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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Ficheiros sobre a morte de Kennedy: strippers, Fidel Castro e conspirações

Por ZAP

27 Outubro, 2017



A agência de espionagem norte-americana CIA garantiu na quinta-feira que já foram tornados públicos, na íntegra, mais de 69 mil dos 87 mil documentos relacionados com o assassínio do presidente John F. Kennedy.
A CIA assegura que nenhum dos 18 mil registos vai ser mantido secreto na totalidade e que as partes editadas – ou escurecidas – destes documentos representam menos de 1% da informação total da CIA contida nesta documentação.
A agência justificou as edições da informação com a necessidade de proteger informação que, se fosse divulgada, prejudicaria a segurança dos EUA.
As edições, ainda segundo a agência, esconderam os nomes de ativos da CIA e de atuais e antigos agentes, bem como métodos da sua atuação e parcerias, que continuam a ser úteis para proteger a segurança dos EUA.
Pedidos para manter secretos centenas de documentos relacionados com o assassínio do presidente norte-americano John F. Kennedy, na sua maioria da CIA e do FBI, limitaram a 2.800 os que foram divulgados na quinta-feira.
A informação foi adiantada por dirigentes do governo norte-americano que mencionaram apelos de última hora da agência de espionagem e da polícia federal dos EUA atendidos pelo presidente, Donald Trump.
Esta coleção de documentos, que deveria ter sido divulgada integralmente agora, inclui mais de 3.100 documentos, que compreendem centenas de milhares de páginas, que nunca foram vistos pelo público. Os documentos que não foram revelados agora vão estar sob apreciação durante mais seis meses.

O que revelam os ficheiros

Durante a noite, o Washington Post teve uma equipa a analisar os documentos para revelar as primeiras conclusões dos ficheiros que foram mantidos secretos durante mais de 50 anos.
Segundo o jornal, os documentos registam o depoimento de Richard Helms, na altura diretor da CIA, recolhido em 1975 numa comissão de inquérito, e abordam o alegado envolvimento da CIA numa conspiração para matar o presidente americano.
A certa altura do interrogatório, e após uma breve troca de impressões sobre a guerra do Vietname, um dos procuradores nessa mesma comissão, David Belin, começa a perguntar a Helms: “Há alguma informação relacionada com o assassinato do Presidente Kennedy que, de alguma maneira, revele que Lee Harvey Oswald seria de alguma forma um agente da CIA ou um agente…“.
É precisamente neste ponto que o documento é cortado, segundo realçam os repórteres do Washington Post.
Lee Harvey Oswald terá sido o autor do assassinato de John F. Kennedy a 22 de novembro de 1963. Oswald viria a morrer dois dias depois, às mãos de Jack Ruby, gerente de casas de prostituição com ligações com a máfia, que o terá assassinado para ser visto como um herói nacional.
Num dos documentos, com data de 24 de novembro de 1963, o diretor do FBI, Edgar J. Hoover, diz, num dos documentos, existirem provas de comunicações intercetadas entre Oswald, Cuba e a União Soviética.
Os mesmos documentos sobre a morte do então presidente dos Estados Unidos falam ainda numa conspiração para assassinar Fidel Castro, à data, presidente de Cuba.
De acordo com esses ficheiros, houve reuniões com exilados cubanos que tentaram fixar um preço “pelas cabeças” de Fidel, do seu irmão Raul e ainda de Che Guevara. Os preços ficariam, depois de alguma negociação, nos 100 mil dólares pela cabeça de Fidel, 20 mil pela de Raul e outros 20 mil pela de Che.
Um outro ficheiro descreve a operação Bounty, que pretendia derrubar o governo cubano da altura e lançar um sistema de recompensas financeiras para cubanos que eliminassem ou denunciassem comunistas.
Neste esquema, os valores variavam entre 57 mil e 100 mil dólares, sendo que Castro, “talvez por razões simbólicas”, poderia ser eliminado a troco de apenas dois cêntimos.
A CNN relata também os detalhes de um documento da Comissão Rockefeller, de 1975, sobre o papel da CIA num plano para eliminar Fidel nos primeiros dias da administração Kennedy. Na altura, o seu irmão Robert Kennedy, que era Procurador-Geral, terá contado ao FBI que a CIA estava a contactar um intermediário com o propósito de contratar um atirador para matar o ditador cubano por 150 mil dólares.
Outros documentos descrevem planos para matar Fidel através de meios mais subtis, como envenenamento por comprimidos com botulismo.
Os documentos agora revelados também falam em festas de sexo e strippers, envolvendo o nome de personalidades famosas.
Um memorando do FBI revela que uma acompanhante de luxo de Hollywood terá sido abordada por um detetive privado sobre festas de sexo em que teriam participado John Kennedy, mas também o seu cunhado, Peter Lawford, e os cantores Frank Sinatra ou Sammy Davis Jr. Na altura, a mulher terá negado qualquer uma das “indiscrições” com que foi confrontada.
Os documentos falam também na suspeita, descrita num memorando do FBI de 1964, de que o presidente Lyndon B. Johnson teria sido membro do Klu Klux Klan no Texas nos primeiros anos da sua carreira política.
A “ameaça comunista” nos EUA é mais um dos temas frequentes nos ficheiros já conhecidos. Além da existência de uma “lista negra de Hollywood”, que incluía nomes de suspeitos de pertencerem clandestinamente ao Partido Comunista, há ainda registo de vários tipos de vigilância que passavam, por exemplo, pela instalação de escutas em escritórios e zonas de trabalho.
ZAP // Lusa

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Ana Moreno

TRP - Acórdão

Hoje, sexta-feira, às 18h, na Praça Amor de Perdição no Porto (Cordoaria, em frente à antiga Cadeia da Relação Porto) e à mesma hora na Praça da Figueira, em Lisboa, tem oportunidade de protestar de forma mais consequente contra a inconstitucionalidade do acórdão que justifica a violência com obsoletas evocações: “o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou (são as mulher honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras), e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher”.  Neste caso, a exigência é simples: processo disciplinar e demissão. Juízes ou juízas a legitimar a violência por adultério, seja ela perpetrada por homem ou por mulher, seja ela praticada contra homem ou contra mulher, não. A lei da mocada terá sido legal desde a idade da pedra, até, digamos, à Constituição de 1976. E que se saiba, mesmo formas brandíssimas de Xaria não estão em vigor em Portugal.

Esta vergonha foi também já largamente noticiada além-fronteiras.XXX

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Os pórticos da auto-estrada 25


por Autor Convidado

A25

João Coutinhas
Ontem percorri muitos quilómetros de desolação da A25, mandatado pela solidariedade de muitos amigos. De ambos os lados, terra queimada a perder de vista. Percebe-se bem que as pessoas não tiveram meios para salvar mais nada que as suas casas. E destas, nem todas. De incólume, só mesmo o asfalto e os pórticos do sugadouro automático.
Mas é quando se troca a estrada grande pelas pequenas vias (essas que de quatro em quatro anos beneficiam da oportunista manutenção) que "bate" em pleno a dimensão da tragédia. Sente-se a tristeza, não o desânimo!
As pessoas não precisam que lhes digam que têm que ser resilientes.
Nem conhecem este figurado. Mas conhecem bem o significado de abandono, que trespassa todas as conversas.
Por todo o lado, cada um tenta limpar e reconstruir o que pode. Aqui e ali os madeireiros em actividade. Das "autoridades"... nada. As operadoras de comunicações móveis foram rapidíssimas a reparar as antenas. Rede fixa, continua avariada. Aquele vizinho ouviu falar de apoios a fundo perdido, mas não sabe como se candidatar. O primo foi à Junta declarar que ficou sem casa: pediram-lhe os "papéis" que arderam.
O fogo pôs à mostra também a debilidade das estruturas locais. Os slogans de alguns cartazes de campanha sobreviventes, que falam de futuro e de competência, parecem agora obscenos.



Quem nos protege?




por estatuadesal

(Daniel Proença de Carvalho, 26/10/2017)

Daniel Proença de Carvalho

O debate na Assembleia da República da moção de censura ao governo teve o mérito de contribuir para compreender de forma mais sistematizada as responsabilidades dos governos ao longo das últimas décadas no acumular de erros que culminaram nas tragédias dos incêndios que vitimaram vidas humanas e privaram tantos de casa, fábricas, explorações agrícolas e florestais. Numa síntese, falhou o Estado numa das suas principais funções: garantir a segurança das pessoas e dos seus bens. Ao acusarem-se mutuamente dos atos e omissões cometidos nos vários governos que antecederam o eclodir desta catástrofe, os deputados e representantes do governo deram uma ajuda à compreensão das causas remotas e próximas do que aconteceu. A verdade é que todos têm a sua parcela de responsabilidade, não só os que estiveram no governo mas também os que sempre estiveram na oposição.

Nenhum deles colocou como prioridade as funções de soberania do Estado, nenhum deles concebeu uma estratégia de combate ao abandono do interior rural, à estrutura fundiária que conduziu à impossibilidade material de cuidar dos campos, em suma, às causas remotas da situação de perigo em que vivem as populações nessas regiões abandonadas à sua sorte. Como lapidarmente disse o nosso Presidente, essas pessoas foram abandonadas, porque não têm capacidade nem voz reivindicativa, não contam para as contas dos partidos.

Portugal fez grandes progressos na Saúde, na Educação, na Segurança Social - áreas em que o Estado e os privados investiram e competem.

O Estado investiu nessas áreas porque os benefícios estendem-se por todos os eleitores, sendo certo que o maior número destes votam nas zonas urbanas e no litoral. Os privados investem, naturalmente, onde está o mercado. Quem se interessa pelas populações do interior, que não dão votos aos partidos nem receitas aos privados?

A dimensão da tragédia fez-nos ver, a todos, mesmo aos que ignoram o mundo rural, que desta vez o Estado tem de agir. Esperemos que o faça com o concurso de todos e de forma competente.

Outra das lições do que se passou tem que ver com a descoordenação e a falta de liderança dos sistemas de ataque aos incêndios. A forma atabalhoada e sem coordenação eficaz dos vários agentes envolvidos pôs uma vez mais a nu uma administração a precisar de um choque de liderança e eficiência.

Mal refeitos do trauma dos incêndios, uma sentença de um tribunal superior confronta-nos com outro setor desprezado pelos políticos, entregue a uma autogestão à margem de qualquer escrutínio e à mercê de preconceitos que se sobrepõem ao império da lei. Dirão alguns que dois juízes não representam a Justiça e um acórdão não faz jurisprudência. Está enganado quem assim pensa.

O sistema de justiça não dá confiança aos cidadãos e às empresas, como está comprovado por todos os estudos conhecidos que recolhem e avaliam as opiniões dos cidadãos.

E o problema não está nas leis, está numa organização que funciona em autarcia, fechada sobre si própria, em regime de irresponsabilidade.

Quando o órgão competente para a "nomeação, colocação, transferência e promoção dos Juízes (...) e o exercício da ação disciplinar" (artigo 217.º da Constituição da República Portuguesa) se declara impotente para agir perante decisões de juízes que citam a Bíblia para desculpar ou atenuar a culpa de agressores de mulheres, sob o pretexto de salvaguardar a sacrossanta independência dos magistrados, estamos, aqui também, perante o falhanço do Estado em proteger pessoas indefesas.

Com a agravante de que, neste caso, o poder político diz que nos temas da justiça não se mete! Ou seja, não temos defesa perante os abusos de um dos mais poderosos poderes (passe o pleonasmo) do Estado.

Como sou advogado, com uma carreira já muito longa, acrescento que conheci e conheço muitos juízes e juízas que não se reveem nestes comportamentos, que são pessoas inteligentes, competentes e sensatas. Mas custa-me não ouvir uma única voz, nem dos sindicatos que os representam, a criticar comportamentos que deveriam envergonhar-nos a todos.





Não pode valer tudo!

Paula Santos

Paula Santos

25.10.2017 às 14h08

Ontem assistimos a um exercício inaceitável protagonizado pelo CDS – a instrumentalização de uma situação dramática vivida e sentida por milhares de pessoas na sequência dos incêndios que deflagraram no nosso país com o objetivo de retirar dividendos políticos.

O próprio texto da moção de censura é muito elucidativo quanto aos seus objetivos. No texto não se vislumbra qualquer consideração sobre as causas desta tragédia dos incêndios, nem uma única proposta para resolver o problema da floresta. Acho que está tudo dito!

No debate o CDS insistiu na tese de que o Estado falhou, quando o que falhou foram as opções da política de direita prosseguidas por sucessivos governos do PS, PSD e CDS.

Percebe-se que não queiram discutir a verdadeira origem da tragédia, falar sobre as causas dos incêndios, nem sobre as consequências da política que defenderam e implementaram. Não querem falar porque isso implica discutir as suas enormes responsabilidades na atual situação da floresta, no desinvestimento e no abandono do mundo rural, assim como no desinvestimento nos meios de combate a incêndios.

Não nos esquecemos das opções políticas do anterior Governo do PSD e CDS. Reduziram a capacidade de intervenção do Estado na área da floresta, nomeadamente com o encerramento de serviços desconcentrados de apoio aos setores produtivos e concentraram serviços no ICNF; reduziram o número de trabalhadores; reduziram o orçamento na área da defesa da floresta em 20 milhões de euros e na área da proteção civil em 8 milhões de euros; impuseram a lei da liberalização do eucalipto; retiraram a isenção das taxas moderadoras aos bombeiros. Opções políticas que se centraram sempre na perspetiva do menos Estado, na privatização de serviços, substituindo a intervenção pública pela lógica do mercado, com o objetivo de satisfazer os interesses dos grupos económicos.

No início desta semana os deputados do PCP visitaram os concelhos mais afetados pelos incêndios do passado dia 15 de outubro nos distritos de Aveiro, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Porto e Viseu. Constatámos o rasto de destruição deixado pelos fogos. Arderam hectares de floresta, arderam habitações, arderam empresas e perderam-se milhares de postos de trabalho. Perdeu-se capacidade produtiva.

As populações sentem-se abandonadas. Na visita que fiz ao concelho da Sertã, à semelhança do que ocorreu noutras zonas atingidas pela brutalidade dos fogos, houve investimentos realizados por pequenos produtores e que agora perderam tudo.

Vi uma floresta desordenada, sem qualquer planeamento, sem faixas de proteção, com uma mancha contínua sem qualquer quebra. Uma parte do que ardeu nos incêndios deste ano, já tinha ardido no grande incêndio de 2003. Verifica-se que durante estes 15 anos não houve alterações ao nível da gestão da floresta, apesar das sucessivas recomendações e estudos elaborados com medidas concretas que tardam em ver a luz do dia, no âmbito da prevenção e defesa da floresta.

Foi generalizada a opinião transmitida quanto à pouca rentabilidade na atividade florestal. Os preços da madeira são baixos, os preços dos resíduos igualmente, fatores que não contribuem para uma adequada gestão florestal.

Não se pode perder mais tempo. É prioritário o apoio e indemnização às vítimas dos incêndios, na reconstrução e na recuperação do potencial produtivo. É fundamental que se avance desde já com medidas concretas de defesa da floresta, de ordenamento florestal, de diversificação da floresta e de valorização do preço da madeira.