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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Trump promete guerra "para ganhar" no Afeganistão

Carlos Santos Neves - RTP22 Ago, 2017, 08:40 / atualizado em 22 Ago, 2017, 13:51 | Mundo

Trump promete guerra para ganhar no Afeganistão
“Não vamos fazer construção de nações outra vez. Estamos a matar terroristas” | Joshua Roberts - Reuters

Num discurso marcadamente bélico, mas opaco em detalhes, Donald Trump comprometeu na última noite os Estados Unidos com uma guerra sem fim à vista contra grupos extremistas no Afeganistão, admitindo mesmo destacar mais tropas para este país. Os taliban já responderam ao Presidente norte-americano. Prometem “um cemitério”.

“Não vamos fazer construção de nações (nation-building) outra vez. Estamos a matar terroristas”, afirmou o Presidente dos Estados Unidos num discurso transmitido pelas televisões, a partir de uma base militar próxima de Washington.
Os inimigos da América no Afeganistão, afirmou Trump, “têm de saber que não têm onde se esconder, que nenhum lugar está para lá do alcance dos braços americanos”.
É uma clara inversão de marcha num dos bordões que Trump empregou na campanha eleitoral. Enquanto candidato, defendia uma rápida retirada da máquina de guerra norte-americana do Afeganistão. E na noite de segunda-feira Trump Presidente admitiu que está a caminhar em rota de colisão com as próprias convicções, ao carimbar o que descreveu como uma nova estratégia dos conselheiros militares da Casa Branca.
“As consequências de uma saída rápida são ao mesmo tempo previsíveis e inaceitáveis. Uma retirada apressada criaria um vácuo que seria instantaneamente preenchido por terroristas, incluindo o ISIS e a Al Qaeda”, justificou-se, sem se comprometer com qualquer tipo de calendário para esta campanha renovada em solo afegão.
Também não se comprometeu com números. Todavia, altos responsáveis norte-americanos, citados pela agência Reuters, adiantam que o Presidente anuiu a planos do secretário da Defesa, James Mattis, que passam pelo envio de mais quatro mil operacionais para o Afeganistão, onde estão atualmente posicionados cerca de 8400.
Outra das passagens sonoras da intervenção do Presidente dos Estados Unidos teve por destinatário o cada vez mais enfraquecido Governo de Cabul. Trump quis deixar claro que o agora mais do que expectável reforço de tropas “não é um cheque em branco”. O dedo do sucessor de Barack Obama designou, concretamente, o Executivo afegão, o vizinho Paquistão, a Índia e os aliados da NATO.
A Islamabad reservou as palavras mais duras: “Não podemos continuar em silêncio sobre os santuários no Paquistão. O Paquistão tem muito a ganhar ao fazer uma parceria com o nosso esforço no Afeganistão. Tem muito a perder ao continuar a dar abrigo a terroristas”.
“Combater para ganhar”
O discurso presidencial foi o culminar de vários meses de um processo de revisão da estratégia da Casa Branca e do Pentágono para o Afeganistão, onde não está afastado um cenário de derrota dos atuais poderes instituídos, encabeçados pelo Presidente Ashraf Ghani, às mãos dos taliban. O que, na ótica os estrategas de Washington, daria a redes terroristas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico a oportunidade de estabelecerem novas bases.“O meu instinto original era retirar”, reconheceu Trump.
“As nossas tropas vão combater para ganhar”, afiançou Trump, sempre a reforçar a ideia de que não há outra solução que não passe pelo uso da força num teatro de guerra que perdura desde outubro de 2001, quando a Administração de George W. Bush atacou o regime taliban em resposta ao 11 de Setembro.
O Presidente norte-americano não fechou por completo a porta a eventuais conversações de paz. E admitiu mesmo a possibilidade de um diálogo com determinadas porções da guerrilha islamita. Para de imediato acrescentar: “Mas ninguém sabe quando ou se isso vai alguma vez acontecer”.
“Um cemitério”
Os taliban não demoraram a responder à intervenção de Donald Trump, prometendo um “novo cemitério” para as tropas norte-americanas no Afeganistão.
“Enquanto houver um só soldado americano no nosso solo e eles continuarem a impor-nos a guerra, nós continuaremos a nossa jihad”, replicou a guerrilha.
O discurso do 45.º Presidente, que durou menos de meia hora, não foi alheio ao contexto de recrudescimento dos conflitos raciais nos Estados Unidos. A dado momento, o Presidente aludiu à vaga de violência que recentemente varreu Charlottesville, no Estado da Virgínia, onde marcharam grupos de supremacistas brancos e neonazis, enfrentados por uma contramanifestação.
“Não podemos continuar a ser uma força para a paz no mundo se não estivermos em paz uns com os outros”, disse.
Em 16 anos de intervenção militar no Afeganistão morreram 2400 soldados norte-americanos. Mais de 20 mil sofreram ferimentos. A ajuda à reconstrução do país custou mais de 110 mil milhões de dólares aos cofres de Washington.

c/ agências internacionais

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