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sexta-feira, 23 de junho de 2017

Pedrógão Enorme



por estatuadesal
(João Quadros, in Jornal de Negócios, 23/06/2017)
quadros
É muito triste escrever sobre o tema desta semana. É triste e monótono. Incêndios em Portugal. Andamos há anos nisto. Gastámos milhões num tal de SIRESP que, em termos de comunicações, acabou por ser como o meu pai com o telemóvel. Dezasseis horas incontactável porque estava no modo silencioso.
Vamos ver o que é o SIRESP e sabemos que, na origem, foi adjudicado a uma holding do BPN. 17 de Junho de 2017 e morrem pessoas em incêndios e ouvimos falar no BPN. Os bancos fizeram-nos muito pior do que nós imaginamos. Por tudo o que tenho ouvido por aí, penso que aquele senhor redondo do SLB, o Pedro o Guerra, é que devia ir dirigir o SIRESP.
Para piorar tudo isto, a cobertura jornalística do incêndio mostrou que, além de reformular a floresta, precisamos de dar uma grande volta ao jornalismo. Estou tão farto de ver filmar pessoas a chorar que já não tenho sal no corpo e estou cansado de ouvir textos jornalísticos/poéticos que juntam lume com inferno e céu com penumbra de cinza. Vocês, jornalistas, estão a dar a notícia de um incêndio, não estão a fazer o prefácio de um livro do Chagas Freitas. Ainda nem fazem bem jornalismo e já querem ser escritores.
Não se filma, e entrevista, um homem que acabou de perder, carbonizados, a mulher e os filhos. Ele até pode responder às vossas perguntas, mas tanto falava para um microfone como para um sapato. Perguntar a uma pessoa desfeita como se sente depois de uma tragédia destas devia merecer uma tareia com um pau em brasa, dada pelos psicólogos, que deviam estar a evitar isto. Aliás, preocupa-me é se mande para o Pedrógão, no meio dos psicólogos, o Quintino Aires.
Aproveito para expressar aqui o meu ódio para com aquelas pessoas que vão "ver o fogo". As pessoas que vão ver o fogo... ui. A minha ideia era uma inundação em casa, até ao tecto, e filmada para eles verem quando voltassem de "ver os fogos."
A floresta em Portugal é o centro de mesa daquilo a que chamaram o arco da governação. É a personificação vegetal do centrão. Dos interesses e desinteresses.
Há tanta coisa para esclarecer, e vão ter de rolar cabeças, mas sabem por que é que muitas daquelas pessoas se safaram? Porque estão habituadas a andar 100 km para ter um médico, ficar sem água, etc. É uma luta, têm de improvisar. Aquilo é gente rija que não se queixa porque o metro está atrasado dez minutos ou porque fazem falta mais vinte estações. Viver um ano no interior abandonado de Portugal devia fazer parte do curso dos comandos.
Além dos interesses económicos, o interior vale meia dúzia de votos. Na verdade, se não fossem lá filmar os incêndios, nós nem dávamos pelo que tinha acontecido. Podiam arder aldeias que só saberíamos anos depois. Tirando a aldeia de Picha, que conhecemos porque gostamos de fazer trocadilhos, o resto não fazia parte dos nossos mapas. Estas pessoas que insistem em viver no interior são uma chatice. Aquilo já era para estar abandonado há anos. São uns teimosos. Tiram-lhes os médicos, os correios, as escolas, e elas insistem em viver ali. Chatas!

Um Bentley em Oliveira de Azeméis

Bárbara ReisBárbara Reis

Opinião

Nada a dizer sobre quem ganha para comprar um Bentley. Mas quando um autarca recebe 4000 euros brutos por mês não deixa de ser estranho que tenha um carro igual ao de Mario Balotelli, o jogador italiano que não é conhecido por ser pobre.

23 de Junho de 2017, 7:45

O Bentley de Hermínio Loureiro que foi apreendido pela Judiciária
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O Bentley de Hermínio Loureiro que foi apreendido pela Judiciária DR
Em Oliveira de Azeméis, um Bentley não precisa de ser verde alpino metálico para dar nas vistas. Nem de ser um Bentley Mulsanne, o modelo topo de gama que custa quase meio milhão de euros.
Um Bentley é um Bentley e em Oliveira de Azeméis — que tem 20 mil pessoas e 27 quilómetros quadrados — terá sido difícil ao autarca Hermínio Loureiro atravessar a Avenida Dr. António José de Almeida a caminho do Teatro Caracas, refundado por um antigo emigrante da Venezuela, sem impressionar.
Hermínio Loureiro, que foi deputado, dirigente nacional do PSD, secretário de Estado do Desporto de Pedro Santana Lopes e presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis entre 2009 e 2016, foi detido esta semana por suspeita de crimes de corrupção, prevaricação, peculato e tráfico de influência. Com ele, foram também detidos Isidro Figueiredo, que o sucedeu na autarquia, um funcionário da câmara e quatro empresários. A Polícia Judiciária arrestou 15 imóveis, seis milhões de euros e seis carros de luxo. Um deles é um Bentley Continental GT, o que os especialistas definem como “modelo de entrada”, ou seja, o Bentley mais barato. Custa entre 234 mil e 314 mil euros.
Percebe-se o gosto do ex-autarca. Há muitas pessoas que têm um Bentley. O que Hermínio Loureiro guiava é bem mais discreto do que o Bentley cor-de-rosa de Paris Hilton, o Bentley Mulsanne de David Beckham, o Bentley descapotável de Schwarzenegger e Sylvester Stallone, ou o Bentley Flying Spur do príncipe William. Nada a dizer sobre isso. E nada a dizer sobre quem ganha para comprar um Bentley. Mas quando um autarca ganha cerca de 50% do vencimento-base atribuído ao Presidente da República, ou seja, mais ou menos 4000 euros brutos, não deixa de ser curioso que tenha um carro igual ao de Mario Balotelli, o célebre jogador de futebol italiano que não é conhecido por ser pobre.
PÚBLICO -
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PÚBLICO -
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Hermínio Loureiro, ex-presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis (cima) e o seu sucessor Isidro Figueiredo (de bicicleta, com o ministro do Ambiente, a inaugurar uma ciclovia) foram ambos detidos esta semana

Desde que foi eleito, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa — que na campanha presidencial percorreu o país num carro que, não sendo um boguinhas, é o chamado “carro utilitário” — tem pedido mais transparência na política e menos “compadrio com o poder económico”. No seu discurso do 5 de Outubro definiu a “ética republicana” deste modo: “De cada vez que um responsável público se permite admitir dependências pessoais ou funcionais, se distancia dos governados, alimenta clientelas, redes de influência e de promoção social, económica e política, aos olhos do cidadão comum é a democracia que sofre.”
Não sabemos se Hermínio Loureiro prevaricou ou traficou influência — e infelizmente vamos ter de esperar muito tempo para ter respostas. Mas sabemos que em Portugal não existe sequer uma lei que criminalize o enriquecimento injustificado, nem mesmo uma simples lei que defina regras sobre os valores máximos dos presentes que os titulares de cargos políticos podem receber. Lembro-me de há uns anos Jaime Gama, quando era Presidente da Assembleia, ter perguntado quantos euros custa uma “vantagem indevida” e ter ficado sem resposta. Na rentrée de 2010, o Parlamento aprovara novas regras de combate à corrupção e criara o “crime de recebimento indevido de vantagem” para os funcionários públicos, punido com uma pena de cinco anos. Mas não se definiram valores.
Agora, sete anos depois, a comissão parlamentar para o reforço da transparência parece estar prestes a chegar a consenso para aprovar uma norma geral que obrigue o Parlamento, o Governo, o poder regional e local e a administração pública a fazerem códigos de conduta que incluam o valor dos presentes a partir do qual as ofertas devem ser devolvidas ou entregues ao Estado. Mas arriscamo-nos a ficar sem valores — outra vez. A ideia é que não haja um número absoluto nacional e, em vez disso, cada órgão identifique o seu limite.
Confesso que não compreendo porque é que é diferente oferecer uma obra de arte, um carro ou uma viagem de férias a um deputado da Assembleia da República ou a um vereador de uma pequena freguesia rural. Condiciona mais ou condiciona menos? Um quadro do Picasso condiciona menos em Lisboa do que em Oliveira de Azeméis, onde não há um museu de arte contemporânea? Uma caixa de robalos vale mais no interior porque o mar está longe? Dez euros valem mais no Congo do que na Suíça. Mas dentro de Portugal a diferença não justifica empurrar mais um vez este problema com a barriga.
Em teoria, todos sabemos o que é uma “mera cortesia”. Na prática, porém, a ausência de um valor presta-se a mil interpretações. O CDS propôs um tecto de 150 euros e o Bloco de Esquerda de 60. Mais do que discutir qual valor protege melhor a democracia e a independência (na SONAE, proprietária do PÚBLICO, o tecto são 100 euros e no governo de António Costa são 150), seria bom concordar com a ideia simples de que deve haver um número. Não é por acaso que o tema não nos abandona. Quem não se lembra do presente chamado "liberalidade" em forma de 14 milhões de euros que Ricardo Salgado recebeu de um amigo construtor civil? Uma lei com um valor fixo não acabará com a corrupção. Mas regras claras e espartanas fazem bem à democracia.
Já agora, uma última questão. Esta lei — e lamento se induzi o leitor em erro — nada tem a ver com Hermínio Loureiro. O “seu” Bentley azul não era seu. Está em nome de um empresário seu conhecido. O ex-presidente da Câmara só andava com ele.

Fonte: Público

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Processo "Ajuste Secreto" pode chegar a Ovar e a mais concelhos do distrito

Hermínio Loureiro e o seu sucessor à frente da Câmara de Oliveira de Azeméis, Isidro Figueiredo, são encarados pela Polícia Judiciária do Porto (PJ) como os principais arguidos da Operação Ajuste Secreto — apurou o Observador junto de fontes próximas do processo. Suspeitos de corrupção passiva, prevaricação, entre outros crimes de funcionário, Loureiro e Figueiredo são apontados pela PJ como os alegados autores de um esquema de manipulação de adjudicação de contratos públicos que terão beneficiados diversas empresas de construção de obras públicas.
Lançada esta manhã, a Operação Ajuste Secreto levou à detenção de Loureiro, Figueiredo, um funcionário camarário e de mais quatro empresários que estarão ligados às empresas de construção envolvidas no caso, sendo suspeitos de corrupção ativa.
A PJ já apreendeu 15 imóveis, seis viaturas e solicitou o congelamento judicial de um total de cerca de 6 milhões de euros depositados em diversas contas bancárias. Todos estes bens e valores poderão ter, na perspetiva da Judiciária, uma alegada origem ilícita relacionada com a investigação em curso. Daí a sua apreensão judicial.
Estão em causa a adjudicação de diversas obras relacionadas com clubes de futebol do concelho de Oliveira de Azeméis, nomeadamente com a União Desportiva Oliveirense (o principal clube do concelho), Atlético Clube de Cucujães e Futebol Clube Macieirense. Há mais dois clubes de futebol envolvidos.
De acordo com fontes da PJ, o esquema consistia numa alegada manipulação dos ajustes diretos que precediam as obras pagas pela autarquia.



  • As empresas de construção civil seriam escolhidas a dedo pelos responsáveis camarários, de forma a combinarem entre si os preços das propostas que apresentariam à autarquia;
  • O vencedor do ajuste direto (que, desde a criação do Código dos Contratos Públicos no Governo de José Sócrates, passou a assemelhar-se a uma consulta ao mercado através de convite dirigido a diversas empresas) ficaria determinado logo à cabeça pelas sociedades;
  • O preço final da obra era sempre claramente sobreavaliado, de forma a que os montantes remanescentes entre o custo real e aquilo que a autarquia pagava fosse alegadamente desviado.




A Diretoria do Norte da PJ anunciou no comunicado desta manhã que tinha realizado buscas judiciais em cinco autarquias. Ao que o Observador apurou, as autarquias de Matosinhos, Gondomar e Albergaria-a-Velha foram visitadas pelos magistrados do Ministério Público e pelos cerca de 90 inspetores da PJ que participaram nas diligências.
Contudo, os executivos dessas autarquias não são visados pela investigação em curso. As buscas realizadas tinham como objetivo a obtenção de documentação das empresas envolvidas nos ajustes diretos da Câmara de Oliveira Azeméis. Segundo fontes próximas do processo, os Executivos liderados por Hermínio Loureiro e Isidro Figueiredo são, para já, os únicos visados do inquérito que é tutelado pela secção de Santa Maria da Feira do DIAP de Aveiro, visto ser esta a comarca territorialmente competente.
Hermínio Loureiro, Isidro Figueiredo e os restantes detidos foram ouvidos esta tarde nas instalações da Diretoria do Norte da PJ e só amanhã deverão ser ouvidos pelo juiz de instrução criminal do Tribunal de Santa Maria da Feira para a fixação das primeiras medidas de coação. É desconhecido o estabelecimento prisional onde deverão passar a noite.
Ao que o Observador apurou, José Francisco Oliveira será o funcionário camarário detido. Trata-se de um aliado político de Hermínio Loureiro que é presidente da concelhia do PSD de Oliveira de Azeméis e secretário da distrital social-democrata de Aveiro.
Outro dos detidos será o empresário João Sá. É um ex-deputado do PSD que se dedicou aos negócios na área do Ambiente. Sá chegou a ser falado na década passada como candidato do PSD à Câmara da Trofa.



Notícia retirada do Site Observador
(Artigo da autoria de Luís Rosa)
O Processo "Ajuste Secreto" poderá vir a ser um terrível terramoto político no distrito de Aveiro. Estão em causa eventuais infracções cometidas em torno de concursos adjudicados por Ajuste Directo. Por outras palavras, o Ajuste Directo, adjudicação de obras a empresas por convite sem a realização prévia de concurso, embora eticamente pouco recomendável, é permitido por lei, contudo quando este se torna recorrente e envolve a troca de favores ou contrapartidas ilícitas (por ex: desvios de somas importantes) já assume proporções criminais.
É plausível que as buscas já realizadas em cinco autarquias possam não ficar por aqui. As autoridades querem apurar todas as ligações possíveis, e acredita-se que estas também deverão estender-se até Ovar e a outros concelhos, caso os promotores da investigação achem necessário. Recordamos para esse efeito que a empresa Paviazemeis, visada no processo, teve aqui obras importantes. Por exemplo, a recente pavimentação da Rua da Indústria em Esmoriz foi-lhe adjudicada, mas houve outras mais que lhe foram confiadas pelo município vareiro. Outras personalidades visadas estão fortemente conotadas com a Secção Distrital do PSD Aveiro, liderada desde 2016 pelo actual presidente do município de Ovar. Claro que estes dados não servem para provar (ou sequer indiciar) rigorosamente nada, mas podem ser suficientes para suscitar a atenção dos investigadores que estão dispostos a explorar a fundo todas as vertentes do caso, de forma a evitar um cenário de arquivamento ou de morosidade burocrática.
Embora as buscas nas edilidades tenham como o intuito apurar mais dados comprometedores das personalidades políticas e empresas de construção acusadas inicialmente, a verdade é que o processo poderá ter, em breve, mais arguidos, caso assim se justifique.
Uma fonte privilegiada adverte que Ovar poderá ser uma das autarquias a ser alvo de buscas muito em breve, visto que a investigação ainda está numa fase inicial, pelo que se pretende apurar todas as ramificações.
Com este texto, não queremos insinuar que teremos arguidos aqui em Ovar (e mesmo que estes venham a ser notificados, existe sempre a "presunção de inocência" num estado democrático), até porque é prematuro retirar esse tipo de conclusões e não temos o direito de julgar ninguém. Todavia, é provável que quase todo o distrito seja alvo de uma forte investigação judicial.
O epicentro do terramoto registou-se em Oliveira de Azeméis mas as réplicas poderão repercutir-se por todo o distrito de Aveiro.
Imagem nº 1 - O Ajuste Directo é o mais recente escândalo de corrupção que envolve altas figuras políticas do distrito de Aveiro. A "bomba" rebentou em Oliveira de Azeméis, mas a investigação já chegou a outras autarquias e pode não ficar por aqui.
Postado por O cusco de Esmoriz às 19:35

Quinta rodeada de carvalhos e castanheiros escapou ao fogo

As chamas que se abateram sobre o centro do país estiveram muito perto da Quinta da Fonte, em Figueiró dos Vinhos. Tudo ardeu à volta, menos as árvores autóctones plantadas há décadas.
Liedewij Schieving ainda recupera do susto de sábado e domingo, quando o fogo atingiu Figueiró dos Vinhos. A viver há 10 anos em Portugal, aquela empresária holandesa nunca tinha passado por semelhante situação.
"Aqui ardeu praticamente tudo. Havia muitos eucaliptos que não resistiram às chamas", refere Liedewij Schievin.
Uma mancha verde destaca-se da paisagem negra envolvente, que retrata a violência do incêndio. "A única coisa que não ardeu foram os carvalhos, os castanheiros, oliveiras e sabugueiros", explica.
Os bombeiros "não estiveram no local" e as árvores que lá estão "há muitas décadas protegeram a quinta e sobreviveram por si", disse Liedewij Schievin.
Carvalhos e castanheiros salvam quinta das chamas© DR Carvalhos e castanheiros salvam quinta das chamas


citacao "A única coisa que não ardeu foram os carvalhos, os castanheiros, oliveiras e sabugueiros" centro
No Facebook, aquela holandesa, de 50 anos, publicou vídeos e fotografias da zona envolvente à propriedade, que despertaram o interesse dos cibernautas.
Já no início da semana, a foto de uma outra utilizadora fez sucesso na internet. Novamente uma mancha verde, com carvalhos e castanheiros, destaca-se no meio de vários eucaliptos totalmente dizimados pelo fogo, na sequência do fogo em Pedrógão Grande.
"Apesar de não ser a minha propriedade, achei importante partilhar a imagem para demonstrar que as árvores nativas podem ser muito efetivas no combate ao fogo", explicou Tania Sullivan ao JN.

Fonte: JN

O eucalipto da Quinta da Coelha



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 22/06/2017)
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O país tinha acabado de entrar na CEE, iria receber milhões de ajudas para o setor agrícola que durante mais de meia década beneficiaria de um regime de transição. Estava em causa uma profunda revolução na política agrícola. Portugal tinha uma economia atrasada, com grandes problemas na qualificação de uma população ativa excessiva, sem uso de tecnologias, com grandes problemas na estrutura da propriedade fundiária.
Cavaco Silva era primeiro-ministro e escolheu um engenheiro civil da Soporcel, a grande empresa do setor da celulose, para o cargo de ministro da Agricultura do IX Governo Constitucional, que tomou posse em 1983, tendo sido renovado na pasta nos X e XI Governos Constitucionais, isto é,  foi o ministro da Agricultura do Cavaquismo, tendo assumido o cargo ainda antes da entrada de Portugal na CEE, condicionando, desde logo, todo o processo de transição.
Com a entrada na EU deu-se início a um processo de transformação forçada e acelerada no setor agrícola. Nada se fez na estrutura fundiária, quase nada se fez na promoção do setor agroindustrial, nada se fez na promoção do regadio (Cavaco boicotou de forma militante o projeto de Alqueva), nada se fez na qualificação dos trabalhadores e empresários agrícolas, nada se fez no domínio das universidades e investigação no setor.
Assistiu-se muito simplesmente a uma redução acelerada da população ativa que envelheceu ou foi absorvida pelo próspero setor da construção e obras públicas, os agricultores ou emigravam ou iam para serventes de pedreiro. Se nas cidades Cavaco elogiava o crescimento do setor dos serviços e, em especial, a banca, na agricultura apontava-se a redução brutal da população ativa como símbolo da sua modernização.
Só que esta redução da população agrícola, que levou á desertificação do interior, não resultou do aumento da produtividade no setor, mas sim a uma aposta no setor dos cereais em prejuízo de quase todos os outros, designadamente, das carnes. Contado com o apoio da poderosa CAP os cereais foram os grandes ganhadores. Por outro lado, compensava-se o abandono das terras com a plantação de eucaliptos. A busca de ajudas para alimentar a máquina de propaganda cavaquista levou os governos de Cavaco a aproveitarem as compensações que a CEE dava a tudo o que era abandono de produções agrícolas e da pesca.
Para ter dinheiro para estradas feitas à pressa, como a IP5, que eram inauguradas antes das eleições, de que hoje Cavaco se gaba de ter sido um campeão, destruíam-se os setores da agricultura e da pesca. Matavam-se dois coelhos com uma cajadada, Cavaco ganhava as eleições e a SOPORCEl transformou-se num império, transformando um pequeno país do Sul num grande exportador de papel.
Hoje Cavaco está tranquilamente a assistir aos incêndios na sua luxuosa e fresquinha vivenda na Quinta da Coelha, certamente orgulhoso da sua obra e a culpar os seus sucessores pelos incêndios que por aí vão queimando os seus queridos eucaliptos. Só é pena que o eucalipto mais resistente ao fogo seja aquele que em tempo ganhou a alcunha de eucalipto da classe política.