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domingo, 9 de julho de 2017

Pedrogão e Pavia não se fizeram num dia?


Posted: 08 Jul 2017 05:48 PM PDT

1. Foi recentemente divulgado o estudo técnico do IPMA sobre o incêndio ocorrido em Pedrogão Grande a 17 de junho. Juntamente com a carta resumo, o relatório permite articular três conclusões essenciais. Por um lado, confirma a adversidade do quadro meteorológico previsto, a que se associa um elevado risco de incêndio, dadas as altas temperaturas e os baixos valores de humidade relativa registados. Por outro, confirma a elevada instabilidade atmosférica, com ocorrência de trovoadas, tendo sido sinalizados vários fenómenos convectivos na região (massas de ar descendentes a espalhar-se em todas as direções depois de atingir o solo, com ventos muito fortes). Por último, o dado mais relevante para compreender a singularidade deste incêndio, e que é devidamente assinalada pelo IPMA: a conjugação «entre o escoamento divergente gerado pelas células convectivas e o incêndio entretanto iniciado, conduziu a uma grande amplificação da pluma do incêndio, em termos de extensão vertical e velocidade de propagação», configurando uma situação inédita no nosso país.

2. Em artigo no Público de domingo passado, Teresa Firmino sintetiza de forma notável estas conclusões e destaca a importância das imagens do relatório que ilustram a propagação do fogo, ajudando a compreender o que ocorreu na Estrada Nacional EN 236-1, onde perderam a vida 47 das 64 vítimas mortais do incêndio. Às 20h10, a pluma de incêndio (constituída por fumo e materiais), aproximou-se da referida «estrada nacional e às 20h20/20h30 estava a passar por ela». Nesse período, «por causa de uma corrente de ar descendente extremamente forte, o incêndio foi oxigenado e empurrado pelo vento. Espalhou-se a grande velocidade — quase triplicando de dimensão» (isto é, passando a pluma do incêndio de 5 para 14 quilómetros na vertical, o que revela a intensidade e violência do fogo naquele período). Às 21h00, o incêndio tinha já deixado para trás a EN 236-1 (clicar na imagem para a ampliar).



domingo, 2 de julho de 2017

Há uma outra pista para o início do incêndio em Pedrógão Grande

A tese que prevalece é que o incêndio começou com uma trovoada seca, mas na última semana surgiu um novo elemento sobre o ponto de ignição. Afinal, o raio causador do incêndio não caiu em cima de uma árvore. Terá atingido primeiro um posto de transformação das linhas de média tensão, sendo depois conduzido pelos cabos até onde o fogo começou, na zona de Escalos Fundeiros. Uma possibilidade que encaixa na informação do Instituto Português do Mar e da Atmosfera conhecida este sábado de que não caíram raios em Escalos Fundeiros na altura do início do incêndio.

Há uma outra pista para o início do incêndio em Pedrógão Grande
© rui duarte silva Há uma outra pista para o início do incêndio em Pedrógão Grande

Em Escalos Fundeiros, ponto zero do incêndio, a investigação à origem do incêndio está praticamente terminada. Mas na última semana foi comprovada a existência de um novo elemento sobre o ponto de ignição. Afinal, o relâmpago causador do incêndio não caiu diretamente em cima de uma árvore. A descarga elétrica terá atingido primeiro um posto de transformação das linhas de média tensão que passam no local e que depois conduziram o raio até lá. A sequência de eventos determina que no relatório final da PJ o incêndio de Pedrógão venha a ser classificado como tendo origem em “causa acidental de origem natural ligada a trovoada seca”.
Nas primeiras fotos do incêndio, tiradas por Daniel Saúde, que passava o fim de semana na quinta que tem naquela localidade de Pedrógão Grande, é possível ver os cabos eléctricos junto às chamas que ainda começavam. Foi ele quem ligou para o 112 às 14h38, quando viu fumo a surgir no horizonte, acionando os primeiros bombeiros da corporação de Pedrógão Grande.
O raio que iniciou o incêndio não foi visível. Nem o trovão ressoou no vale, como é costume em dias de trovoada, secas ou molhadas, o que levou os populares de Escalos Fundeiros a desconfiar da tese da Polícia Judiciária. Daniel, que estava do lado dos céticos, passou os últimos dias a ler estudos e pesquisas sobre relâmpagos, e aprendeu, diz, “que é possível haver descargas elétricas silenciosas e que poderá ter sido o caso”, admitiu ao Expresso. Por isso, quando, na quarta-feira, foi contactado pela Polícia Judiciária para ser inquirido, enquanto testemunha do início do incêndio, já estava mais propenso (mas ainda não totalmente convencido) a acreditar na teoria.

Fonte: Expresso

sábado, 24 de junho de 2017

Incêndio de Pedrógão Grande foi o mais trágico da última década na Europa

Pedrógão Grande

O porta-voz da Comissão Europeia encarregado da Ajuda Humanitária e Proteção Civil, Carlos Martin Ruiz de Gordejuela, considera que o incêndio de Pedrógão Grande foi o mais dramático dos últimos 10 anos na Europa, pela consequências trágicas que provocou a nível humano.
Em declarações ao Jornal de Notícias, em Bruxelas, Carlos Martin disse que o mecanismo de ajuda europeu "funcionou em condições bastante difíceis, proporcionando uma resposta coordenada a partir das disponibilidades dos estados-membros, e, sobretudo, deu uma oferta rápida no mesmo dia em que Portugal fez o pedido de ajuda". Trata-se, segundo o responsável, este mecanismo" e uma ajuda suplementar para momentos difíceis".
A base do mecanismo de ajuda europeu é voluntária e só é acionada após o pedido dos países que fazem parte de um dos Estados, embora também preste apoio a nações que não fazem parte da Comunidade Europeia. "O que nós fazemos, após ser acionado o mecanismo europeu, é enviar a todos os Estados o pedido de disponibilização de recursos humanos e matérias e depois coordenamos as respostas de acordo com a capacidade de resposta de cada país", referiu Carlos Gurdejuela.
No que concerne ao pedido de ajuda de Portugal por causa do incêndio que deflagrou no sábado, o mecanismo deu resposta a todos as solicitações por parte das autoridades nacionais. Foram enviados sete aviões Canadair, sendo que o primeiro pedido de ajuda chegou à Ajuda Humanitária e Proteção Civil (AHPC) cerca das cinco da manhã (hora de Bruxelas). "Passado uma hora estava a sair a primeira resposta para Portugal", afirmou o porta-voz.
Para Portugal seguiram também 137 bombeiros, com 29 veículos e 42 mapas digitais retirados do programa europeu Copernico, que é uma rede de satélites usados para fazer uma avaliação precisa do terreno, por "serem muito detalhados e poderem ser produzidos em pouco tempo. No primeiro momento não puderam ser produzidos dadas as condições muito difíceis em que a região se encontrava", explicou aquele responsável. Os meios materiais foram para o terreno acompanhados por um coordenador.
Esta sexta-feira, encontram-se ainda em Portugal os aviões espanhóis e italianos, bem como os bombeiros, sendo que as aeronaves francesas regressaram ao seu país, onde risco de incêndio é elevado.
A Comissão Europeia assume 85 % dos gastos com a deslocação dos meios para a zona onde são necessários e os restantes 25 % são assumidos pelo país que os disponibiliza os recursos de ajuda. Existem apoios para os prejuízos em situações de crise que podem ser acionados pelos países afetados, mas são posteriores e não correspondem à ajuda de emergência.

Fonte: JN

domingo, 18 de junho de 2017

Novo balanço: pelo menos 62 pessoas morreram no incêndio de Pedrógão Grande

(Em atualização)

O secretário de Estado da Administração Interna confirma as piores estimativas da noite: o número de pessoas que morreram no incêndio de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, aumentou para 62.
Jorge Gomes disse ainda haver 59 feridos, 18 dos quais foram para hospitais de Lisboa (Santa Maria), Coimbra (Hospitais Universitários) e Porto (Prelada). Há cinco feridos graves, quatro dos quais bombeiros e uma criança.
O representante do Governo admitiu a possibilidade de existirem ainda mais vítimas, uma vez que foi iniciada a verificação de todas as áreas ardidas até ao momento: "É natural que muita coisa possa acontecer."
As operações mobilizam neste início de manhã 687 operacionais, 224 viaturas e três máquinas de rasto. Os meios portugueses vão contar já hoje com ajuda espanhola e francesa. As chamas, que se alastraram aos concelhos de Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, mantêm quatro frentes ativas, duas delas com “extrema violência”. Na atualização das 10 da manhã, Jorge Gomes informou que já não havia localidades em risco.



O que aconteceu?
Foi como se esperava uma noite que parecia nunca mais acabar. Depois de duas horas de reunião no Comando Nacional de Operações de Socorro da Autoridade Nacional de Proteção Civil, em Oeiras, o primeiro-ministro António Costa voltou a falar aos jornalistas para dar conta que o incêndio em Pedrógão Grande terá sido causado por trovoadas secas e que as vítimas estavam todas numa única estrada ou nas suas imediações. Em declarações aos jornalistas, António Costa, considerou que "é prematuro tirar ilações" sobre o que aconteceu.
Questionado sobre o que terá causado tantas vítimas mortais, respondeu: "Neste momento é obviamente prematuro tirar ilações sobre o que terá acontecido naquele local. Algo de muito especial aconteceu, seguramente, pela dimensão das vítimas que teve. Neste momento, a Polícia Judiciária (PJ) está já no local, a quem compete a investigação, com o apoio da Guarda Nacional Republicana (GNR).
Novo balanço: pelo menos 43 pessoas morreram no incêndio de Pedrógão Grande© Rafael Marchante Novo balanço: pelo menos 43 pessoas morreram no incêndio de Pedrógão Grande

O primeiro-ministro adiantou que também o Instituto nacional de Medicina Legal foi acionado e disse que "há que fazer a identificação, e há também que ver as causas". António Costa referiu que "todas as vítimas mortais estavam concentradas numa via de circulação ou nas suas imediações".
"Quando admito que possa haver mais vítimas, deve-se ao facto de haver habitações na zona onde este fenómeno se concentrou, ao facto de desconhecermos quantos ocupantes tinham as viaturas, e já terem sido encontrados corpos aparentemente de pessoas que tentaram fugir das viaturas. Como não sabemos o número de ocupantes, não podemos garantir que não haja outras pessoas que venham a ser encontradas já fora das viaturas, nas suas proximidades", explicou.
156 incêndios em Portugal neste sábado
"Durante o dia houve um total de 156 incêndios em todo o país", informou ainda António Costa. "Neste momento, onze ainda estão ativos e dois suscitam particulares preocupações. Esta situação de vítimas humanas não foi generalizada nos incêndios, ocorreu num único incêndio e num único local", enquadrou. Segundo o primeiro-ministro, "os meios que têm estado empenhados têm respondido à generalidade das situações".
"Houve uma situação meteorológica particular a partir das 14 horas, numa extensão entre Coimbra e o norte do Alentejo, com a sucessão de trovoadas secas que terão estado na origem destes incêndios, e que terão gerado fenómenos meteorológicos de grande concentração e violência, como este que vitimou o conjunto destas pessoas", acrescentou.
Rafael Marchante Visão O IC8, onde foram encontradas algumas das vítimas mortais, está coberto de fumo 1
O comandante operacional da Proteção Civil nacional, Rui Esteves, afirmou que os meios de combate a incêndios enviados para Pedrógão Grande foram os adequados, mas as trovoadas secas eram imprevisíveis.
"Claramente os meios foram os adequados, tanto os meios terrestres como os meios aéreos. Aquilo que não foi adequado foi a incidência de várias ocorrências provocadas pelas trovoadas secas e claramente o vento forte", que fizeram com que o incêndio "rapidamente" avançasse quilómetros em pouco tempo, disse Rui Esteves aos jornalistas, na Autoridade Nacional de Proteção Civil, em Oeiras.
Rui Esteves sublinhou que, dada a dimensão que ganhou o fogo, os meios agora no terreno "não são os suficientes" e daí estarem a caminho cinco "grupos de combate a incêndios florestais" dos distritos de Évora, Setúbal e Lisboa. Por outro lado, chegam hoje de manhã a Portugal dois aviões espanhóis para ajudar nas operações.
O comandante disse que num fogo com esta dimensão não é possível haver "uma varinha mágica" e dizer quando estará extinto, até porque não é possível controlar a meteorologia e hoje pode repetir-se o fenómeno das trovoadas secas e o vento forte.
"A não conseguirmos durante a noite - e a nossa determinação é que seja durante a noite […] - é que amanhã [hoje] durante o dia se termine esse incêndio", afirmou, ao lado do primeiro-ministro, que esteve esta madrugada nas instalações da Proteção Civil.
Rui Esteves disse ainda que "não há viaturas perdidas" dos bombeiros neste incêndio.
"Quem está no terreno tem todas as condições, e condições morais, para continuar esse trabalho. Pela formação, pela capacidade e pelo conhecimento que tem, não temos dúvidas disso", acrescentou, depois de referir os cinco bombeiros feridos, quatro deles com gravidade.
Rui Esteves garantiu, por outro lado, que não houve quebra de comunicações entre os operacionais no terreno e que a EDP está a transportar geradores para as zonas "onde pode haver fragilidade" das antenas de telecomunicações.
Além disso, a elétrica "já contratualizou geradores para repor a normalidade logo que possível" no abastecimento de energia nas zonas afetadas pelo incêndio, acrescentou Rui Esteves.
De acordo com a informação que recebeu da Proteção Civil, o primeiro-ministro advertiu que as trovoadas secas que ocorreram no sábado poderão repetir-se hoje. António Costa referiu que a meteorologia prevê que hoje, domingo, "sensivelmente no mesmo período, e na mesma área, entre Coimbra e o norte do Alentejo, possam voltar a ocorrer novas trovoadas secas".
"É provável que, nas mesmas regiões e no mesmo período horário, possamos ter um fenómeno idêntico", advertiu, pedindo "cuidados redobrados relativamente a todos aqueles comportamentos de risco de incêndio".
"Podemos estar sujeitos a ter uma nova ocorrência desse género", salientou o chefe do Governo, insistindo para que haja "o maior cuidado possível" no período em relação ao qual existe "o alerta de que possa repetir-se este fenómeno".
António Costa adiantou também que "estão acionados já meios aéreos de Espanha" para apoiarem Portugal num "ataque forte e reforçado ao início da manhã" aos incêndios, precisando que são "dois Canadair" para reforçar os meios aéreos portugueses.
"A prioridade agora é que os incêndios sejam controlados durante a manhã, de forma a que os meios estejam o mais disponíveis possível para fazer frente a novas ocorrências que tenham lugar da parte da tarde", afirmou.




No momento próprio, será decretado o luto nacional
"Queria, naturalmente, manifestar pesar por estes falecimentos, em particular às famílias que estejam enlutadas nesta tragédia, que nos comove, naturalmente, e que nos choca a todos pela sua dimensão", declarou ainda António Costa.
Em resposta aos jornalistas, o primeiro-ministro adiantou que "com certeza que o luto nacional será decretado, no momento próprio", mas considerou que "não será seguramente o momento próprio enquanto não estiverem apuradas totalmente as circunstâncias e as consequências".
Questionado se irá ao local deste incêndio no distrito de Leiria, que começou no sábado à tarde em Pedrógão Grande, respondeu: "Se for necessário, irei."

Fonte: MSN