Translate

sábado, 23 de março de 2024

 

O terrorismo da NATO/EUA/CEU é a cartada suja de quem vai perder na Ucrânia

estatuadesal

23 de Março de

(Por oxisdaquestão in blog oxisdaquestao, 23/03/2024)

É uma prática conhecida da NATO/EUA: recorrerem ao terrorismo nas suas ações bélicas. No Iraque, na Síria, na Líbia, no Afeganistão. Nomes como Daesh ou Isis são siglas ligadas à CIA e às secretas anglo-sionistas com as francesas a cheirá-las por trás.

Na Ucrânia não havia motivos para não ser assim já que os nazis ultranacionalistas ucranianos são por natureza terroristas que agem contra a sua própria população (bastava que falasse russo) e contra terceiros.

Terrorismo. Sabe-se quem financia o terrorismo nazi ucraniano: a NATO, (os palermas europeus) e os ianques fabricantes de moeda a partir do nada. Entre os mercenários que combatem e morrem churrasqueados pelas terras de Kiev contam-se grupos de muçulmanos e islâmicos transferidos da Líbia, da Síria e desempregados do Afeganistão. Servem para tudo, até para justificar o desaparecimento de biliões de dólares em papel-moeda e armas.

Cada vez mais perto de ter a guerra perdida na Ucrânia, resta aos anglo-sionistas recorrer a ações terroristas – para ter capas nos jornais, aberturas nos noticiários e merdas ditas por comentamerdosos – onde dão a ideia que estão a ganhá-la, e que os papalvos podem dormir descansados, que nenhum russo o vai acordar na manhã do dia seguinte. Há 15 dias tocou o disco da invasão da Europa se…

Diz a rapaziada da esfregona-esferográfica que foi o Daesh. Não diz quem paga ao Daesh e ao serviço de quem está: a história diz que este grupo só não faz parte da CIA por ser composto por árabes porcos e sujos, que falam mal inglês mas não se importam de morrer por 2 dólares. É dos filmes, e até dos de Hollywood, que os perdedores antes da derrota que já sentem se tornam agressivos, irracionais e mentirosos. Mafiosos. Nada estranho que os da Europa até concordem com atentados terroristas, desde que não sejam contra os Charlie, nem contra a polícia de choque do Macron. Contra os russos tudo é bem-vindo, porque Vladimir Putin é um demónio malvado que está a dar cabo de muitos negócios e a atacar muitas oligarquias pós-coloniais que se dizem da civilização ocidental e vivem das guerras, dos seus despojos e dos seus saques…

Até acreditamos que esta construção já esteja pensada e pronta nos MPS (meios de propaganda social) para sair à luz do dia…

sexta-feira, 22 de março de 2024

Os russos não chegarão à ribeira de Cheleiros

estatuadesal

22 de Março de

(Major-General Carlos Branco, in Jornal Económico, 22/03/2024)

Seria sensato que os europeus não aumentassem os decibéis da retórica, num coro de apoio aos EUA, e percebessem ser tempo para reconciliar e recuperar fórmulas de convivência pacífica, já testadas com sucesso no passado.


Para quem não saiba, a ribeira de Cheleiros situa-se genericamente a sul da vila de Mafra e as suas águas correm no fundo das suas margens alcantiladas. Era aí que, nos meus tempos de tenente na extinta Escola Prática de Infantaria (EPI), o seu batalhão de infantaria detinha as forças do Pacto de Varsóvia que, entretanto, tinham cruzado toda a Europa ocidental e derrotado as forças da NATO por onde passavam. Seriam os valorosos infantes descendentes do Santo Condestável a pôr um ponto final no assunto. Mas estávamos todos cientes de que se tratava de uma situação fictícia para enquadrar um exercício de fogos reais.

Os dirigentes europeus desses tempos, de um e do outro lado da “cortina de ferro”, apostaram na dissuasão, porque sabiam que uma guerra quente entre os dois blocos levaria ao extermínio. Falava-se então na Destruição Mútua Assegurada (MAD, Mutual Assured Destruction), um conceito que parece ter sido esquecido pelos atuais líderes do Velho Continente. Pelo menos, é isso que podemos deduzir do discurso desta nova geração de dirigentes que não viveu o flagelo da guerra.

Foi graças à dissuasão e à MAD, que os dois arqui-inimigos coexistiram pacificamente durante mais de quatro décadas. As grandes potências – EUA e URSS – optaram por se confrontar noutras latitudes, noutros teatros de operações, através de guerras por procuração, afastadas dos seus territórios. Os afegãos, os vietnamitas e outros povos de África saberão certamente do que falo.

Recentemente, surgiu na mente de muitos, por ingenuidade ou mesmo por ignorância, a possibilidade, ou antes, a certeza de que Ucrânia iria derrotar militarmente a Rússia, uma potência nuclear, recorrendo apenas ao patrocínio – financeiro, político, de aconselhamento e armamentista – dos seus promotores, sem que estes tivessem de colocar tropas no terreno, com unidades militares constituídas.

Passados dois anos de guerra, é cada vez mais óbvio o irrealismo dessa fantasia. Não sei o que terá mais de acontecer para perceberem que continuar a armar Kiev, não só não terá consequências estratégicas significativas, como apenas servirá para prolongar a destruição da sociedade ucraniana e o sofrimento de um povo que parece não querer continuar a combater, e que o próprio poder político teme em mobilizar à força.

A cegueira e o preconceito ideológico nunca foram bons conselheiros de quem tem de decidir. Quando se meteram nesta aventura, os europeus deviam estar cientes do historial americano de erros de cálculo estratégico.

Avaliação estratégica desastrada

Quando da guerra do Iraque, a França e a Alemanha, os pilares do projeto europeu, distanciaram-se dessa aventura. Agora não tiveram esse discernimento e optaram por engrossar o coro dos apoiantes. Não será necessário recordar o que aconteceu no Vietname, Afeganistão, Iraque e Líbia, entre muitos outros casos. A crença na derrota da Rússia à custa dos ucranianos é mais um caso de avaliação estratégica desastrada.

Frustrada a esperança de derrotar a Rússia, sentimento que começou a desenhar-se com o insucesso militar de Kiev, no outono de 2023, e o consequente aumento da capacidade e dos sucessos militares do Kremlin, tem-se assistido no Ocidente e, em particular, na Europa a uma certa desorientação, à dificuldade em aceitar que apostaram no “cavalo errado”, em reconhecer que as opções tomadas foram equivocadas e que é tempo de arrepiar caminho.

A hipótese de uma vitória russa na Ucrânia – seja lá o que isso for – tida há dois anos como uma tontaria nos areópagos do comentário, ganhou tração no espaço mediático.

Parece, afinal, que as mal preparadas forças russas conseguiram ultrapassar os problemas da falta de granadas e mísseis e, de um momento para o outro, qual fénix renascida, passaram a ser capazes de desafiar militarmente uma comunidade política com mais de 400 milhões de habitantes, que lhe é económica e tecnologicamente superior. O facto desta abordagem ser ridícula, não impediu que esteja a ser repetida à exaustão, procurando convencer a opinião pública da verosimilhança desse absurdo.

O Presidente Macron será, porventura, o expoente máximo do desalento europeu com a provável humilhação estratégica que a Europa poderá vir a sofrer. A tentativa de liderar a resposta a essa afronta coletiva impeliu-o a formar uma coligação fora do quadro da NATO (com a Polónia e os “poderosos” países bálticos) para intervir com tropas na Ucrânia, sabendo de antemão que os EUA não enviarão forças para o terreno e esquecendo-se, provavelmente, das suas debilidades militares.

Em 2011, não fosse a ajuda americana (mísseis, o reabastecimento aéreo, intelligence, etc.) e o ataque à Líbia teria sido um desastre. Para além disso, Paris já entregou 40% da sua artilharia à Ucrânia e não goza de apoio popular para uma tamanha empresa.

A Rússia não terá a iniciativa de invadir o Ocidente. São muitas as razões que explicam esse comportamento. A primeira, prende-se com a incapacidade de, no caso de ser força atacante, derrotar militarmente as forças europeias da NATO, mesmo que estas não tenham o apoio norte-americano.

O Kremlin está ciente dessa realidade. É demasiado óbvio para haver dúvidas. Veja-se a dificuldade da Rússia em derrotar as forças ucranianas, apoiadas pelas forças ocidentais. O Kremlin sabe, por exemplo, as suas vulnerabilidades em matéria de ISR (Intelligence, Surveillance, Reconnaissance), bem patentes no início da guerra, e ainda evidentes passados dois anos.

A Rússia dispõe apenas de 15 AWACS para cobrir todo o seu imenso território, tem limitações de vigilância permanente do Teatro de Operações e na deteção de longo alcance. É evidente a dificuldade em manter uma presença de 24 horas por dia, sete dias por semana, como tem a NATO, na parte ocidental do Mar Negro. A Rússia não tem recursos para manter uma guerra peer-to-peer com a NATO para lá do território ucraniano. Quem afirmar o contrário é ignorante, ou então impostor.

Todas as grandes potências tiveram a tentação de se apoderar da Rússia, ou de parcelas do seu território, para acederem aos seus imensos recursos naturais. Não recuando às invasões anteriores ao séc. XVI, no séc. XVII, a Rússia foi invadida pela Polónia, no séc. XVIII pelos suecos e, no séc. XIX, por Napoleão. Ainda no séc. XIX, tanto a França como os Britânicos combateram a Rússia na guerra da Crimeia. Não há memória de a Rússia ter reciprocado estas ações instigando, por exemplo, rebeliões na Córsega.

No séc. XX, a Rússia foi invadida pelos japoneses em dois momentos diferentes e, durante a guerra civil (1917-1920), por uma coligação internacional, na qual até participou um contingente norte-americano de 17 mil soldados.

O projeto da Casa Branca não é novo

O projeto norte-americano de remover o regime em Moscovo e substituí-lo por alguém mais próximo dos seus interesses, submisso à Casa Branca, como disse Victoria Nuland, um parceiro como queríamos, “um parceiro ocidentalizado e europeu”, não é novo nem original.

Franceses e britânicos tiveram a mesma ideia no final da Primeira Guerra Mundial, por motivos muito semelhantes aos dos norte-americanos. Também eles tinham como objetivo derrubar o regime recém-instalado em Moscovo para ter “vantagem comercial e política”. Segundo o acordo celebrado nessa altura, caberia à França “exercer influência”, eufemisticamente falando, nas zonas da Bessarabia e da Crimeia.

Segundo o “Le Monde”, Macron partilhou com o seu inner circle a intenção de enviar tropas francesas para Odessa, provavelmente para celebrar os 105 anos em que Odessa foi durante cem dias uma província francesa. Gorado o projeto britânico de construir uma base militar naval em Odessa, a França procura agora tomar a dianteira na concretização desse projeto.

A estes sonhos e a estas ambições, terminadas todas do mesmo modo, teremos de adicionar o sonho hitleriano do império de 1000 anos, cuja brutalidade da operação militar deixou marcas ainda hoje bem visíveis na sociedade russa.

Só em duas ocasiões na História, as forças russas/soviéticas avançaram para oeste dos rios Oder e Vístula, na sequência das invasões dos exércitos napoleónicos e hitlerianos, em operações de exploração do sucesso, em resposta ao ataque de que foram vítimas. O que motivaria o Kremlin a fazê-lo agora?

Historicamente, a Rússia balanceou-se estrategicamente para a Ásia e não para a Europa. A ausência de um motivo plausível que explique uma alteração estratégica leva-nos a concluir ser uma falácia a inevitabilidade de um ataque russo à Europa, forjado para distrair as atenções da derrota estratégica que se avizinha no horizonte.

Ao contrário dos EUA e de outras potências, que invadiram ou provocaram mudanças de regime em locais não contíguos com os seus territórios, a Rússia atuou militarmente em dois locais – Geórgia e Ucrânia – que lhe são contíguos e nos quais houve anteriormente operações de mudança de regime provocadas por Washington. Curiosamente, foram estes os dois países convidados para aderirem à Aliança na Cimeira de Bucareste, em 2008. Convinha relacionar os acontecimentos e tirar daí ilações.

É tempo de recuperar fórmulas de convivência pacífica

Não é controverso o rearmamento europeu e o reforço da sua preparação militar (Schengen militar, transportes militares, construção de caminhos de ferro e autoestradas, etc.) se for subordinado a uma lógica de dissuasão. É, aliás, necessário, desde que não tenha outro fim em vista. Contudo, não deixa de ser caricato que figuras como Ursula von der Leyen, que colaborou ativamente no enfraquecimento das forças armadas germânicas enquanto ministra da defesa (2009-2014), vir agora liderar o coro dos belicistas. Dá que pensar.

Antes de escalarem o conflito para patamares insustentáveis, os altos dignitários europeus devem considerar no seu processo de decisão: que os EUA não enviarão tropas para a Ucrânia, tendo os europeus de contar apenas consigo próprios; que o conceito MAD continua válido e a Rússia tem vantagem em matéria de armamento nuclear estratégico; que a Rússia não vai atacar o Ocidente; e que o prolongamento da guerra não vai provocar uma alteração estratégica da situação, mas sim piorar a situação da Ucrânia.

É inaceitável que os “Comunicadores Estratégicos” tenham escolhido como tema de recurso a invasão da Europa pela Rússia, uma vez resolvido o problema ucraniano. Cria ansiedade na população fazendo-a crer que a guerra é inevitável, apesar de não existirem indícios técnicos que o possam sugerir. É uma ação de doutrinamento baseada em premissas falsas, promovido pelos setores mais belicistas, para tornar as populações recetivas a aceitarem um confronto militar indesejado com a Rússia.

Seria, pois, sensato que os europeus não aumentassem os decibéis da retórica, e percebessem ser tempo para reconciliar e recuperar fórmulas de convivência pacífica, já testadas com sucesso no passado.

Afinal, a probabilidade de os russos voltarem a passar o Oder ou o Vístula para Ocidente afigura-se nula. Os mafrenses e os europeus poderão dormir descansados. Os russos não chegarão à Ribeira de Cheleiros.

 

 

O TikTok é uma arma contra a hegemonia americana?

estatuadesal

21 de Março de

(Hugo Dionísio in Strategic Culture Foundation, 19/03/2024)

A derrota imposta pelo TikTok à narrativa sionista não deixa de estar relacionada com o papel de Israel na segurança do petrodólar, da hegemonia e da sua derrota pelo mundo multipolar.


No rescaldo da retumbante vitória de Vladimir Putin; após um acto eleitoral com participação muito assinalável (com uma abstenção inferior ao que se passa em regra no ocidente); uma aprovação do actual presidente da Federação Russa, ainda mais elevada; a contradição entre a informação real, testemunhada e constatada por incontáveis observadores internacionais e a informação veiculada no espectro comunicacional dominado pela Casa Branca, obrigam-nos a colocar em perspectiva toda uma batalha informativa que ocorre no universo virtual.

Quando assistimos a notícias de que esta ou aquela plataforma de Silicon Valley vai abandonar a Rússia, à luz da guerra movida ao TikTok, pela plutocracia estado-unidense, não podemos senão considerar que essa saída é uma sorte para o país e o seu povo. Não tivessem as autoridades russas desenvolvido os necessários esforços para construir um ecossistema digital soberano, deixando o país ao sabor dos veículos propagandísticos da Califórnia, e estaríamos a falar de idênticos resultados? Tenho dúvidas!

Um estudo da Rutgers com a NCRI (Network Contagion Research Institute), sobre o alinhamento do TikTok com as perspectivas geopolíticas do Partido Comunista da China, analisa a informação veiculada pela plataforma chinesa, em comparação com o Instagram, utilizando, claro, esta última como referência de controlo.

Subsequentemente, retiram a conclusão de que existe um alinhamento dizendo que, comparando o número de posts entre as duas plataformas, a “perniciosa” TikTok e a “transparente” Instagram, os posts sobre Uigures são de 1 (no TikTok) para 11 (no instagram); sobre o Tibete 1 para 38, Tiananmen 1 para 82 e “democracia em Hong Kong” 1 para 180. Diz o estudo que estes são tópicos “sensíveis” para o governo chinês. Nem por um momento se questiona a veracidade das tais informações sensíveis para a “China comunista”.

Um exemplo concreto é o caso da guerra na Ucrânia, que opõe a OTAN à Federação Russa, em que os posts têm uma relação de 5 (TikTok) para 8 (instagram), quando se trata do movimento “pela Ucrânia”, ou o caso do genocídio em Gaza, em que a relação é de 2 para 6, quando se trata de “apoiar Israel”. O estudo pouco analisa as métricas ao contrário, ou seja, em relação a hashtags que estão em oposição aos interesses de Washington. Mas o que é deveras conclusivo é a total disparidade entre o que o que é mais ou menos referido em cada uma das plataformas. A mesma acusação que é feita ao TikTok, a respeito dos temas sensíveis para o governo chinês, também poderia ser assacada à administração americana, quando se trata de temas que contrariam a sua propaganda, nas plataformas de Silicon Valley. Desse aspecto não trata a Rutgers, e muito menos dos enviesamentos algorítmicos que justificam a disparidade no tratamento de determinados temas. Sabemos bem porque razão existem. E essa razão não abona em favor da Casa Branca, muito pelo contrário.

Se a análise dos hashtags, que supostamente estão no universo de interesses da China, já nos deixa antever que o que é do interesse deste país é diametralmente do desinteresse de Washington, existe uma questão, em particular, que é muito mais sensível do que as restantes, trata-se da causa palestiniana. Por cada 3 posts de “apoio à palestina” no TikTok, temos apenas 1 no Instagram. Isto diz-nos, na minha opinião, mais sobre os EUA do que sobre a China. Considerando que o governo chinês é conhecido por não se imiscuir nos assuntos internos dos outros países e considerando que mantém importantes relações comerciais com Israel, este desfasamento entre TikTok e Instagram é revelador, acima de tudo, das preocupações dos estados unidos.

E por aqui já temos um breve indício do real motor por detrás desta onda anti-TikTok que se tem observado correr o capitólio. A verdade é que a comunidade judaico-americana tem sido a mais activa no lobbying anti TikTok. Um artigo em  www.jewishreviewofbooks.com , com o título “Israel’s TikTok problem” diz com todas as palavras que “proteger os americanos da influência política do TikTok será um ganho para a relação entre Israel e o seu mais importante aliado”. Palavras para quê?

A grande preocupação é o espaço dado pelo TikTok aos grupos pró-Palestina e com ideias que designam de “antisemitas”, sabendo-se o quão exacerbadas são as sensibilidades antisemitas dos sionistas. O alerta que este artigo dá é extremamente sério, apontando para os graves problemas desta elite com a democracia em si. Para além de referir, como factor negativo, o peso demográfico que países como a Indonésia, Malásia ou Paquistão têm no TikTok, influenciando o algoritmo – esta coisa da democracia tem muito que se lhe diga -, todo o artigo apela à atenção da classe dirigente americana para o facto de estar em causa um confronto geracional entre os jovens e os mais idosos. O que os preocupa mesmo muito é que os mais jovens são amplamente mais “pró-Palestina” do que “pró-Israel”. O culpado? É o TikTok! Porquê? Porque os impede de propagar, com eficácia, a sua propaganda.

Esta realidade é mesmo assumida no artigo, quando critica a administração do TikTok, por não aceitar um anúncio pago que dramatizava a questão do retorno dos cidadãos israelitas sequestrados. Ao mesmo tempo, é o sitio internet www.vox.com quem vem relatar o facto de o ministério dos negócios estrangeiros israelita de gastar 1,5 milhões de dólares em propaganda no Youtube, X e comunicação social dominante sobre a mentira – já confirmada – dos 40 bebés decapitados.

Eis, realmente, o pecado principal do TikTok. Mais do que propagar informação de baixa qualidade ou alinhada com as pretensões chinesas, a plataforma não é controlada aos sabores de Washington ou Telavive.

Como que a dar-me razão relativamente a estas coisas da democracia e dos problemas que a Casa Branca tem com ela – bem reportados no tratamento das eleições russas e nas escolhas do povo russo -, é o americano Pew Research Center que numa análise sobre a importância das redes sociais para a democracia, vem dizer-nos que só em três países, mais de metade da população, diz que as redes sociais são más para a democracia: tal é o caso dos Países Baixos, da França e os Estados Unidos. Sendo caricato que, o país que mais redes sociais tem e que mais as controla – ao contrário do que assume -, é precisamente aquele em que mais pessoas dizem ser as redes sociais uma coisa má para a democracia: no caso, os EUA, com 64% de respostas em sentido negativo. Sintomático, conhecendo-se a exposição à manipulação da Casa Branca. Talvez, os povos americano e europeu, não durmam assim tanto.

O que terá isto a ver com toda a propaganda do “Russiagate”, das “fakenews” anti Trump, ou do recente caso TikTok? A meu ver, tudo!  Trata-se, sobretudo, de um problema em lidar com um facto insofismável: a abertura das redes sociais ao mundo, coloca numa posição desfavorável, do ponto de vista demográfico, as pretensões da casa branca, dissolvendo, numa imensa maioria global, a propaganda que Washington fabrica para denegrir os governos que não lhe obedecem. Como tal, as plataformas que não obedecem aos seus ditames, eliminando os posts ou os usuários que estão em contradição com a propaganda ocidental, têm de ser banidas. O que não faltam são artigos como o da www.nbcnews.com, a referir que “os críticos renovam chamadas para um banimento do TikTok, alegando que tem um desvio anti-israelita”. É todo um modelo unipolar que está em causa.

Assim, o problema dos EUA com o TikTok é simples. O TikTok representa um contraponto digital, ao nível dos contrapontos que já existem no real. O mundo virtual era visto, até há muito pouco tempo, como uma espécie de paraíso celestial – qual jardim do Éden neoliberal – totalmente controlado pela cúpula do poder estado-unidense. Até que, um dia, alguns países começaram a encontrar soluções que favorecessem a criação dos eu próprio ecossistema digital.

A fatídica e estratégica decisão sucedeu com a República Popular da China ao rejeitar um Google e um Facebook “sem travões manuais”, que não funcionassem segundo os trâmites que a Casa Branca havia definido para o seu território, mas segundo os seus próprios. A Huawei, TikTok, Wechat, Aliexpress e outras plataformas digitais de topo, são “filhas” dessa decisão chamada, no ocidente, como a “a grande Firewall da China”. E o mais caricato disto é que a existência da “grande firewall da China” é, sobretudo, responsabilidade da agressiva e intrusiva política externa americana. Se alguma verdade o estudo da Rutgers nos ensina é que a agenda americana anti-chinesa foi responsável, em parte, pelos problemas geracionais que os EUA encontram, hoje, entre a sua população e que respeitam às relações entre o seu território americano e o seu braço no médio-oriente.

E esta leitura pode ser parcialmente confirmada numa poll da Universidade de Quinnipiac de 17 Outubro de 2023, a qual diz que os votantes, com idades entre os 18-34 anos, 39% desaprovam o envio de armas para Israel combater o Hamas, dos 35-49 anos (35%), enquanto os que têm mais do que 50 anos, só 17% desaprovam o envio. Ou seja, verifica-se uma fractura geracional clara (50% de diferença), confirmada no facto de as métricas do TikTok apontarem para uma equidade no número de visualizações, dos últimos 30 dias, relativamente a vídeos com a hashtag “apoio a palestina” e “apoio Israel”. Algo que não sucede nas plataformas de Silicon Valley.

Em resposta à intenção chinesa de não estar dependente de um ecossistema dominado por Washington, choveram ataques. “Na China não há liberdade”; “na China a ditadura é tanta que nem o Google é igual”. Sintomaticamente, quer a China, quer a Rússia, demonstraram, desde cedo, querer desenvolver o seu próprio ambiente digital, antecipando, de forma tão independente como sapiente, os riscos relacionados com o acesso, em larga escala, às mentes dos seus povos. Por portas travessas, a atitude da Casa Branca, dá razão aos dois países. Hoje, é a Casa Branca que quer proteger o seu espaço virtual vital.

Poderia concordar-se, ou não, com as limitações que a RPC, à data, exigiu no motor de busca e cuja renitência em aceitá-las, levou ao bloqueio dessas aplicações. Hoje, percebemos que para a Alphabet e Meta não se tratava de aceitar aplicar “limites”, mas, sim, de quem os definia e mandava aplicá-los. Simplesmente – e paradoxalmente – era ao Tio Sam a quem cabia aplicar limitações, não se reconhecendo ao próprio Estado Chinês o poder de as aplicar em seu território. Inversamente, aplicando-as por cá, mais do que nunca, o Tio Sam acusa a RPC de querer impor uma “autocracia digital”.

Assim, no plano material, com a inauguração do mundo multipolar, a crescente autonomia de nações como o Irão, China, Rússia, India, Brasil, Arábia Saudita, África do Sul, não demorou a que, também no plano do digital, se começasse a fazer sentir a “ameaça” da multipolaridade. Esta imposição da “grande firewall da China” constituiu, na minha opinião, um passo importante neste processo.

O primeiro sintoma deste sucesso foi a Huawei, ao desafiar a ditadura das tecnologias de comunicação, até aí monopolizadas pelos EUA. A Huawei, acima de tudo, significava o acesso às mais avançadas tecnologias do futuro, por parte de um país considerado “menor”, pela elite supremacista anglo-saxónica e seus wannabees. Estancar este desenvolvimento tornou-se uma das principais tarefas dos EUA, do seu empreendimento de “contenção da China”. Um sinal óbvio deste sucesso é que o discurso estado-unidense tem vindo a passar do nível de “contenção da China” para o nível, mais agudo, de “contrariar a China”, o que parece indiciar um reconhecimento do insucesso. Já não se trata de “conter”, mas de contradizer, anular, contra-atacar, “contrariar” o que não foi contido.

Resultado destas escolhas é que, quem ler a proposta H. R. 7521 (Protecting Americans from Foreign Adversary Controlled Applications Act) ou o relatório, que serviu de fundamento à proposta de lei, emitido pelo Comité de Energia e Comércio, pode constatar, pelas próprias palavras dos EUA, aquelas que terão sido as principais preocupações da China, à data da tentativa de entrada, sem limites, do Google e Facebook, no seu território. Todos os riscos que ali se apontam ao TikTok, muitos deles já apontados à Huawei, constituem práticas conhecidas, encetadas pelos EUA, contra os países que não guardam o seu espaço virtual, como deveriam e como exigiria a protecção da sua soberania e os interesses dos seus povos.

Eis o que se diz, logo no início, no relatório do Comité de Energia e Comércio: “adversários estrangeiros usaram o acesso aos dados (…) como disruptor da vida diária dos americanos, conduzem actividades de espionagem e empurram campanhas de desinformação e propaganda na tentativa de minar a nossa democracia e ganhar influência mundial e ao controlo”.

Sintomaticamente, temos de levar muito a sério esta coisa do “controlo” e do “interesse nacional”. De acordo com os dados fornecidos pelo próprio relatório, o TikTok está em 150 países e serve 1 bilião de pessoas, entre as quais, 170 milhões de americanos. E este é um drama real para Washington. Como controlar as mentes de um povo, quando metade segue uma plataforma que não controlam? Como manipular as mentes de 170 milhões de americanos, quando a tecnologia que poderia ser usada para as manipular está na China? Como recolher os dados de 170 milhões de pessoas, agregando-os em perfis e predizendo os seus comportamentos, para que os possam impulsionar nas direcções pretendidas, quando esses dados estão armazenados na China? Se Israel está em perigo, logo, o dólar e a hegemonia também o estão.

Entretanto, o accionar do botão de pânico também está relacionado com o efeito que o TikTok possui enquanto disruptor do ambiente virtual, monopolista, criado em Silycon Valey. A CIA, através da DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency), criou todo um ecossistema virtual, transportando para aí cada uma das mentes do seu povo. Esse ecossistema, controlado em todo o ocidente, apenas e tão só, pelas agências de segurança ao serviço de Washington, pretendia um certo grau de invulnerabilidade. Para ser perfeito, o fluxo de dados teria de ser fechado e estanque, para que não houvesse infecção dos algoritmos, e com ela, uma disrupção do funcionamento “harmonioso” do sistema de “capitalismo de vigilância”, como muito bem lhe chamou Shoshana Zuboff.

É este ecossistema, através do qual as agências de segurança dos EUA monitorizam, em tempo real, toda a informação digital dos povos do mundo, prevendo e produzindo comportamentos, promovendo e despromovendo partidos, governos e figuras públicas, acelerando ou atrasando agendas, que está em causa.  Acima de tudo, com o TikTok, a preocupação do regime instalado em Washington ultrapassa os níveis de ansiedade da administração Trump, com a Huawei. Mal ou bem, com a Huawei estavam em causa os aspectos tecnológicos mais estruturais, mais arquitectónicos. Com o TikTok, o que está em causa é o próprio sistema nervoso central da internet. A China passou a ter acesso privilegiado à rede neuronal e ao sistema nervoso central de um corpo, que os EUA haviam criado para dominar o mundo.

Com o monopólio virtual profundamente afectado, no seu próprio território, os EUA optam por dar um tiro no pé, como o fizeram quando decidiram carregar a Rússia de sanções sem fim.  Devido a esta acção sobre o TikTok, os EUA enviam mais um sério aviso aos países que detêm capital e investimentos no ocidente. A qualquer momento, uma alteração legislativa, um pretexto geopolítico, uma falsa denúncia, pode justificar um confisco.

Para posicionar o TikTok na linha de tiro, os EUA voltam a olhar-se ao espelho. No preâmbulo, a proposta de lei H.R. 7521, faz referência à Lei chinesa para a Segurança Nacional, publicada em 2017, fazendo uma clara distorção, quer do seu conteúdo, quer do seu âmbito territorial. Fazendo referência ao que sabemos ser o artigo 7.º dessa lei – através do relatório do comité de energia e comercio –, referem que existe o risco do TikTok ser chamado a partilhar os dados pessoais internacionais com o governo chinês, uma vez que, como alegam, todas as organizações, publicas ou privadas, têm de colaborar com os esforços dos serviços de inteligência chineses. O que é verdade, em parte, pelo menos. O texto do artigo 7.º da Lei de Segurança Nacional da RPC, diz o seguinte: “Todas as organizações e cidadãos apoiarão, auxiliarão e cooperarão com os esforços de inteligência nacional, de acordo com a lei, e protegerão os segredos do trabalho de inteligência nacional de que tenham conhecimento”.

O que o texto da proposta não refere é o que vem no artigo seguinte da Lei de Segurança Nacional da China. Afinal, exige o artigo 8.º da mesma lei “respeitar e proteger os direitos humanos, protegendo os direitos e interesses consagrados aos indivíduos e organizações”. Ou seja, ao contrário do que diz o congresso dos EUA, esse auxílio está condicionado ao cumprimento de lei e dos direitos dos cidadãos e organizações, não se tratando de um poder discricionário, autoritário e autocrático.

Mas, a principal distorção introduzida no relatório do comité de energia e comércio, consiste mesmo na interpretação territorial da Lei Chinesa de segurança nacional. O artigo 7.º da Lei da Segurança Nacional da RPC é para ser lido no quadro da constituição chinesa, ou seja, a cooperação cinge-se a pessoas e organizações de nacionalidade chinesa, relativamente a acções praticadas em território chinês.

E é precisamente na China que a Bytedance mantém a sua base tecnologica fundamental. Essa é mesmo o maior dos obstáculos dos EUA. Ao contrário do que dizem os promotores da proposta que visa “proteger os americanos do adversário estrangeiro – lei de aplicações controladas”, não se trata do receio de que os seus 170 milhões de americanos sejam monitorizados. Afinal, realisticamente, todos sabemos, pela prática e pela teoria, que a China tem uma doutrina de não ingerência nos assuntos internos dos outros países. Por muito que falem da Lei Chinesa de “Protecção de Dados”, de 2020, esgrimindo o argumento de que esta prevê a utilização de dados pessoais e organizacionais para prevenir e antecipar riscos para a segurança nacional, nada disto é inovador nem constitui excepção, nos dias de hoje, em qualquer país que se preze por querer proteger o seu povo. Já monitorizar todo o povo, como fazem os EUA, é totalmente injustificado.

O que realmente preocupa o regime plutocrático e gerontocrático americano, é o monopólio. Um império faz-se de monopólios, e para se ser império não basta ser-se grande, é preciso monopolizar-se. E para construir e manter um império hegemónico, é fundamental monopolizarem-se os sectores estruturais da economia. E este é o problema real. O TikTok, não apenas destrói o monopólio de Silicon Valley, competindo furiosamente com tais plataformas, como lhes rouba o espaço, antes blindado, como acreditava a Casa Branca.

Para proteger o que resta do monopólio, que tal escolher alguém que sentimentalmente se sinta ligado a esse desígnio? A escolha recaiu sobre o ilustre congressista nascido em Nova Deli de descendência indiana, Raja Krishnamoorthi. O certo é que Raja tem tudo a ver com o que seja anti chinês, como por exemplo, as suas responsabilidades no “Comité Selecto da Câmara dos Estados Unidos sobre Competição Estratégica entre os Estados Unidos e o Partido Comunista Chinês”. É óbvia a intenção democrata, uma forma de transformar algo político, num desígnio pessoal, que busque o confronto e a provocação directa.

Assim, assistimos a mais um acto de desespero, cujo efeito resultará no incremento da já instalada desconfiança em relação à seriedade com que o ocidente encara a sua própria ideologia de “mercado livre e aberto”. Na liderança de um sector inaugurado pelos próprios EUA, ultrapassando-os no seu próprio jogo, Titok e China demonstram, assim, que os tempos de exclusividade e acesso restrito ao que de melhor o mundo pode dar, são tempos idos. Tal como a Rússia já havia demonstrado que se tinha acabado o tempo de desmandos à volta do seu território.

Daí que, pensando em impérios e monopólios – a propósito de uma resolução recentemente aprovada no Parlamento Europeu que visa “descolonizar, desimperializar e refederalizar a Rússia” -, esta questão do TikTok, uma vez mais, demonstra a existência de um movimento de desagregação.  O TikTok está para o mundo virtual como os BRICS estão para a desdolarização, no mundo material. Ambos são processos inexoráveis que ameaçam acelerar a “desimperialização” do ocidente.

Esta relação do TikTok com Israel é premonitória. A derrota imposta pelo TikTok à narrativa sionista não deixa de estar relacionada com o papel de Israel na segurança do petrodólar, da hegemonia e da sua derrota pelo mundo multipolar. O TikTok coloca tudo em perigo!

segunda-feira, 18 de março de 2024

 

 A esquerda, as eleições e a guerra na Ucrânia

estatuadesal

17 de Março de

(Whale project, in Estátua de Sal, 16/03/2024, revisão da Estátua)


(Este artigo resulta de um comentário a um texto que publicámos, de Miguel Castelo Branco, sobre o envio de 100 milhões de euros para a Ucrânia, (ver aqui). Pela sua atualidade resolvi dar-lhe destaque.

Estátua de Sal, 17/03/2024)


Se as eleições tivessem sido em Março, ou em Abril de 2022, tinha sido pior ainda.

O Bloco de Esquerda, após a Guerra do Iraque, tratou de arrepiar caminho e engolir todas as narrativas do Natostão.

Foi assim na campanha de destruição da Líbia, foi assim na Síria, foi assim até com uma certa justificação do acho meio tresloucado do Trump ao assassinar o General iraniano Qasem Soleimani. Afinal de contas, garantiam os bloquistas, o homem não tinha feito nada pela democracia. Presumo que isso justificaria alguém ser assassinado. A esse título, metade da população mundial poderia ser morta.

Na guerra da Ucrânia trataram de manifestar, desde a primeira hora, a solidariedade sem reservas aos pobres ucranianos e a condenação total da Rússia.

Foi assim que conseguiram evitar os ataques cerrados dos comentadeiros a soldo da hierarquia e manter o seu eleitorado. Afinal, não vem mal ao mundo num partido que defende os pobrezinhos e uns salários mais decentes, mas não toca nas grandes narrativas dominantes.

Ora, o que o Partido Comunista disse acabou por não ser muito diferente do que disse o Papa Francisco, quando referiu que, talvez isto não tivesse acontecido, se a NATO não andasse a ladrar às portas da Rússia. E tratou de ressalvar que em nada se identifica com o regime oligárquico de Putin, mas que era preciso reconhecer que havia forças sinistras na Ucrânia - nomeadamente nazis -, e que um país como a Rússia - que muitas vidas perdeu para o nazismo -, devia sentir-se ameaçado, já que a NATO tudo fez para que a guerra acontecesse. Em nenhum momento o PCP deu qualquer apoio expresso ou tácito à invasão russa, apenas disse que a dita não nasceu do nada, mas sim de um processo de provocação que começou, pelo menos em 2014.

Claro que, como esse partido é uma verdadeira pedra no sapato da oligarquia que nos faz perder direitos todos os dias, a nossa comunicação social, detida pelos nossos oligarcas, tratou logo de arregimentar os comentadeiros para fazer a colagem e criar a identidade, comunistas = putinistas. E, tal era tanto a verdade e ficava provado, por o Partido Comunista Russo ter apoiado a invasão. A sério, houve quem dissesse isso.

O que não deixa de ser caricato. A invasão russa foi-nos vendida como um ato solitário e tresloucado de um homem que se sabia à beira da morte por cancro, e queria, de algum modo, ficar na História. Mas depois já os comunistas portugueses deviam pagar porque os comunistas russos tinham apoiado a suposta decisão tresloucada e solitária de Putin. Aí, já não era suposto, até terem tido medo de serem mortos por aquele temível envenenador.

Ora, no caso dos comunistas russos, e de todos os outros partidos com assento na Duma, em Fevereiro de 2022 toda a gente sabia que haveria uma grande invasão ao Donbass. Dirigentes banderistas prometiam o massacre de pelo menos um milhão de pessoas e a expulsão das restantes para a Rússia.

E, desde 16 de Fevereiro de 2022, a coisa estava bem encaminhada. A artilharia começou a atacar forte e feio e as explosões chegaram a ser reportadas pelos nossos media como festejos com fogo-de-artifício, pelo facto de Putin finalmente ter reconhecido a independência daquelas regiões da Ucrânia.

A verdade é que nenhum partido russo - por muito amante da paz que fosse, ou se afirmasse -, queria ter às costas o ónus da morte de um milhão de pessoas, violações, torturas, expulsão dos sobreviventes e todas as malfeitorias provocadas pelo modo de atuação já demonstrado pelos bandeiristas. Seria um saldo mortal para qualquer partido, e até para Putin, que talvez enfrentasse aí a revolta popular e militar que nós tentamos instilar com as sanções.

Eu queria ver o que faria o garnisé cantante Macron, o cara de pão ralo do Scholz, ou até a senhora de cabelo lambido Van der Pfizer, se se vissem ante a possibilidade de enfrentar, em tempo curto, um pelotão de fuzilamento ou o fundo da Sibéria. Talvez tratassem de renunciar e deixar a outro o pepino.

Por cá, o PCP foi logo vilipendiado e mais ainda quando, no 25 de Abril, os deputados comunistas não quiseram engolir o sapo de ouvir o que o liberticida Zelensky - que por lá, na Ucrânia, atacava os comunistas com a fúria dos nazis -, tinha a dizer na nossa casa da democracia. Justamente no dia em que festejávamos a queda de um regime, semelhante ao que ele instituiu na Ucrânia, já antes da invasão russa. Esta, deu lhe o mote para avançar mais ainda, ilegalizando tantos partidos - ao que consta, doze -, mas já antes opositores desapareciam, eram assassinados em plena rua, tinham de fugir para a Rússia ou iam malhar com os ossos na cadeia. Cadeias, que são muito más para a saúde e, onde as mortes são tantas, que é preciso cremarem os mortos.

Pois foi este traste que os deputados bloquistas ficaram a ouvir, enquanto os deputados comunistas trataram de se poupar da azia de ficar a ouvir o carrasco dos comunistas ucranianos. Mas, aos bloquistas, não fez nenhuma mossa o destino dos esquerdistas ucranianos. Já para não falar de outras minorias para eles tão queridas.

São escolhas e, temos de concluir que em termos de ganhos eleitorais, a escolha bloquista, desde a destruição da Líbia, é a mais acertada. Esta escolha contribuiu, em muito, para os comunistas serem mais uma vez os maus da fita, só faltou o comem criancinhas.

Assim, até tivemos um fascista ucraniano a pedir, em direto na televisão, a ilegalização do PCP e a perguntar como é que era possível ainda haver em Portugal um partido comunista, sem que ninguém, mesmo à esquerda, o mandasse para a senhora mal comportada que o desovou. Nas rodas de bêbados, de onde certamente saíram muitos dos votos do Chega, ouviam-se, desde pedidos da tal ilegalização, até à deportação para a Rússia de todo aquele que fosse militante comunista. Em frente a algumas sedes do PCP foram colocados verdadeiros altares em homenagem às vítimas da guerra na Ucrânia, na Ucrânia ocidental, bem entendido, as paredes pintadas com slogans de todo o tipo. E, como se viu, a campanha resultou em pleno. Claro que alguma coisa falhou na campanha comunista, que nunca conseguiu desconstruir esta narrativa aldrabona e nefasta.

Mas se o PCP ainda teve alguma votação foi mesmo porque as pessoas começam a estar fartas da Ucrânia. Sonharam com uma guerra rápida e agora veem- se perante um conflito que ninguém arrisca dizer como acabará. Estão fartas de perder dinheiro e direitos porque é preciso ajudar a Ucrânia. Não fosse isso e, talvez, tivessem tido o mesmo destino que o CDS teve nas eleições de 2022.

Destino que os comentadeiros continuam a vaticinar: "Ainda não foi desta que corremos os comunas do Parlamento, mas para a próxima é que é". A ver vamos, como diz o cego.

sábado, 16 de março de 2024

 

Mandem mais dinheiro para a Ucrânia e depois queixem-se…

estatuadesal

16 de Março de

(Miguel Castelo Branco, in Facebook 15/03/2024)

(É por estas e por outras que o descontentamento grassou no país, tendo sido habilmente explorado pela extrema-direita para alavancar a sua meteórica ascensão eleitoral. É que, se o dinheiro vai para a guerra e para fomentar a morte, não vai para o SNS, a escola pública, as estradas, os médicos, os professores, os polícias, etc. E uma dúvida: estando este governo em gestão corrente, tem competência para tirar dos bolsos dos portugueses tão choruda quantia, ainda mais para a dar a nazis corruptos?

Estátua de Sal, 16/03/2024)


Portugal oferece à Ucrânia mais 100 milhões para a aquisição de munições contratadas a terceiros.

Importa lembrar que o novo grande hospital de Lisboa Oriental custará 390 milhões, um Airbus A320neo, para a renovação da frota da TAP, orça os 100 milhões, um F16, 65 milhões, um cacilheiro 25 milhões, um Canadair de combate a incêndios, 3 milhões e uma escola secundária média, construída de raiz e equipada, não ultrapassa 1.7 milhões.

Não há no Parlamento quem se erga e proteste sem titubeio pelo desbaratar da riqueza nacional angariada em impostos e sacrifícios?

Não há no Parlamento quem confronte o Governo por alienar o erário público em benefício de um Estado terceiro que não pertence à NATO, nem à UE? Este potlach tem de acabar.