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sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O Governo Sombra dos abutres

por estatuadesal

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 24/11/2017)

quadros

João Quadros

Pergunta um jornal - "Estará o país a ficar insensível, perante tanta tragédia?" A líder do CDS sente isso mesmo e recorda o dia em que as notícias davam conta de um novo aumento do número de mortes provocadas pelo surto de "legionella". "As pessoas quase que aceitaram isso como uma coisa natural. Esta indiferença à morte não é normal e tem muito a ver com a forma como o próprio Governo vai reagindo", critica Assunção Cristas. Estou a perceber o ponto de vista, mas também poder ser por causa das imagens dos atentados em Nice, etc. Também pode ser por causa dos jogos de computador.

Também pode acontecer que toda esta indiferença, perante a gravidade da morte, seja por termos tido um PM, de um governo a que Cristas pertenceu, que, perante a cura para a hepatite C, e que custava uns milhares, disse: "os Estados devem fazer tudo o que está ao seu alcance para salvar vidas humanas, mas não custe o que custar". Nessa altura, Cristas estava em casa a ver a série The Walking Dead e assinou de cruz.

O que me parece é que o CDS já foi o partido do táxi, agora é o partido do carro funerário. Assunção Cristas é um abutre a pairar sobre as desgraças. Como o abutre procura alimentar-se de carcaças, Assunção tenta ganhar votos contando campas. A líder do CDS acusa o Governo de, perante as tragédias, agir "de forma errada, pouco sensível e pouco humana", mas dá á sensação de que reza para que elas aconteçam. Nisso, Passos foi mais honesto, assumiu que desejava que viesse aí o Diabo.

Havia uma senhora inglesa, de seu nome Anne Germain, que falava com os mortos num programa da TVI. Agora temos uma Cristas, suposta líder da oposição, que fala pelos mortos. É como se Cristas estivesse possuída por um resultado que acha que foi bom nas autárquicas. Diz coisas exactamente ao contrário do que dizia quando foi governo. Desde o aumento de pensões, passando pelo congelamento de carreiras, até a esta sensibilidade para com as mortes. Dir-se-ia com foi possuída pelo espírito do Louçã, não estivesse ele vivo e de boa saúde, mas mantendo a voz de professora da primária. Quando vejo imagens de Cristas a defender o investimento do Estado na Assembleia da República, estou sempre à espera que ela consiga girar a cabeça 180 graus, como a pobre coitada do Exorcista.

Cristas concentra-se em todos os tipos de mortos. Os que morreram durante este Governo e os que já estavam enterrados há anos, como no caso do panteão. É a nossa espírita. Tem mais ligação com o além do que com o que se passou enquanto foi ministra.

Cristas, perante a seca, pedia que rezássemos. Agora exige medidas ao Governo. Pois eu exijo que, para que ela seja fiel ao que defendeu, que vá à Fátima de joelhos, com uma vela em forma de nuvem, e que não beba água daqui até lá, para que acabe por compensar.


TOP-5

Necrologia

1. Ministro da Saúde anuncia que Infarmed vai para o Porto - Trabalhadores do Infarmed vão ter aulas de formação para apreenderem a trocar o V pelo B e a usar mais calão.

2. Governo chama Jorge Jesus e Ana Malhoa para defender taxa sobre o sal - e dar cabo da língua portuguesa.

3. Ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães, acusado de assédio e de enviar foto das partes íntimas a uma jornalista americana - que estupidez, depois de tudo o que temos feito para promover Portugal lá fora. Espero que ele tenha usado Photoshop.

4. Governo avisa que devem ser tomadas medidas por causa da seca - Deixo a dica, agora que vem aí o Natal: eu tinha um tio que era tão forreta que demolhava o bacalhau na caixa do autoclismo.

5. Presidente da Câmara do Porto agradece a descentralização do Infarmed - Descentralizar era fazer o festival da Eurovisão em Pedrógão.

Black Friday – avulsos a propósito do dia das pechinchas

Aventar

por Ana Moreno

  1. Um dia destes, na baixa, cruzei-me com uma senhora que ía de mão dada com a filha, dos seus 10 anos, mais coisa menos coisa.
  • Mãe, o que significa consumismo?
  • Quando uma pessoa compra alguma coisa porque precisa mesmo, por exemplo como nós vamos agora comprar uns sapatos para ti porque os outros já não te servem, isso não é consumismo. Quando alguém já tem o suficiente de qualquer coisa e mesmo assim compra mais sem precisar, a isso é que se chama consumismo.

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Pedro Rolo Duarte faleceu

Aventar

por Autor Convidado

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© Global Imagens

Humberto Almendra

Conheci o Pedro como director da Revista "Nós" do Jornal i na qual colaborei como produtor de texto e fotografia freelance. Era um homem transparente, seguro e generoso. Atento talentoso e humilde. Mas aquela humilde que só ilumina os sábios.
Uma excelente pessoa.
Detesto esta merda de ter que saber que as pessoas morrem. Prefiro esquecê-las nas voltas da vida e voltar a elas apenas em breves recordações. Somos nada.
Fodasss.
Está na hora de morrer. Nada mais podemos dar a nós próprios ou à vida depois dos cinquenta anos. Chegamos a um ponto em que não passamos de uma câmara de reverberação até à loucura. Tanta gente que morre com a minha idade.
Fodasss.
Diz-se que somos tão novos. Somos nada.
Parem de se enganar. Eu digo que somos tão velhos como a mais velha das árvores.
Mas, ao contrário delas, desperdiçamos ao longo da vida tantas horas de luz e inspiração. Aquelas folhas verdes e as flores perfumadas que nos enchem a alma. Estas coisas fundamentais e vivas que fazem de nós incompletos mas cheios. Que fazem de nós incomparavelmente melhores. Referências como o Pedro Rolo Duarte. Uma luz. Detesto aquela cena do "descansa em paz. Descansa mas é o caralho.
Toca a despir a alma do corpo e continua a voar pelo universo. Esta terra torna-se demasiado pequena para quem morre. É só isto. Um cemitérios. Que sejamos ao menos tudo para que quando cheguemos ao nada tenha valido a pena.
E o Pedro foi isto. Uma espécie de tudo.

Adeus, Auto-Europa!

Aventar

por João Mendes

Estávamos em Agosto, um mês silly por excelência, e os proletários da Auto-Europa, estúpidos como uma porta, decidiram fazer uma greve, na sequência da rejeição, por larga maioria dos trabalhadores, das propostas decorrentes do pré-acordo entre a Comissão de Trabalhadores e a administração da empresa.

Imediatamente, profetas de todas as direitas, indignados com tamanho geringoncismo, anunciaram novos cataclismos, área em que se vêm especializando desde finais de 2015. Era o princípio do fim da grande exportadora portuguesa. A Auto-Europa preparava-se para fechar portas, tão certo como a chegada do diabo, e contavam-se os dias até ao trágico desfecho.  Ler mais deste artigo

O debate da austeridade*

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

  • Eduardo Louro
  • 24.11.17

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Embora há muito no centro do debate político, a austeridade regressou esta semana em força aos jornais e às televisões. O debate já leva dois anos: a esquerda diz que acabou com a austeridade, o primeiro-ministro utilizava a expressão “virar a página da austeridade”; a oposição sempre teimou que não, que o governo segue uma austeridade encapotada.

Quando, no tema central desta semana – o descongelamento das carreiras -, o primeiro-ministro veio dizer aos professores que não há dinheiro, a oposição fez uma festa: ali estava a confirmação!

Mas afinal o que é a austeridade?

Austeridade serve para adjectivar um comportamento severo aplicado a costumes e a modos de vida, e gira à volta de ideias de rigor e disciplina e, algumas vezes, de penitência.

Em democracia, a política de austeridade deve referir-se a comportamentos de âmbito económico. Apenas deve tocar em costumes e modos de vida na exclusiva medida em que traduzam efeitos económicos.

Por isso a política de austeridade não tem que ter nada a ver com penitência. Mas tem que ter tudo a ver, e isso não tem mal nenhum, com rigor e controlo nos gastos. E tendo a ver com isso tem a ver com opções e escolhas nos gastos.

Não tendo nada a ver com penitência ou punição, e tendo tudo a ver com rigor e disciplina no controlo da despesa, a austeridade não é o diabo que pintam.

O diabo está na austeridade punitiva como foi apresentada pelo governo anterior e por toda a sua entourage política. A política de austeridade que implementou, até com a vontade expressa de ir para além da troika, não era mais que o justo castigo para os desvarios e pela irresponsabilidade dos portugueses. E o diabo ainda está no objecto da punição, em quem é punido e quem é premiado.

O actual governo, para salvar os portugueses dessa punição, só tinha que declarar morte à austeridade – a essa austeridade punitiva. Tinha que virar essa página. Podia ter outro discurso?

Como dizia um anúncio publicitário: Podia, mas não era a mesma coisa!

A oposição também já o percebeu. E por isso, enquanto tudo faz para contrariar a ideia que o governo acabou com a austeridade, refere-se agora ao governo anterior não como o seu próprio governo, mas como o governo da troika. Com o qual já não quer ter nada a ver…

Pois. O que por aí está em debate não é a austeridade, mas o habitual fait divers da nossa (baixa) política!