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sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Infantilidades?

Novo artigo em Aventar


por j. manuel cordeiro

"Uma resposta infantil não merece outra resposta infantil"

One sophomoric response does not deserve another. Speaker Pelosi’s threat to cancel the State of the Union is very irresponsible and blatantly political.

— Lindsey Graham (@LindseyGrahamSC) January 17, 2019

Falemos então de infantilidades e sobre como é que isto começou.

Antes do Natal, houve um acordo entre Democratas e Republicanos para financiamento do governo e evitar o shutdown. No dia seguinte, a Fox News, que mais parece o jornal oficial da Casa Branca, lançou uma campanha a picar Trump, dizendo que este estava a ser cobarde. E a seguir, Trump deu o dito pelo não dito e fez saber que não aprovaria o orçamento, o que levou o líder Republicano do Senado a dar um passo atrás, rasgando esse acordo.

Incitado por Rush Limbaugh e Ann Coulter, Trump faz uma declaração de última hora dizendo que ele não vai assinar a legislação republicana [portanto, do seu próprio partido] para manter o governo aberto e exige 5 mil milhões de dólares para fazer um muro na fronteira. A maioria republicana da Câmara dos Deputados aprovou uma lei que morre no Senado [republicano]. Trump culpa democratas pelo shutdown. [The Guardian]

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Prenderam o Robin dos Bosques da Justiça

  por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 17/01/2019)

rui pinto

Andamos há muitos meses a assistir a uma novela que poderia chamar-se “O Robin dos Bosques da Justiça portuguesa”, um assaltante justiceiro muito original já que enquanto o inglês era o inimigo número um do Xerife de Nottingham, o nosso Robinzinho parecia ser muito apreciado pela Justiça.

Nalgumas estações de televisão, onde muitos advogados optam por acompanhar os processos já que dá mais trabalho ir aos departamentos da justiça. Principalmente quando ainda estão em segredo de justiça, o Robin dos computadores era muito apreciado. Muitos jornalistas deste país não se cansavam de justificar a impunidade do seu Robin, já que graças a ele se podia apanhar tudo o que era criminoso.

Já que em democracia há limites aos poderes policiais e estes são condicionados e controlados para evitar abusos, dava muito jeito haver alguém que não respeitasse quaisquer regras ou direitos constitucionais, obtendo provas que depois caberia à Justiça ir verificar. Foi assim que foram abertos vários inquéritos, com base nos quais se promoveu a técnica do arrastão, daí resultando mais processos.

Na hora de justificar a ineficácia nas supostas tentativa de acabar com a carreira criminosa do Robin os nossos xerifes justificavam que entrar em computadores alheios era um crime menor. Mas parece que, afinal, há crimes maiores e lá prenderam o rapazola. Enfim, coincidência ou não parece que a invasão da PLMJ levou ao fim da carreira do mariola (ver notícia do ataque informático em causa, aqui).


Nota da Estátua. Para quem não sabe a PLMJ é uma das grandes sociedades de advogados de Lisboa - o mesmo é dizer, do país -, por onde tem passado grande parte dos grandes negócios e disputas judiciais das últimas décadas e onde pontifica o conhecido e mediático advogado José Miguel Júdice. Para mais detalhe sobre esta entidade que paira na sombra sobre muito do que se passa na política e nos negócios em Portugal, ver aqui  e aqui .

Uma vitória de Pirro?

  por estatuadesal

(Luís Alves de Fraga, 18/01/2019)

rio_ganha

Rui Rio saiu vencedor no resultado da votação da moção de confiança apresentada. Mas, parece-me, é uma vitória de Pirro. Vejamos em que tipo de raciocínio me apoio para dizer tal.

O simples facto de Luís Montenegro Esteves ter desafiado Rui Rio foi, como disse há dias, a demonstração de que já não há um só PSD, mas sim dois: um, o da velha guarda, ou seja, ainda imbuído do espírito fundador, e, outro, claramente influenciado pelas novas gerações, que vêem no partido um “caminho” para o neoliberalismo. Passos Coelho abriu essa porta.

O facto de António Costa ter aceite o apoio parlamentar do PCP e do BE, abriu, também, uma nova era na política nacional. Tratava-se do único caminho possível depois de José Sócrates. As esperanças que depositei em António José Seguro foram vãs, pois este não teve a coragem política de dar o “salto” para o entendimento à esquerda.

O “velho” PSD dos Balsemão e outros do mesmo quilate foi ultrapassado pela “geringonça”, porque esta está a fazer a política que os “barões” de antanho poderiam levar a cabo depois de Passos Coelho.

Santana Lopes deu o sinal de desmembramento, fazendo outro partido, que não admite entendimentos nem com o PS e muito menos com o PCP.
O que resta à ala menos conservadora do PSD – aquela que poderia chamar de passista – é sair ou para a Aliança de Lopes ou formar mais um novo partido.

Ora, em face deste panorama – perfeitamente possível de se tornar real em curto espaço de tempo – posso dizer que estamos num momento de grande viragem ideológica dos partidos políticos: o PS, depois da experiência da “geringonça” não vai voltar a ser o mesmo, dado que perdeu o medo da “outra” esquerda; o PCP também não vai voltar a ser o que foi – julgo mesmo, haverá uma natural tendência para sofrer fortes erosões, que o poderão, a médio prazo, levar à agonia, por transferência do eleitorado jovem para o BE, o qual, também ele, no plano ideológico, será diferente daquilo que ainda é. Mas, o maior ajuste, a maior modificação, segundo penso, acontecerá à direita. O PSD vai começar a perder eleitorado, que procurará reflectir o seu voto e vontade política nos partidos mais definidos e identificados com o capitalismo global e, eventualmente, com algumas franjas de populismo. O CDS terá de procurar o seu lugar ideológico.

Curiosamente, embora saiba que a História não se repete, acho que a intervenção da Troika e a afanosa atividade de Passos Coelho em “libertar” o país de algumas das suas empresas mais estratégicas – quatro anos de duração – têm equivalente aos quatro anos da Primeira Grande Guerra, os quais fizeram desaparecer do quadro político nacional os tradicionais três partidos republicanos para dar lugar a uma miríade sem um rumo bem definido do ponto de vista ideológicos, gerando, deste modo, o desequilíbrio que desaguou na ditadura militar de 28 de Maio de 1926, originando a ditadura de Salazar.

O descalabro europeu, do ponto de vista político, que se avizinha não vai criar o melhor contexto para a mudança em Portugal. Penso que, daqui para a frente, começando já nas primeiras eleições, o alinhamento vai ser diferente, gerador de uma angústia e intranquilidade nos portugueses conscientes do que podem esperar da União Europeia e do capitalismo global que nos submerge.

Ladrões de Bicicletas


Lutas em tempos financeiros

Posted: 18 Jan 2019 01:50 AM PST

Os regimes opressivos escondem as desigualdades económicas com pão e circo. Os EUA fazem-no com uma mera ideia: não há classes. Isto explica a auto-imagem nacional enraizada da mobilidade social, que os dados impertinentes tendem a refutar. Uma elite não precisa de se definir pelo sotaque ou pelo sangue para ser tão ossificada como a aristocracia do Velho Mundo.
Um dos principais comentadores políticos do Financial Times recomenda a luta de classes como alternativa à infinita fragmentação identitária norte-americana, vejam lá onde isto chegou. Lembrei-me de uma uma velha intuição da economia política radical: as descriminações raciais ou de género, por exemplo, são uma forma de o capitalismo dividir as classes subalternas para reinar.
Na realidade, as lutas de classes nunca cessaram nos EUA. Afinal de contas, o bilionário Warren Buffett explicou as coisas de forma clara: “a luta de classes existe e a minha classe está a ganhá-la”. E daí as desigualdades económicas cavadas, só com precedentes nos anos 20.
Como Sanders e outros socialistas norte-americanos sabem, a luta dos de baixo contra a elite económica é a melhor forma de criar um “nós” maioritário contra um “eles” minoritário que pode congregar. Como dizia Ernesto Laclau nos anos setenta, o socialismo é a forma mais potente e acabada de populismo.
E eu conheço um velho país, ou aquilo a que por hábito ainda chamamos de país, brutalmente desigual e onde as classes e as suas lutas, o povo e os seus combates, também não existem…

Dívida pública: um problema em hibernação

Posted: 17 Jan 2019 04:42 PM PST

Os defensores da reestruturação da dívida têm estado em silêncio. Para isso contribuiu a boa conjuntura externa e a estratégia de Mário Centeno – reposição de rendimentos, mas contenção drástica de outras despesas correntes e do investimento público. Ou seja, mão-de-ferro sobre o orçamento para ter saldos primários positivos. A que se juntou um crescimento do PIB puxado pelo turismo e a bolha do imobiliário (influxo de capitais especulativos), mais a retoma do consumo à medida que se instalou a confiança no voltar da página da austeridade. A benevolência de Bruxelas para com a nova estratégia foi decisiva porque limpou do horizonte as nuvens negras que criavam incerteza quanto ao futuro. Aceite como “caso de sucesso”, Portugal viu o juro médio para o conjunto da dívida baixar substancialmente, ficando abaixo da taxa de crescimento nominal do produto. Tudo favorável à redução do peso da dívida pública.
Porém, se a conjuntura mudar, tudo o que agora corre bem fica posto em causa. O crescente peso das exportações no total da procura tornou a economia portuguesa mais sensível à conjuntura internacional. Nesse caso, o governo em funções verá os estabilizadores automáticos (despesa social, receita fiscal) produzirem novamente um défice primário. A CE, os mercados financeiros e as agências de notação recomeçarão a sua ladainha de que o país não fez as reformas estruturais de que precisava e que, por isso, tem de cortar na despesa pública para dar confiança aos mercados. E cortará porque Portugal não é a Itália nem a França. E subirão as taxas de juro que, novamente, serão superiores à taxa de variação do produto. O peso da dívida voltará a subir, como subirá o clamor dos jornalistas de economia dizendo que a geringonça foi afinal um fracasso.
Ou seja, o problema da sustentabilidade da dívida não desapareceu; ficou em hibernação até à próxima crise. Em boa verdade, enquanto durar a zona euro – e não haverá em Portugal governo que questione a zona euro, evidentemente – o país está condenado a uma trajectória de períodos de crescimento medíocre nos intervalos das crises financeiras recorrentes. Passado este parêntesis de descompressão, voltaremos à trajectória de longo prazo: continuada degradação dos serviços públicos, crescente polarização social, e a raiva surda de boa parte dos de baixo a lavrar no subterrâneo social, pronta a lançar-se nos braços de um demagogo que seja competente para lhe dar voz e ganhar eleições.
Eu não partilho da ideia de que uma nova geringonça nos tornará imunes à ascensão da extrema-direita. Para mim, a sobrevivência da zona euro, e a nossa fidelidade canina ao ‘projecto europeu’, são a maior garantia de que lá chegaremos, com atraso como é costume.

Entre as brumas da memória


Para festejar os 90, um Popeye politicamente correcto

Posted: 17 Jan 2019 12:00 PM PST

«A nova série Popeye’s Island Adventures, disponível no YouTube, contará com 25 curtas animados para celebrar os 90 anos que o personagem completa em 2019. Os episódios apresentam um marinheiro de traços mais amigáveis, um apito no lugar do cachimbo e espinafre orgânico na dieta. Para quem não lembra, Popeye abria um enlatado com a hortaliça — agora, ele tem sua própria horta no navio.


Olivia Palito também deixou o papel de mocinha indefesa e se tornou uma inventora aventureira, que usa o cérebro para ajudar o parceiro a encarar os problemas do dia. Enquanto Brutus, por enquanto, está mais interessado no espinafre superpoderoso do que na moça.»

E pachorra para aturar isto?

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Françoise Hardy, 75

Posted: 17 Jan 2019 07:31 AM PST

Françoise Hardy nasceu em 17 de Janeiro de 1944. Em 2015, em luta contra um cancro, anunciou que tinha posto fim à carreira. Mas venceu o dito cancro e lançou, em 2018, o seu 28º álbum: «Personne d’autre».

Seja como for, quando desaparecer, nós, «les garçons et les filles de son âge», ficaremos para sempre a dever-lhe memórias de ternura e de inocência. Voltar a ouvi-la, nos seus primeiros tempos, devolve-nos uma ingenuidade que parece hoje irreal, quase impossível que alguma vez tenha existido.
Do álbum de 2018:

Do álbum de 2012:
E, inevitavelmente, o início de tudo (1962), a canção ícone que ficou para sempre, com letra e música de sua autoria:
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A China, enquanto a Europa dorme

Posted: 17 Jan 2019 06:03 AM PST

O corredor aéreo de Chongqing. 430 metros de largura a 300 metros de altura. (Ler mais informação aqui.)

Em 2004, quando lá estive, Chongqing, era uma cidade caótica, feiíssima, com uma poluição devastadora, nas margens do rio Yangtse. Era então «uma aldeia» com 9 milhões de habitantes e leio que tem crescido mais de 600.000 por ano. Safavam-se os pandas do Jardim Zoológico e os palácios do tempo de Chiang Kai-shek quando esta cidade foi capital da China. Hoje é assim…

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Battisti, Marielle e "Bolsogate"

Posted: 17 Jan 2019 03:19 AM PST

«De repente, os passageiros de um naviozinho que atravessava tranquilamente parte do rio Amazonas são surpreendidos por um cenário cinematográfico: a polícia abalroa a embarcação em plena caça ao homem, como num filme de ação americano, daqueles de sessão da tarde.

Além dos passageiros do barco amazonense, também funcionários de embaixadas estrangeiras em Brasília tiveram os seus pacatos e burocráticos dias desassossegados pela entrada abrupta de agentes excitadíssimos, na mesma caça ao homem, de arma em punho.

A família de um amigo do ex-presidente Lula da Silva parou tudo o que estava a fazer quando polícias, possuídos por um furor bélico, lhe invadiram a casa ainda na tal caça ao homem.

Foram cerca de 30 diligências deste tipo - à Inspetor Clouseau, portanto - em menos de um mês para tentar encontrar Cesare Battisti, um ex-terrorista de extrema-esquerda italiano, sessentão, que se exilou no Brasil por anos e era considerado foragido desde pouco antes do Natal.

Não estava no barco do Amazonas, em nenhuma embaixada estrangeira ou sequer escondido em casa de um amigo de Lula, como a polícia do Brasil supôs. Foi apanhado enquanto caminhava numa via de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, pela Interpol, por uma polícia especial italiana e por agentes bolivianos na peugada de Battisti naquela localidade há quase um mês, andavam as autoridades brasileiras à toa, de pista falsa em pista falsa.

O governo Bolsonaro, infestado de militares, ainda tentou sair bem na fotografia: após reunião com o presidente himself, o ministro da Justiça Sergio Moro e o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, o titular do Gabinete de Segurança Institucional general Augusto Heleno anunciou que de Santa Cruz, Battisti apanharia um voo para território brasileiro, enviando ao local uma aeronave paga pelos contribuintes para esse efeito.

Os italianos não quiseram saber e trasladaram o terrorista diretamente da Bolívia para Roma, passando por cima - literalmente - do Brasil.

O voo para Fiumicino decorreu a 14 de janeiro, dia em que passaram dez meses sobre o assassínio de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, cidade que passou o ano todo sob intervenção militar especial.

De então para cá, só se sabe que nada se sabe. Só não se sabe se não se sabe porque não se quer saber ou porque não se consegue mesmo saber porque má-fé e incompetência confundem-se entre si e confundem-nos a todos.

No início de dezembro, entretanto, estourou o "Bolsogate", um escândalo em que, desconfiam as autoridades, um assessor do ex-deputado estadual do Rio Flávio Bolsonaro, primogénito de Jair, recolhia o dinheiro dos outros assessores todos, na sua maioria fantasmas, e os repassava ao deputado, prática velha e ilegal chamada localmente de "mensalinho". Até Michelle Bolsonaro, a primeira-dama, aparece como destinatária dessas transferências.

Solicitado a prestar esclarecimentos, o assessor em causa já se furtou duas vezes, alegando razões de saúde. Os seus familiares também escaparam. E Flávio, que tem a prerrogativa parlamentar de escolher hora e data para falar, ainda não se dispôs a enfrentar a justiça, lembrando a velha rábula do pai a fugir dos debates televisivos eleitorais.

Os dribles policiais de Bolsonaro e amigos, assim como os de Battisti e os dos assassinos de Marielle, são casos, entre outros, que servem para adensar a insegurança dos brasileiros em quem lhes deve garantir segurança.

Não é justo responsabilizar apenas o atual presidente, empossado no início do ano, por estes fracassos - mas é obrigatório exigir resultados durante o seu mandato.

Afinal, a segurança é a sua (única) área de expertise, o seu governo parece uma messe de oficiais na reserva e ainda cabe lá Moro, o implacável super-herói na luta contra o crime.

E afinal foi Bolsonaro quem deu em campanha eleitoral a solução genial para a guerra de traficantes na favela da Rocinha: distribuir, através de um helicóptero, milhares de panfletos no local a dar seis horas para os criminosos se entregarem. Caso eles não o fizessem, abrir fogo sobre a maior favela do país.»

João Almeida Moreira