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sábado, 25 de novembro de 2017

Já ouviste falar do Nevo

Jeunesse(2)


ZEN BODI - JEUNESSE™


Já ouviste falar do Nevo?

Não criámos uma bebida energética... apenas a aperfeiçoámos.

NEVO oferece uma lufada de ar fresco repleta de energia em quatro fórmulas refrescantes em Caixas de 24 latas.

Com sumos naturais de frutas, NEVO contém apenas 50 calorias por lata: a quantidade certa de energia, sem corantes nem aromatizantes e adoçantes artificiais.

Quando precisa de energia, é o momento de fazer uma escolha inteligente. É o momento de NEVO.

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200€ é bom, mas por 300€ até faço uma sopa

por vitorcunha

A notícia de que o governo pagou a figurantes para irem ao conselho de ministros fazer perguntas combinadas que façam o governo parecer bem não deveria surpreender ninguém. Em primeiro lugar porque, de graça, não se arranja ninguém para fazer o governo parecer bem; em segundo lugar porque nesta fase precoce da evolução social do Homem (e da Mulher, e do Coisa, não esganicem) ainda é preciso convencer a ralé a enaltecer o querido líder; um dia, noutra fase mais evoluída, bastará um fuzil apontado à testa do inquestionável devoto de forma a obter milhares de apoiantes.

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A imagem não está esbatida, é só um filtro moderno do Instagram®

Os membros do focus group recebem 200 euros por dizerem ao querido líder que ele está no bom caminho, nomeadamente no bom caminho para que cada um receba mais 200 eurinhos. Por 300 euros até lhe levaria uma sopinha caseira e, em dias de festa, como no dia de ocultação de cadáveres, uma sandocha de mortadela. Porém, a precariedade do focus group perturba-me: não têm progressões na carreira, não recebem nem duodécimos nem subsídio de Natal e de Férias, não têm acesso a faltas justificadas e podem inclusivamente perder o emprego tão necessário ao país se faltarem para casar com pessoa do mesmo sexo ou por maternidade de substituição. Isto parece-se imenso com a exploração do Homem pelo Homem (e da Mulher pela Mulher, e do Coisa pelo Coisa, não esganicem). Assim, agradeço à Ana Avoila que trate imediatamente da exigência de integração destes funcionários no rol dos beneficiários directos do orçamento de estado.

Admito que estou ansioso por ver as perguntas que os precários vão fazer ao querido líder. Eu perguntaria se a história da Bela Adormecida é uma alegoria do Partido Comunista Português.

Há jornalistas que querem o poder da PIDE


(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 24/11/2017)

Daniel

Daniel Oliveira

Um jornalista pediu para ter acesso a escutas sem qualquer relevância para o processo onde estão milhares de horas de conversas de Sócrates com deputados, ministros e jornalistas. Quer o que qualquer polícia política costuma ter: a capacidade de fazer escutas e usá-las politicamente contra os escutados.


Habituei-me a assistir à confusão de muitos que julgam que defender o rigor num processo judicial é apoiar o comportamento do arguido ou acusado. Uma confusão típica de quem acredita que a provável culpa de um criminoso suspende as regras do Estado de Direito. Por isso, não me preocupo com aqueles que me tratam como apoiante de Sócrates, alguém em quem nunca votei e que nunca apoiei, em quem nunca poderia ter votado e nunca poderia ter apoiado.

O que muitas vezes me levou a criticar a gestão pública do processo de José Sócrates nem foi propriamente a violação dos seus direitos. Foi um casamento perigoso entre a imprensa tablóide, que põe os interesses comerciais à frente de qualquer regra deontológica, e o poder judicial, a quem damos instrumentos excecionais que têm de ser preservados. Dito de forma mais clara: uma coisa é dar a quem investiga a capacidade de escutar telefonemas, ler mails e mensagens e violar, dentro dos limites legais, a privacidade dos cidadãos. Outra, bem diferente, é esses instrumentos serem facultados à imprensa, seja ela tablóide ou não. Bem sei que a privacidade é um valor em vias de extinção, mas ela é uma condição para a liberdade.

A semana passada ficámos a saber, através da “Sábado”, que um jornalista assistente no processo (a lei portuguesa permite-o) pediu para ter acesso a todas as escutas da “Operação Marquês”. A vontade de nos informar não chegou para a “Sábado” nos dizer quem é esse jornalista. Sabemos que o jornalista quer ter acesso a escutas que nada têm a ver com a acusação e que apenas não foram destruídas porque podem, de alguma forma, vir a ser solicitadas pela defesa. Nessas escutas estão milhares de horas de conversas do antigo primeiro-ministro e antigo líder do PS com deputados, ministros, jornalistas, aliados, adversários. Pessoas que não têm qualquer tipo de cumplicidade criminal com Sócrates e eram, na sua esmagadora maioria, totalmente desconhecedoras do seu alegado comportamento.

Como é evidente para qualquer pessoa normal, a proteção da privacidade destas pessoas (já nem sequer estou a discutir a de Sócrates, a quem não foram retirados direitos constitucionais) não pode ser beliscada quando não está em causa nenhum elemento relativo à investigação. Todos percebemos o que quer o jornalista: ter acesso a um instrumento de investigação política ilegítimo, para, através da divulgação de conversas privadas, embaraçar os envolvidos. O que deseja é o que qualquer polícia política costuma ter. Talvez seja difícil alguns jornalistas perceberem, mas escutar telefonemas não faz parte do que consideramos aceitável como forma de investigação jornalística. Pelo menos se ela tiver como conteúdo questões estritamente políticas. Os jornalistas não são investigadores criminais nem juízes. Não têm nem podem ter acesso aos mesmos instrumentos de investigação.

Segundo a mesma “Sábado”, o juiz Carlos Alexandre, em mais uma exibição de total ausência de critérios de respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, aceitou este pedido. Mandou o Ministério Público entregar a um jornal milhares de horas de conversas telefónicas de cariz político que não foram transcritas por não terem qualquer relação com a matéria em investigação. O MP anda a adiar a entrega. E faz bem. No dia em que estas escutas forem publicadas na imprensa começaremos a perguntar se podemos dar este poder de nos escutar à Justiça. Ele foi pensado para investigar e combater o crime. Não pode existir se tiver como função a intriga política e a venda de jornais.

Hoje é um dia reservado ao veneno

por estatuadesal

(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 24/11/2017) 

nicolau

Desculpem mas hoje é um dia reservado ao veneno. Os despedimentos podem ser necessários numa indústria em crise global mas constituem sempre uma tremenda violência. Nós, jornalistas, que escrevemos muitas vezes mecanicamente sobre os despedimentos nas mais diversas empresas, só sabemos verdadeiramente o que eles significam quando nos batem à porta, quando vemos as cadeiras que vão ficando vazias nas redações, vozes conhecidas que deixamos de ouvir, conversas de corredor que não voltarão a acontecer.

Desconhecemos em toda a sua dimensão o terramoto que os despedimentos provocam nos que estão sozinhos ou nos que têm filhos pequenos ou nos que têm de ajudar os pais e dependem dos seus salários para isso. Desconhecemos em toda a sua dimensão o choque brutal que são os despedimentos para quem deixou a pele, o suor, o sono para correr atrás do sonho de fazer a grande reportagem, de concluir uma investigação, de conseguir a noticia em primeira mão. Desconhecemos em toda a sua dimensão o impacto avassalador para quem é afastado violentamente de colegas, de amigos, da sua segunda casa onde passaram dez, doze ou mais horas por dia, semana atrás de semana, ano atrás de ano dos últimos dez, vinte ou trinta anos. Desconhecemos em toda a sua dimensão o nojo, a revolta, o vómito que sente quem é alvo de um despedimento. Não há palavras que exprimam as metástases que um despedimento provoca. Por isso, socorro-me de António José Forte e do poema que escreveu em 1958, com o título “Reservado ao veneno”.

Hoje é um dia reservado ao veneno

e às pequeninas coisas

teias de aranha filigranas de cólera

restos de pulmão onde corre o marfim

é um dia perfeitamente para cães

alguém deu à manivela para nascer o sol

circular o mau hálito esta cinza nos olhos

alguém que não percebia nada de comércio

lançou no mercado esta ferrugem

hoje não é a mesma coisa

que um búzio para ouvir o coração

não é um dia no seu eixo

não é para pessoas

é um dia ao nível do verniz e dos punhais

e esta noite

uma cratera para boémios

não é uma pátria

não é esta noite que é uma pátria

é um dia a mais ou a menos na alma

como chumbo derretido na garganta

um peixe nos ouvidos

uma zona de lava

hoje é um dia de túneis e alçapões de luxo

com sirenes ao crepúsculo

a trezentos anos do amor a trezentos da morte

a outro dia como este do asfalto e do sangue

hoje não é um dia para fazer a barba

não é um dia para homens

não é para palavras

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O monstro cibernético

Estátua de Sal

por estatuadesal

(António Guerreiro, in Público, 24/11/2017)

Guerreiro

António Guerreiro

Não se deve ignorar que o motor de busca Google nasceu da aplicação à web do método usado, desde o final do século XIX, para “medir” o valor das publicações universitárias pelo número de citações que obtêm. O algoritmo PageRank da Google calcula o valor de cada link e decide sobre a importância e visibilidade de um dado documento com base no número e na qualidade dos links que enviam para ele. Por isso, este algoritmo já foi estudado no campo da economia política como um diagrama empírico da acumulação de valor no capitalismo cognitivo, como acumulador de informações que acrescentam valor. De modo semelhante ao algoritmo PageRank, nas chamadas “redes sociais”, como o Facebook e o Twitter, o prestígio pessoal calcula-se precisamente com base no número de likes e followers. Em maior ou menor grau, estamos hoje todos conectados e um processo cibernético total, do qual somos agentes e espectadores, já está consumado. E tornou-se bem claro que há hoje uma forma de governo através das redes. Podemos — e devemos — preocuparmo-nos com a facilidade com que se procede a julgamentos e se difundem hoje proclamações, veredictos, narrativas pessoais. Mas tornou-se difícil, quase impossível, mesmo a quem se quer manter à distância, não colaborar como agente. A oposição esclarecida (não a oposição obscurantista e retrógrada) ao processo de cibernetização fez parte do programa dos protagonistas da revista Tiqqun. Das suas posições teórico-políticas decorria logicamente o apelo à sabotagem. A figura do hackersurge aí com um potencial revolucionário, aquele que sabe introduzir-se pelos lados fracos da engrenagem, que só ele conhece. O hacker espalha o pânico, a imprevisibilidade que a cibernética não pode calcular, pratica o acto insurrecional irrecuperável. E desde há mais de dez anos que um grupo italiano de investigação independente e interdisciplinar chamado Ippolita faz uma análise dos efeitos da World Wide Web e da data economy que ela desenvolveu. A promessa inicial era bem bonita: uma sociedade e uma economia contributivas, em que a participação na produção de saber para todos seria possível. Ora, o que triunfou, afinal, foi um hipercontrolo imposto pela “governamentalidade algorítmica”. As novas tecnologias digitais abriram imensas possibilidades, criaram uma vertigem de inovações, mas também são a origem de perigos inauditos e imprevistos. Com as suas publicações, o grupo Ippolita teve um papel pioneiro na compreensão do que significava o desenvolvimento alucinante, à escala planetária, do social engineering e do chamado “efeito de rede” que ele explora.

Uma premissa fundamental deste grupo é o de que a tecnologia se transforma em ideologia. A adopção de um utensílio tecnológico modifica directamente a maneira como percebemos o meio envolvente, de um ponto de vista físico, social e psicológico. As tecnologias digitais ofereceram ao capitalismo um novo campo de experimentação e de desenvolvimento, caracterizado por uma quase ausência de regras.

E o Google ensina-nos que a democracia digital se baseia em filtros e algoritmos que permitem deduzir a opinião da maioria e empurrar para zonas invisíveis o que é minoritário. Os pioneiros da informática tinham já alguma consciência do significado das suas descobertas. Wiener escreveu mesmo um pequeno livro em que compara os primeiros computadores, que tinham uma potência ridícula face aos que conhecemos hoje, ao Golem da Cabala. “Golem Alpha” foi, aliás, o nome que Gershom Scholem, o grande estudioso da mística judaica, amigo de Walter Benjamin, deu ao primeiro computador israelita, fabricado em 1965.