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terça-feira, 24 de abril de 2018

Ladrões de Bicicletas


Efeitos perversos

Posted: 24 Apr 2018 01:40 AM PDT

Paremos para pensar.
Dois senhorios são proprietários de dois prédios iguais para arrendamento e praticam a mesma renda. O senhorio "mau" decide aproveitar para fazer arrendamento de curto prazo. Isso permitirá um aumento mais rápido das rendas, com potencial despejo de quem não aceite. O senhorio "bom" faz um arrendamento de longo prazo com aumentos mais condicionados de renda e com uma manutenção dos inquilinos.
O Governo quer transformar o senhorio "mau" em "bom", graças a uma descida para metade do IRS sentido pelo senhorio "bom".
Quando é que isso acontecerá?
Leitura de economista: o senhorio "mau" vai querer ser "bom" se a redução fiscal for superior ao que ganharia com os sucessivos aumentos de renda. Isso quer dizer que a medida só será eficaz se o aumento da renda praticado pelo senhorio "mau" for inferior a um certo limiar abaixo do qual ele sente que há mais vantagens em ser "bom". Exemplo: se a renda inicial fosse de 200 euros e o senhorio bom aumentar para 250 euros (mais 25%) e o senhorio "mau" para 300 euros (mais 50%), os rendimentos disponíveis dos dois senhorios assemelham-se. Mas se o senhorio "mau" aumentar para 400 euros, já ganha mais com o aumento do que ser senhorio "bom".
Se o senhorio "mau" achar que quer continunar a ser "mau" - ou mesmo "muito mau" - tenderá a aumentar mais o valor da renda, para lá desse limiar. Até porque tem procura para tal, vinda do estrangeiro. Por outras palavras, a medida pode ter o efeito perverso de conseguir o contrário do desejado e não suster o aumento das rendas.
Segunda questão. Por que razão decidiu o Governo desagravar a tributação dos senhorios "bons" e não agravar a dos senhorios "maus"? É que ao fazer isso, vai criar desigualdades fiscais relativamente a outros tipos de rendimentos.
Os rendimentos do trabalho e das pensões, por exemplo, chegam a ter taxas de tributações marginais três vezes superiores aos dos senhorios "bons". Há rendimentos de capital que ficam a acima da taxa sentida pelos senhorios "bons". Está o Governo a querer fazer transferir os trabalhadores por conta de outrem, pensionistas e detentores de outro tipo de capital para os transformar a todos em proprietários prediais "bons"?
Não sei porquê, mas parece que as coisas não terão sido suficientemente pensadas, de forma articulada.  

Os limites de José Rodrigues dos Santos

Posted: 24 Apr 2018 12:43 AM PDT

O jornalista e pivot da RTP José Rodrigues dos Santos (JRS) decidiu, ele próprio e por duas vezes (a primeira a 18/4/2018), nomear em directo o recém-nomeado Míguel Díaz-Canel como o “novo ditador” de Cuba.
A referência deu azo a uma polémica nas redes sociais. Em sua defesa, surgiu a ideia: Mas se é verdade, por que não dizê-lo? A resposta a essa questão é, obviamente, muito mais complexa do que aparenta.
Por que será ele um “ditador”?
É porque não há eleições ou partidos? Todos nós conhecemos países no mundo em que há partidos e eleições e se está longe de haver democracia... Nem é preciso ir mais longe: basta lembrar Portugal antes do 25 de Abril. Regularmente, o regime deixava constituir-se listas da oposição, mas a ditadura fazia-se sentir de outras formas: recenseamentos adulterados e limitados a uma minoria da população, sistema eleitoral sem representatitividade, repressão da oposição, violações várias aos direitos essenciais, etc., etc.
Será ele “ditador” porque a opinião não é livre e se pode ir parar à prisão por a expressar? Mas essa foi a situação comum em tantos países do mundo! Até acontece actualmente em Espanha e, que eu me lembre, JRS nunca chamou “ditador” a Rajoy...
Será ele “ditador” porque quem exerce o poder não é o povo soberano desse país, que não determina as regras de funcionamento social do país? Mas se assim é, nem precisamos de ir mais longe: falemos da moeda única, falemos do Tratado Orçamental, do Semestre Europeu, de todo o edifício europeu que conduz à centralização de decisões e de poderes num conjunto muito reduzido de pessoas na União Europeia, sem que se perceba – e sem que se consiga averiguar – quem exerce efectivamente o poder. E que eu saiba, nunca fui chamado a sufragar essas decisões. Para mim, trata-se de um golpe de Estado "constitucional".
E depois um “ditador” nunca está sozinho. A pessoa escolhida geralmente constitui apenas a cara de um sistema de forças que o colocou lá e que o mantém até que não seja necessário. E esse sistema de forças não é apenas nacional. É necessário haver cumplicidades internacionais que o favoreçam, caso contrário ele será deposto a pretexto, precisamente, de ser um ... “ditador”. Limitar toda esta situação a um mero papel de pacotilha de uma pessoa, é extremamente redutor e pobre.
Como é redutor e simplista abordar desta forma a situação política de países que tentaram afastar-se de uma lógica do sistema capitalista e que respondem a um desafio tremento: como é possível manter vivo um regime alternativo, cercado e atacado pelo mundo circundante? É um bom tema de discussão, e que tem passados terríveis (como o tem o regime capitalista mundial), mas que vai muito mais além da simplista formulação de "ditador"...
Aliás, interessante porque se bem se recorda, em 1959, Fidel Castro - após a revolução dos barbudos massivamente apoiada pela população - foi aos Estados Unidos pedir ajuda para o novo regime e os Estados Unidos recusaram-na, obrigando Cuba a recorrer aos países socialistas.
Mas se o apego de JRS é à verdade, nesse caso deveríamos exigir dele que adjectivasse um pouco mais quando menciona outras pessoas: o “mentiroso” Passos Coelho – que fez uma campanha eleitoral sabendo que ia aplicar um programa totalmente diferente; a “incompetente” troica que não entendeu que o seu programa nunca poderia ser eficaz; a “despudorada” e "ditadora" Merkel que sabia que estava a exigir “resgates” à Grécia e a Portugal que nunca poderiam ser pagos, que iriam condenar à pobreza milhões de gregos e portugueses, apenas para salvar os donos dos bancos alemães e franceses; o “vendido” Juncker que fixou acordos de baixa tributação com multinacionais em detrimento do comum cidadão; o no mínimo “incompetente” governador do Banco de Portugal que, já quando estava no BCP, era director do departamento internacional e desconhecia a existência de 17 veículos financeiros criados para empolar a cotação do banco ou, quando já estava no Banco de Portugal, deixou Ricardo Salgado à frente do banco, permitindo-lhe desfalcar o banco antes da intervenção pública... E a lista – como se imagina - poderia prosseguir.
Mas que se saiba JRS nunca teve o apego à verdade de os chamar assim. Apenas porque essa adjectivação vai contra as suas próprias opiniões. E esse é o risco da adjectivação: é que geralmente tende a privilegiar os nossos pontos de vista e a subavaliar os outros. Ou seja, a questão é que JRS está usar a sua posição de pivot para expressar os seus pontos de vista, quando a sua função deveria ser outra.
JRS sabe bem melhor o que é a televisão pública para estar a ter um ataque de teimosia que apenas mancha a televisão pública e o prejudica a ele.

O Meu Amigo Cerejo

Somos amigos desde os nossos tempos na Faculté des Sciences Économiques, Sociales et Politiques da Universidade de Louvaina. Uma amizade que soube manter-se e ultrapassar “divergências políticas”, sempre que as houve, e outras diferenças de posicionamento. Está dito para a “declaração de interesses”.

  • 23 Abril, 2018
  • José Mateus
  • amizade não é, contudo, chamada para o tema de hoje. O que aqui traz o Cerejo é outra coisa. É a alarve facilidade com que, soezmente, qualquer cretino atenta (até sem necessidade de recorrer às NTIC…) contra a reputação de um homem honrado, de grande seriedade e inteligência. De um homem de uma grande lisura de processos e de enorme domínio técnico das metodologias do seu trabalho.

Pouco depois de se ter reformado e, portanto, ter cessado o seu trabalho regular no “Público”, José António Cerejo (Jac, como há décadas lhe chamo) começou a ser alvo de uma miserável (em todos aspectos) campanha caluniosa.

O tema era o inefável “afinal, todo o homem tem um preço” e dizia, mais ou menos, isto: “O Santana Lopes deu uma avença ao Cerejo, comprou-o e ele calou-se com as suas investigações às “bernardas” da Santa Casa”.

Vejam a primeira página (e as quatro seguintes) do “Público” desta segunda-feira (23 de Abril). Mesmo reformado, o meu amigo Cerejo dá uma bela lição de jornalismo de investigação e mostra que não é qualquer Santana que pode pagar o seu preço de homem.

Abraço, Jac. Salut, l’artiste!

Exclusivo Tornado / IntelNomics

O PS e a situação de Lula: socialista sim, seguidista acrítico não!

por estatuadesal

(Jorge Rocha, in Blog Ventos Semeados, 23/04/2018)

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Militante socialista há mais de trinta anos preparo-me para ir votar na renovação do mandato de António Costa como secretário-geral do meu partido por ser quem possui as qualidades, a inteligência e a capacidade para manter as convergências à esquerda, que finalmente se enquadraram com quanto sempre pensei ser a melhor estratégia para impedir as direitas dos negócios em incrementarem as desigualdades entre os portugueses, favorecendo os mais ricos em detrimento dos mais desprotegidos.

Se gostaria de ver acelerada a correção das injustiças, das desigualdades e das liberdades (mormente contra o inquietante diktat de magistrados e juízes!), compreendo que se deva seguir o conselho de uma velha canção de José Mário Branco (“se vais à frente demais/ bem te podes engasgar”) e não me inquieto com cerimónias de acordos ao centro cujo sentido semiótico significam intenções distintas das que lhes têm sido conotadas.

Voto em António Costa, também porque o seu opositor, líder da tendência «Resgatar a Democracia», representa exemplarmente tudo o contrário, bastando olhar para algumas das «personalidades», que o acolitam, mormente aqui no Seixal.

Mas esta confiança em António Costa e a convicção em como Jerónimo de Sousa tem razão ao prever que a próxima legislatura continuará a comportar um equilíbrio de forças entre as esquerdas e as direitas aparentado com o atual, não me exime de lamentar atitudes internas por parte dos que apoio e se silenciam perante acusações de cederem a pressões brasileiras e norte-americanas para que não tomem posições públicas de apoio a Lula no combate decisivo contra a ignóbil (in) Justiça brasileira.

Relativamente à Operação Marquês ainda pude engolir em seco perante a passividade do Rato relativamente a alguns dos episódios de evidente violação dos princípios republicanos mais inegociáveis por parte de juízes e magistrados, que usaram e abusaram do princípio da separação de poderes para agirem como ditadores e não como representantes de uma Justiça democrática. A barragem mediática de manipulação contra Sócrates revelou-se tão eficaz, que uma boa parte dos portugueses não dá sequer o benefício da dúvida ao ex-primeiro-ministro numa altura em que, por Lei, ele deveria ser considerado presumivelmente inocente. Se o cálculo teve a ver com os votos perdidos por alguma posição antipática a esses cidadãos com um deturpado conceito do que deve ser a Democracia, só posso considerar lamentável, porque os valores e os princípios devem ser mais importantes do que um ou dois por cento no momento das contas eleitorais.

Mas o que pôde levar Ana Catarina Mendes e a sua parceira espanhola a faltarem à Conferência organizada pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra para a qual haviam confirmado a presença? Se Boaventura Sousa Santos tem razão quanto à relação causa-efeito entre as pressões diplomáticas de Trump e de Temer junto do meu partido para que ele se cale perante a iniquidade com que Lula está a ser tratado no seu país, só posso considerar que quem assim age tem a minha ruidosa discordância.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Entre as brumas da memória


25 Abril – Faltam 2 dias

Posted: 23 Apr 2018 02:24 PM PDT

@eduardogageiro
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Nunca pensei viver…

Posted: 23 Apr 2018 08:45 AM PDT

@nikiasskapinakis

Nunca pensei viver para ver isto:
a liberdade – (e as promessas de liberdade)
restauradas. Não, na verdade, eu não pensava
– no negro desespero sem esperança viva –
que isto acontecesse realmente. Aconteceu.
E agora, meu general?


Tantos morreram de opressão ou de amargura,
tantos se exilaram ou foram exilados,
tantos viveram um dia-a-dia cínico e magoado,
tantos se calaram, tantos deixaram de escrever,
tantos desaprenderam que a liberdade existe –
E agora, povo português?


Essas promessas – há que fazer depressa
que o povo as entenda, creia mais em si mesmo
do que nelas, porque elas só nele se realizam
e por ele. Há que, por todos os meios,
abrir as portas e as janelas cerradas quase cinquenta anos -
E agora, meu general?


E tu povo, em nome de quem sempre se falou,
ouvir-se-á a tua voz firme por sobre os clamores
com que saúdas as promessas de liberdade?
Tomarás nas tuas mãos, com serenidade e coragem,
aquilo que, numa hora única, te prometem?
E agora, povo português?


Jorge de Sena, 40 anos de servidão

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Dica (748)

Posted: 23 Apr 2018 05:36 AM PDT

Long-Term Unemployed Youth: The Legacy Of The Crisis (Massimiliano Mascherini)

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«A decade on from the financial crisis and Europe is finally on a stable path towards recovery, with growing economies and robust improvements in labour market participation in all Member States. However, the long-term implications of the crisis still weigh heavy on Europe’s most disadvantaged youth.»

Os recordes que Centeno quer bater

Posted: 23 Apr 2018 02:31 AM PDT

«O Público titula "Governo aspira a bater o recorde europeu de redução da dívida". O que me faz espécie é que uma intenção destas, com Centeno por trás, pareça o género de competição em que Portugal deva estar e não suscite mais do que a reacção polarizada entre o PS e o BE e PCP, com o PSD no meio e o CDS sem poder bater palmas, mas com vontade de o fazer. Não é como o Ronaldo a meter golos, não é como os pastéis de Belém, não é como o Porto a melhor cidade para se visitar na Europa, não é como o sítio onde o Airbnb tem maiores taxas de lucro, não é um recorde de corrida de atletismo.

É outra coisa muito diferente: é uma opção política sobre os portugueses, sobre o desenvolvimento do País, sobre a sustentabilidade a prazo, ao nível nacional. Quem escreve isto não defende obviamente que haja um descalabro orçamental, como se insinua sempre hoje nos argumentos dos partidários do 8 ou 80, cada vez mais comuns em matérias de défice, mas alguém que entende que bater recordes deste tipo é uma política errada para o País e boa apenas para uma pessoa, para as ambições de Centeno.

Uma democracia não tem tempos longos

Ah! e outra coisa – não é sustentável a não ser que aceitemos duas coisas: uma contínua degradação de tudo o que é serviço público e uma muito elevada taxa de impostos sem termo para diminuírem significativamente. Sim, porque não é por acaso que se sucedem as notícias do cada vez maior descalabro dos serviços públicos e uma modestíssima diminuição dos impostos sobre as pessoas está apenas prometida para daqui a ano e meio, já na década de 20. E mais ainda o grande argumento de que só assim se pode atacar a gigantesca dívida, tendo superavits. Também suspeito que esta afirmação serve para dizer que não é preciso reestruturar a dívida de qualquer forma, pelo que bastaria uma longa continuidade de défices zero ou de superavits para a domar.

Repare-se no "longa", a mesma palavra que apareceu no discurso dos defensores da troika, Cavaco falando em 10 ou 20 anos e Passos concordando. Eu não sou economista, nem pretendo ter mais do que o conhecimento vulgar e da vulgata – aliás a maioria destes argumentos são da vulgata do "economês" dos anos do lixo – de economia, mas a questão é que os pseudo-argumentos dos economistas dados durante a crise foram falsos argumentos económicos e eram, na verdade, afirmações políticas, puras e duras. E não foi preciso qualquer conhecimento especializado para, seguindo a linha do bom senso, ter acertado muito mais do que os defensores do "ajustamento", que não fizeram qualquer reforma fora das leis laborais que não fosse o "enorme" aumento de impostos. Não houve nenhum milagre na saída da troika, houve esse "enorme aumento de impostos" e meter debaixo do tapete tudo quanto era crise bancária. Os mercados estão satisfeitos? Eles lá sabem porquê.

Fiem-se no boom e nas taxas de juro baixas e não corram

O que tenho dito e repetido é que este modelo da troika, e do "passismo" aperfeiçoado por Centeno não é sustentável porque não corresponde às necessidades do País para resolver os seus problemas estruturais, que estão longe de dependerem apenas do défice e da dívida. A tentativa de o tornar "longo" não entra em conta com o processo democrático, depende de uma pressão externa "europeia" cujos efeitos negativos no nosso desenvolvimento são péssimos, limita decisivamente a nossa autonomia para escolher políticas de desenvolvimento mais razoáveis para garantir que o País cresça e que não esteja sempre tudo preso por um fio. Centrar toda a política na redução do défice para o zero e pensar que os seus efeitos não geram mecanismos perversos, quer na saúde do País, quer na sua impreparação perante crises, quer no seu escasso desenvolvimento – e Portugal continua a crescer muito devagar, e não é por acaso – é uma visão estreita e de vistas tão curtas como o valor do défice zero.

É pouco agradável fazer de Cassandra, que ao prever desgraças foi tomada como louca, mas se se tivesse destruído o cavalo de Tróia, como ela insistiu com Príamo para o fazer, talvez Tróia se tivesse salvo.»

José Pacheco Pereira
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25 Abril – Faltam 3 dias

Posted: 22 Apr 2018 02:03 PM PDT

@alfredocunha
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Língua Portuguesa: palavras portuguesas de origem árabe

Novo artigo em VortexMag


por admin

Na Língua Portuguesa subsistem inúmeros vestígios da língua árabe mas, apesar desta nítida influência, é bastante complicado contabilizar esses indícios, porque não existe uma listagem completa e consensual dos arabismos na língua portuguesa, nem mesmo um registo daqueles que desapareceram.

Os Árabes chegaram à Península Ibérica no início do século VIII d. C., trazendo consigo a segunda (e final) componente do Português. O estudo dessa importante influência é bastante complexo, porque esta também se verificou em Espanha, no Norte de África e no Oriente. Poder-se-á dizer, em parte, que estas influências aparecem em manifestações da vida quotidiana portuguesa medieval, entre os séculos IX e XIV e podiam ser encontrados também tanto na administração e na economia, como no domínio espiritual.

Estes vocábulos entravam nas casas das pessoas, nas instituições, nas oficinas. Segundo os textos esta influência tornou-se mais progressiva quando a cristandade lutava com a mourama, devido ao contacto existente entre as duas forças em conflito, e dos moçárabes que iam ficando nas terras reconquistadas pelos cavaleiros cristãos.

Este estudo da relação entre a língua árabe e a língua portuguesa revela-nos que de entre o léxico de origem árabe predominam os substantivos, seguidos dos adjectivos. São muito escassos os advérbios e praticamente inexistentes os verbos, talvez pela diferença entre as duas línguas ser muito acentuada. Estas são algumas palavras da Língua Portuguesa de origem árabe.

  • Açafate (assafat, cesta)
  • Açafrão (azzafaran, amarelo)
  • Acéquia (assekyah, ribeiro de rega)
  • Achaque (ashshaka, enfermidade)
  • Acicate (ashshukat, espinho)
  • Açoite (assaut)
  • Açorda (athurda, sopa de pão)
  • Açoteia (assutaiha)
  • Açougue (assuk)
  • Açucena (assusana)
  • Açude (assudd)
  • Açúcar (assukar deriva do Sânscrito çarkara, grãos de areia)
  • Adarga (addarka, escudo)
  • Aduana (addwana)
  • Alá (al + ilâh, divindade)
  • Alabão (allabban, que dá muito leite)
  • Alambique
  • Alarife (alarif, sábio, mestre de obras)
  • Alarve (al+ A’árab, os árabes beduínos)
  • Alazão: al-Hiçân: Cavalo
  • Albarda (albarda’a)
  • Albardar (albarda’a)
  • Albornoz (Al’burnus, capa usada pelos Berberes)
  • Alcáçova (alkasaba, a zona administrativa de um castelo)
  • Alcachofra (Alkharshof, fruto do cardo manso)
  • Alcaide (alkaid, chefe)
  • Alcaidaria (alkaid, chefe)
  • Alcaiote (alkawwad)
  • Alcalóide (palavra composta: Árab. alcali + Grego eîdos, forma)
  • Alcaravia (alkarawiya)
  • Alcaraviz (alkarabís)
  • Alcateia (alkataia, rebanho)
  • Alcatifa (alkatifa)
  • Alcatruz (alkadus palavra composta: Árab. al + Grego kádos, jarro para água ou vinho)
  • Alcaparra
  • Alcavala (alkabala, tributo)
  • Alcofa (alkuffa, cesto)
  • Álcool (alkohul, coisa subtil)
  • Alcorão (Alkuran, a leitura)
  • Alcova (al-qabu, quarto lateral)
  • Alecrim (aliklil)
  • Aletria (Axxa’riyaalitríya)
  • Alface: al-khaç (veio a substituir o latim lactuca, leitosa, leituça, leituga, que por sua vez, derivou o fr. Laitue, o esp. Lechuga , o it. Lattuga e o ing. Lettuce)
  • Alfafa: al-Hâfa
  • Alfaia
  • Alfaiate: al-khayyât
  • Alfândega: alfunduq
  • Alfanje: al-Hanx: serpente
  • Alfaraz: al-faras cavalo ou égua
  • Alfarela
  • Alfarrábio
  • Alfarrabista: do nome do filósofo muçulmano al-Fârâbî que possuia e leia muitos livros.
  • Alfarroba (al-Kharrub) fruto e árvore
  • Alfarrobeira
  • Alfavaca: al-habâqa vaso onde se semeia a planta de al-habaq i.é. erva cedreira ? (não é erva cidreira, al-habaq é manjericão)
  • Alfazema:al-khuzâma
  • Alfeire
  • Alferes (alfaris, cavaleiro)
  • Alfobre (alhufra, rego?)
  • Alforge (alhurj, sacola)
  • Alforria (palavra composta:Árab.al + Francês feurre, livre) seria simplesmente a palavra árabe al-hurriya (a liberdade da qual temos forro hurr libre)
  • Algarismo (alkawarizmi, nome do matemático árabe Abu Ibn Muça)
  • Álgebra
  • Algema (aljami’a, pulseira)
  • Algeroz (azzurub, canal) al-kharruj, aquele que faz sair
  • Algibeira (al-jabîra, bolso)
  • Algodão (alkutun)
  • Algodoeiro
  • Algoritmo
  • Alguidar (alqidr, escudela de barro)
  • Algoz (al-gozz, membro de uma tribo que recrutava carrascos)
  • Alicate (allikkát, tenaz)
  • Aljama (aljamaa, reunião)
  • Aljava (aljaba)
  • Almadrava (almadraba)
  • Almanaque (almanakh)
  • Almedina (almedina, a cidade)
  • Almirante (amir-al-bahr)
  • Almóadaos (almohadas) dinastia maghrebina que governou ente 1145 e 1260 o Maghreb e o al-Andalus
  • Almocreve (almukari,alugar bestas)
  • Almofada (almukhadda de khadd, face)
  • Almofariz
  • Almofate (almikhyat, agulha, sovela)
  • Almofre
  • Almogávar (almugauar, guerreiro)
  • Almôndega (albundeca, avelã?) tipo de papa preparada a base de cereais que se comia misturada com gordura (azeite ou manteiga)
  • Almorávida (almurabit)
  • Almotacé (almuhtasib, mestre de aferição)
  • Almotolia (almutli)
  • Almoxarifado
  • Almoxarife
  • Almude: unidade de peso
  • Alqueire (al-keil, unidade de peso para cereais)
  • Alqueive
  • Alvanel
  • Alvará (al-barã’a, carta de autorização)
  • Alvazil (al-wazîr, ministro)
  • Alveitar: veterinário
  • Alvitana
  • Alvíssaras
  • Alvorge
  • Armazém (al-Makhzan)
  • Arrátel: ritl unidade de peso
  • Arroba unidade de peso
  • Arroz: arruzz
  • Arsenal tarsãna
  • Atafal
  • Atafona: moinho
  • Atalaia: attalî’a: torre de vigia localizada, fora das localidades, num sítio alto.
  • Auge: Auj'(o topo; óptimo)
  • Azar: azzahr (sorte)
  • Azeite (substitui óleo, óleo de oliva)
  • Azeitona (substitui o latim oliva)
  • Azemel: quem aluga os animais de carga
  • Azémola: animal de carga
  • Azimute (assimt, a marcação em graus da posição de um astro no horizonte, medido do pólo ao equador )
  • Azenha: moinho de roda movido por água
  • Azinhaga
  • Azul (al-lzaward, empréstimo árabe do persa ljward, lat. lapis lazuli, a pedra lazurita)
  • Azulejo (al-zuleij, pedra pintada)
  • Bafafá : bafaf (bolo)
  • Baraço
  • Bolota
  • Café
  • Cáfila
  • Califa
  • Califado
  • Cartaz
  • Ceifa
  • Ceroulas (sarawil)
  • Chafariz
  • Cherne
  • Chifra
  • Cifra
  • Cotovia (al-kutubia, a livraria)
  • Damasco
  • Demotologica
  • Elixir (‘Al-Axir’)
  • Emir (‘Amir’)
  • Emirato (Emirado)
  • Escabeche (‘Sikbaj’)
  • Esmeralda (zumúrrud)
  • Falua (faluka)
  • Fatímida
  • Fulano (Flan)
  • Garrafa (karafâ, frasco bojudo)
  • Harém (‘Harim’)
  • Haxixe (‘Hashish’; maconha)
  • Imã (imam, guia)
  • Islão (Islã, Islame)
  • Javali (jabali)
  • Jarra
  • Jasmin
  • Laranja (naranj deriva do Persa naräng)
  • Laranjeira (naranj deriva do Persa naräng)
  • Lezíria (al-jaza’ir, ilhas)
  • Limão (laimun deriva do Persa limun)
  • Limoeiro (laimun deriva do Persa limun)
  • Madraçal (madraça, escola)
  • Magazine
  • Marabuto: Murâbit santo que se dedica ao ribât i.é à guerra santa ou à vida religiosa dentro de um ribât (local de meditação religiosa ou de fronteira para proteger as terras do Islão)
  • Masmorra (matmura, celeiro subterrâneo)
  • Matraca (mitraka)
  • Mesquita (masdjid)
  • Moçárabe (must’rib, arabizado)
  • Mudéjar (mudajjan, o que fica morando)
  • Muezim Muazzin responsável pelos chamamentos às orações canónicas.
  • Maomé (original: Muhammad. Também Maomet. Outrora: Maomede, Mafoma, Mafamede)
  • Muladi: muallad: cristão da Península ibérica convertido ao Islão (malado)
  • Nadir (natir, oposto, projecção na esfera celeste inferior)
  • Nora (na’ûra)
  • Omíada
  • Oxalá (in sha allah ou inshallah, se Deus quiser)
  • Papagaio (babaga)
  • Ramadão
  • Rês
  • Resma
  • Sáfaro (sahra’, deserto)
  • Safra (safaria, estação da colheita)
  • Salamaleque (as-salam-alaik, a paz seja contigo)
  • Saloio (çahroi, do campo)
  • Sultanato (sultan, domínio, dominador)
  • Sultão (sultan, domínio, dominador)
  • Sura
  • Tambor (tanbur deriva do Persa dänbära, cítara)
  • Taça
  • Taifa
  • Tâmara
  • Tarefa
  • Tanque
  • Xadrez (xatranj deriva do Sânscrito xaturanga, que consta de quatro membros)
  • Xarope (sharab, bebida, poção)
  • Xaveco (xabbak, pequeno navio de três mastros e velas latinas)
  • Xerife
  • Xeque
  • Xeque-mate
  • Zarabatana (zarba tãnâ)
  • Zénite (samt, direcção da cabeça, caminho, projecção na esfera celeste)