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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

“Marcelo está a reduzir os outros actores políticos quase a figurantes”

SAMPAIO DA NÓVOA

Sampaio da Nóvoa dá por boa a “proximidade” de Marcelo, mas vê dois riscos no uso excessivo da palavra. E já nem exclui uma segunda candidatura a Belém.

David DinisDAVID DINIS
24 de Janeiro de 2018, 0:00

Ao fim de dois anos da eleição presidencial, o ex-adversário de Marcelo já lhe traçou a radiografia: “Há um excesso de pronúncia, de palavra sobre tudo, sobre o dia-a-dia” e, com isso, “um desgaste da imagem” e “da palavra presidencial”, diz Sampaio da Nóvoa na “Hora da Verdade”, entrevista ao PÚBLICO e Renascença que será publicada esta quinta-feira.
O ex-reitor da Universidade de Lisboa, que ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de 2016, vê dois riscos nesta estratégia de Marcelo Rebelo de Sousa. O primeiro é o de “muitas vezes reduzir o papel dos outros actores políticos quase a figurantes. Muitas vezes temos a sensação que os outros actores políticos — membros do Governo, deputados, presidentes de câmara — fazem quase o papel de figurantes. E julgo que isso não é bom para a democracia portuguesa.
O outro risco é o de o Presidente da República “perder o peso da última palavra”, quando chegar um momento em que a sua intervenção será determinante no espaço público — ou político. “É o meu receio”, afirma.
Mas Sampaio da Nóvoa percebe as razões do homem que o venceu, logo na primeira volta das presidenciais. “Há uma preocupação constante de preencher a distância entre o tempo mediático e o tempo político”, de preencher um vazio. Se o próprio Marcelo já o reconheceu, há quase um ano, num encontro com politólogos reconhecidos internacionalmente, na Fundação Champalimaud, Sampaio da Nóvoa percebe as vantagens imediatas que pode ter.
“O primeiro ano [desta Presidência] foi muito positivo”. Talvez até, reconhece, sem Marcelo não tivesse sido possível a estabilidade da solução de esquerda, que ele próprio profetizou enquanto candidato. Já o segundo ano, acrescenta, “foi muito marcado pela proximidade”. Marcelo “deu uma dimensão de respeito e compaixão” sobretudo na horas das tragédias, que faz e fazia falta. A questão é quando Marcelo entra em excesso, justifica Sampaio da Nóvoa. E quando fala sobre tudo, ocupando todo o tempo.
Na entrevista ao PÚBLICO e Renascença, o ex-candidato prefere não dar conselhos ao PS sobre o que fazer nas próximas eleições presidenciais — menos ainda se deve preparar-se para fazer como o PSD fez com Soares e dar o seu apoio a Marcelo. Mas, mesmo resguardado no papel de ex-candidato independente, recusa também antecipar o que reserva para o seu futuro político.
Do ponto de vista da minha intervenção pública ela será o que na altura adequada tiver de ser. Se me tivesse perguntado um ano antes de ter lançado a minha candidatura se pensava candidatar-me a Presidente da República ter-lhe-ia dito que não e, no entanto, um ano depois apresentei a minha candidatura”, diz ao PÚBLICO e Renascença. E dois anos depois, o que é que pondera? “Pondero tudo, está tudo em aberto na minha vida. Não há nada que eu não imagine que possa acontecer”. Até mesmo uma segunda candidatura a Belém? “Se há uma coisa que aprendi é que nunca se deve dizer nunca a nada e eu, pessoalmente, não digo nunca a nada. Portanto, estou aberto a todas as possibilidades, em todos os momentos, se entender que numa determinada fase isso é útil para o país.”
Nesta entrevista, o candidato fala sobre Marcelo e o papel do Presidente, também sobre Rui Rio e o que muda - ou não - no ciclo político português. Sobre o Governo PS com apoio da esquerda - o seu futuro, seus sucessos e insucessos. E também sobre a Educação, o Ensino Superior e Ciência, que lhe ocupam agora os dias, enquanto professor universitário.

Com presidente eleita e candidato mais popular afastados, está consumado o golpe

por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 23/01/2018)

Daniel

Daniel Oliveira

Já há uns meses ESCREVI sobre o processo judicial contra Lula da Silva e a sua inacreditável fragilidade. Nada, a não ser a convicção de denunciadores premiados cuja a liberdade depende da incriminação de Lula, permite corroborar que o triplex de Guarujá, em São Paulo, lhe pertencia formal ou informalmente. O facto deste mesmo apartamento ter sido aceite pela justiça brasileira como bem penhorado para que a construtora pagasse as suas dívidas é a prova final de que nem os juízes acreditam que o apartamento era do ex-Presidente. Tudo se resume, no fim, à visita do casal ao apartamento e a obras que terão sido por eles pedidas. Da real propriedade ou usufruto de qualquer espécie do imóvel não só não há provas como as que existem (a penhora) o desmentem. A maior prova da corrupção é Lula não ter pago nem discutido o preço a pagar por um apartamento que não comprou. Mudar a história do Brasil apenas com base numa visita a um apartamento revela a má-fé dos julgadores.

Como se pode impedir um cidadão de concorrer a umas eleições por ter recebido um pagamento que não só nenhuma prova diz existir como a própria justiça brasileira garante não ser seu? Quando nem sequer existe qualquer suspeita de que esse apartamento tivesse servido para pagar favores? Palavras do juiz Sérgio Mouro: “Este juízo jamais afirmou na sentença ou em lugar algum que os valores obtidos pela construtora OAS nos contratos com a Petrobrás foram usados para o pagamento de vantagem indevida para o ex-Presidente”. O pagamento que não foi recebido foi feito em troca de nada. Sobra nada. De resto, todo o processo vive de suposições em relação ao que Lula saberia do que acontecia na Petrobrás. Mas não há qualquer prova ou indício de que Lula tenha participado ou influenciado qualquer decisão da Petrobras para beneficiar a construtora OAS. Como escrevi antes, Lula é condenado por ter favorecido uma empresa que nenhuma prova ou indício forte permite dizer que favoreceu em troca de um apartamento que comprovadamente não lhe pertence nem legal, nem informalmente. Um julgamento assim dificilmente deixaria qualquer político brasileiro, do mais sério ao mais bandido, fora da prisão. E por isso tem recebido fortes críticas de muitos juristas brasileiros. Mas com o Brasil fortemente polarizado, a culpa ou inocência de Lula parece ser a última coisa que interessa a alguém.

Para que não haja, como tende a haver por cá, confusões com o que se passa com José Sócrates, este julgamento kafkiano, enquadrado num processo judicial carregado de irregularidades e atropelos à lei, tem de ser visto em perspetiva. Antes de mais, em conjunto com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, com base na invenção de um crime de responsabilidade (a famosa “pedalada fiscal”), risível perante o mar de lama e corrupção da política brasileira. A motivação constitucional e ética dos deputados não precisava de outra contraprova que não fosse a própria sessão de votação do “impeachment”, um momento grotesco que fica como registo mais esclarecedor da natureza antidemocrática do golpe.

Os dois acontecimentos – afastamento inconstitucional da presidente eleita e processo contra o candidato mais popular de forma a impedi-lo de ir a votos – são peças fundamental deste golpe constitucional. E as motivações ficam evidentes na atuação posterior de Michel Temer, um homem que, apesar de todas as suspeitas e acusações de corrupção, foi mantido no lugar sem qualquer receio de incoerência. E que, depois de garantir que ele próprio não enfrentava a justiça, veio dizer, em Davos, que este julgamento serena os mercados porque mostra que as instituições brasileiras funcionam.

As graves mudanças na lei laboral e na lei da previdência, reformas profundíssimas num Brasil a viver em crise social, e com um pendor neoliberal em tudo oposto à “chapa” pela qual Temer foi eleito vice, explicam porque foi tão importante afastar Dilma e impedir o regresso de Lula. Que seja um governo com popularidade de 3% e sem qualquer legitimidade política (o sistema brasileiro é presidencialista, não é semipresidencialista ou parlamentarista) a levar a cabo estas reformas mostra o grau de desespero e descaramento da elite económica brasileira. Com a queda do preço de petróleo e a crise económica brasileira, já não se está a discutir, como no tempo de Lula, a distribuição da prosperidade mas a distribuição dos sacrifícios. E, com essas coisas, a oligarquia brasileira, ainda plena dos seus tiques esclavagistas, não brinca.

É preocupante que a esquerda brasileira se tenha colocado numa situação de total dependência em relação a Lula da Silva. É extraordinário que, em 12 anos de poder num país da dimensão do Brasil e com um partido tão implantado como o PT, não tenha conseguido construir outras lideranças carismáticas. Isso fragilizou o próprio Lula, colocando-o na mira do ataque – os seus opositores sabiam que matar Lula era matar toda a esquerda brasileira. Mas mesmo que assim não tivesse acontecido talvez não houvesse fuga possível. Um dos nomes mais falados como alternativa a Lula da Silva era o antigo perfeito de São Paulo, Fernando Haddad. Mal a sua candidatura alternativa começou a ganhar maior credibilidade, sobretudo depois de ter sido escolhido como responsável do programa eleitoral de Lula, logo surgiu um indiciamento judicial, com mais nenhuma base que não seja tão vaguíssima que dá vontade de rir. Ou seja, cada nome que surja no campo do PT e que tenha, como tem Haddad, popularidade suficiente para ter alguma hipótese, passará a estar imediatamente na mira de um poder judicial que substituiu o processo pela convicção. Num país onde os magistrados tomam posições políticas públicas bastante claras e onde as carreiras política e judicial se cruzam bastantes vezes.

Este processo de total judicialização da política brasileira, que transforma os juízes em centro de disputa política, que pedem apoio popular, apelam a manifestações e têm como último critério da sua ação a própria lei, é um caso de estudo que merece ser olhado com toda a atenção por todos os que acreditam na democracia e no Estado de Direito. No Brasil, mas não só, ele depende de uma tríade perfeita: os grandes grupos de comunicação social, o poder económico e financeiro e juízes cada vez mais disponíveis para saltar para a ribalta mediática onde hoje se define o sucesso e relevância de cada profissional. Cavalgando a justíssima indignação popular com a corrupção e selecionando politicamente as vítimas a queimar na fogueira mediática, o poder desta tríade é avassalador. Um poder que tem a particularidade de não depender do voto. No Brasil, ele até já serve para proibir exposições “indecentes” com base em convicções religiosas de juízes (o poder dos evangélicos estende-se a todos os ramos do Estado). O populismo desbragado que move parte do poder judicial brasileiro é bem evidente na máxima mediatização de todas as demonstrações de força, de que a exibição da transferência de prisão do ex-governador Sérgio Cabral acorrentado nas mãos e nos pés é uma boa ilustração. Claro que o povo gostou da imagem. E o objetivo é esse mesmo, reforçando assim o poder simbólico dos juízes face ao poder político.

O processo que hoje teve o seu momento decisivo, cujo resultado exato foi preanunciado por várias televisões, e que teve uma gestão extraordinária de calendário para garantir que acontecia antes de Lula poder concorrer a eleições, torna a sua candidatura quase impossível. Com base numa acusação sem qualquer substância, prova ou sequer indício. Nestas circunstâncias, o afastamento do político mais popular do Brasil da corrida presidencial revela-nos que novos instrumentos podem ser usados para impedir qualquer esforço de justiça social em tempo de crise.

Houve um tempo que em que a elite brasileira usava o exército para aplacar a democracia. Agora não precisa de militares na rua. Basta ter todas as televisões do Brasil, juízes com fome de protagonismo e um exército de políticos corruptos disponíveis para queimar quem for preciso para salvar a sua própria pele.

Nunca devemos esquecer, quando analisamos o que se passa no Brasil, a natureza profundamente classista e racista da elite nacional e a afronta que significou ter, à frente dos seus destinos, um operário sem curso superior. Mas o que está em causa agora, que chega o tempo das “vacas magras”, é muito mais do que isso. Como se percebe por tudo o que o governo Temer vai apressadamente aprovando.

Claro que Lula, Dilma e PT cometeram erros graves. Fizeram depender do petróleo todas as suas reformas sociais, que tiraram da pobreza milhões de brasileiros. Bastou que o seu preço caísse para tudo ir atrás. Como aconteceu com outros países que acreditaram que podiam fazer reformas sociais sem tocar numa economia de base extrativista. O Brasil passou então a depender do endividamento externo. E depender do endividamento externo é, como nós bem o sabemos, depender dos humores de mercados pouco interessados em reformas políticas e sociais emancipadoras dos trabalhadores. O segundo pecado do PT foi, apesar das mudanças legislativas que promoveu e que tornaram todo o processo Lava-Jato possível, não ter combatido a corrupção. Pelo contrário, deixou que ela o minasse por dentro e foi fechando os olhos aos crimes cometidos por seus dirigentes e aliados. O terceiro, foi não saber refazer as suas alianças, achando que, por estar no poder, dispensava um movimento popular que pressionasse para reformas sociais e políticas mais profundas. Preferiu ficar nas mãos dos oportunistas do PMDB, mesmo quando era evidente que eles estavam, dentro do próprio governo, a preparar o golpe.

Está ainda a cometer erros, não preparando o dia seguinte a Lula, quando for evidente que o golpe antidemocrático foi, como não podia deixar de ser, bem sucedido. Continua, na resistência a este processo judicial, a pôr todas as suas fichas numa carta marcada e abatida pelas poderosíssimas forças que usaram uma justiça politizada e uma comunicação social sem grande vínculo à democracia (a Globo foi um instrumento fundamental da ditadura) para impedir que a gestão desta crise fosse feita por quem queira distribuir sacrifícios. Mas o que está a acontecer no Brasil deve ser um alerta para todos nós. A aliança entre o poder mediático e juízes populistas ávidos de notoriedade é o novo instrumento que a elite económica tem, perseguindo seletivamente ou mesmo injustamente políticos pouco cooperantes, para aplacar qualquer vontade de mudança. Um dia isto também nos vai acontecer.

A MAGISTRATURA DA INTERFERÊNCIA

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 24/01/2018)

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Passados dois anos desde que foi eleito já conhecemos tão bem o Marcelo Presidente como conhecíamos o Marcelo comentador, o Marcelo professor, o Marcelo convidado para jantar, o Marcelo dos almoços com Portas ou o Marcelo jornalista. Sabemos como geriu a liderança do PSD, como ganhou muitos likes, como lançou o roteiro dos funerais e das missas do sétimo dia.

Ao fim de dois anos Marcelo Rebelo de Sousa tornou-se numa espécie de Presidente Facebook, ainda que enquanto na rede social os gostos são convertidos em likes, com Marcelo os likes têm a forma de beijinhos, abracinhos e selfies.

Em dois anos Marcelo já apareceu mais a falar na televisão do que Cavaco Silva durante dois mandatos presidenciais, já fez mais presidências abertas do Mário Soares e foi mais vezes a Tancos do que Ramalho Eanes. Ao fim de dois mandatos presidenciais só alguns portugueses da diáspora não terão ficado com uma selfie ou levado com um cachucho presidencial.

Marcelo afirma-se pelo carisma e dá grande importância aos “afetos” ao ponto de parecer que considera que os muitos likes do povo lhe dão uma legitimidade ainda maior do que o voto e por isso tem poderes acrescidos. Marcelo não fala em nome das suas competências, fala em nome do povo e por isso pode-se meter em tudo, incluindo aquilo em que não é chamado. Se o voto lhe deu o poder da magistratura da influência, os likes parece darem-lhe poderes adicionais, que lhe permitem exercer uma magistratura de interferência, em muitos momentos considera que é presidente do governo.

No plano institucional, quer nas relações com o governo, quer nas relações com o parlamento Marcelo teve um importante papel na normalização do país, ajudou a enterrar o ambiente de stress permanente em que o país estava com o extremismo económico de Passos Coelho. Ao tirar a esperança a Passos Coelho de ajudar a interromper a legislatura com eleições antecipadas, Marcelo ajudou o país a entrar numa fase de recuperação, progresso e tranquilidade que há muito não se via. Graças a Marcelo o país superou uma situação que levaria a um segundo resgate e a mais um ciclo de brutalidade na política económica e, muito provavelmente, a mais um governo da extrema-direita chique de Passos Coelho.

A estabilidade política não se deve a Marcelo mas sim a uma maioria parlamentar que resulta de acordos que estão sendo cumpridos, alguém lhe chamou Geringonça, mas a verdade é que ainda não lhe saltaram peças como sucedeu com a demissão do assustado Vítor Gaspar, a substituição do inimitável sôr Álvaro, nem sequer esteve à beira de gripar, como sucedeu ao governo de Passos com a demissão irrevogável do agora gestor de influências em países de elevados níveis de corrupção.

Mas não foi bonito ver um professor de direito constitucional sugerir que o primeiro-ministro enviasse um diploma para o TC para uma semana depois dizer que sabia que não tinha nada de inconstitucional. Foi dispensável a “ajuda” que deu para livrar o PSD de Passos Coelho ou o almoço com Santana Lopes a meio da corrida para a liderança do seu partido. Ultrapassou todos os limites das suas competências ao pedir a demissão de uma ministra ou a exigir que o governo decidisse numa semana um programa para as florestas e para os combates aos incêndios. Não demonstrou grande competência ao definir a um ritmo quase semanal novas prioridades para o governo, ignorando a separação de poderes, desrespeitando as competências do governo e comportando-se como se o governo fosse uma secretária pessoal.

O Apanha Alminhas

por Bruno Santos

Almada Negreiros. Óleo sobre tela. Sem título.

Conta-se que vivia no Porto, pelos finais do século XIX, um certo Typo Estranho, como lhe chamavam os jornais da época. Estranho no sentido em que ainda hoje o são alguns tipos que habitam as margens do quotidiano, muitas vezes em solidão voluntária, e que se destacam por terem algumas características peculiares. Às vezes é o modo como vestem, ou a atitude alheada, ou os gestos que não combinam com a coreografia comum das ruas e das pessoas e dos espaços citadinos. Sempre houve esses Typos. Por vezes chegam e partem levando consigo a tragédia que já traziam, ou não, apenas a comédia ou a elevada consciência do momento, que os faz transbordar para um plano paralelo ao mundo comum.

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12 locais de visita obrigatória em Óbidos

por admin

Óbidos dispõe de um maravilhoso centro histórico, cercado por muralhas com ameias clássicas, composto por um labirinto de ruas calcetadas e casas caiadas de branco, decoradas com flores assim como brilhantes toques de tinta amarela e azul. Esta charmosa vila atinge o seu esplendor durante a tarde, mas há também inúmeras razões para também pernoitar aqui; pois há um excelente ambiente nos bares medievais, assim como um enorme castelo no alto de uma colina, que se tornou uma das pousadas mais luxuosas de Portugal.

ÓbidosÓbidos

Passear pelo seu enredo de ruas antigas e casas caiadas de branco é uma experiência fabulosa em qualquer época do ano, porém ainda mais especial se visitar durante um dos seus muitos festivais. Visitar Óbidos é como regressar ao passado!

Como Óbidos foi reconquistada aos mouros por D. Afonso Henriques, em 1148, sofreu uma profunda reconstrução. As suas muralhadas foram reforçadas, as torres reconstruídas e as sublimes casas em branco foram restauradas. A cidade já se encontrava encantadora durante a visita do rei D. Dinis, acompanhado pela sua jovem esposa Isabel de Aragão. De tal forma que durante o seu noivado, a futura rainha recebeu a vila como presente, criando assim a tradição de que as rainhas receberiam cidades como presentes, perpetuando-se até 1833.

ÓbidosÓbidos (Maria Gutiérrez)

A entrada principal da povoação é a Porta da Vila, um portão duplo em derrame com o interior revestido de azulejos do século XVIII, conduzindo directamente à Rua Direita, a rua principal, algo estreita e com uma cortadura pavimentada no seu centro, com uma série de casas brancas em ambos os lados, adornadas com gerânios e buganvílias, sendo ocupadas por lojas de artesanato, restaurantes e galarias de arte.

ÓbidosÓbidos

Passear sob as muralhas proporciona um momento bastante agradável assim como sublimes vistas do seu conjunto. Ao caminhar pelas ruas típicas, irá presenciar o testemunho de civilizações antigas. Desde os cantos dos jardins interiores da antiga Medina à presença do Gótico, passando pelo Renascimento e pelo Barroco, esta vila é uma autêntica obra de arte admiravelmente esculpida, reconstruída ao longo dos séculos e perfeitamente conservada.

fim de semana românticoÓbidos

Este legado material do passado, em conjunto com a variada programação cultural da actualidade, faz de Óbidos um dos destinos turísticos mais atractivos do país, sendo considerado como uma das 7 Maravilhas de Portugal.

A Igreja Matriz de Santa Maria, a Igreja da Misericórdia, a Igreja de São Pedro, o Pelourinho e, fora de muralhas, o Aqueduto e o Santuário do Senhor Jesus da Pedra, de planta redonda, são alguns dos monumentos que justificam uma visita atenta. Assim como o Museu Municipal de Óbidos, onde se encontram as obras de Josefa de Óbidos. Foi, no séc. XVII, uma pintora de referência e uma mulher com uma atitude artística irreverente no seu tempo.

ÓbidosÓbidos

Os seus quadros reflectem a aprendizagem com grandes mestres da época como os espanhóis Zurbarán e Francisco de Herrera, ou os portugueses André Reinoso e Baltazar Gomes Figueira, seu pai. Na gastronomia local, destaca-se a caldeirada de peixe da Lagoa de Óbidos, ainda melhor se acompanhada pelos vinhos da Região Demarcada do Oeste. Outra atracção é a célebre Ginjinha de Óbidos, que se pode apreciar em vários locais, de preferência num copinho de chocolate.

Qualquer altura é boa para visitar Óbidos. Pelas histórias de amor que aí se contam e pelo ambiente medieval, é uma sugestão inspiradora para um fim-de-semana romântico ou simplesmente tranquilo. E se incluir uma noite de alojamento no castelo, então o cenário será perfeito. Nos arredores, deverá ainda visitar o Santuário do Senhor Jesus da Pedra, um curioso templo barroco de planta circular; e a Lagoa. Descubra os melhores locais para visitar em Óbidos!

1. Castelo de Óbidos

O castelo de Óbidos terá sido originariamente edificado pelos árabes, no local que já tinha sido ocupado por lusitanos, romanos e visigodos, e no contexto da expansão do território português e reconquista cristã da Península Ibérica, D. Afonso Henriques tomou este castelo por volta de 1148. No reinado de D. Sancho I, foram executadas obras neste castelo, que resistiu aos ataques e se manteve fiel ao rei D. Sancho II, durante a crise que levaria à sua deposição e subida ao trono de D. Afonso III, esta tomada de posição passaria a fazer parte do seu brasão de armas, «mui nobre e sempre leal».

Castelo de ÓbidosCastelo de Óbidos

Uma particularidade deste castelo é que depois de ter sido entregue pelo rei D. Dinis, como dote, à Rainha Santa Isabel, viria a fazer parte do dote das rainhas seguintes, chegando a ser residência da rainha D. Leonor, esposa de D. João II. D. Manuel I, é responsável por importantes melhoramentos no castelo e na vila, sendo dessa época a reconstrução dos Paços do Alcaide. O Terramoto de 1755 causou muitos danos ao castelo, mas ainda viria a desempenhar a sua função durante as invasões francesas, contribuindo para a derrota do exército francês. Classificado como Monumento Nacional, tem instalada, desde 1951, a Pousada de Óbidos, que ocupa o paço de estilo Manuelino construído no início do século XVI, e recuperado dos danos que sofreu no terramoto de 1755.

2. Igreja de Santa Maria

A elegante Igreja de Santa Maria localiza-se perto da extremidade norte da Rua Direita, na bela cidade murada de Óbidos, Portugal. Esta é a igreja principal da cidade, e ergue-se sobre as fundações de um templo visigótico que posteriormente foi convertido numa mesquita. A construção desta igreja começou no século XII, mas foi restaurada várias vezes ao longo do tempo, e actualmente a maior parte do edifício é de estilo Renascentista. Este templo tornou-se famoso em 1444, quando o rei Afonso V, com apenas 10 anos casou-se com a sua prima Isabel, de 8 anos. No interior, separado em três naves por duas fileiras de colunas dóricas, vale a pena observar o seu maravilhoso tecto pintado e as paredes decoradas com belos azulejos azuis século XVII, pintados à mão com motivos florais.

vilas mais bonitas de PortugalÓbidos

Além disso, as paredes estão decoradas com mais de 20 pinturas a óleo de vários autores, entre os quais os de Baltasar Gómez Figueira, e obras de Josefa de Óbidos. À direita do altar exibem-se as obras do famoso pintor do século XVII Josefa de Óbidos; enquanto à esquerda encontrará um sepulcrário, cujo túmulo (século XVI) é de estilo renascentista, e encontra-se coroado por uma Piedade acompanhado pelas Santas Mulheres e Nicodemo resolvidos a enterrar o corpo de Cristo, uma obra extraordinária que é atribuída ao escultor francês Nicolas Chanterene. O altar-mor é decorado com oito telas do século XVII, atribuídos a João da Costa, representando cenas da vida de Maria. Por trás da igreja, onde eram os escritórios da antiga Câmara Municipal, encontra-se o actual Museu Municipal de Óbidos.

3. Santuário do Senhor da Pedra

O Santuário Senhor Jesus da Pedra é um templo localizado fora das muralhas da cidade de Óbidos. Este santuário, concebido pelo arquitecto Capitão Rodrigo Franco, foi construído integralmente em pedra no ano de 1747, em memória de D. João V, sendo actualmente um dos edifícios barrocos mais interessantes em Portugal graças à sua estrutura hexagonal. No altar-mor pode observar-se uma autêntica cruz cristã que antigamente permanecia numa capela adjacente.

Santuário do Senhor da Pedra

Este foi um importante local de peregrinação, e actualmente ainda se celebra anualmente as festividades de 3 de Maio.O seu interior apresenta três capelas: o santuário, dedicado ao Calvário, com uma obra em tela de André Gonçalves; as capelas laterais dedicadas a Nossa Senhora da Conceição; e a Morte de São José, com pinturas realizadas por José da Costa Negreiros. A imagem impressionante pedra em que Cristo foi crucificado pode ser observada na capela-mor; foi preservada numa pequena capela, onde recebeu uma imensa devoção (especialmente pelo rei D. João V) até à inauguração do santuário.

4. Porta da Vila

A Porta da Vila é a entrada principal da cidade de Óbidos. Um portão duplo em derrame com o interior revestido de azulejos do século XVIII, conduzindo directamente à Rua Direita, a rua principal da cidade. Acima desta entrada monumental encontra-se uma inscrição “A Virgem Nossa Senhora foi concebida sem pecado original.”

fim de semana românticoÓbidos

Esta porta foi encomendada pelo rei D. João IV, em agradecimento pela protecção do patrono durante a restauração da independência em 1640. No seu interior está a capela de Nossa Senhora da Piedade, padroeira da cidade, com uma varanda barroca e azulejos azuis e brancos, que datam de 1740 a 1750, com motivos alegóricos representando a paixão de Cristo.