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quinta-feira, 31 de maio de 2018

Zinedine Zidane deixa o Real Madrid: “Mais vale mudar do que fazer disparates”

HÁ 2 HORAS

Treinador tricampeão europeu do Real Madrid vai deixar o clube. "Não estou à procura de outra equipa", diz Zidane, defendendo que mais vale mudar "do que fazer disparates".

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"Nada mudou, é um desgaste natural", disse o treinador na conferência de imprensa para justificar a sua saída do Real Madrid

Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

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Zinedine Zidane vai deixar o Real Madrid. “O Real Madrid precisa de continuar a ganhar e para isso é preciso mudar”, disse o treinador francês, esta quinta-feira, numa conferência de imprensa, agendada de surpresa para o meio-dia, hora de Lisboa.

“Tomei a decisão de não continuar como treinador do Real Madrid. É um momento estranho, mas este clube precisa de uma mudança para poder continuar a ganhar, precisa de outro discurso e de outra metodologia de trabalho e é por isso que tomei esta decisão”, afirmou Zidane, que se juntou aos merengues há três anos, a 4 de janeiro de 2016. Com o francês à frente do plantel, o Real Madrid sagrou-se por três vezes consecutivas campeão europeu, além de ter ganho ainda um Campeonato, uma Supertaça de Espanha, dois Mundiais de Clubes e duas Supertaças Europeias.

Antes da conferência de imprensa, Zidane reuniu-se com Florentino Pérez, o presidente do clube, que também esteve presente no momento do anúncio, onde disse aos jornalistas estar surpreendido com esta decisão do treinador.

“Depois de vencer uma Liga dos Campeões, é uma decisão inesperada, mas só podemos respeitar a sua decisão. Quando soube desta notícia, causou-me grande impacto e gostaria de convencê-lo a ficar, mas sei como é”, disse Pérez. E acrescentou: “Quero agradecer-lhe pela sua dedicação, pelo seu amor e por tudo que fez pelo Real Madrid ao longo destes anos. Isto não é um adeus, é um até breve. Mas se ele precisa de uma pausa, ele merece-a.”

Zidane disse que pretende manter-se próximo do clube, mas insistiu que está na hora de fazer uma pausa. “Não estou à procura de outra equipa”, garantiu aos jornalistas.

Depois de três anos, parece-me que é a melhor decisão, mas claro que me posso enganar. Mas depois de três anos, está na hora. Se não consigo ver claramente que vamos continuar a ganhar… Se não vejo as coisas claramente, da maneira que quero… Então está na altura, mais vale mudar do que fazer disparates.”

Questionado pelos jornalistas sobre o porquê desta decisão e o que terá mudado no clube para levá-lo a querer sair, Zidane foi claro: “Nada mudou, é um desgaste natural. Quando vos digo que a 20 de fevereiro não pensava nisto, digo-o com sinceridade. Mas neste clube as coisas podem terminar de um momento para o outro. Eu, depois de três anos, não estou cansado de treinar, mas o meu momento aqui acabou.”

Nessa data, Zidane disse que ia dar tudo para continuar no Real Madrid, o que não veio a acontecer. Esta quinta-feira, ressalvou ainda que quer acabar a sua fase nos merengues em alta e não em baixa.

“Temos de saber quando parar. Faço isto para o bem da equipe, se eu ficasse seria muito difícil conseguirmos vencer no próximo ano. A Liga foi difícil esta temporada, houve momentos onde chegaram a assobiar que não me esqueço. Se é uma questão de viver mais uma época, de começar uma temporada que vai acabar mal, não quero.Quero que termine bem esta etapa no Real Madrid.”

Cristiano Ronaldo “não tem nada a ver” com a decisão

Por várias vezes, questionado pelos jornalistas, Zinedine Zidane reforçou sempre que é o desgaste que o leva a sair, fazendo questão de salientar que a sua decisão nada tem a ver com os jogadores. E quando confrontando com a ideia de que a possível saída de Cristiano Ronaldopossa ter interferido na sua decisão, foi lacónico: “Não tem nada a ver.”

Para o plantel, o treinador só deixou palavras de apreço: “Serenidade, trabalho, entrega, é o que é este clube. Ter o respeito dos jogadores tem sido fundamental e eles não têm nada a ver com a minha decisão. Mas eu sou um vencedor, gosto de ganhar em qualquer coisa, não gosto de perder, e se tenho a sensação de que não vou ganhar, tenho de fazer uma mudança.”

Rajoy. “Reconheço que no PP houve corruptos mas o PP não é um partido corrupto”

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"A moção de censura é uma manipulação livre de uma sentença." Rajoy já fez uma intervenção durante o debate sobre a moção de censura proposta pelo PSOE ao primeiro-ministro e a tensão subiu.

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OSCAR DEL POZO/AFP/Getty Images

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“Para vocês, sou a origem de todos os males da Pátria.” Foi o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, que o afirmou durante a sua intervenção, que fez subir a tensão no debate desta quinta-feira sobre a moção de censura a ele próprio. É, aliás, uma moção que Rajoy considera ser uma “manipulação livre e interessada de uma sentença judicial”.

O Partido Socialista Operário Espanhol apresentou uma moção de censura a Mariano Rajoy depois de conhecida a sentença do caso Gürtel que investiga um esquema de corrupção ligada ao Partido Popular, liderado pelo primeiro-ministro espanhol. Durante a intervenção, Rajoy alertou: “Não existe condenação penal ao Governo de Espanha ou ao PP. Somente responsabilidade civil.”

Aliás, a sentença reconhece que o partido não tinha conhecimento dos factos. Isto é o que a sentença diz. Podem apresentar moções de censura, mas não podem mentir”, disse Rajoy.

O primeiro-ministro espanhol não deixou de reconhecer que “no PP houve corruptos, mas o PP não é um partido corrupto”. Rajoy vê aí a possível razão para os cidadãos continuarem a votar no se partido: “Etalvez seja por isso que os eleitores continuam a dar-nos confiança.”

Líder do PSOE diz que saída de Rajoy é a única resposta para caso Gürtel

O líder do Partido Social Obreiro Espanhol, Pedro Sánchez, advertiu o primeiro-ministro que a “única resposta” que se admite para o caso Gürtel é a sua demissão, sublinhando que há tempos que já o deveria ter feito. O líder do PSOE sugeriu ainda a Rajoy que se demita, se quiser evitar sair do poder através de uma moção de censura.

Demita-se agora e tudo terminará. O seu tempo já acabou. Demita-se e esta moção de censura acabará aqui e agora”, afirmou Sánchez.

Pedro Sánchez afirmou também que nunca antes uma moção de censura, como a que se debate hoje no Congresso espanhol contra Mariano Rajoy, havia sido “tão necessária” como agora para garantir uma “higienização democrática” em Espanha. “A maior irresponsabilidade seria não apresentar uma moção de censura contra quem é merecedor de uma evidente reprovação política desta Câmara”, disse Sánchez.

Entre o medo de um palpite e a responsabilidade da liberdade

Ladrões de Bicicletas


Entre o medo de um palpite e a responsabilidade da liberdade

Posted: 30 May 2018 07:50 PM PDT

«Senhoras e senhores deputados, o que cada um e cada uma de nós tem hoje que decidir é se se deixa tolher pelo medo ou se assume a responsabilidade de adotar uma lei que, de maneira equilibrada, razoável, prudente, respeite a decisão de cada pessoa. O que cada um e cada uma de nós tem hoje que decidir é se escolhe a prepotência de impor a todos um modelo de fim de vida que é uma violência insuportável para muitos ou a tolerância de não obrigar seja quem for e permitir ajudar a antecipar a morte àqueles para quem a continuação da vida em agonia se torna uma tortura. O que faremos hoje é portanto, cada um e cada uma de nós, uma escolha sobre a liberdade de todos. (...) O que cada um de nós votará no fim deste debate são projetos que convergem no essencial e que têm um conteúdo muito preciso. E não cenários inventados, que não cabem nesse conteúdo.
(...) Como aconteceu em tantos outros momentos de alargamento dos direitos, há quem nos queira agora desviar de uma decisão ponderada, ameaçando com o risco de um desvario social, traduzido em outras leis que - dizem-nos - hão-de vir. Mas o que esses arautos do medo e esses cultores da desconfiança não dizem é que os projetos que hoje votamos qualificam como crime todos os cenários de desvario que eles próprios, e só eles, antevêem. O que eles não dizem é que os mecanismos de controlo que o projeto do Bloco de Esquerda e os demais projetos consagram, têm em vista precisamente impedir qualquer possibilidade de legitimar a antecipação da morte para situações diferentes das que a lei acolherá. Por outras palavras, não é sobre estas propostas que se pronunciam esses arautos do medo. Pronunciam-se sobre outras, que adivinham que virão. Palpita-lhes que essas propostas, que adivinham e que virão, serão perversas. E querem-nos amarrar ao seu palpite e fazer do seu palpite o fundamento de uma estratégia criminal. Cabe a cada um e a cada uma de nós escolher entre o medo de um palpite e a responsabilidade da liberdade. Esses que, em nome de um atávico medo da liberdade da decisão de cada um, nos querem tornar prisioneiros de uma vida biológica, que espezinha a nossa vida biográfica, são muitas vezes os mesmos que criticam o projeto do Bloco de Esquerda e os demais projetos, por supostamente não respeitarem a autonomia das pessoas e darem poder demais aos médicos. Estranha e terrível ironia esta, de quem, para manter o imperativo da sua visão particular do fim da vida no Código Penal, tanto repudia o acolhimento da autonomia de decisão como repudia a regulação da expressão dessa mesma autonomia.
(...) Este é o momento de darmos prevalência à liberdade sobre o medo. Este é o momento de darmos prevalência à tolerância sobre a prepotência. Fizemos escolhas assim, no passado. E aos que então quiseram amedrontar o país, com a sombra de supostos retrocessos civilizacionais, nós sempre respondemos com a demonstração prática de que não foram retrocessos mas avanços. Aos que nos quiseram travar com o anúncio de rampas deslizantes da indignidade, nós sempre respondemos com a demonstração de que a rampa da afirmação dos direitos e da dignidade é sempre ascendente. Este é o desafio que cada um de nós tem hoje diante de si. Saibamos dar-lhe a melhor resposta. E essa só pode ser a do respeito por todos, na tolerância sobre a escolha de cada um.»
Da intervenção de José Manuel Pureza, a ver na íntegra, no debate sobre a morte medicamente assistida.

O que ficou da votação que não contava

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Eduardo Louro

  • 30.05.18

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As propostas para a despenalização da eutanásia não passaram na Assembleia da República. Por pouco, mas não passaram. Como seria por também pouco, se eventualmente tivessem passado o que, como aqui ontem se dizia, iria dar no mesmo. Talvez da próxima!

Que sociedade portuguesa se divida ao meio sobre a matéria não é grande surpresa. Estas questões, ditas fracturantes, são mesmo assim. O que poderá supreender são os diferentes alinhamentos perfilados, e mais ainda se tivermos em atenção a violência que chega a ser utilizada no debate.

Como se viu são alinhamentos exteriores à dicotomia direita/esquerda. Há muita gente de direita que é a favor da despenalização da eutanásia, embora sejam poucos, muito poucos, residuais mesmo, os de esquerda que sejam contra. A questão do PCP - e já agora uma saudação ao PEV, que pela primeira vez fez jus à sua presença no Parlamento - é outra. É outra coisa, já lá vamos.

Se procurarmos na dicotomia conservadores/liberais também encontramos dificuldades. Não que não percebamos de imediato que os (mais) conservadores estão contra, com poucas excepções. Mas porque lá, contra, encontramos também os mais assanhados liberais, os do tudo pela liberdade individual, do tudo pelo indivíduo e nada pelo Estado, que não tem nada que se meter na vida de ninguém.

O PCP é outra coisa porque nunca a liberdade individual foi bandeira sua, e é hoje provavelmente o partido mais conservador do nosso quadro partidário. E porque provavelmente acredita no rendimento eleitoral desta sua posição, num eleitorado envelhecido. É curioso notar que o PCP não esteve ao lado do CDS apenas na votação. Esteve ao lado do CDS também ao nível do debate. Rasteiro, básico e manipulador...

Ah... A primeira página do "i" é só porque sim... Porque nisto de capas não são nada maus!

Eutanásia e guerrilha partidária

por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 30/05/2018)

Daniel

Daniel Oliveira

Fui um dos subscritores iniciais do Manifesto em Defesa da Despenalização da Morte Assistida que deu origem aos projetos que esta terça-feira foram chumbados. Não considero que se esteja perante um tema “fraturante” ou de “costumes”. Não aceito discutir este tipo de assuntos com base na “prioridade” que cada um deles tenha. Considero que a legislação sobre este tema tem de ser, pelos riscos que comporta, especialmente cuidadosa e acho que os projetos apresentados garantiam plenamente essa cautela. Penso que este é o tipo de temas que deve ser resolvido com um debate na sociedade e penso que isso aconteceu nos últimos anos. O debate não se pode eternizar nem servir como uma espécie de veto de gaveta de qualquer alteração legislativa. O chumbo de ontem, com margem de diferença, é apenas um compasso de espera. Depois deste debate e votação, não tenho dúvida que é uma questão de tempo. De pouco tempo.

Em política, há a substância das causas e o uso que deles fazem os atores políticos. E os cálculos políticos contaram muito para o resultado de ontem. À esquerda, como se viu pela relevância que António Costa e outros intervenientes no congresso do PS deram ao assunto, serviu para disfarçar a inexistência de um discurso que vá para além do autoelogio com os resultados económicos. Esgotadas as reversões de medidas do Governo anterior e sem maioria, o PS não tem neste momento uma agenda clara. José Sócrates usou os temas não económicos com especial mestria, conseguindo convencer muitos incautos de que isso o fazia um líder mais à esquerda do que os seus antecessores. Há alguma tentação para se fazer o mesmo agora. Já o PCP jogou numa dupla: o PEV, que como todos sabem não tem autonomia política, apresentou um projeto, os comunistas votaram contra. Assim ficou com os dois flancos protegidos.

A defesa da eutanásia não substitui a clareza do discurso social e económico no PS e não retira legitimidade política à liderança de Rui Rio. A oposição à eutanásia não tira ao PCP os seus pergaminhos de esquerda, não faz ressuscitar Cavaco Silva e Passos Coelho e não dá ao CDS qualquer liderança da direita

Mas foi à direita que o tema acabou por ser mais instrumentalizado para guerras partidárias que nada têm a ver o assunto. Aníbal Cavaco Silva aproveitou este momento para morder as canelas de Rui Rio e dar sinal de vida. Fê-lo com a megalomania que tão bem lhe conhecemos, pensando que o país e a direita paravam para saber em que partido ele ia votar nas próximas eleições. Alguém o avise que o candidato presidencial da direita venceu as eleições sem precisar do seu apoio. Também Marcelo aproveitou para fazer chegar à comunicação uma espécie de veto prévio, o que corresponde a uma intromissão no processo legislativo que ultrapassa os seus poderes. E o CDS tentou afirmar a liderança da direita e a recuperação de um eleitorado mais conservador através deste tema.

Mas o que realmente foi determinante para o resultado foram as guerras internas do PSD e o objetivo de muitos deputados apearem Rui Rio antes que ele faça novas listas. Um assunto tão sensível foi transformado numa medição de forças interna. De tal forma que vários deputados calcularam o seu voto num projeto e não noutro (eram quase iguais) para garantir que nenhum passava e que Rui Rio saía dali com uma derrota.

Ao contrário do que acontece com outros assuntos de “costumes”, este não se liga ao feminismo ou aos direitos de minorias. Nem sequer se relaciona com a tolerância perante a diferença. É possível ser conservador e a favor da despenalização da morte assistida. Basta recusar a ideia de que temos o dever de ficar prisioneiros no nosso próprio corpo. É possível ser liberal e contra. Basta não aceitar o envolvimento do Estado e dos médicos no fim da vida. É possível ser de direita e a favor. Vem de Paulo Teixeira Pinto uma das melhores frases em defesa da eutanásia: “Extinguimos a pena de morte, mas mantemos a pena de vida”. E como se viu pela posição do PCP, é possível ser de esquerda e contra.

Nada impedia que os partidos políticos tomassem posição sobre o assunto e, se assim o decidissem, decidirem-se pela disciplina de voto. Se estávamos a falar de uma mudança na lei o assunto era inevitavelmente político. Também não vejo porque têm estes temas de ser decididos em referendo quando aquilo que mais deveria ser referendado – as transferências de soberania do Estado nacional para outras instâncias – nunca o é. Mas assumir que o tema é político e que os partidos têm o dever de o debater não autoriza o aproveitamento partidário a que assistimos.

A defesa da eutanásia não substitui a clareza do discurso social e económico no PS, não faz do PEV um partido autónomo do PCP e não retira legitimidade política à liderança de Rui Rio, mesmo que os seus opositores no Parlamento tenham visto aqui mais uma oportunidade para o desautorizar. A oposição à eutanásia não tira ao PCP os seus pergaminhos de esquerda, não faz ressuscitar Cavaco Silva e Passos Coelho e não dá ao CDS qualquer liderança da direita.

E a aprovação da eutanásia não daria ao Presidente o poder de anunciar oficiosamente vetos a leis que ainda não foram votadas. Apesar da sua relevância social, as implicações políticas deste tema são mínimas. Ficou mal na fotografia quem o usou para pequenas guerrilhas partidárias.