Na última quarta-feira, o Correio da Manhã (CM) cometeu um crime ignóbil sobre outro crime. Publicou um vídeo demonstrando uma agressão sexual sobre uma mulher reconhecível perante terceiros e perante a própria. Após muita indignação veio aquele pasquim tentar justificar-se com desculpas que não cabem no léxico do jornalismo.
Ao contrário do que alega o CM, é mesmo preciso matar o mensageiro. Como foi comentado num post no meu Facebook, foi cometido um crime e é há que apreender a arma do crime.
Para além das duas queixas-crime já anunciadas pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, e de outras iniciativas institucionais que possam ter lugar, talvez seja hora de definitivamente apelar-se à consciência cívica de todas e de todos.
Já escrevi aqui e noutras sedes que a proteção dos nossos direitos de personalidade estão num processo de decadência em curso, para o qual em muito contribui o CM e a CMTV, o poder imenso do grupo Cofina, o corredor de encontros entre Cofina e Ministério Público e a fraca reação por parte de quem deve garantir o Estado de direito.
Já vimos quase tudo e o CM continua a vender, já vimos quase tudo e o medo continua a existir, toda uma gente disposta a escrever no pasquim, a comentar no canal televiso, a responder a perguntas daqueles “órgãos de comunicação social” como se fossem, efetivamente, coisa dessa natureza.
Já assistimos à transmissão de imagens do funeral de uma criança, já assistimos à filmagem de cadáveres nos atentados de Nice, já assistimos à violação dos direitos de personalidade de várias pessoas, já assistimos a perseguições pessoais com a ajuda abjeta e enviesada de meios processuais penais e, na quarta-feira, assistimos ao CM publicando um vídeo com uma agressão sexual.
Como já referi noutro texto, os escribas e comentadores atrás referidos são todas e todos cúmplices até deixarem de ser. Fica a esperança que essas pessoas percebam que estão a ajudar uma máquina criminosa a vender e a ter audiências à custa do desprezo pelo Estado de direito.
Como cidadã, continuarei a não comprar, a não ler e a não responder a perguntas daquela casa.
Que sejamos muitas e muitos a fazer o que mais há de elementar numa democracia: chama-se direito de resistência.
Ovar, 21 de maio de 2017
Álvaro Teixeira