 2019

Ladrões de Bicicletas


Mais vida, menos trabalho? É hoje

Posted: 20 Mar 2019 02:09 AM PDT

É só mais um cromo

Posted: 19 Mar 2019 06:01 PM PDT

Este artigo trata das ligações estabelecidas entre os detentores de capital e os grupos de governantes e ex-governantes, a partir de uma perspetiva crítica capaz de realçar o papel do Estado na estruturação do poder económico. É dado especial enfoque ao processo de cooptação, numa análise que engloba os dados referentes aos 776 governantes que ocuparam 1281 cargos nos 19 governos constitucionais (1976-2014).

Adriano Campos, Jorge Costa, João Teixeira Lopes, Francisco Louçã e Nuno Moniz, Representantes e dominantes: Os governantes e as relações de classe em Portugal, Revista Crítica de Ciências Sociais, 2015, nº 108.
Lembrei-me deste artigo por causa da ida de Adolfo Mesquita Nunes, até agora um dos mais destacados quadros do CDS e antigo Secretário de Estado do turismo, para administrador não executivo da Galp. Esta lógica de circulação não é defeito, mas antes feitio de toda uma economia política por superar. É só mais um cromo para uma colecção que não tem parado de crescer.
Ao contrário da tese hayekiana sobre a ordem espontânea, título das crónicas de Mesquita Nunes no Negócios, o capitalismo sem freios e contrapesos à altura, fruto de todas as privatizações e liberalizações, é uma ordem politicamente construída. Nesta ordem, a grande empresa dita privada é um actor político de primeiro plano. Paula Amorim, um dos principais rostos do porno-riquismo em Portugal, sabe bem o que faz. E Mesquita Nunes também. Política com grandes meios.

A direita que se desvanece

Posted: 19 Mar 2019 06:00 PM PDT

Enki Bilal

Durante o debate quinzenal, o líder da bancada social-democrata, Fernando Negrão, lembrou-se de esgrimir que o valor da dívida pública, durante a actual legislatura, subiu em 20 mil milhões de euros. E esqueceu-se de pensar que a importância de uma dívida se mede pela capacidade de a pagar (em função do PIB).
Quando confrontado com a descida desse rácio, lembrou-se de dizer que o gráfico estava... invertido!
Mas poderia ter dito que, com os actuais níveis da dívida, mesmo em função do PIB, e por causa do baixo crescimento económico, a dívida pública não é sustentável e que isso deveria abrir um verdadeiro debate nacional, o qual foi negado como importante por Passos Coelho, possivelmente porque estavam em causa os créditos externos ("as dívidas são para se pagar"). Mas para isso, Negrão teria de falar do Tratado Orçamental e das suas implicações orçamentais, dos anos malditos da troica e dos seus apoiantes em Portugal, que por acaso estavam, no início, no seu partido. E teria de propor um modelo diferente de crescimento económico, o que até agora mal se aflorou. Nem um novo papel do Estado se soube definir e PSD/CDS tinham uma maioria absoluta no Parlamento.
Mas, para espanto de todos, não é que Negrão falou mesmo dos tempos da troica?

Mas teve a presença de espírito de escolher as palavras: "No nosso tempo, que também foi o vosso, houve um problema de bancarrota do país que o PSD e o CDS tiveram de gerir no Governo".
"Gerir" é o termo benévolo, já que o resultado foi mais do que desastroso. Cerca de um quarto da população activa desempregada, serviços públicos depauperados e desarticulados, uma emigração histórica de pessoal qualificado que ainda não foi estancada passados 10 anos sobre o início da crise económica de 2007/2008; a cristalização de um sistema de remunerações assente em baixos valores, uma desigualdade e uma pobreza instaladas. Uma política tão desastrosa que fez explodir os níveis de crédito vencido nas instituições bancárias e que não só degradou o sector bancário como asfixiou as próprias empresas, para quem todo o programa tinha sido desenhado.

Fonte: Banco de Portugal

E fê-lo de uma forma tal que até parecia feito para quem quisesse vir comprar activos degradados, numa estratégia que alguém mais radical apelidaria de "vende-pátrias". Na banca, pelo menos, conseguiu-o. Não deu a mão a Ricardo Espírito Santo, mas deu-a ao Santander.
E é essa fragilidade estrutural que o PSD ajudou a criar e que agora não sabe como atacar, se não - hoje - exigir mais despesa pública, mais serviços públicos, quando há 4 anos executava programaticamente cortes da despesa, cortes nos serviços públicos.
Por alguma razão, o PSD está nos seus níveis mais baixos de popularidade. Aliás, tal como o CDS, que não consegue descolar apesar da situação do PSD, tudo agravado com a evasão de dirigentes que, seguindo as pisadas de Paulo Portas, saíram para administrar um grupo nacional e um banco estrangeiro, ainda que isso não queira dizer nada. É possível ser uma pessoa empenhada estando no lado real da economia ou pensando nela quando se ocupa lugares políticos (vidé exemplo do deputado Telmo Correia que assinou 300 despachos na madrugada em que José Sócrates tomou posse).
Resta saber se, mais tarde ou mais cedo, esta situação não levará a abrir as portas a alguma nova formação política de direita, assim o queiram as elites bem instaladas que passem a apostar - e financiar - outras experiências, como se passa em Espanha.
E não é ainda o caso da Aliança de Santana Lopes, que teve de contar os seus trocos para realizar o seu 1º Congresso. Mas o mercado parece estar aberto.

Rosário Teixeira, afinal, também se preocupa com o que fazem certos jornalistas

por estatuadesal

(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 19/03/2019)

Rosário Teixeira

O juiz Ivo Rosa decidiu impedir o acesso à sala onde decorrem os interrogatórios da fase de instrução da Operação Marquês aos jornalistas que se tinham constituído assistentes do processo. A decisão foi tomada no dia 12 de Março. De lá para cá, quais foram as reacções das “partes interessadas” no processo?

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O esgoto a céu aberto fez primeiras páginas e editorais a queixar-se de ter sido amordaçado? A madraça lançou os talibãs contra o juiz? O caluniador profissional pago pelo Público garantiu que era desta que o povo devia pegar em armas? O império do militante nº 1 do PSD usou o episódio para nos dizer que os socráticos são uma ameaça que urge exterminar? O consiglieri de Estado conseguiu relacionar Ivo Rosa com o todo-poderoso Armando Vara? Manuela Moura Guedes, coiso? Nada de nadinha disso. Reina o mais seráfico dos silêncios. E a explicação é esta:

«A presença de jornalistas na sala de audiência onde os acusados e as testemunhas são ouvidas nesta fase do processo – o momento em que os arguidos apresentam as suas alegações contra os argumentos da acusação de forma a tentarem não ser levados a julgamento – foi questionada pelo Ministério Público que alertou para a postura dos assistentes “que exercem a profissão de jornalistas e que não tiveram, ao longo dos autos e até ao presente, qualquer intervenção na conformação do seu objeto, como se têm feito valer dessa mesma qualidade para terem acesso privilegiado à atividade desenvolvida pelos demais intervenientes processuais que de outro modo lhes estaria vedado, com o único propósito de desenvolver peças jornalísticas acerca dos factos em causa nos mesmos e dos atos processuais aqui praticados”.

Perante esta questão a equipa liderada pelo procurador Rosário Teixeira frisa que “importa, pelo menos, vedar o exercício de uma faculdade processual inerente a esse estatuto de assistente, a de assistir a atos de produção de prova, uma vez que se mostra estar a ser exercida de forma manifestamente desviante da função que lhe é inerente em violação dos normativos processuais penais aplicáveis”.»

Fonte aqui.

Recapitulemos. O mesmo procurador, e respectiva equipa, que em Julho de 2014 – sem arguidos constituídos, sem prévia notícia pública de sequer existir tal investigação judicial – teve engenho e arte para colocar na Cofina informações que pretendiam influenciar a votação para secretário-geral do PS e que se revelariam ser o núcleo principal das suspeitas da Operação Marquês à altura da detenção de Sócrates, ou que teve arte e engenho para não o ter impedido, e que meses depois teve engenho e arte para colocar em diversos órgãos de comunicação social informações a respeito da iminente detenção de Sócrates no aeroporto e sobre os argumentos que seriam usados para o prender, ou que teve arte e engenho para não o ter impedido, e que nos dias, semanas, meses e anos após a detenção de Sócrates teve o engenho e arte de cometer caudalosos e sistemáticos crimes de violação do segredo de justiça, ou que teve a arte e o engenho para não o ter impedido, é a mesma equipa e o mesmo procurador que em Março de 2019 quer impedir os jornalistas de relatarem o modo como Ivo Rosa interroga acusados e testemunhas, e o que testemunhas e acusados declaram no tribunal face a face com o juiz. Estamos perante um fenómeno do Entroncamento?

Estamos perante um fenómeno do emporcalhamento. A fazer fé na lógica, parece lógico que a fantástica equipa do procurador-herói terá ficado muito, mas mesmo muito, desagradada com algumas notícias saídas a respeito do que se está a passar na instrução da Operação Marquês. Mas que terá sido? Por exemplo, terá algo a ver com o testemunho de Vasco d’Orey? Ou com as declarações das testemunhas de Sofia Fava? Ou com a descrição de como Ivo Rosa é exaustivo nos interrogatórios? Ou até do que virá aí a caminho e que pode, finalmente, começar a contar uma outra história sobre o que realmente tem estado em causa neste processo infame?

Realmente, para quem passou os últimos anos a ter um serviço editorial onde apenas certas informações, tratadas de certa maneira, apareciam no espaço público, ainda por cima embrulhadas numa campanha de judicialização da política e de politização da Justiça onde se faz o culto de personalidade e o messianismo de certos magistrados vedetas, qualquer brecha na condenação já transitada em julgado é fonte de pânico para quem construiu o primeiro julgamento político após o 25 de Abril.

E a Cofina et alia? Agradecem, penhorados. É assim que esses bravos “jornalistas” gostam de “investigar”, em monopólio e desfrutando de uma intimidade amorosa com alguns agentes ou funcionários da Justiça (provavelmente, empregados da limpeza) que conseguem entrar nas salas dos impolutos e vigilantes procuradores e depois, com as lanternas dos seus telemóveis baratuchos, darem com aquela papelada (ou já serão disquetes de 3,5 polegadas com estupendos 1.44MB cada?) onde estão as “verdades” sobre esses “corruptos” socialistas que há que denunciar, perseguir, achincalhar e enviar para Évora.

terça-feira, 19 de março de 2019

Como treinar um Bolsominion

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Expresso Diário, 19/03/2019)

Francisco Louçã

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A estratégia Trump e a de Bolsonaro foram muito parecidas e não só na tecnologia da reprodução intensiva de mensagens robotizadas: o alvo é o mesmo (fanatizar alguns grupos dominantes, assustar o adversário, mobilizar os deserdados), a abordagem é semelhante (gerar bolsas de ódio) e até os temas são copiados (queremos andar armados, a família está sob ataque por uma “ideologia de género” e os imigrantes ficam com o nosso dinheiro). Desde há muito que eram evidentes estas conexões, que configuram a política suja, e que se nota que a direita portuguesa está fascinada pelo sucesso destas técnicas. Estão agora à vista os primeiros ensaios lusos desta estranha forma de política. Mais, não será André Ventura o mais destacado protagonista da aventura, mesmo que a queira representar, visto que os mais perigosos dos seus praticantes serão gente dos partidos tradicionais da direita.

O primeiro exemplo, mas dele não cuidarei hoje em detalhe, é Nuno Melo a verberar uma transposição de diretiva europeia que limita a posse de armas por particulares. Que alguém não possa ter mais do que 25 armas é uma “grave restrição à liberdade individual e ao direito de propriedade”, diz ele, acrescentando um vicioso e algo estranho ataque às polícias que, segundo o candidato do CDS, “sabem bem onde estão as armas ilegais” (e presumivelmente nada fazem para as capturar). Não é preciso um desenho para se perceber que quer namorar os caçadores para obter votos, mas a escolha de um timing tão funesto para esta defesa da multiplicação das armas – e já há um milhão e meio de armas nas mãos de particulares – só pode parecer de alto risco. O que querem é um tema Bolsonaro e ao candidato falta-lhe pimenta.

O meu segundo exemplo fala por si mas merece mais algum detalhe. É o de Bruno Vitorino, deputado do PSD, que seguiu a cartilha do tema “ideologia de género” como um perfeito Bolsominion, o carinhoso nome dado no Brasil a estas figuras. Primeiro passo: a provocação. Uma sessão de técnicos da Rede ExAequo a convite de uma escola do Barreiro, contra o bullying nas escolas, é uma “PORCARIA”, escreveu.

A coisa teria ficado pelas letras garrafais, mas teve a sorte de duas deputadas do Bloco terem caído na esparrela e, em vez de o criticarem usando o sarcasmo, terem anunciado uma queixa à Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género contra a ofensa.

Antes disso, tudo desfazia a tese da “porcaria”. Este programa de informação já vem do tempo do governo PSD-CDS, a associação em causa é apoiada pelo Conselho da Europa, a escola e os pais gostam das sessões e do cuidado da informação.

No PSD, há uma espécie de corrida à “porcaria”, treinando os Bolsominions disponíveis para se porem na grelha de partida destes temas fascinantes. É que há um “ataque à família”, sentenciou aqui no Expresso o indignado Bruno Vitorino

Mas haver alvos políticos permitiu ao Bolsominion passar à segunda etapa do plano e subir para o patamar superior, com a tese segundo a qual uma certa “ideologia de género”, uma misteriosa conspiração mundial que estabelece o predomínio das mulheres ou que quer transformar toda a gente em homossexual, segundo as versões (no Brasil, Bolsonaro chamava-lhe o “kit gay”), está a perseguir o coitado do Vitorino. A partir daí, foi descabelado: ele, que até tem amigos gays (não têm sempre?) estava a ser atacado por um “protofascismo”, tendo saído em sua defesa um surpreendentemente esbracejante Fernando Negrão, que chegou ao ponto de pedir uma conferência de líderes parlamentares para proteger a nação desta evidente “morte da democracia”.

Mesmo Pedro Duarte, normalmente elegante, foi a um programa de televisão ensaiar uma conversa sobre a “ideologia de género”, essa porcaria que, pelos vistos, contaminaria as nossas crianças com o vírus gay. Até um ex-diretor de jornal sério se misturou com a campanha acerca desta sinistra conspiração planetária da “ideologia de género”. No PSD, há uma espécie de corrida à “porcaria”, treinando os Bolsominions disponíveis para se porem na grelha de partida destes temas fascinantes. É que há um “ataque à família”, sentenciou aqui no Expresso o indignado Vitorino.

A agenda tem, no entanto, dois problemas. O primeiro é que é preciso que o povo e o eleitorado estejam dispostos a estes laivos de excitação. Se estivessem, esta agenda mudaria a política, e a direita precisa mesmo de deslocar a agenda, pois sabe que a discussão sobre pensões, salários, ajudas à banca, saúde e habitação não a leva a lado nenhum. Mas, se as pessoas não estiverem para estas trovoadas de medo, a conversa é só ridícula — e ser ridículo não convém nada a um candidato.

Depois, há ainda um segundo problema, o pior, que é o mal da precipitação e, aí, não perceberam a arte do mestre Bolsonaro. É que é preciso que o medo amadureça, é preciso meses, anos de medo, é preciso muito ódio para que o ódio se torne uma voz. E isto foi tudo feito à pressa, não foi?

Esgrimir a “defesa da família” para tentar um voto religioso, sugerindo o missal e o confessionário para proteger a família em tempos em que Papa Francisco reúne os cardeais no Vaticano para combater a epidemia de casos de pedofilia na Igreja Católica, é simplesmente tosco. E inventar o perigo de uma “ideologia de género” para criminalizar o feminismo ou o combate à homofobia, logo depois de três semanas de show eletrizante de Neto de Moura, com a moca de pregos, a lapidação ancestral das mulheres indignas, os cem mil euros exigidos a cada humorista que o criticou e tudo o mais a impor-se no noticiário nacional e a revoltar Portugal, não é só tosco, é mesmo pateta.

O Bolsominion Vitorino estava treinado no tema, sabia a música e decorou o refrão, estudou como se faz, os comparsas até tentaram salvar o roteiro, mas quanto mais fizeram mais demonstraram o descompasso entre a gritaria e a total indiferença do país perante esta “porcaria”. No entanto, a quem se ri com este fracasso, deixo o alerta: isto vai voltar, com Bolsominions mais habilidosos, mais persistentes, com patranhas mais saborosas, com medos mais medrosos. Bruno Vitorino só mostrou a excitação que vai naquela gente e pôs-se demasiado em bicos de pés. Virão outros e serão mais perigosos.

Mutação e metástases: uma década de crise europeia

Ladrões de Bicicletas


Posted: 18 Mar 2019 03:36 AM PDT

Excertos de um texto publicado em Esquerda.net, acessível aqui.
"O euro chegou aos vinte anos sem grandes motivos para festejo. Apesar dos retratos entusiastas – Trichet, ex-presidente do BCE, descreveu o euro como um “sucesso histórico (...) em termos de credibilidade, resiliência, capacidade de adaptação, apoio popular e crescimento real”, enquanto Juncker elogiou a “prosperidade e proteção” trazida pela moeda única – a história é um pouco diferente. Mais de uma década depois da crise financeira de 2007-08, a recuperação na União Europeia tem sido dececionante, e os ténues sinais positivos nos números do crescimento económico e do emprego não têm sido acompanhados pelos salários, cuja estagnação surpreende as instituições europeias. O agravamento da desigualdade é um dos traços principais dos últimos dez anos.
A conclusão do QE no final de 2018, e a consequente subida esperada das taxas de juro, poderia colocar em causa a recuperação da atividade económica na zona euro e fazer reemergir problemas que apenas foram ocultados na última década. Draghi não perdeu tempo e lançou um novo programa de estímulos monetários e facilitação do crédito aos bancos há poucos dias – “num quarto escuro, movemo-nos com passos curtos”, justificou o presidente do BCE.
No entanto, os “passos curtos” não serão suficientes para evitar a recessão que se aproxima. O FMI já anunciou previsões em baixa para o crescimento em 2019, e os analistas começam a suspeitar que o abrandamento pode não ser passageiro. Os índices financeiros continuam a sugerir bolhas especulativas nos mercados de ações e obrigações (Alan Greenspan alertou há mais de um ano), e a volatilidade crescente revela o nervosismo dos investidores – prudente, o The Economist avisa que é provável que “este ano seja mais acidentado que o costume”. É por esta combinação explosiva que no seu recente livro Crashed: How a Decade of Financial Crises Changed the World, Adam Tooze afirma que “o cenário com que nos deparamos agora não é de repetição, mas de mutação e metástases”. Uma década de estagnação acentuou os desequilíbrios da Zona Euro e revelou a desorientação das elites europeias."
O resto do texto pode ser lido aqui.

Entre as brumas da memória


Direitos humanos?

Posted: 18 Mar 2019 01:26 PM PDT

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Democracia na Coreia do Norte? É uma questão de opinião…

Posted: 18 Mar 2019 11:00 AM PDT

Isto é o que diz a Wikipedia (para não ir mais longe). Mas sei lá! Se calhar é só uma opinião… «Democracia é um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente — diretamente ou através de representantes eleitos — na proposta, no desenvolvimento e na criação de leis, exercendo o poder da governação através do sufrágio universal. Ela abrange as condições sociais, econômicas e culturais que permitem o exercício livre e igual da autodeterminação política.»

«Porque é que tem tanta dificuldade em admitir que não há uma democracia na Coreia do Norte?

Jerónimo de Sousa – O problema não é esse. O que é a democracia? Primeiro tínhamos de discutir o que é a democracia.

Passa por termos políticos eleitos, por exemplo. Esse é um princípio basilar da democracia. Na Coreia do Norte isso não existe, existe um princípio sucessório.

Jerónimo de Sousa – É uma opinião.»

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Autonomia das Escolas e Direitos Humanos (LGBTI)

Posted: 18 Mar 2019 07:34 AM PDT

O meu amigo Paulo Trigo Pereira sabe do que fala.

«Há palavras que apenas desmerecem e qualificam quem as profere. Chamar “porcaria” a uma acção de formação numa escola sobre “diferentes orientações sexuais” em que os alunos participam voluntariamente, e qualificar de “qualidade duvidosa” uma respeitável associação de jovens, demonstra preconceito, homofobia e ignorância. Afirmações destas proferidas por um obscuro cibernauta, não nos admiraria, mas por um deputado da nação já surpreende e choca. A questão ganha foros de cidade, quando o partido desse deputado, PPD-PSD, dá cobertura a esse desvario, em carta ao Presidente da Assembleia da República, embora a pretexto de uma questão conexa, mas colateral – a queixa apresentada por duas deputadas do Bloco de Esquerda contra esse deputado. Ou quando o CDS faz uma questão ao governo para saber se a Escola “cumpriu os referenciais do Ministério da Educação, que incluem os temas da igualdade de género e de sensibilização da diversidade de orientações sexuais, ou se extravasou as suas competências nesta matéria”. (…)


Ao contrário do deputado do PSD conheço bem a rede ex aequo. Basta consultar o meu registo de interesses na AR para ver que fui presidente da Assembleia Geral de uma Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género. Fundámos a AMPLOS há dez anos e a minha mulher é, desde essa data, presidente da sua direção (declaração de interesses feita). Porque o fizemos? É também muito simples. Temos duas filhas, uma lésbica, e não admitimos que nem ela, nem ninguém, seja discriminado. A não discriminação de pessoas LGBTI insere-se num campo mais vasto de luta contra todas as formas de discriminação: que inclui discriminação por género, raça, pessoas com deficiência, entre outras. (…) A nossa filha Catarina vive em Berlim e um dos primeiros comentários que lhe ouvimos, desde que lá está, foi: “ao contrário de Portugal, aqui na Alemanha não sinto reprovação social por ser quem sou.”. É por isso, e por todos os jovens que sofrem a discriminação e o preconceito que, ano após ano, vamos num fim de tarde de verão ao acampamento da rede ex aequo. Sentamo-nos em roda, com dezenas de jovens, e conversamos. Todos os anos vemos lágrimas que correm pelas faces de muitos que ainda não tiveram a coragem de contar aos pais aquilo que são.»

(Daqui.)

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A origem do mal

Posted: 18 Mar 2019 04:04 AM PDT

«Primeiro, incredulidade. Vê-se o cano da arma, a disparar sem descanso, como se fosse tudo de brincar. Lá em casa há jogos assim. O jogador adivinha-se, não se vê, faz-nos deixar adivinhar. Pode ser qualquer um por detrás daquele metralhar. São jogos, têm nomes, e há sempre uma guerra no jogo onde se mata sem se sentir e uma guerra fora do jogo, entre pais e filhos, a limitar e a ceder para voltar a limitar e a ceder.

Depois o horror. Aquela matança em direto nas redes sociais não é de brincar. É um fanático que prime o gatilho, em imagens sucessivas de gritos de morte e de pessoas-pessoas a caírem. E a arma carrega uma e outra vez. Sangue verdadeiro. Loucura verdadeira, a trazer à memória essa outra matança numa escola brasileira, de motivações diferentes, ambas de um mundo ensandecido que não conseguimos compreender.

Mas temos de tentar. A começar no papel dos media, que está sempre a ser questionado, dentro e fora das redações. É exatamente aqui que o papel da mediação e do escrutínio deve ser valorizado. O vídeo do atirador da Nova Zelândia esteve horas online em várias plataformas. Sem filtros, sem edição, sem contexto. Como se fosse o ambiente de jogo em streaming em que atualmente milhões de crianças e jovens em todo o Mundo jogam. Foi num desses jogos que o terrorista diz ter aprendido o nacionalismo étnico.

O papel dos media não é ignorar essa realidade. Mas é ter sentido de responsabilidade na informação que publicam. Editando, cortando o que deve ser cortado, explicando o que deve ser explicado. Contribuindo para uma leitura crítica do contexto em que o ódio germina, não para a sua exibição voyeurista.

Sobra a origem do mal. As motivações raciais e religiosas. No manifesto publicado online pelos terroristas percebem-se as referências alusivas a outros ataques e a mensagem anti-imigração não podia ser mais clara. E essa é uma reflexão que, não sendo nova, nos é muito cara e próxima. A Nova Zelândia é considerada uma das nações mais seguras do Mundo. O que potencia a mensagem de que não há espaços seguros. O extremismo e a intolerância crescem em diferentes geografias, temos tido demasiados exemplos disso. E num momento tão relevante para a Europa, em que vamos ter eleições e desafios como o Brexit, não podemos desviar-nos das batalhas que realmente importam.»

Domingos de Andrade