Daniel Oliveira
As declarações de Jeroen Dijsselbloem não me ofendem. Porque elas só são novidade no estilo carroceiro. A redução desta crise a um discurso supostamente moralista, com contornos xenófobos, é a marca de todo o discurso dominante em Bruxelas. Estas declarações não nos esclarecem muito sobre a forma como os principais responsáveis europeus viram a crise. Eles conhecem melhor do que ninguém todas as fragilidades da absurda arquitetura do euro. Eles sabem como a crise financeira global apanhou a Europa sem mecanismos de defesa. Eles sabem como as primeiras vítimas foram as economias periféricas, os elementos mais expostos da zona euro. O que esta frase revela é o estado do discurso político no norte da Europa. E ajuda a explicar tudo o resto. Incluindo a total ausência de condições políticas para mudar a União para melhor.
O centro-direita e o centro-esquerda dos países europeus mais ricos construíram um discurso político sobre os países do sul. Um discurso que explicava, de forma simples e facilmente assimilável, as razões para o falhanço da zona euro ao primeiro embate financeiro, ainda nem uma década tinha passado do nascimento da moeda única. E o discurso batia certo com o preconceito popular: os povos do sul são desorganizados, gastam mais do que têm, são parasitas, irresponsáveis, corruptos. O discurso xenófobo é de tal forma eficaz que até houve, nos países visados pela ofensa, quem os assumisse como verdadeiros. Até houve políticos que usaram o preconceito para impor o seu programa ideológico, alimentando a falta de amor próprio dos povos que deviam liderar. Nesta matéria, Portugal foi o exemplo mais radical. De tal forma que a condescendência levou um responsável da troika a dizer que éramos um povo que não dava problemas, “um povo bom”.
Foram os líderes europeus, e não a extrema-direita, que construíram o argumentário demagógico contra a razão de ser da União. Assim como deram, com o insulto e humilhação permanente, a que juntaram doses cavalares de sacrifícios, força à esquerda antieuropeísta nos países do sul
O discurso que ontem nos chocou foi feito no principal jornal alemão e dirigia-se ao poder alemão. Foi feito por um político acabado de sair de uma humilhante derrota eleitoral no seu país. Foi feito por um “social-democrata” que participou num governo que decretou o fim do Estado Social. Foi feito por um político desempregado, sem apoio popular, que procura na proteção de Schäuble a possibilidade de sobreviver num cargo que não dependa do apoio do povo e da democracia, mas de um currículo de serviços prestados à potência que hoje comanda aquilo que já pretendeu ser uma união de estados. E o discurso que Dijsselbloem fez resulta na Alemanha. E na Holanda, na Bélgica, na Finlândia, em França. Foi através dele que se esmagou a Grécia.
Quando vejo tantas almas abismadas com o crescimento do antieuropeísmo de extrema-direita no norte da Europa, pergunto-me como se podem espantar. Foram os responsáveis europeus que lhes deram todos os argumentos: quem quer participar num projeto em que os povos trabalhadores de uns países têm de financiar os parasitas desorganizados de outros países? Foram os líderes europeus, e não a extrema-direita, que construíram o argumentário demagógico contra a razão de ser da União. Assim como deram, com o insulto e humilhação permanente, a que juntaram doses cavalares de sacrifícios, força à esquerda antieuropeísta nos países do sul. O antieuropeísmo foi inventado, justificado e alimentado pelos principais responsáveis europeus.
Como podem existir condições políticas para qualquer tipo de solidariedade europeia, de que a União dependeria para sobreviver, se os principais dirigentes europeus convencem os seus povos que as transferências de recursos para garantir a convergência correspondem a dar dinheiro a quem o vai torrar sem qualquer critério? Claro que Dijsselbloem tem de ser corrido por ter insultado vários povos ao mesmo tempo e, já agora, por ter sido escorraçado do poder pelos seus concidadãos. O que não serve para os holandeses não serve para os europeus. Mas não se julgue que isso muda alguma coisa.
O que Dijsselbloem disse é o que o europeu médio do norte pensa. Não apenas por preconceito xenófobo, mas porque foi isso que gente considerada moderada e europeísta lhes andou a vender nos últimos seis anos. Foram eles e não quaisquer radicais que mataram a União.
Ovar, 23 de março de 2017
Álvaro Teixeira
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quinta-feira, 23 de março de 2017
Dijsselbloem é um europeu médio do norte (estatuadesal)
Carta Aberta ao Dijóôkaralhodjinome (estatuadesal)
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(Rogério Costa Pereira, in Blog EuCanhoto, 22/03/2017)
Tive de interromper uma orgia (e logo a das terças, porra) para te dirigir estas palavras, pá. Mas trouxe o garrafão de carrascão para me ajudar durantes estes minutos de semi-abstinência. A coisa tem, portanto, de ser rápida.
Vamos lá conversar sobre esta cena que disseste: «europeus do Sul gastaram dinheiro em “copos e mulheres”»
Agora a sério, Adolf (trato-te assim por preguiça, e tu bem sabes como a malta do sul é preguiçosa – mas o nome até é o teu focinho). Noto que a tua frase assenta num saber de experiências feito. E toda a Europa passou a saber o que cá fazes cada vez que cá vens. Ao “sul”.
Na impossibilidade de o teres doutra forma, pagas por ele. E não há nada de errado nisso, homenzinho. A Holanda está, aliás, muito à frente nesse ponto (tu não és a Holanda, Adolf). Espero é que seja sexo consentido, pese embora esse teu ar de orgasmo em forma de soluço. Mas não nos meças pela tua pilinha, rapazote.
Ia dizer “pensa bem”, mas depois percebi que isso é conselho inútil. Transformar as tuas experiências por aqui (vulgo: turismo sexual – só pode, pá!) no que NÓS SOMOS é extremamente hilariante. Melhor, seria. Porque a frase diz tudo de ti. E nada de nós. A merda é que resulta ofensivo. Daí o “seria”. E aí toda a piada se vai. Manifesta a teu bel-prazer a tua forma de estar no mundo. Mas não entres por aí.
Passaste demasiado tempo com o anterior primeiro ministro, aquele, o das vénias. E com o gaspar, aquele, o das vénias. E a maria luis, aquela, a das vénias. Estás a ressacar, só pode. Portugal deixou de ser a tua puta; os teus donos pedem-te contas; o teu “pfffésdê trabalhista” (psd com coelho nos anos áureos da troika) perdeu 29 dos 38 deputados que tinha. Com jeitinho cabem todos num táxi.
Estás ressabiado, homem. E, mais uma vez, tal como faz o teu guru xóible, vai de marrar com o sol do sul. Ele nisso, justiça seja feita, dedica-nos mais tempo; é mais preciso. Não há cá desse conceito vago e indeterminado – povos do sul. O deutsche bank está com problemas? Portugal! Hoje torceu-se-me uma rodinha? Foi o Costa. Com o coelho nada disto acontecia (sempre de almotolia no bolso). Um nórdico torcia o pé e, lá vinha asinha: “Portugal?! Vai já para o quarto”.
Quanto à coisificação da mulher? Epá, acho francamente que deves passar a andar de coquilha (também deve haver para o teu tamanho), mas não pode ser um resguardo qualquer. Aconselho uma espécie de ferragem, que as mulheres do teu país saberão responder-te al dente, morenaço. Ao teu esparguete, pá! Acaso cá voltes, aqui aos países do sul, aconselho-te vivamente uma armadura. Imagina-nos todos bêbados e encharcados de mulheres – cena marada esse teu sonho húmido (sério que estou em pulgas para saber como as tuas palavras serão recebidas na Holanda).
Agora, deixando de lado os teus complexos, tu és a antinomia do ideal europeu. E dizes-te progressista? E holandês? És um farrapo de homem, cabrão. Bem sei que o anterior governo tuga fez de todos nós umas putas, soldados dos mercados. Estás a estranhar. Entranha, pá.
Aqui há mulheres e homens, espécie de holandês. Digo espécie porque não posso (seria falso) definir o teu país em função da tua triste existência.
Chega cá mais perto, Adolf. Não tanto, pá, mais para trás. Mais um pouco, agora encosta-te à direita. Mais, mais. Mesmo na extrema. Aí. Lado a lado com o geert wilders. Aí é que estás bem. Avante! (ups)
Olha, não somos a tua puta. Tu és a puta e o teu chulo é quem te paga luvas ao fim de cada mês. Vamos chamar-lhe “mercados”. A quem te ordena o discurso. Mas hoje tenho a indelével sensação que marraste de frente contra a parede. Foste tu, sem máscara. E o teu patrão é gajo para não ter gostado. Porque foste demasiado tu, sem peias. Foste aquele teu apelido. djisselcoiso. Os teus patrões terão torcido o nariz, sim, mas descansa; eles não prescindem de trastes.
Pá, andámos quatro anos a marchar a tua marcha e a dos teus donos. Portugal deve fazer-te imensa comichão, agora que não o comandas tanto (o governo tuga acabou de pedir a tua demissão). Liga ao coelho. Ambos padecem de 2,1% de défice.
Espanha será Espanha (verás), Itália (mais sul-sul não há), Grécia (tu e os teus patrões destruíram a Grécia; e haverá consequências, cá estaremos, putanheiro, para as ver – tu no goldman sachs, vai uma apostinha?)
E termino isto que tenho de retomar o bacanal.
Só mais uma coisa, não penses que nos tomas por parvos. Disseste o que disseste para obter este tipo de reacção. Estás a prazo no Eurogrupo e sabes isso (já só és ministro das finanças a prazo). Eu sei isso. A Europa sabe isso. Aposto no goldman sachs, que tanto conhece deste sul, ou não tivesse martelado as contas gregas. Sobram lá lugares para trastes como tu. Nós também lá temos um; fico curioso para saber das hierarquias. Mas, temo que, por mais traste que sejas, nunca serás tão reles quanto ele. Prezamos muito a qualidade, Adolf, e esse nosso traste é artigo trabalhado e sabido. Uma puta como tu, sim. Mas pior/melhor do que tu. E termino com este elogio ao teu trabalho. Ao pé do durão és um menino.
Quando voltares a Portugal apita. Vou-te esperar ao aeroporto e a seguir vamos juntos passear. Há imensa gente com ganas de te conhecer (estou a gozar, pá, achas mesmo que largava estes meus afazeres báquicos para te servir de guia?).
Ovar, 23 de março de 2017
Álvaro Teixeira