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domingo, 5 de novembro de 2017

Presos políticos em Espanha

Aventar

por António de Almeida


Carles Puidgemont mostrou que não é um verdadeiro líder, não está à altura dos que nele votaram e acreditaram. Mas concorde-se ou não com a independência da Catalunha, há que reconhecer que estão pessoas presas pelo Estado espanhol, mesmo que preventivamente, sem terem sequer sido condenadas. Isto apesar de não terem resistido à aplicação do famigerado artigo 155, nem promovido qualquer violência. Não são políticos presos, são presos políticos o que diz bem da natureza da Espanha. Felizmente que nos livrámos em 1640.

Ai Raul Vaz, Raul Vaz.



por j. manuel cordeiro

No programa Contraditório de ontem, na Antena 1, Raul Vaz faz o seu spin sobre a entrevista de Rui Rio que saiu hoje nesta estação de rádio. Mas, sobretudo, aproveita para valorizar Passos Coelho.
Rui Rio, se fosse eu [sic] ou se fosse Pedro Passos Coelho, não governaremos [sic] para o presente. Ou seja, governaríamos para o futuro. Isto é o que Rui Rio diz. E usa, de facto, aqui Pedro Passos Coelho de uma forma que, acho, inteligente, séria e verdadeira. Ou seja, Passos Coelho não governará [sic] para o presente. Teria em consideração, penso, também o futuro.
Há uma proposta do Bloco de Esquerda que o governo vai provavelmente comprar, que é as reformas antecipadas entre 2011 a 2015 terem um bónus. Repare-se neste anacronismo. É quase esquizofrénico. As pessoas que se reformaram entre 2011 e 2015, antecipadamente, é um acto voluntário [sic]. Sabiam as condições. (...) Isto não faz sentido nenhum. Esta retroactividade. Governar para o futuro é ter presente as dificuldades do presente e criar condições melhores para o futuro. (...) [Raul Vaz, 3/11/2017]
No entanto, Raul Vaz omite um pequeno detalhe. As regras foram mudadas a meio do jogo.


O Presidente da República e a transparência

Estátua de Sal

por estatuadesal

(Por Carlos Esperança, in Facebook, 04/11/2017)

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(Este texto sugere-me a seguinte reflexão: será que o Governo não deverá, perante tantas delongas em dar a conhecer os resultados de um inquérito, escrutinar a Presidência, tal como esta não se cansa de advertir que o fará em relação ao Governo? Marcelo anda tão ocupado com beijos e abraços que não tem tempo para exigir que o dito inquérito seja concluído? Ou acha que, como a comunicação social esqueceu o assunto, não tem obrigação de prestar contas ao País?

Estátua de Sal, 04/11/2017)


O atual inquilino de Belém não precisava da comparação com o antecessor, o que, aliás, seria descabido, para ser considerado um cidadão probo em relação ao uso de dinheiros públicos ou à prática de negócios privados que desmerecessem o exercício do cargo, incluindo os gastos com o órgão de soberania cuja vigilância lhe cabe. É um cidadão honrado. Ponto.

Assim pudéssemos louvá-lo na defesa da laicidade do Estado ou na sobriedade exigível nas declarações políticas, quando excedem a competência das funções presidenciais, ou no derramamento de afetos ao domicílio!

Como excelente constitucionalista, qualidade que acrescenta a muitas outras, sabe que a CRP não lhe permite alimentar pretensões peronistas, se acaso as tivesse, e que Portugal não as aceitaria, ainda que dispusesse de uma Evita. Nesse aspeto estamos descansados.

Já quanto à utilização da sua alta popularidade para condicionar o voto dos portugueses, goste-se ou não, é a vida. Nada podemos fazer quando nos agrada ou desagrada. Não se pode exigir a um conservador que seja progressista e que vá além do que a Constituição lhe exige.

Se o abuso das funções, por irrefreável devoção pia, o leva a beijar os anéis dos bispos e o do Papa, numa humilhação que envergonha a República, não pode ser aplaudido pelos que defendem a separação do Estado e das Igrejas, nessa alarmante perversão simbólica.

Quando, na euforia beata, se desloca a Fátima, na qualidade invocada de PR, e se afirma representante de crentes e não crentes, os últimos consideram-no um mero acólito numa infeliz peregrinação em que deu caução à burla das aparições, um ato para que lhe falta alvará e onde carece de legitimidade para representar os crentes.

Do que Sua Excelência não está livre é do escrutínio dos portugueses, quer pelo que faz, quer pelo que esquece. E, no que esquece, é bom lembrar que o País desconhece o que foi feito dos quadros do Museu da República que alegadamente o antigo Diretor levou para casa, dizendo que eram seus. Eram ou não eram?

Quanto ao inquérito, (Ver notícia de 21/06/2016, aqui), sobre a displicente vigilância sobre os gastos pelo seu antecessor, quando é que o atual PR divulga as conclusões? Ou o País não deve exigir conhecê-las?

sábado, 4 de novembro de 2017

Quais As Profissões Que Vão Desaparecer!

TEAM IMPACT™
Olá!
Quais As Profissões Que Vão Desaparecer!
Se te recordas do meu ultimo e-mail, falava deste tema.
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SÃO 5, AS PRIMEIRAS PROFISSÕES A DESAPARECER

Agente de Viagens: a tecnologia permite que se reservem hotéis e marquem viagens de avião ser ter de recorrer a agências de viagens, na maioria das vezes até por preços bem mais baixos e com um serviço mais preciso e eficiente. É por isso que, segundo o estudo, as tradicionais agências de viagens vão fechar.

Bancários: as transações nos bancos são, cada vez mais, feitas através da Internet. De acordo com o estudo, dentro de poucos anos tudo será automatizado ou gerido online.

Operador de Telemarketing em Call Centers: as grandes empresas usam, cada vez mais, a tecnologia para complementar os seus serviços. A melhoria dos equipamentos de reconhecimento de fala e os avanços da tecnologia artificial vão fazer com que esta profissão desapareça dentro de três décadas.

Caixa de Supermercado: os grandes supermercados estão todos a implementar sistemas automatizados. No futuro, talvez até paguemos as alfaces com 'bitcoins'.

Maquinistas: em 2050 vão continuar a existir comboios, mas vão ser pilotados automaticamente, tal como já acontece hoje em dia com pequenos comboios de transbordo em alguns aeroportos.

E TU, VAIS FICAR À ESPERA?
Estou aqui para te ajudar! Não te esqueças.


Chamem o Antifluffy

Estátua de Sal

por estatuadesal

(José Pacheco Pereira, in Público, 04/11/2017)

JPP

Pacheco Pereira

Os meus amigos do Media Lab for Citizenship, que organizam um evento anual, o Future Places, criaram uma personagem de um jogo anti-Pokémon, chamada Antifluffy. Conforme o nome indica, a personagem que se desloca nos eventos, com um homem por baixo, é exactamente o contrário de fofinha (nem acredito que escrevi esta palavra...), e por isso ninguém quer acariciar um Antifluffy com o seu corpo coberto de fitas negras de celulóide. Pois eu lembrei-me do Antifluffy como uma necessidade pública urgente para soltar no meio da nossa política, na Presidência, no Conselho de Ministros, em Belém e S. Bento e nos candidatos do PSD, onde também estão precisados de um antiproximidade. E também nos jornais, nas rádios e na televisão, que transpiram “casos humanos” e a exploração comercial da tragédia dos fogos, facilitando o perigoso contínuo da má política para o populismo.

Eu explico-me: já não posso com tantos afectos, tanto desejo de estar em cima das pessoas, tanta vontade de envolver tudo e todos numa sopa de pathos, como se fosse o pathos o que mais falta à vida pública portuguesa. Bem pelo contrário, o que falta é um quantum de racionalidade, nem sequer um quantum, que já por si só seria revolucionário, mas uma gigantesca dose de razão, de argumentos, de raciocínios, em vez de tornar a vida pública num festival de beijos e abraços, e de muita lamechice em relação à dor alheia. O problema é que quase se pode fazer uma correlação: quanto mais lamechice, menos reformas e menos mudanças. E de mudanças e reformas é que a nossa vida pública mais precisa.

Como muitas vezes escrevi e repito, a democracia precisa de doses equilibradas de logos(razão), pathos (emoção) e ethos (moral, virtude) e infelizmente está longe de as ter. Bem sei que atravessamos uma tragédia e as memórias vivas dessa tragédia estão por todo o lado. Compreende-se a emoção e seria mau que não existisse, e isso fez a diferença que tramou o primeiro-ministro e bem. Mas, passada a primeira e genuína impressão, naturalmente emotiva, há toda uma sobriedade que falta, há todo um momento em que há que dizer chega e passar para aquilo que é mais útil para todos, a começar por aqueles que perderam tudo nos fogos. Essa altura já passou há muito, e continuar no terreno do pathos, entre o genuíno e a exploração sentimental, não ajuda a resolver problema nenhum. Bem pelo contrário, é a melhor receita para uma política de má qualidade. O pathos é inimigo do tempo que é necessário para pensar, vive da imediaticidade.

Sabemos que o Presidente da República é aquilo a que já chamei, muito antes dos fogos, o Príncipe dos Afectos. Ninguém põe em causa que teve um papel na descompressão da depressão que vinha dos anos do “ajustamento” e da crise gerada nas últimas eleições. Nem sequer se pode pôr em causa que, em determinados momentos, os seus gestos são apaziguadores e necessários. Mas, se há coisa em que ter conta, peso e medida é vital para fazer a diferença, é na afectividade pública. Aliás, já havia excessos anteriores, em que desde a queda de uma avioneta até um acidente numa fábrica pirotécnica motivavam uma visita do Presidente, cuja popularidade é incontestável, mas cuja quase obsessão pela proximidade tem efeitos políticos perversos. Não é que pense que o Presidente queira ser protagonista de uma política populista que coloque em risco a separação de poderes e pretenda um poder pessoal, mas os efeitos sociais de um estilo populista de fazer política são perigosos, para além do protagonismo pessoal do actual Presidente. Uma das razões desse risco é ajudar a criar um padrão de comportamento dominante que pressione tudo e todos a segui-lo num mesmo “estilo”. A pressão sobre António Costa para um pedido de desculpas começou por ser uma constatação de que Costa procedera mal no momento mais agudo dos fogos, para se tornar uma exigência para que ele se comportasse “como o Presidente”. É o mesmo tipo de padrão que leva Pedro Santana Lopes a fazer a diferença do seu adversário centrada na “proximidade com as pessoas” e não na qualidade das políticas e propostas. E é, muito mais grave pelo seu poder multiplicador, o discurso da comunicação social, em particular as televisões “estetizando” os incêndios e valorizando o poder comunicativo da dor.

A política que se move preferencialmente no terreno das emoções, seja com pretexto na corrupção, seja na reacção à criminalidade, seja nas causas de indignação anti-“sistema”, seja também na sequência de tragédias quer individuais, quer colectivas, tem efeitos devastadores na racionalidade, nas pressões sobre os tribunais e nas “sentenças exemplares”, no justicialismo face ao crime, na falta de uma solução equilibrada para o pagamento que a democracia deve fazer aos seus eleitos ou aos seus custos de financiamento, resultando sempre no alimento que dá ao populismo. O populismo moderno, cujo reservatório são as “redes sociais”, tem hoje uma capacidade de potenciação enorme à medida que as mediações fundamentais para a democracia entram em crise, a começar pelo jornalismo profissional, ou a hierarquia dos saberes, ou as instituições representativas.

Uma democracia não pode viver sob uma espécie de ditadura dos afectos, o que não quer dizer que possa viver sem emoções. Mas trata-se de coisas distintas, sendo que, se se abafa o papel da racionalidade, o que acontece depois destes banhos afectivos, são muito más decisões, tomadas à pressa para dar um escape à pressão, mas que ou não mudam nada, ou, pior ainda, inquinam por muito tempo condições que a tragédia proporciona para realizar melhorias.

Não é crueldade nenhuma perceber que a dimensão da tragédia facilita reformas reais, porque criou uma tábua rasa a partir da qual muitas medidas de raiz podem ser tomadas, porque o “mundo velho” ardeu e já não existe. Por exemplo, no caso dos incêndios, há medidas imediatas que não podem ser adiadas, e há medidas que devem ser adiadas para serem bem pensadas e decididas com discernimento. É este segundo caso que o populismo afectuoso atinge com a sua pressão do imediato.

Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem. Não precisa de grandes inteligências, nem de grandes moralidades públicas, mas sim de bom senso e de honestidade básica. Exige uma enorme parcimónia na exibição pública e, sem dúvida, uma certa capacidade de comunicação aliada a uma severidade na fala pública. E precisa, como pão para a boca, de mais razão, menos soundbites, mais argumentos e menos espelhos em que se ouve, ou lê ou vê apenas aquilo de que se gosta, ou de imagens que nos manipulam o corpo pelos afectos e nos encolhem a cabeça.