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domingo, 12 de março de 2017

SÓCRATES e os SUBMARINOS! (estatuadesal)

 

(Joaquim Vassalo Abreu, 12/03/2017)
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“Os Alemães inventaram o submarino que é uma espécie de pepino que anda no fundo do mar”, ouvia eu dizer quando era ainda pequenito!
Era um luxo reservado a países com grandes arsenais bélicos, mas depois, depois tornou-se moeda de troca comercial dos países construtores (como a Alemanha na Europa) e contrapartida “oferecida” a generais, almirantes e outros tratantes, satisfazendo e justificando a sua própria existência, para os manterem calados, quietos e mudos.
Só a Grécia foi “obrigada” a comprar seis, por exemplo, e Portugal dois. Os Gregos parece que vieram com defeito e os Portugueses, mal chegados, precisaram logo de revisão. Porquê? Porque estavam parados. Uns largos milhões, “ouvi” eu escrito.
E houve luvas para os vendedores, luvas para os compradores, luvas para os intermediários e…para Sócrates, claro! Em todos os lugares houve presos, menos em Portugal.
E é claro, como foi Sócrates quem os encomendou, quem os comprou e foi ele, através de um amigo, o beneficiário das tais luvas …foi preso. Eu lembro-me bem quando ele chegou e foi detido ao entrar na manga de saída do avião. Trazia droga escondida, era o que era, presumi eu. Não é por isso que prendem as pessoas, às vezes até por engano, quando se preparam para entrar nas mangas?
Contaram-nos foi uma estória paralela. Que havia indícios de fraude fiscal, de corrupção e outra coisa que já nem me lembro. Mas porquê? Por causa da LENA, a “dealer”, justificaram eles e mandaram-no para Évora, prá cela 44!
Afinal a Lena andava era com outro, com o seu amigo, e ele o que fazia era vida de “bon vivant” “à” Paris pois o amigo, para ele não se lembrar da Lena, emprestou-lhe lá um apartamento de luxo no “sixième” ou “seizième”, não sei bem. E parece que a levou para a Venezuela, para Angola e não sei que mais e, com a inestimável ajuda de um Vara, tentaram comprar um Vale no Lobo. Não no Pulo do Lobo, mas sim no Algarve. E pimba: foram todos presos! Todos menos a Lena. Mas de submarinos…nada! Silêncio sepulcral. Devia ser o trunfo que tinham na manga, um “joker”, ou coisa que o valha.
E tanto despistaram, tanto despistaram, que acabaram despistados, isto é, perdidos. E precisavam de mais tempo para reparar a máquina, dar voltas de treino às pistas, até encontrarem, quais pilotos da Fórmula Um, o equilíbrio certo do motor e o acerto da direcção.
Mas eis que surge o Salgado, a PT, o Bava, o Granadeiro, todos amigados a um Bataglia, que se descobriu ser o verdadeiro “passador”. Mas…e os submarinos? Nada, nadica de nada! E foi-lhes dado mais tempo, mais tempo e mais tempo, até que o tempo esgotou.
O “passador” veio dizer que não passava de um passador, que só fazia favores a pedido do amigo Salgado, para quem um pedido era uma ordem, mas não sabia para quem.
O advogado João Araújo diz que o processo já vai em 93 volumes, mas só conhece 83! E aí eu arregalei os olhos e vi nisso um apoio irrefutável à minha tese: a do trunfo escondido, ou “joker”, tanto faz. E o que será? Só podem ser os submarinos! Não se fala à boca cheia que as “luvas” eram de quase trinta milhões? Bate certo, pensei de imediato.
Porque vamos lá ver: quem era o culpado de tudo, não era o Sócrates? Dos negócios com a Venezuela, da amizade com Chavez, da amizade colorida com a Lena, do Vale no Lobo, de “la vie en rose à Paris”, da filosofia dos livros, da queda da PT, do empréstimo de 900 milhões que o Bava e o Granadeiro, impelidos e obrigados sob a ameaça da caçadeira do Sócrates, resolveram fazer à Rioforte e até à derrocada do Bes. Alguém o terá subornado para abater o Bes? Também seria de mais, não? Ah, até já me esquecia, mas o Passos hoje lembrou-mo: também do crédito malparado da Caixa, reparem.
“Maneiras que” só resta uma hipótese: os submarinos? Dizem que os documentos terão voado! Qual quê: e aqueles 10 volumes que não deram a ler ao Araújo?
Mas também dizem por aí, sem qualquer prova, claro, pois nem arguido foi constituído, que haverá um outro personagem mistério neste enredo, mas…é só fumaça, como dizia o outro.
Portanto, vão por mim: Os Submarinos! Foi o Sócrates, está mais que visto!
Esta é a minha versão actual, isto é, de pessoa mais actualizada.
Mas a memória escrita é aquela que nunca poderemos desprezar ou ignorar porque…está escrita! Mas é a mesma a que quase nenhum comentador ou analista quer voltar pois, de tão certos estavam, nem se querem recordar.
Eu não! Também nem sou analista nem comentador, serei quando muito um “gozador”( mas não no sentido de gozar com a dor, como aquele treinador que dizia que treinava a dor, ou o jogador que jogava a dor, estão a ver?), mas não renego nem me envergonho de nada daquilo que escrevi ou publiquei.
A propósito de Sócrates, por exemplo. Eu nunca votei nele, que fique claro, mas sempre o defendi, até prova em contrário, que fique claro também, e sobre a sua prisão e demais vicissitudes alguns textos escrevi, nomeadamente em Dezembro de 2014. Podem visitá-los no meu BLOG (aesquerdadozero@wordpress.com), tal como este que a seguir partilho e escrito a 6 de Dezembro desse mesmo ano de 2014 e cuja leitura, creiam em mim, aconselho vivamente. Notem só o título no Link…! O verdadeiro serial killer
 
Ovar, 12 de Março de 2017
Álvaro Teixeira

sábado, 11 de março de 2017

PS volta a subir e alarga vantagem sobre PSD para quase 10 pontos

A sondagem da Eurosondagem realizada em Março mantém a tendência de subida do PS e de queda do PSD. Os socialistas têm agora uma vantagem de 9,5 pontos percentuais sobre os social-democratas.

PS volta a subir e alarga vantagem sobre PSD para quase 10 pontos
 
O PS continua a subir e o PSD mantém a tendência de quebra. É esta a principal leitura da sondagem da Eurosondagem para a SIC e o Expresso, divulgada esta sexta-feira, 10 de Março, e que mostra os dois maiores partidos portugueses separados por praticamente 10 pontos percentuais.
Em Março os socialistas subiram meio ponto percentual, a mesma evolução verificada em Fevereiro, para 38,3% das intenções de voto, enquanto o PSD cedeu 0,2 pontos para 28,8%, depois de já no mês anterior ter caído. Ainda assim, e como salienta o jornal Expresso, a descida registada pelos social-democratas em Março (-0,2 pontos) é menor do que a registada em Fevereiro (-0,8 pontos), com o PSD a manter-se abaixo da marca dos 30%.
Já o Bloco de Esquerda manteve as intenções de voto de Fevereiro (9,2%), com os bloquistas a reforçarem a terceira posição, beneficiando da ligeira queda (-0,3 pontos) da CDU (coligação entre PCP e Verdes) que desliza para 8%.
Nota ainda para o CDS, que subiu ligeiramente para 7,2% das intenções de voto, e para o PAN que avançou 0,7 pontos para 1,8%. Esta sondagem reforça também a vantagem do PS sobre PSD e CDS somados, que mesmo juntos estão agora a mais de 2 pontos percentuais dos socialistas. 
Marcelo lidera subida de popularidade com todos os líderes em alta
Depois de ter perdido popularidade em Fevereiro, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a melhorar os níveis de aceitação numa altura em que comemora um ano em funções como Presidente da República. Marcelo foi mesmo o líder político cuja popularidade mais subiu em Março, tendo aumentado 3,8 pontos para uma avaliação global positiva de 58,2 pontos.
Num mês em que a popularidade de todos os líderes dos partidos com presença no Parlamento subiu, também António Costa, primeiro-ministro, viu os seus níveis de aceitação junto da opinião pública subir 2,5 pontos para 31,8 pontos.
Seguem-se Jerónimo de Sousa, com a popularidade do secretário-geral comunista a crescer 2,3 pontos para 10,4 pontos, Passos Coelho, presidente do PSD, que melhora 1 ponto para 10,3 pontos, Assunção Cristas, presidente do CDS, que ganha 1,4 pontos para 9,7 pontos, e Catarina Martins, coordenadora do Bloco, que cresce 1,6 pontos para oito pontos.
Esta sondagem da Eurosondagem foi realizada entre os dias 1 e 8 de Março, sendo que o último dia foi também aquele em que se realizou o mais recente debate quinzenal, marcado pela troca azeda de galhardetes entre o primeiro-ministro e o líder do maior partido da oposição, facto que não parece ter tido grande influências na popularidade de ambos os dirigentes políticos. 
(Jornal Económico)
 
Ovar, 11 de Março de 2017
Álvaro Teixeira













Como as acusações contra Obama ameaçam virar-se contra Trump

 

Logótipo de Diário de Notícias
No Twitter, Trump acusou Obama de ter colocado os seus telefones sob escuta na Trump Tower durante a campanha para as presidenciais

© Reuters No Twitter, Trump acusou Obama de ter colocado os seus telefones sob escuta na Trump Tower durante a campanha para as presidenciais
O porta-voz de Barack Obama garantiu que nem o ex-presidente nem a Casa Branca alguma vez mandaram escutar um cidadão americano. James Clapper, o antigo diretor dos serviços secretos, explicou na NBC que "não houve qualquer atividade de escuta montada" contra Donald Trump durante a campanha presidencial. E o atual diretor do FBI, James Comey, terá pedido ao Departamento de Justiça para rejeitar as acusações do presidente contra o antecessor. Mas quer seja verdade quer não, o tweet em que Trump garante "Acabo de descobrir que Obama mandou escutar os meus telefones na Trump Tower antes da vitória" pode rapidamente virar-se contra ele.
Denunciando um novo Watergate e comparando os métodos de Obama ao macarthismo, a caça às bruxas dos anos 1950, quando o senador Joseph McCarthy perseguia comunistas, Trump não apresentou provas que confirmem as acusações contra Obama. Mas no domingo o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, anunciou que o presidente pediu ao Congresso para investigar se o governo federal ordenou escutas a responsáveis da sua campanha no âmbito do inquérito ao envolvimento russo nas presidenciais.
Os rumores sobre um "golpe silencioso" de Obama contra Trump surgiram primeiro no site de notícias Breitbart News (ligado à extrema-direita e cofundado pelo agora estratega principal da Casa Branca Steve Bannon) e pelo animador de rádio conservador Mark Levin.
As ligações entre a campanha de Trump e a Rússia foram assunto dominante na corrida às presidenciais de 8 de novembro. Fosse pelos negócios do republicano com Moscovo, por o seu então diretor de campanha, Paul Manafort, ter trabalhado para um partido pró--russo na Ucrânia ou por um dossiê organizado por um ex-agente secreto britânico a pedido de opositores ao milionário ter revelado que "o regime russo apoiou Trump durante pelo menos cinco anos".
Apesar de nada ter sido confirmado - e de parte até ter sido negado -, nos últimos meses surgiram notícias, sobretudo na imprensa britânica, de que as autoridades americanas estariam a tentar obter autorização da justiça para investigar membros da equipa de Trump ligados a Moscovo. Em janeiro, o The Guardian escrevia que, no verão de 2016, o FBI teria pedido um mandado ao tribunal FISA (Foreign Intelligence Surveillance Act) para monitorizar as comunicações de quatro membros da campanha de Trump suspeitos de contactos irregulares com responsáveis de Moscovo. O pedido terá sido negado, ao contrário de um segundo, aprovado em outubro e que visava apenas dois bancos russos, suspeitos de transferirem dinheiro para os EUA.
Para emitir um mandado a autorizar escutas a cidadãos americanos, o FISA teria de considerar haver causa provável de que esses indivíduos estavam a agir como "agentes ao serviço de uma potência estrangeira". Por isso, se o mandado de outubro autorizasse escutas aos bancos russos - mesmo que as comunicações envolvessem sujeitos americanos -, isso não contradiz Clapper.
Sendo assim, se Trump estiver correto e o governo federal tiver conseguido um mandado para o escutar, significa que havia suspeitas fundadas de que estaria a agir ao serviço de uma entidade estrangeira. O que obrigaria o Congresso, na investigação que o próprio presidente pediu, a esclarecer os contactos entre a sua campanha e Moscovo. "Será mesmo o que a Casa Branca quer?", interroga-se a New Yorker.
Já se Trump estiver errado e as acusações contra Obama forem falsas, o presidente arrisca-se - segundo a Bloomberg - a ter de responder por abuso de poder.
Um cenário alternativo seria as escutas terem sido feitas ilegalmente. Mas aí estaríamos mesmo diante de um novo Watergate - as escutas à sede democrata na campanha presidencial de 1972 que obrigaram Richard Nixon a demitir-se para escapar à destituição.
Num caso como no outro, não faltam analistas a falar num possível processo de destituição de Trump. Apesar de com um Congresso dominado pelos republicanos as hipóteses de sucesso serem mínimas.
Uma baixa e uma escusa
Já com Trump na Casa Branca, a ligação à Rússia continuou a fazer estragos. Primeiro foi Michael Flynn, o conselheiro para a segurança nacional a ser afastado do cargo. Tudo porque não comunicara ao vice-presidente Mike Pence que nos encontros que mantivera na campanha com responsáveis russos discutira as sanções a Moscovo. Já nesta semana, depois de o Departamento da Justiça ter divulgado que o tenente-general na reserva trabalhara como lobista para o governo turco através de uma empresa sediada na Holanda, a Casa Branca garantiu que Trump "não sabia" que Flynn fora agente de um governo estrangeiro antes de o nomear.
Já o procurador-geral Jeff Sessions pediu escusa de qualquer investigação às alegadas ingerências russas na campanha depois de vir a público que se encontrara com responsáveis de Moscovo na campanha. A oposição democrata pede a sua demissão, acusando-o de mentir sob juramento no Senado.
 
Ovar, 11 de Março de 2017
Álvaro Teixeira

OS RESSABIADOS (estatuadesal)

 

(Joaquim Vassalo Abreu, 09/03/2017)
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“Ressabiado” é um dos tais adjectivos que não se chama a ninguém. Eu até o acho um dos mais feios que a língua portuguesa contem. É como chamar “sonso” ou “sonsa” a alguém, e se for no feminino aí até o caldo de certeza que entorna. Porque o “ressabiamento” releva para o melindre, para o agastamento, para o ressentimento. Tudo coisas a que não devemos apelar das profundezas de qualquer ser, assim de mal com a vida ou descontente com o rumo que leva…E torna-se mesmo perigoso, pois apela à “revanche”.
Assim como no futebol, onde assistimos a gente insuspeita lançar impropérios intraduzíveis contra os árbitros e tudo o que se movimente e não sirva os superiores desígnios da sua equipa e nós, não fanáticos, olhamos de soslaio e nos perguntamos “Este? Como pode ser?”, também no caso de ontem da Assembleia, para quê Costa chamar Passos, Montenegro & Ca Lda de “ressabiados”, só porque no último debate estes lhe chamaram de vil, de ordinário, de soez, de reles, de mal educado, e outras coisas mais?
Tu devias fazer como os árbitros no futebol, Costa. Querem lá eles saber para onde os mandam, o que e onde devem tomar, se até as suas mães, esposas ou namoradas disso se alheiam e a isso tapam os ouvidos? Aquilo, Costa, aquilo são “claques”, apenas “claques”, apesar de oficiais, Costa! Agora, meu caro e dileto Costa, chamares-lhes “ressabiados”? Depois não queres que ele diga, como eu disse num texto de há uns dias, “deslarguem-me, que eu vou-me a ele”…
Portanto Costa, tens que ser mais compreensivo e bondoso, deixá-los viver lá no mundo deles, utilizar o seu dicionário, até ele se esgotar e não terem mais adjectivos livres para te invectivarem, Costa. Releva, meu. Faz como o Jerónimo, pá. Viste o que há dias ele fez, quando começava a falar, perante aquela gritaria toda, lá está, como se estivessem num estádio? O Jerónimo soergueu as sobrancelhas, fez uma daquelas caras que até o susto arrepiam e disse-lhes, com aquela calma e classe que se lhe reconhece: “ Eu já ando aqui há muitos anos e nunca vi a direita tão barulhenta. É sinal que estão derrotados, mas assim não vão lá, assim não vão lá…”.
Vá lá Costa, sê humilde e pede-lhes desculpa! Mas não faças como aqueles que se viram para alguém e dizem : “Peço desculpa, mas V.Exª é uma “granda” besta! Nada disso.
Mas eu percebo a tua pungente pergunta, aquela pergunta que te faz exasperar e tanto pensar e para a qual não encontras qualquer razão, e isto é só um aparte- e eu também não!, e que é a de não saberes o que desculpar. Pedir desculpa de quê, perguntas-te tu e muito bem?
Complicado, não é? Mas olha António: eu sei que não és crente, mas sabes certamente, como todos sabemos, o que dizem os Evangelhos, a Bíblia ou lá o que é, que eu nisso sou como tu. Mas qual é o dito? É o seguinte: “Bem aventurados os pobres de espírito que deles é o reino dos céus”.
E depois tens que saber medir bem as temperaturas! Hoje, por exemplo, esteve um calor dos diabos! Mas o que é certo é que ele já ontem foi anunciado com aquela súbita e inexplicável subida de temperatura no Parlamento! E tu sabes bem, meu caro António, que esta temperatura desmesuradamente quente não é própria da época! Porquê, então, contribuíres para este aquecimento?
Deixa-os falar, António! Responde ao que eles querem que respondas porque, no resto, quer dizer, do passado, todos nos lembramos. Deixa-os falar, António. Deixa-os culparem-se, a seguir desculparem-se e, de imediato, te culparem. Que se há-de fazer, António? C,est la vie, non?
Já agora olha-me também, não digo com tanta atenção como deves olhar para o Jerónimo, para a Catarina, que de tão tonta estava de tão inusitada subida de temperatura, já a suar por todos os poros, uma transpiração também ela incomum de incompreensão feita, quando ela disse: “Mas vocês estão a falar de quê? Que se passa?”, perguntava ela, cheia de calores.
Já o Jerónimo, afundado na sua cadeira, já moldada a tantos anos de ali sentado, olhava com uma bonomia alheia a quaisquer aumentos de calor, e sem precisar sequer de ar condicionado, para tudo aquilo e devia pensar, como aqui penso que já referi, tal como o nosso Pai fazia, quando nós, em Família, tudo discutíamos como se dessa discussão, ou da putativa razão de cada um, resultasse o futuro da humanidade e ele pensava (e dizia): “Que tolinhos…”!
Portanto António, dou-te um conselho amigo, e tu sabes que o é: Tu mede-me as palavras António, tu mede-me as palavras…
E deixa-os levar a bicicleta, António! É que eles nem se dão conta que tem os pneus furados, António!
Vai por mim…
 
Ovar, 11 de Março de 2017
Álvaro Teixeira

Um ano de presidência: one man show (estatuadesal)

 

(Por Estátua de Sal, 09/03/2017)
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Declaração de interesses: não votei em Marcelo. Mas o paradoxo é que, provavelmente, como muitos que nele não votaram, me sinto hoje muito mais confortável com o seu primeiro ano de exercício do que a maioria dos que nele votaram.
A direita anda amuada com Marcelo. Esperava um presidente conspirador, uma versão mais refinada - e por isso mais perigosa -, da mão atrás do arbusto,  um fazedor de cenários políticos,  e saiu-lhe um presidente colaborante com o governo, prezando a estabilidade acima de tudo. Esperava um presidente que lhe desse boleia para o regresso à governação conseguida à custa do regresso do diabo e das sete pragas do Egipto nos cornos do mafarrico, e saiu-lhe um presidente que diz e defende que tudo o que for bom para o país terá a sua benção mesmo que seja a esquerda a consegui-lo.
E o país está com Marcelo. Quer com o actor Marcelo, quer com a narrativa Marcelo, quer com o estilo Marcelo. A popularidade do Presidente atinge níveis quase estratosféricos. O estilo não é tudo mas ajuda muito. Marcelo encarna várias simbioses de quase impensável casamento que só ele mesmo conseguiria alcançar. E aí, o mérito é só dele e das suas qualidades e defeitos pessoais. Ser a esquerda da direita, ou a direita da esquerda se preferirem, não é para qualquer um. Ser um republicano monárquico ou um monárquico republicano muito menos. Mas, Marcelo tem conseguido, até ao momento, desatar esses nós e juntar essas dicotomias e oposições.
Tal popularidade tem assentado em dois eixos cruciais. Em primeiro lugar Marcelo não tem tido que gerir grandes conflitos políticos, por uma simples razão: é perito em evitar que os conflitos surjam, segue uma estratégia de medicina preventiva, de forma a não ter que os arbitrar. Como se sabe, os árbitros são sempre os maus da fita, sobretudo para aqueles que se sentem prejudicados pelas suas decisões. E Marcelo, acima de tudo, quer ser sempre o bom da fita, qual xerife justiceiro e imparcial. Qual presidente-rei não quer ser considerado pelos seus súbditos por ser temido mas antes por ser amado.
Nessa senda, o segundo eixo tem assentado na dessacralização da função presidencial. O presidente não está, altaneiro e distante, no alto do seu castelo a reinar. Está sempre no meio do seu povo. Tanto recebe banqueiros como almoça com os sem-abrigo. Tanto bebe sumos de laranja no bar do liceu que frequentou quando jovem (ver foto acima), como usa com todo o à-vontade os talheres de prata em almoços de Estado com personalidades estrangeiras que nos visitam. Mas mais que  esta dualidade,  a causa maior para a popularidade de Marcelo, é ele interpretar tal dualidade de forma genuína e não forçada. Se não fosse genuína, mais tarde ou mais cedo iriam surgir gaffes de desempenho que o povo não perdoaria e a queda do pedestal seria inevitável. Mas não. Antevejo que Marcelo não irá cair tão cedo, e talvez nunca chegue mesmo a cair, optando talvez pelo cúmulo da glória que seria sair de cena pelo seu próprio pé, não se recandidatando. Ele é one man show, uma espécie de artista que sem orquestra ou acompanhamento enche só por si o palco, sem desiludir o público.
Como disse acima, a direita anda amuada com Marcelo. E boa parte da esquerda ainda anda de pé atrás com o presidente e dele desconfia. Como diz o ditado, quando a esmola é demais o pobre desconfia. Mas, digo eu, em boa medida não tem razão para desconfiar. Por um simples motivo: Marcelo não tem alternativa senão apoiar o governo e ajudá-lo a levar a nau da Geringonça a bom porto. Para o não fazer teria que ter à direita do espectro político outros personagens, outras práticas e outras programas políticos. Mas, o que se vislumbra à direita é um grupelho de imbecis a lamber ainda as feridas do seu inesperado afastamento da governação. Sem ideias, sem postura ética, sem qualquer desígnio estratégico para o país a não ser a satisfação de interesses pessoais e de grupos restritos. São demasiado cábulas e maus alunos para passarem no exame do Marcelo-professor que, ao que consta nunca deu notas aos estudantes de acordo com a sua cor política, nem para outorgar benefícios indevidos, nem para discriminar por prejuízos injustificados. É por isso que, nesse aspecto, custa menos a Marcelo aceitar as contribuições para a governação do PCP e do BE, desde que vinda de gente competente - uma espécie de estudantes aplicados -, do que do PSD actual onde ciranda uma manada de incompetentes - ou seja um grupo exemplar de alunos relapsos.
Não quero dizer com isto que Marcelo tenha denegado a sua matriz política identitária original. Essa matriz persiste e materializa-se na defesa de três pilares fundamentais que são as suas linhas, não direi totalmente vermelhas, mas pelo menos cor de rosa choque: a Nato, a União Europeia, e o Euro. Mas como tais linhas são da ordem da macropolítica e da e da inserção do país na geopolítica europeia e mundial e não do foro da política interna corrente; mas como o PS não se propõe, para já ultrapassá-las ou sequer discuti-las - ainda que vá manifestando aqui e ali algum incómodo com tais temas -, a Geringonça, enquanto for este o cenário, terá a benção sincera de Marcelo.
Porque não é uma política de maior equidade na distribuição do rendimento, reposição de salários e pensões, que pode causar engulhos ao Marcelo-cristão praticante, longe disso. Ele que tanto elogia o Papa Francisco, voz que tem colocado grande ênfase na sua pregação nos temas da desigualdade. Logo, neste aspecto, Marcelo tem razão já que está à esquerda da direita, pelo menos da direita fundamentalista e neoliberal que temos a dominar o PSD e o CDS.
Mas se a bandeira da luta contra a desigualdade passar por discutir as causas que a originam (a organização económica capitalista, as assimetrias entre os países europeus da periferia e os do centro, potenciadas por uma integração económica imperfeita e por uma moeda única que é o seu veículo), nesse caso Marcelo já não consegue ir tão longe, e os limites ideológicos da sua formação de homem do sistema, vem ao de cima e aí passa a ser, como bem disse o próprio, a direita da esquerda.
Portugal, como nação antiga que é, talvez tenha uma sagacidade colectiva que só é apanágio das velhas estirpes. E por isso talvez tenha produzido e escolhido o tipo e o estilo de presidente que mais se adequa ao actual momento político, quer em tempos do cenário interno quer em termos do palco mundial. Um pequeno país, num mar infestado de tubarões, só unido e com uma liderança que empolgue e potencie o que têm de melhor pode subsistir e sobreviver. E nessa missão Marcelo, até ver, não tem desiludido.
 
Ovar, 11 de Março de 2017
Álvaro Teixeira