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sábado, 1 de julho de 2017

A União Bancária Europeia é uma ficção



por estatuadesal
(Paul Grauwe, in Expresso, 01/07/2017)
pauldegrawe
                      Paul Grauwe
Para ativar o mecanismo de solidariedade europeia no sector bancário, é preciso confiar que não se abuse desse mecanismo. Esta confiança não existe.
A banca italiana tem problemas há muito tempo. Isto deve-se quase integralmente a uma economia que está estagnada, se não em declínio, resultando no incumprimento de muitas empresas e no facto de os bancos terem em carteira muito crédito malparado.
Os problemas concentram-se agora em dois bancos de Veneto, no nordeste de Itália. Esta região é o coração industrial do país, com muitas PME de êxito em tempos normais mas que perdem hoje competitividade principalmente porque a economia italiana não está bem.
Em 2012, a União Bancária Europeia foi estabelecida para abordar em conjunto crises verificadas num ou mais países. A intenção era pôr fim ao ‘abraço de morte’ entre bancos e Estados, que pode ser explicado da seguinte maneira: Quando um banco começa a falhar num país, é quase inevitável que, no caso de um grande banco, o Governo avance para salvar esse banco. Isto é inevitável porque a falência de um grande banco pode ter um efeito de dominó e provocar problemas de liquidez e solvência em mais bancos e levar a economia para uma recessão. Mas essa operação de resgate custa dinheiro que tem de ser avançado pelo Governo. E a dívida soberana aumenta. O que começou como uma crise bancária pode transformar-se numa crise das finanças públicas do país que sofre essa crise bancária.
A União Bancária foi criada para quebrar este círculo vicioso. Uma crise bancária num país seria resolvida em conjunto, de forma que o custo da resolução da crise bancária fosse distribuído por toda a zona euro. É o que acontece por exemplo nos Estados Unidos da América. A resolução da crise bancária americana de 2008 que se concentrava em Wall Street foi paga por todos os contribuintes americanos e não apenas pelos de Nova Iorque.
É hoje evidente que a União Bancária na zona euro não funcionou. A crise bancária de Veneto foi resolvida pelo Governo italiano e serão os contribuintes italianos e mais ninguém a pagar por isso. Porque é que a União Bancária não funcionou?
A minha resposta é que houve quem não quisesse que funcionasse como estava previsto. Uma união bancária pressupõe que os países estejam preparados para ajudar outros países em alturas de crise. Para ativar esse mecanismo de solidariedade, é preciso confiar que não se abuse desse mecanismo. Esta confiança não existe.
Para compensar essa falta de confiança, foi introduzido o princípio do bail-in. Este estipula que quando um banco experimenta problemas, os custos devem ser suportados à cabeça não só pelos acionistas mas também pelos depositantes e credores, antes de o Governo usar dinheiro dos impostos para aliviar as dívidas desse banco.
À primeira vista isto é um princípio atraente. Não tem de ser sempre o contribuinte a pagar para salvar os bancos. O problema com este princípio, no entanto, é que não consegue perceber a essência de uma crise bancária. Quando um banco tem problemas, depositantes e credores tentam fugir para evitar perdas. Contudo, esta resposta de fuga torna a crise do banco ainda mais provável e força o Governo a agir para evitar estragos ainda maiores.
Este princípio do resgate interno foi introduzido na União Bancária não para evitar que os contribuintes em geral tenham de pagar, mas para escudar os contribuintes do Norte da zona euro, especialmente os alemães, do risco de terem de pagar o resgate de bancos fora dos seus países. Não haja dúvidas de que se o Deutsche Bank tiver problemas, o Governo alemão usará o dinheiro dos contribuintes para salvar o banco. Mas já não dará esse passo se o banco ameaçado for um banco italiano.
A minha conclusão é que a União Bancária na zona euro é na verdade uma ficção. Enquanto não houver vontade de considerar um problema num país como um problema partilhado por outros países, a União Bancária será sempre uma ficção.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Santa Cabana da Misericórdia


por estatuadesal

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 09/06/2017)
quadros

Segundo o nosso jornal, o Montepio vai absorver mais de 18% do activo da Santa Casa. Comprar 10% do Montepio vai exigir que a Santa Casa mobilize quase 140 milhões. Investimento passará a representar mais de 18% do património da entidade liderada por Santana Lopes. Finalmente uma boa notícia, porque, até agora, a Santa Casa dos bancos temos sido nós.
Se a Santa Casa é responsável por fazer excêntricos todas as semanas, os Bancos têm sido capazes de nos fazer mais pobres todos os dias. Mas, quando chegamos ao ponto em que é suposto Santana Lopes salvar um banco, está tudo dito sobre o nosso sistema financeiro.
Uma breve nota para dar a conhecer a história da Misericórdia de Lisboa enquanto ela ainda existe. A Santa Casa da Misericórdia nasceu a 15 de Agosto de 1498, ou seja, já tem idade para ter juízo. A primeira Misericórdia portuguesa surgiu graças a uma especial intervenção da Rainha Dona Leonor. Uma senhora com muita classe que fazia um chá fabuloso e com quem sabia bem ter uma conversa - segundo Lili Caneças. Mais tarde, foram definidos alguns dos trabalhos da Misericórdia, eram eles: dar de comer a quem tem fome. Muito bem. Curar os doentes. Óptimo. Vestir os nus... A pergunta é: será que eles queriam? É que, às vezes, dá jeito estar nu.
Na altura, a Misericórdia teve o total apoio do Rei Dom Manuel I. Dom Manuel era conhecido na corte como Manel, mas foi-lhe dado o cognome de O Venturoso, O Bem-Aventurado ou O Afortunado, pelos eventos felizes que ocorreram no seu reinado, designadamente a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o Brasil, e de ter feito cinco números e duas estrelas no Euromilhões em semana de jackpot. Sai sempre aos que já têm. Gostaria de salientar que, apesar de toda esta sorte, Dom Manuel I nasceu em Alcochete.
A Santa Casa, mais concretamente o Euromilhões, tem feito muito pelos portugueses. Foi graças ao Euromilhões que muitos portugueses passaram a conhecer os números até ao 50. É incrível a quantidade de jogos que existem hoje em dia. A Santa Casa tem o Euromilhões, o Totoloto, o Totobola, o Placard, o Joker, a Raspadinha, a Lotaria Clássica, a Lotaria Popular e a Instantânea. Ou seja, por semana, existem mais de dez hipóteses de podermos ficar milionários. E ainda dizem que Portugal é um país onde há poucas oportunidades.
O Euromilhões tem sido muito importante para os portugueses. Por exemplo, todas as semanas, eu vou a casa da minha avó porque ela quer jogar, mas já tem a vista cansada. A minha avó joga no Euromilhões, no Totoloto e no Joker, mas nunca ganhou nada. Felizmente… Porque eu nunca entrego os boletins e fico com o dinheiro.
Para terminar, e em jeito de conclusão, acho que, de certa forma, faz sentido a Santa Casa ficar com o Montepio se fizer um jogo de apostas em que podemos apostar no dia em que o Montepio vai falir, com um joker para quem adivinhar quanto lá vamos nós ter de pagar outra vez. Ainda assim, faz-me confusão que, com tanta coisa em que investir, como pastéis de Belém e tudo o que esteja ligado ao turismo, a Santa Casa escolha o negócio que mais prejuízo tem dado. Acho que a Santa Casa brinca com a sorte.


TOP 5

Excêntricos


1. Canais SIC Notícias e Internacional deixam de ser emitidos em Angola - deixam de ver o José Gomes Ferreira e aumenta logo o PIB.

2. Sismo de magnitude 3.5 sentido em Amarante - Teodora Cardoso diz que, na realidade, é apenas de 2,8.

3. Marcelo convida idosos da Terceira a visitá-lo em Belém - a nado.

4. Banco Popular vendido por um euro - em dez tranches de 10 cêntimos. O Banco Popular é a nova pastilha gorila que os tipos da mercearia davam quando não tinham trocos.

5. Zé Gomes Ferreira para o PM: "Considera-se um homem com sorte?" - Costa devia ter respondido: "Sim, por exemplo, não liguei quando você disse para investir tudo no BES".