Translate

terça-feira, 4 de abril de 2017

A ferro e fogo

JN
Almiro Ferreira

De São Petersburgo à martirizada Síria, a deriva terrorista e a estupidez humana que mergulham o mundo num futuro de penumbra. E o rastilho da imprudência causador de uma mortandade em Lamego.

A psicose de São Petersburgo, abalada pelos atentados terroristas que assolam a Europa, os bombardeamentos com gás tóxico na torturada Síria e um planeta cada vez mais assemelhado a um imenso barril de pólvora. Neste mundo tão enxofrado, Portugal até seria o cantinho edílico do costume se não fosse a também habitual incúria, como se viu nesta terça-feira: em Lamego, a explosão de uma fábrica de pirotecnia causou pelo menos quatro mortos.
Se o desastre no paiol da Penajóia é isso mesmo, um acidente, tão frequente nas fábricas de pirotecnia que alimentam os arraiais de verão, para gáudio de um certo Portugal pândego e para terror dos bombeiros - e tudo tão alegremente tolerado -, já o que se passa no norte da Síria é só mais um episódio da guerra sem tréguas e da estupidez humana.
Ao ataque que a oposição síria atribuiu ao regime de Bachar al-Assad, havia de seguir-se outro ainda mais repugnante, o bombardeamento do hospital que estava a tratar as vítimas do primeiro raide, perpetrado com gás sarin e gás cloro. Desta segunda investida só se sabia, ao final desta terça-feira, que causou um número ainda indeterminado de mortos e feridos.
A oposição síria insiste na culpa do regime de al-Assad e na colaboração de Moscovo nos raides aéreos em zonas fora do controlo do Governo e sob domínio de fações rebeldes e islâmicas, entre elas o organismo de Libertação do Levante, aliança fundada no seio da ex-filial síria da Al Qaeda.
Ora, terá sido esta conjuntura que gerou a imediata colagem do atentado de São Petersburgo ao terrorismo islâmico. Os serviços de segurança de Moscovo apressaram-se a anunciar o suspeito, identificado com um jovem russo natural do Quirguistão. As motivações do atentado permanecem na penumbra.
E assim vai este mundo, a ferro e fogo, refém dos jogos de geoestratégia, dos interesses económicos, dos corredores da política e de dose igual de fanatismo.
 
Ovar, 4 de abril de 2017
Álvaro Teixeira

LEVAR PASSOS “À SÉRIA”? (estatuadesal)

 

(Joaquim Vassalo Abreu, in 03/04/2017)
pt_a_serio_1
Passos Coelho

 
Eu já há uns tempos atrás publiquei aqui um texto, a que chamei “LEVAR PORTUGAL A SÉRIO “,   (Ver aqui), mais propriamente no dia 13 de Dezembro de 2016, de modo que voltar ao mesmo tema, só por razão muito substantiva ou então para fazer assim uma espécie de actualização, o que é o caso.
Mas porque volto? É que eu pensava que ele, o nosso Senhor dos Passos (ouvi dizer que estamos na Quaresma) já tivesse feito um “upgrade” ao slogan e o tivesse mudado para, no mínimo “Levar o PSD a sério” pois, desde os seus muito seus aos seus pouco seus, uns fingem que o levam a sério e outros já nem sequer o fingem…
Mas, tenho observado que, sempre que fala, principalmente na sede, que deveria ser local sagrado e de culto, lá aparece por trás dele a fatal frase. Mais propriamente um pregão ou um slogan que, da sua eficácia, deve ter sido objecto dos mais aturados estudos, de marketing e até de sociologia, pois foi levado a sério. E até testado, pois o deve ter sido, por exemplo numa daquelas universidades de verão, por aqueles jovens todos de atestado na mão, a gritarem, virados para o seu chefe: “Levar Portugal a Sério!”, “Levar Portugal a Sério!”…muitas vezes, claro, e com os dois dedos virados em frente, para o seu “Herr”. Mas que quer aquilo dizer, afinal? Para quem será o recado?
A sério: eu até acredito que “Levar algo a sério”, “Levar alguém a sério” ou mesmo “Um tipo levar-se a sério” ou, finalmente, “Que o levem a sério ou seja levado a sério”, seja um desejo, uma vontade, um anseio de futuro, uma realização até e até aí tudo bem. Mas, hoje por hoje, continuar a colocar lá no meio “PORTUGAL”, sendo absurdo, ridículo e totalmente desfasado da realidade, a menos que seja mesmo uma autocrítica introspecção, podendo ser aquele desejo o de “Levar o PSD a sério”, seja simplesmente um apelo, pungente mesmo, a que “Levem Passos a sério” ou “séria”, tanto faz!
Porque só assim poderá ser! Pois pensem comigo: se tivessem escrito uma frase mais afirmativa, tipo “Nós Levamos Portugal a Sério”, a gente até se poderia rir a bandeiras despregadas, fazer piadas, glosar com a coisa, fazer ainda mais trocadilhos do que os que eu faço até, mas quando colocam o vago, incerto e evasivo “Levar”, eles querem dizer o quê? “Levar” o quê ou quem? E já agora: “Para onde?”. É que “Levar Portugal”, só se for Atlântico adentro, como na “Jangada de Pedra” do Saramago, agora “A Sério?”. É que se temos que o levar a sério, ou mais a sério, é porque ele é um pouco estouvado e brincalhão, pouco atento e fixo, mais outras coisas mais e tem que ser posto na ordem…para ser levado a sério, não será?
De modo que, ultrapassado este patético jogo de palavras, que de tão parvo nem posso sequer afirmar ser um jogo, a pergunta final, aquela que estará no cerne da manutenção do referido slogan, de o facto de Passos, julgando-se no seu bandado “pin” ele mesmo Portugal, se queixar de o Governo não o “levar a sério” e não responder às suas pertinentes e acutilantes perguntas.
Assim como que dizendo ao Governo: “O Sr. (o Sr. Costa bem entendido), não perde uma oportunidade de me achincalhar (a ele, Portugal, claro também), e isso é ignóbil, vergonhoso e só mostra que não “levam Portugal” (o seu “pin”, bem entendido) a sério”.
Só lhe faltou dizer: nós fomos os únicos que levamos Portugal a sério, os únicos que poderão fazer voltar a seriedade a Portugal e expurgar dele todos os que não são sérios… “Levem-me, portanto, a sério”.
Só que, por muito que se leve a sério, e pese a sua seriedade, que não ponho aqui nem em lado nenhum em causa, isso não basta para que seja levado a sério. E é-o cada vez menos, dizem as sondagens e cada vez mais.
E ontem diverti-me ao ouvi-lo “exigir” do Governo saber todos os pormenores da venda do Novo Banco e o porquê de o Estado ter ficado com 25% e ter sido “vendado”, como alguém dizia, ele que, ele sim, o venderia pelo preço que custou e não faltavam compradores…Eram dezassete, dizia ele a 27/08/2015 e a ANGBANG oferecia 2.000 milhões, lembram-se? E havia a APPOLO, depois a FOSUN até que, até que não restou nenhum! Até que o seu Tedx, o Monteiro, lá arranjou um…uma STAR!
O Costa vai-lhe dizer: Ó Sr. Deputado Passos Coelho, a sério, quer que lhe faça um desenho?
Nota Final : Eu, como sei que o Costa não tem grande queda pró desenho, mandei-lhe um SMS e disse-lhe: António, deixa isso pra lá, eu faço-te o desenho, ok? Ah! E mando um prá “Catrineta” também, tá? A sério, António!

Ovar, 4 de Abril de 2017
Álvaro Teixeira

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Vítor Amaral, candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal de Ovar

O advogado, com pós-graduação em direito do urbanismo, de 58 anos, presidente da Assembleia de Freguesia de Válega, eleito em 2013, é o escolhido da estrutura local do PS, para cabeça-de-lista à Câmara Municipal de Ovar, nas eleições autárquicas, de 1 de Outubro de 2017. A escolha de um independente, que parece reunir um largo consenso entre os socialistas de Ovar, que aceitaram as condições impostas por Vítor Amaral, nomeadamente, na escolha de nomes para a formação das diversas listas de candidatura.

Vítor Amaral - RTP - 3.jpg

Vítor (Manuel Reis) Amaral, empresário, administrador de condomínios, foi presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Gestão e Administração de Condomínios (APEGAC), sendo, actualmente, presidente da Mesa da Assembleia Geral desta associação. É fundador e foi presidente da Direcção do Grupo de Acção Cultural de Válega – GAC, assim como fundador do Jornal de Válega, do qual foi também director. O antigo funcionário judicial, possui o  curso de Teatro e o de Encenação.
Na RTP, apresenta um programa sobre a problemática dos condomínios, no qual aborda a história que se repete, um pouco por todo lado: Um prédio a necessitar de obras, pinturas ou simples arranjos, mas a falta de pagamento por parte dos condóminos e a dificuldade em cobrar as dívidas acabam por deitar os planos por terra. A conversa amigável entre vizinhos acaba em tribunal e em penhoras, como com tantas outras dívidas.
Questionado por Ovar Novos Rumos, Vítor Amaral diz que se candidata para ganhar a Câmara de Ovar, que está nas mãos de Salvador Malheiro (PSD), desde 2013. Para isso, está a preparar um programa ambicioso, para o desenvolvimento do concelho de Ovar, que incluirá um projecto de apoio a pessoas mais carenciadas e mais vulneráveis, as quais têm sido esquecidas. Quanto ao estado actual do concelho, Vítor Amaral considera que muito pouco se fez nos últimos anos, prometendo uma nova dinâmica para o arranque do desenvolvimento desejado.
A sua candidatura deverá ser apresentada pelo PS Ovar, nos próximos dias.
Nota biográfica do candidato
Nome: Vítor Manuel Reis Amaral
Nome profissional: Vítor Amaral
Naturalidade: Válega - Ovar
Idade: 58 anos
Dados familiares: Casado, duas filhas e 4 netos
Profissão: advogado e empresário
Algumas actividades profissionais desenvolvidas:
  • Empregado de escritório
  • Empregado forense
  • Empresário no ramo dos materiais de construção
  • Funcionário judicial
  • Emigrante nos EUA (1 ano) – empresário na área do calçado
  • Mediador de seguros
  • Mediador imobiliário
  • Administrador de condomínios
  • Empresário no ramo da administração profissional de condomínios (fundador de uma das maiores empresas do país)
  • Advogado
Algumas outras actividades que exerceu:
  • Fundador e presidente do Grupo de Acção Cultural de Válega – GAC
  • Fundador e director do Jornal de Válega
  • Encenador de teatro – GAC
  • Colaborador do jornal “Terras do Var”
  • Fundador da Associação dos Amigos de São Bento - Válega
  • Director do Centro Cultural e Recreativo de Válega – CCRV
  • Membro do Conselho Fiscal da Associação Portuguesa das Empresas de Administração de Condomínios – APEGAC
  • Presidente da Assembleia Geral do GAC
  • Presidente da Assembleia Geral da APEGAC
  • Presidente da direcção da APEGAC
  • Congressista em três congressos sobre propriedade horizontal, um deles no Brasil
Algumas outras actividades que exerce:
  • Presidente da Assembleia de Freguesia de Válega
  • Presidente da Assembleia Geral da APEGAC
  • Presidente da Assembleia Geral do CCRV
  • Presidente do Conselho Fiscal da Fundação Pe. Manuel Pereira Pinho e Irmã
  • Formador na área da propriedade horizontal
  • Colaborador do programa “A Praça”, da RTP, sobre condomínios – “Viver em condomínio”
Formação:
  • Curso Geral de Administração e Comércio
  • Licenciatura em Direito
  • Pós-graduação em direito do urbanismo
  • Curso de actores de teatro – Seiva Trupe – Porto
  • Curso de teatro de fantoches – Rui Sérgio - Aveiro
  • Curso de Encenação – INATEL – Lisboa
  • Formação em jornalismo
  • Curso de mediador de seguros
  • Participação em vários workshops e seminários
Outros:
  • Em preparação: manual sobre condomínios, com o título “Viver em condomínio”, baseado no trabalho na RTP
  • Em preparação: livro de contos infantis: “Histórias para embalar o Afonso”
Joaquim Castro
Ovar, 3 de Abril 2017
Ovar Novos Rumos

A guerra das rosas (estatuadesal)

 

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 31/03/2017)
 
brexit3
 
Theresa May assinou, na passada terça-feira, a carta que dá início ao Brexit. Como diria Paulo Portas, agora é irrevogável. A fotografia do momento da assinatura podia ter sido tirada em 1970. Dá a sensação que Theresa May foi roubar a roupa, os brincos e o colar à campa da Margaret Thatcher. Sinto falta da pena a assinar a carta. Aposto que a vai enviar por fax. Tudo cheira a Naftalina by Dior.
Estamos no momento Jangada de Pedra do nosso velho aliado. O Reino Unido afasta-se da Europa e vagueia ao acaso para mares desconhecidos, tentando recriar ou recuperar a própria identidade. Mesmo embirrando com a actual União Europeia, custa a aceitar este afastamento. Perder a estrela do Reino Unido é muito mais grave do que perder uma estrela Michelin, mesmo sabendo que a contribuição a nível culinário do Reino Unido se fica pelo "fish and chips".
A União Europeia sem o Reino Unido é como um sorriso sem um dente incisivo central superior. Perdemos o sentido de humor único dos ingleses e ficamos mais tristes nas mãos do humor alemão o que, por si só, é um oximoro.
Cresci a ver o humor dos Monty Python, a ouvir os Beatles e a coleccionar miniaturas dos double-decker (sim, eu sou antigo) e custa-me assistir a este afastamento. Imagino que em breve irão mandar emparedar o túnel do canal da Mancha. Os muros estão na moda.
Como em todos os divórcios, há culpa dos dois lados. Antes do Reino Unido se afastar da União Europeia, já a União Europeia se tinha afastado de si própria. Nem o Reino Unido é o que já foi nem a União Europeia é o que era suposto ser - e assim acabam muitos casamentos.
Não vai ser um divórcio amigável. A União Europeia vai exigir tudo o que puder exigir, quanto mais não seja pelo receio de perder o resto do harém. Perita em chantagens, como se viu no nosso caso, e no caso da Grécia, a UE irá fazer tudo para fazer a vida negra aos britânicos. Por outro lado, o Reino Unido está com a postura de quem diz - vou só comprar tabaco e já volto e depois nunca mais aparece.
Este divórcio vai ser uma espécie de Guerra das Rosas. Não falo da famosa Guerra das Rosas pela disputa do trono inglês entre os de York e os de Lancaster, mas do filme realizado por Danny De Vito, onde Michael Douglas e Kathleen Turner, um feliz casal de classe alta que, perante a vontade da parte da mulher de se divorciar, inicia um brutal e destrutivo conflito ao se deixar arrastar para um divórcio litigioso.
Numa sequência de cenas em crescendo e movidos por uma sede alucinante de vingança, e decisões idiotas, o casal vai acabar por destruir a sua fabula mansão e pertences com requintes de malvadez, acabando por se matarem um ao outro de forma violenta. O filme é uma parábola sobre a mesquinhez e a ganância dos seres humanos, e a fina linha que existe entre o amor e o ódio. Proponho que Theresa May e Donald Tusk, antes de começarem as negociações, assistam a esta obra genial de Danny de Vito.
 
Ovar, 3 de Abril de 2017
Álvaro Teixeira

Não devemos ceder à BlackRock e à Pimco? Não temos de agradar aos mercados? (estatuadesal)

 

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 30/03/2017)
Autor
                         Daniel Oliveira

Como sabem, Portugal foi obrigado a experimentar uma solução para o Banco Espírito Santo que era uma experiência. Como sabem, a experiência correu mal e nunca mais será utilizada noutros países. Como sabem, os mesmos que nos transformaram em cobaias não serão responsabilizados por isso. Porque essa é a forma de funcionar da União: uns são eleitos, outros decidem; uns mandam, outros lidam com as consequências. Esta anomalia democrática explica grande parte dos erros cometidos na União: poder sem responsabilidade, soberania sem eleição. E como sabem, o Novo Banco será, seja qual for a solução, o pior negócio do século.
Mas hoje quero falar de outras consequências. Ao lidar com a solução que, diga-se em abono da verdade, apoiou e levou à prática, o Banco de Portugal decidiu, em dezembro de 2015, transferir algumas obrigações seniores do Novo Banco para o BES mau. Com esta decisão, vários grandes investidores ficaram a arder. É natural que assim seja. Foram eles que decidiram, mesmo quando muitos dados eram conhecidos, arriscar o investimento naquele banco. Foram enganados? Foram. Mas não foram enganados pelo Estado português. Foram enganados por um banco privado. E a razão pela qual pagam muito dinheiro aos seus quadros superiores é exatamente para evitarem estes enganos. Não foram enganados como a maioria dos lesados do BES. Arriscaram o engano, que é coisa diferente.
Houve quem nos tentasse convencer que a desconfiança dos investidores com Portugal tinha sido por causa do apoio de comunistas e bloquistas ao novo governo. Apesar de algum alarido pouco sério feito por alguns jornais internacionais – vale a pena ler algumas coisas que se escreveram para passar a desconfiar do rigor da imprensa económica de referência –, os investidores estão-se nas tintas para essas minudências. A decisão do Banco de Portugal em relação a grandes investidores no BES teve muitíssimo mais importância para o alarme criado.
Depois de recorrer aos tribunais, e esperando uma derrota provável porque a lei está do lado da decisão tomada, um grupo de investidores liderado pela BlackRock e pela Pimco decidiu lançar um boicote a Portugal. Não se trata de uma medida preventiva – não têm nada para prevenir –, mas de uma forma pública de pressão. O boicote mantém-se até o Estado decidir sacar aos seus contribuintes o dinheiro perdido por estes investidores num banco privado. E a pressão vai aumentar à medida que o BCE vá diminuindo a compra de dívida, explicam. Trata-se de uma chantagem assumida e sem qualquer prurido.
Aqueles que têm defendido que a política deve trabalhar a pensar nos “mercados” têm o dever de ser coerentes e defender uma cedência portuguesa. Os investidores fazem os seus investimentos e os contribuintes devem assumir os seus riscos. Caso contrário, pagam a fatura com boicotes, porque a vida é mesmo assim e tudo o mais são formas encapotadas de socialismo. E, por favor, não me digam que isto se resolve não tendo dívida. Os países com menor dívida pública e sem petróleo são Cuba, Kosovo e Suazilândia. Ter uma economia aberta obriga a ter acesso a crédito. É assim com as empresas, é assim com as Nações.
Os mercados são compostos por investidores que se estão nas tintas para a racionalidade económica ou a sustentabilidade dos países. Procuram quase sempre benefícios de curto prazo e quem governa ao sabor dos seus humores está condenado a atirar-se do precipício. Quem acha que não pode enfrentar os “mercados” deve estar preparado para destruir o Estado de Direito, rebentar com a democracia e assaltar os contribuintes em nome dessa demanda. Porque, estando em causa o dinheiro investido, nada disso é relevante. Nem quando as suas perdas resultam de decisões por eles tomadas.
Como se resolve isto? Voltando ao básico: ou dominamos os mercados ou eles nos dominam a nós. Não porque os mercados sejam maus, mas porque trabalham apenas com vista aos seus interesses. Cabe aos Estados pensar nos nossos. E é por isso que retirar aos Estados instrumentos fundamentais de soberania financeira, monetária e económica é um erro.
Claro que o BCE podia impedir tudo isto. Assim como a União Europeia podia vergar quem se atreve a tão descarado ato de chantagem política. Mas, como sabemos, os senhores de Frankfurt e de Bruxelas estão tão preocupado com o nosso futuro como os da BlackRock e da Pimco.

Ovar, 3 de abril de 2017
Álvaro Teixeira