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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Centeno no Eurogrupo seria uma péssima notícia

Estátua de Sal

por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 09/11/2017)

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Quando Durão Barroso foi escolhido para presidente da Comissão Europeia, cargo que aceitou sem pestanejar apesar do compromisso que tinha com os portugueses, o provincianismo nacional, sempre sedento de aprovação externa, celebrou. E instalou-se a ideia de que Barroso, num lugar como aqueles, iria ser muito útil ao país. Sabemos que nenhum presidente da Comissão teve um mandato tão prejudicial para os interesses nacionais como ele.

Ainda hoje há quem acredite que a falta de apoio a Portugal se deveu à deslealdade e falta de patriotismo do atual quadro da Goldman Sachs. Enganam-se. Com outro seria igual. Barroso foi escolhido por ser fraco (e por vir de um país fraco) e facilmente manobrável por aqueles a quem devia a sua eleição: as maiores potências europeias. Ele nunca nos poderia ser útil. Tudo isto se passará se Mário Centeno for escolhido como presidente do Eurogrupo. Só que em pior, porque o cargo acumula com o de ministro das Finanças e acabará sempre por determinar a ação interna do ministro.

A escolha de Mário Centeno para presidente do Eurogrupo seria um presente envenenado que criaria enormes dificuldades ao país. A partir do momento em que Centeno passasse a ser o presidente do Eurogrupo, o seu cargo de ministro das Finanças confundir-se-ia com o seu cargo europeu.

Não poderia ser firme com outros Estados se não cumprisse tudo à risca ou até mais do que à risca. Não poderia dar-se a si mesmo qualquer espaço de manobra. O que quereria dizer que Portugal deixaria de poder negociar com Bruxelas. Pelo contrário, teríamos de ser mais papistas do que o Papa na aplicação de uma ortodoxia orçamental que é nociva para a economia. Qualquer desastre que acontecesse em Portugal, fosse responsabilidade do Governo ou não, teria de contar com tolerância zero daquele que deixaria, na realidade, de ser quem negociaria os interesses de Portugal na Europa para passar a ter de dar provas permanentes de bom comportamento. Não é por acaso que nenhuma grande potência deseja este tipo de cargo. Preferem quem lhes ceda.

Na situação política atual a coisa seria ainda mais complicada. Como se sabe, o Governo depende de uma maioria que inclui dois partidos muito críticos da ortodoxia orçamental de Bruxelas. Acho que a história lhes deu razão, mas isso não interessa agora para o caso. De um dia para o outro estes dois partidos passariam a apoiar o presidente do Eurogrupo. E isto teria três efeitos. O primeiro: o comportamento “exemplar” a que Centeno estaria obrigado tornaria os entendimentos à esquerda ainda mais difíceis. O segundo: o fosso que separa o PS do BE e PCP em matéria europeia ganharia uma nova centralidade perante a relevância europeia do nosso ministro das Finanças. Terceiro: o comportamento do presidente do Eurogrupo com outros Estados (a Grécia, por exemplo) passaria a ser um problema interno. Cada crítica ao Eurogrupo seria uma crítica ao ministro das Finanças do governo que apoiam, cada apoio ao ministro das Finanças seria um apoio ao presidente do Eurogrupo.

Tudo isto, num entendimento já de si tão frágil, corresponderia a uma gestão impossível. Não acredito que a “geringonça” sobrevivesse a tamanha pressão. Por mero cálculo de risco, ninguém faria cair o Governo. Mas ele deixaria de ter a mesma base de apoio. No estado em que Costa está, não podia ser pior para ele. Se compreendo o contentamento de um ministro sem passado nem futuro político, custa-me perceber como não boicota António Costa esta candidatura. É má para ele mas, acima de tudo, é péssima para o país.

ECONOMISTAS CIENTISTAS


por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 09/11/2017)
Por mais que tenha aprendido de economia - que não tendo sido grande coisa poderá ter sido o suficiente para não dizer grandes asneiras - por mais modelos econométricos com equações simultâneas, equações quadráticas ou equações em Rn que tenha estudado, faz-me uma grande confusão quando em 2017 se fazem previsões do crescimento económico com o rigor de décimas. Fico com a impressão de que a economia não é coisa de seres humanos, podendo ser tratada como uma ciência exacta.
Mas a verdade é que o ser humano já consegue enviar uma sonda para Plutão fazendo-a chegar ao Polo deste agora despromovido planeta, com um rigor de milímetros e de segundos, mas não consegue prever qual vai ser o crescimento no próximo mês de dezembro. Ainda bem que assim é, senão seria uma grande monotonia vivermos “geridos” pelo Mário Centeno, isso para não recordar que se fosse no tempo do Gaspar teríamos direito a tatuagem com número de rato de laboratório.
Não faço parte dos muitos que há alguns anos estavam convencidos de que a economia iria crescer graças à boa disposição nacional porque o Benfica ia ser campeão; também não estou convencido que os modelos econométricos do governo passem a contemplar uma equação quadrática para fazer considerar os beijinhos e abraços do Marcelo na taxa do crescimento económico.
Mas, a verdade é que se as regras de gestão fossem aplicadas com rigor, não existiria um self made man e que se as previsões dos economistas estivessem sempre certas e se adotássemos todas as reformas que as Teodoras sugerem estaríamos ricos, mas ainda teríamos de andar de alpargatas, a bem do crescimento da economia. Um dos primeiros temas dos cursos de economia é discutir se a economia é ou não uma ciência; todos os professores gostam que a sua arte seja ciência, daí que hoje tudo seja muito científico, um pouco à semelhança do socialismo do PCP, o único comprovado laboratorialmente.
Mas a mesma Universidade de Chicago de Milton Friedman, que pouca consideração tinha pelo lado humano da economia, deu ao mundo Richard H. Thaler, o professor que ganhou o Nobel em 2017, por ter estudado a importância da psicologia na economia, pondo fim ao desprezo pelo ser humano evidenciados por alguns economistas, como os três artistas que ainda ontem ouvi numa das televisões.
Talvez faça sentido perguntar se um primeiro-ministro deve ser muito otimista ou moderadamente otimista, se um Presidente deve estimular o sucesso promovendo o otimismo e as boas soluções ou deve ir a todos funerais, velórios e missas do sétimo dia. De certeza que o crescimento nos próximos anos vai ser de 2% como diz Centeno, tendo em conta a envolvente externa e revelando um total desprezo pelos indígenas e pelos seus sentimentos e humores?
Parece-me que os nossos economistas deviam voltar às universidades para voltarem a ser humanizados e socializados, aprendendo a ser motivadores de homens, a preocuparem-se mais com os sentimentos e motivações dos agentes económicos do que a reduzir a sua existência a cardumes com comportamentos condicionados e previsíveis.

Militares suspeitos de corrupção recebiam dinheiro em baldes, camarão e champanhe

Por ZAP

9 Novembro, 2017


As empresas suspeitas no âmbito do esquema de corrupção nas messes da Força Aérea vão continuar a fornecer as Forças Armadas nacionais. Um dado que surge quando se conhece que os militares implicados receberiam dinheiro em “baldes”, além de camarão e champanhe.
A chamada Operação Zeus envolve 86 suspeitos, 40 deles militares, entre os quais o major-general na reserva, Raul Carvalho, e quatro altas patentes, coronéis e tenentes-coronéis da divisão de abastecimento e transportes da Força Aérea.
Só estes elementos terão lucrado cerca de 354 mil euros com o esquema de corrupção, avança o jornal Público.
O Correio da Manhã acrescenta que o general Milhais de Carvalho “recebia cerca de 1.500 euros por mês dos graduados das messes“, em dinheiro vivo, no âmbito do mesmo esquema.
Empresas do ramo alimentar, fornecedoras das messes, cobravam à Força Aérea valores superiores aos produtos entregues. Os lucros da sobre-facturação eram divididos entre as empresas e os militares implicados.
Estes pagamentos seriam feitos em dinheiro vivo, entregues em “envelopes e sacos” e até em “baldes”. Conta o Público que “na garagem de um sargento da base aérea de Monte Real” foram apreendidos “vários baldes de dimensões diversas contendo moedas nomontante de 23.330 euros“.
Também haveria pagamentos em géneros, nomeadamente com garrafas de Moët et Chandon para os comandantes e de espumante para os sargentos.
A sobre-facturação seria também usada pelos militares para conseguirem, junto das empresas fornecedoras, “alimentos que não faziam parte dos concursos públicos, como bebidas alcoólicas, camarão e carne de valor superior, entre outros produtos”, refere o Ministério Público (MP), citado pelo mesmo jornal.
Este tipo de produtos seriam utilizados em “eventos especiais determinados pelos comandantes” e que se realizavam nas bases aéreas. E havia militares e civis que pagavam para entrar nestes eventos, sendo que o lucro obtido “não revertia na totalidade para o Estado”. O dinheiro seria “dividido em numerário entre os militares e civis que trabalhavam em tais eventos, e pelos respectivos superiores hierárquicos”, aponta o MP.
Está em causa uma “prática enraizada” na Força Aérea portuguesa que terá vigorado entre 2006 e 2017, em todo o país, com um prejuízo para o Estado “significativamente superior” a 2,5 milhões de euros, constata o MP.

“Presunção de inocência” segura contratos das empresas

Mas as suspeitas não garantem o afastamento das empresas envolvidas que vão continuar a fornecer a Força Aérea. Segundo o Público, Algumas delas também têm contratos com aMarinha, a GNR e a PSP, salientando que estes fornecedores vão manter a prestação de serviços a estas entidades públicas.
De acordo com juristas ouvidos pelo diário, só uma condenação ou a eventual atribuição de um contrato por ajuste directo podem determinar o fim do contrato com as empresas visadas, vigorando “a presunção de inocência”.
“Nem o Código de Contratação Pública nem nenhum outro instrumento legal preveem que o Estado possa lançar mão de qualquer medida cautelar para as impedir de concorrer” a outros concursos públicos, aponta o jornal.
O MP considera que as mesmas empresas também teriam esquemas de corrupção noutros organismos públicos além da Força Aérea. “No entanto, nada de concreto foi trazido aos autos, não havendo elementos concretos que, por ora, corroborem tais imputações”, constata-se no processo.
ZAP //

Tem toda a razão, Dra. Maria Luís Albuquerque

Aventar

por João Mendes

Agora que não tem barretes para enfiar na cabeça dos portugueses, estilo devolução pré-eleitoral da sobretaxa, ou bancos para varrer para debaixo do tapete, para simular uma saída limpa que, no fim de contas, mais não foi do que outro barrete, Maria Luís Albuquerque foi entrevistada pelo Público e fez questão de recordar a plebe que o país precisa de uma alternativa. Mais ou menos como a senhora deputada, que quando não está no parlamento a levantar a mão conforme lhe manda o partido, está ao serviço dos abutres da Arrow Global.

Mas desta vez, extraordinariamente, estou com a Dra. Maria Luís. O país precisa de uma alternativa, capaz de fazer oposição responsável ao governo minoritário de António Costa. Pena que o seu partido esteja tão ocupado com discursos catastrofistas, sanções e resgates imaginários, diabos e aritméticas da treta, sempre à espreita da próxima tragédia para dela capitalizar. Fosse liderado por gente mais responsável e o cenário talvez fosse diferente. Entregue a figuras tão distintas como Hugo Soares, Marco António Costa ou a própria Maria Luís, não podemos esperar muito. Excepto gargalhadas.

Corridas para o fundo

Blasfémias

Posted: 08 Nov 2017 06:08 AM PST

Depois de a Síria ter anunciado a sua adesão ao Acordo de Paris, os EUA de Donald Trump passam a ser o único país a ficar fora do compromisso para conter o aquecimento global. Para os defensores da concorrência sem regras nem limites, este isolamento poderá ser encarado como uma vantagem competitiva. É a lógica da corrida para o fundo. A mesma lógica em que assenta, num outro plano, a competitividade através de baixos salários, da desregulação das relações laborais, da destruição do Estado Social e do desprezo pelas pessoas e pela sua dignidade e bem-estar.