Translate

Mostrar mensagens com a etiqueta BCE. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta BCE. Mostrar todas as mensagens

domingo, 29 de outubro de 2017

Afinal cheira a crise


Estátua de Sal

por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 27/10/2017)
Francisco Louçã
Desculparão os leitores, mas este texto não é sobre a crise de que se fala, sobre o barómetro que mede quem ficou mais “chocado”. Com franqueza, não havia necessidade. É sobre outra crise, uma que importa mesmo. Aquela que Schauble anunciou na despedida na sua última reunião do Eurogrupo, antes mesmo de receber uma nota de cem euros com a sua cara gravada, que amável presentinho. Essa crise não é o tal diabo que faltou e que o homem bem se fartou de anunciar (aos países do sul), mas é certamente o risco de um abismo basto infernal (para todos os países).
Lembrava Schauble, sem deixar de picar Mario Draghi, que a inundação de dinheiro despejado na Europa nos últimos dois anos tem como destino mais certo uma bolha financeira. E que, como é da natureza das coisas, a bolha rebentará. Draghi respondeu esta semana que não vê nenhum problema sistémico, nem na valorização do euro, nem no excesso de dívida. Como se vai embora dentro de ano e meio, bem se percebe que não queira em caso algum perturbações que obriguem a novas formas de intervenção – até porque lhe restam poucos instrumentos para o fazer.
O BCE injectou 2100000 milhões de euros nos mercados financeiros em dois anos. Promete continuar, mesmo que em dose mais moderada. Ora, tudo correria bem se esse capital fosse usado em investimento. Não foi. Serviu essencialmente para aumentar o preço dos activos financeiros e portanto para enriquecer quem já tinha um tesouro.
Segundo os cálculos do FMI, nas economias mais desenvolvidas, e nas últimas três décadas, o rendimento per capita dos 1% mais afortunados cresceu três vezes mais depressa do que o do resto da população. Resultado: nestes países mais ricos, os 99% de baixo ganharam mais 48% nesse período, mas os 1% triplicaram o seu rendimento (como assinalado no gráfico). Nos últimos dois anos mais se agravou esta desigualdade, que é o primeiro efeito da bonança.
Gráfico
O segundo efeito é a dívida. Rolamos sobre dívida. Como se escreve num relatório do FMI, “a dívida lubrifica as rodas da economia. Permite aos indivíduos fazer grandes investimentos hoje, como comprar uma casa ou ir para a universidade, comprometendo parte dos seus rendimentos futuros. Isso está certo em teoria. Mas como a crise financeira global demonstrou, o rápido crescimento da dívida das famílias, e em especial as hipotecas, pode ser perigoso.” Ponha perigoso nisso. Neste mundo bipolar, a dívida dirige a economia e portanto inflaciona o risco de uma crise financeira (o delicioso termo profissional é uma “correcção técnica do mercado”), já para não incluir no menu dos perigos algum tweet de Trump ou um bombardeamento algures.
O terceiro efeito deste maná de dinheiro fácil é que reforça a vulnerabilidade de quem sofreu a crise e privilegia os seus beneficiários, porque assim são as suas regras. Revelou Draghi recentemente que, em 2012-2016, o BCE lucrou 7800 milhões de euros em juros e ganhos de capital com a dívida grega. Esse lucro é depois repartido entre os bancos centrais de acordo com a proporção de cada um no capital do BCE (ou seja, a Alemanha ganha mais e, se a Grécia esperava o repatriamento de algum desse dinheiro, enganou-se, porque até isso lhe foi cortado).
O BCE também lucrou 5200 milhões com a dívida portuguesa, mas nesse caso uma parte foi entregue ao Banco de Portugal (é a origem dos célebres dividendos a pagar pelo banco ao Tesouro) – e outra aos outros bancos.
A Alemanha é entretanto beneficiada com a compra de 400 mil milhões da sua dívida a juros negativos ou quase zero e o BCE fica a perder com essa operação – mas a Alemanha monetariza parte da sua emissão de dívida e a Europa sofre esta economia predatória. Não foi revelado se a nota de 100 euros entregue a Schauble conta para tal montante.
NB- O texto mais curioso sobre Neto de Moura, o juiz que cita a pena de morte da mulher adúltera, é de JM Tavares. Claro que ele se rebola de indignação contra o juiz, que é “cavernícola”, mas o que o irrita mesmo é que alguém lembre que a conversa da discriminação das mulheres é uma cultura: antiga, como expressa nas tribos do Antigo Testamento, e moderna, como expressa nas leis que até ao século XX davam a mulher como coisa do homem. Vai daí, inventa uma novela gira sobre a predestinação do juiz, que se tivesse brincado com vestidos cor de rosa em bonecas não cederia à pulsão da tal pena de morte. O que vale é que Tavares pede logo desculpa a quem o lê, acrescentando, com a condescendência de um barão à lareira: “aquilo que pessoas como eu ou o Ricardo (é o Araújo Pereira) afirmam” é que não queremos cá “picuinhices estapafúrdias” (a sua própria novela sobre os vestidos das bonecas). Ainda bem que Tavares segue “o Ricardo” e pensa como ele. É um alívio. Se não fosse a protecção “do Ricardo” só sobrava a coitada da pilhéria.





sexta-feira, 21 de julho de 2017

O poder que voltou

André  Veríssimo
André Veríssimo | averissimo@negocios.pt 21 de julho de 2017 às 00:0´

Antes de a banca cair do pedestal do poder em Portugal já ele se tinha esvaído. Nos tempos que correm só o dinheiro garante a autonomia e quando deixou de o haver entregámo-la. Partiu para outras geografias, Berlim, Frankfurt, Washington, Bruxelas. Mas está a voltar.
Não todo o poder, porque o fomos cedendo em nome de um projecto europeu sobre o qual crescem dúvidas, mas que soube atravessar aquela que foi a sua maior provação. A soberania sobre o sistema financeiro foi a última a partir.
Não todo, porque há fragilidades que ainda nos tolhem e independências por firmar – vivemos ainda no aconchego do BCE.
Não todo, porque na míngua de dinheiro português venderam-se a capital estrangeiro valiosos anéis empresariais e vários dedos dessa mão poderosa da economia que é a banca .
Há, ainda assim, um regresso, construído à força do cumprimento de metas orçamentais, da recuperação do acesso aos mercados, de um crescimento económico mais robusto. Um esforço colectivo, sofrido, teimosia de vários anos, seguindo obedientemente as regras do jogo que outros desenharam. Mas emergimos.
A maior confiança, esse sentimento que os matemáticos aprenderam a medir e as estatísticas colocam agora nos píncaros, bebe também dessa maior autonomia. Está na auto-estima. Está na capacidade para tomar opções.
Liberdade é poder. Lisboa tem mais poder. E quem diz Lisboa, diz São Bento, diz Belém. Os actores políticos são hoje mais protagonistas e menos intérpretes de um papel secundário. Podem escrever um argumento mais original. António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa têm mais poder do que teve Pedro Passos Coelho ou Cavaco Silva. Também por espessura própria, deve reconhecer-se.
Há também novos protagonistas, uns saídos da destruição criativa da crise, outros da retoma. A convulsão trouxe um maior equilíbrio. O Estado é menos imponente, a banca menos influente, o poder judiciário está mais presente. Eminências pardas ainda as há, mas o poder é mais difuso, há mais matizes. O que é até mais saudável, pode é ser passageiro.
São os rostos desta nova ordem, mestiça ainda da antiga, que o Negócios vai dar a conhecer nas próximas semanas em mais uma edição de "Os mais poderosos".

Fonte: Jornal de Negócios

Nota do Blogue: As nossas Televisões, incluindo a RTP que todos nós pagamos, não falam deste assunto, enfeudadas que estão ao serviço da Direita que nos martirizou durante quatro e meio.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Fecho de mercados: Risco da dívida portuguesa em mínimos e euro em máximos com Draghi

Depois de Mario Draghi não ter feito alterações no discurso do BCE sobre as políticas de expansão económica, o prémio de risco da dívida portuguesa recuou para mínimos de Janeiro de 2016 e o euro disparou para o valor mais alto contra o dólar desde Agosto de 2015.
Fecho de mercados: Risco da dívida portuguesa em mínimos e euro em máximos com Draghi
Bloomberg

David Santiago
David Santiago dsantiago@negocios.pt
20 de julho de 2017 às 17:26

Os mercados em números
PSI-20 ganhou 0,23% para 5.314,35 pontos
Stoxx 600 caiu 0,38% para 383,77 pontos
S&P 500 cede 0,06% para 2.472,25 pontos
Juros da dívida a dez anos recuam 5,9 pontos base para 3,009%
Euro sobe 1,10% para 1,1642 dólares
Brent cai 0,38% para 49,51 dólares
Bolsas europeias sem rumo definido
As principais bolsas europeias negociaram sem uma tendência definida, divididas entre ganhos e perdas depois de Mairo Draghi ter anunciado esta quinta-feira, 20 de Julho, que o Banco Central Europeu só no Outono decidirá sobre um eventual novo rumo a dar à política monetária da instituição.
O PSI-20 ganhou 0,23% para 5.314,35 pontos, com a praça lisboeta a ser apoiada pela valorização do BCP que somou 1,95% para 25,1 cêntimos. Já o índice de referência europeu Stoxx 600 perdeu 0,38% para 383,77 pontos. Em forte alta negoceia Wall Street, numa sessão em que os índices Standard & Poor’s 500 e Nasdaq Composite voltaram a registar novos máximos de sempre, beneficiando da melhoria do mercado laboral e dos resultados positivos apresentados por várias cotadas.
Juros em queda e prémio de risco da dívida em mínimos
Os juros da dívida pública portuguesa estão a cair em quase todas as maturidades, exceptuando o prazo a seis meses. A taxa de juro associada às obrigações lusas com maturidade a 10 anos está a recuar 5,9 pontos base para 3,009%, num dia em que já chegou a estar abaixo da barreira dos 3% (2,999%), o que representa um mínimo de 6 de Julho.
Já o prémio de risco da dívida lusa – medido contra os juros da dívida alemã, tidos como referência para a Zona Euro – está no valor mais baixo desde Janeiro de 2016, em torno dos 248 pontos.
Também os juros da generalidade dos países do bloco do euro estão em queda, com as taxas de juro associadas às obrigações a 10 anos de Espanha e de Itália a caírem 7,5 e 7,9 pontos base para 1,485% e 2,114%, respectivamente. A taxa de juro associada às "bunds" alemãs também recua 1,2 pontos base para 0,530%
Depois de a generalidade das obrigações de dívida negociadas no mercado secundário dos países do euro estar em alta durante a manhã – em concreto a dívida portuguesa – a declaração feita pelo presidente do BCE ao início da tarde acabou por provocar um volte-face. Mario Draghi não fez qualquer tipo de alteração ao discurso de continuidade das políticas de expansão económica em vigor, com o italiano a não fazer qualquer referência ao fim do programa de compra mensal de activos, o que foi lido pelos mercados como um sinal de estabilidade.
Euribor a 3 e 6 meses em mínimos
A Euribor a três e a seis meses fixou-se mínimos esta quinta-feira. A três meses manteve-se em -0,332%, um mínimo de sempre, e a seis meses, a taxa mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação, continuou no mínimo de sempre pelo terceiro dia (-0,274%).
No prazo a 12 meses a taxa Euribor permaneceu em -0,151%, enquanto a Euribor a nove meses caiu hoje para -0,206%.
Euro em máximos de Agosto de 2015 contra o dólar
A moeda única europeia está a valorizar 1,10% para 1,1642 dólares, estando assim a negociar nos mercados cambiais no valor mais alto face à divisa norte-americana desde 29 de Agosto de 2015 depois de já ter tocado nos 1,1658 dólares.
Também a valorização do euro está a ser potenciada pelas declarações hoje feitas por Mario Draghi, que não deu qualquer indicações no sentido de um atenuar da política monetária do BCE.
Petróleo desvaloriza
O petróleo segue em queda nos mercados internacionais, com o Brent, transaccionado em Londres e utilizado como valor de referência para as importações nacionais, a cair 0,38% para 49,51 dólares por barril.
Na mesma linha, em Nova Iorque o West Texas Intermediate (WTI) cai 0,47% para 46,90 dólares por barril.
Ouro regressa às valorizações para máximo de 30 de Junho
Depois de ontem ter desvalorizado pela primeira vez em quatro sessões, o metal precioso retomou esta quinta-feira as valorização estando agora a subir 0,43% para 1.246,55 dólares por onça, estando assim a transaccionar em máximos de 30 de Junho.
está a perder brilho pela primeira vez em quatro dias, penalizado pela recuperação do dólar. O ouro cai 0,2% para 1.239 dólares por onça, com os investidores focados nas decisões de política monetária do BCE, esta quinta-feira, e da Reserva Federal dos EUA, na próxima semana.

Fonte: Jornal de Negócios

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Não devemos ceder à BlackRock e à Pimco? Não temos de agradar aos mercados? (estatuadesal)

 

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 30/03/2017)
Autor
                         Daniel Oliveira

Como sabem, Portugal foi obrigado a experimentar uma solução para o Banco Espírito Santo que era uma experiência. Como sabem, a experiência correu mal e nunca mais será utilizada noutros países. Como sabem, os mesmos que nos transformaram em cobaias não serão responsabilizados por isso. Porque essa é a forma de funcionar da União: uns são eleitos, outros decidem; uns mandam, outros lidam com as consequências. Esta anomalia democrática explica grande parte dos erros cometidos na União: poder sem responsabilidade, soberania sem eleição. E como sabem, o Novo Banco será, seja qual for a solução, o pior negócio do século.
Mas hoje quero falar de outras consequências. Ao lidar com a solução que, diga-se em abono da verdade, apoiou e levou à prática, o Banco de Portugal decidiu, em dezembro de 2015, transferir algumas obrigações seniores do Novo Banco para o BES mau. Com esta decisão, vários grandes investidores ficaram a arder. É natural que assim seja. Foram eles que decidiram, mesmo quando muitos dados eram conhecidos, arriscar o investimento naquele banco. Foram enganados? Foram. Mas não foram enganados pelo Estado português. Foram enganados por um banco privado. E a razão pela qual pagam muito dinheiro aos seus quadros superiores é exatamente para evitarem estes enganos. Não foram enganados como a maioria dos lesados do BES. Arriscaram o engano, que é coisa diferente.
Houve quem nos tentasse convencer que a desconfiança dos investidores com Portugal tinha sido por causa do apoio de comunistas e bloquistas ao novo governo. Apesar de algum alarido pouco sério feito por alguns jornais internacionais – vale a pena ler algumas coisas que se escreveram para passar a desconfiar do rigor da imprensa económica de referência –, os investidores estão-se nas tintas para essas minudências. A decisão do Banco de Portugal em relação a grandes investidores no BES teve muitíssimo mais importância para o alarme criado.
Depois de recorrer aos tribunais, e esperando uma derrota provável porque a lei está do lado da decisão tomada, um grupo de investidores liderado pela BlackRock e pela Pimco decidiu lançar um boicote a Portugal. Não se trata de uma medida preventiva – não têm nada para prevenir –, mas de uma forma pública de pressão. O boicote mantém-se até o Estado decidir sacar aos seus contribuintes o dinheiro perdido por estes investidores num banco privado. E a pressão vai aumentar à medida que o BCE vá diminuindo a compra de dívida, explicam. Trata-se de uma chantagem assumida e sem qualquer prurido.
Aqueles que têm defendido que a política deve trabalhar a pensar nos “mercados” têm o dever de ser coerentes e defender uma cedência portuguesa. Os investidores fazem os seus investimentos e os contribuintes devem assumir os seus riscos. Caso contrário, pagam a fatura com boicotes, porque a vida é mesmo assim e tudo o mais são formas encapotadas de socialismo. E, por favor, não me digam que isto se resolve não tendo dívida. Os países com menor dívida pública e sem petróleo são Cuba, Kosovo e Suazilândia. Ter uma economia aberta obriga a ter acesso a crédito. É assim com as empresas, é assim com as Nações.
Os mercados são compostos por investidores que se estão nas tintas para a racionalidade económica ou a sustentabilidade dos países. Procuram quase sempre benefícios de curto prazo e quem governa ao sabor dos seus humores está condenado a atirar-se do precipício. Quem acha que não pode enfrentar os “mercados” deve estar preparado para destruir o Estado de Direito, rebentar com a democracia e assaltar os contribuintes em nome dessa demanda. Porque, estando em causa o dinheiro investido, nada disso é relevante. Nem quando as suas perdas resultam de decisões por eles tomadas.
Como se resolve isto? Voltando ao básico: ou dominamos os mercados ou eles nos dominam a nós. Não porque os mercados sejam maus, mas porque trabalham apenas com vista aos seus interesses. Cabe aos Estados pensar nos nossos. E é por isso que retirar aos Estados instrumentos fundamentais de soberania financeira, monetária e económica é um erro.
Claro que o BCE podia impedir tudo isto. Assim como a União Europeia podia vergar quem se atreve a tão descarado ato de chantagem política. Mas, como sabemos, os senhores de Frankfurt e de Bruxelas estão tão preocupado com o nosso futuro como os da BlackRock e da Pimco.

Ovar, 3 de abril de 2017
Álvaro Teixeira

Insuficiências (estatuadesal)

 

 

 
(Mariana Mortágua, in Jornal de Notícias, 28/03/2017)
mariana_mortagua
 
Queriam que ficássemos mais pobres, e o país empobreceu. Queriam-nos mais flexíveis, mais baratos, e o país criou o seu batalhão de precários quinhentos-euristas. Queriam-nos mais dóceis, e o país aguentou. Aguentou a troika e o Governo Passos/Portas. Aguentou o ataque aos salários, os impostos e a humilhação. Porque em terra de cristãos a culpa não morre solteira, a preguiça é um pecado e os povos honrados pagam sempre as suas dívidas. Ou assim nos foi dito.
Tudo o que Portugal recebeu desta Europa na última década foi autoritarismo e austeridade. Uma terapia de choque sem qualquer fundamento económico ou racional. Puro radicalismo ideológico misturado com uma boa dose de preconceito. Afinal, as declarações de Dijsselbloem não são mais do que uma interpretação rasca do discurso oficial da irresponsabilidade dos países do Sul.
Se excluirmos os juros, Portugal tem hoje o saldo orçamental mais elevado da Europa. Demasiado foi sacrificado para obter esse resultado, mas dizem-nos que não chega. O Banco Central Europeu quer agora sancionar o país pelos desequilíbrios macroeconómicos. É claro que não importa para esta história que, segundo as regras, o BCE não possa interferir com o poder político. E também não interessa que, segundo o mesmo procedimento que o BCE invoca, a Alemanha deveria ser multada. Sim, porque é tão desequilibrado o défice comercial em excesso como é o excedente predatório. Não interessa nada. A Alemanha é Alemanha, a França é a França, e em Portugal não chega.
Não chega para o BCE nem para a Comissão Europeia, que veio ontem recomendar mais cortes, mais permanentes. E também no sistema financeiro não chega. Não basta vender uma parte do Novo Banco, querem garantir que o Estado não manda, mesmo quando paga. Não chega, nem nunca vai chegar.
Pois vai sendo tempo de dizer que uma Europa onde só cabe quem obedece é uma Europa onde a democracia não chega, nem nunca vai chegar. E esse, sim, é o défice mais insuportável de todos.
 
Ovar, 3 de abril de 2017
Álvaro Teixeira