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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Com a Saúde das pessoas não se brinca nem se faz demagogia

05/04/2018 by Bruno Santos

Suscita necessária e compreensível preocupação o facto de, em menos de 24 horas, a informação veiculada sobre o problema do Sarampo ter oscilado entre posições totalmente antagónicas assumidas pela Direcção-Geral de Saúde.

Se existe assunto cujo tratamento informativo exige inatacável credibilidade, quer pelo grau de apreensão susceptível de causar entre a população, quer por tratar-se, sem necessidade de explicar porquê, de um patamar básico da relação de confiança que tem que existir entre o cidadão e as instituições do Estado, esse assunto é a Saúde.

Acontece, porém, que Graça Freitas, Directora-Geral da Saúde, adiantou aos deputados portugueses, em audição pública, pedida pelo PCP e o PS, que “ainda não está escrito em lado nenhum”, mas acredita “que vai acontecer, porque há muita gente a estudar a necessidade de uma terceira dose da vacina contra o sarampo; está tudo a mudar e tudo isto é novo”.

E o Diário de Notícias acrescenta:

Não há um único estudo científico ou recomendação internacional que aponte para a necessidade de uma terceira dose [da vacina do sarampo]. No futuro, depois de muitos estudos e muita investigação, pode vir a ser necessária, mas agora não é“, explicou ao DN Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, que ontem foi questionada sobre este tema na Comissão da Saúde.”

O Jornal de Notícias remata:

“A directora-geral da Saúde (DGS), Graça Freitas, afastou ontem a possibilidade de se introduzir uma terceira dose da vacina do sarampono Programa Nacional de Vacinação, apesar de o surto em curso estar maioritariamente a atingir pessoas vacinadas.”

Não há essa possibilidade, porque não há conhecimento científico que a indicie neste momento.”  – disse Graça Freitas.

Da “crença” na necessidade de uma terceira dose da vacina do Sarampo, até à negação total e peremptória dessa necessidade, já houve um pouco de tudo. Os últimos números sobre o “surto” de Sarampo são os seguintes:

  • 97 “casos”
  • 81% são Profissionais de Saúde
  • 84% estavam vacinados
  • 76% estavam vacinados com duas doses
  • 214 “casos” Negativos (falso alarme)
  • 0 (zero) crianças infectadas

Entretanto, um grande e reconhecido especialista em Saúde Pública, Epidemiologia e tratamento caseiro das hemorróidas (entre outras “cenas”) – o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia – anda a distribuir gratuitamente vacinas que nem sequer fazem parte do Plano Nacional de Vacinação, aproveitando para fazer a demonstração do que nos espera se a tal municipalização da Saúde for concretizada

Espanha – A amnésia do passado e a incerteza do futuro

por estatuadesal

(Carlos Esperança, 05/04/2018)

guernica

A Espanha entrou no comboio da democracia à boleia do 25 de Abril português, quando Franco era já um cadáver adiado e o país uma sádica ditadura, sem futuro.

Adolfo Suárez conseguiu, contra os mais empedernidos franquistas, fazer uma transição democrática consensual, graças à aprovação da atual Constituição, monárquica, liberal e pluripartidária, apesar da as sondagens à população darem preferência à República.

O medo assimilado na perversa ditadura franquista e o risco de novo golpe fascista, que, aliás, viria a ser tentado, levou os partidos e o próprio povo a consentirem a monarquia. O regime ambicionado pelo genocida Franco, que educou no fascismo o futuro rei, Juan Carlos, acabou por se impor, mas a amnistia dos crimes franquistas é a ferida aberta que permanece, e abre caminho ao retrocesso democrático em curso.

Enquanto o problema catalão prossegue sem solução e o nacional-catolicismo regressa a Espanha, surgem movimentos que pesquisam, descobrem e assinalam numerosas valas comuns para onde os franquistas atiraram os adversários assassinados. O país divide-se entre os nostálgicos do passado e os que esperam um módico de justiça para as décadas de tortura, execuções, fuzilamentos sumários e despotismo.

Só a Junta da Andaluzia encontrou 88 novas valas de vítimas do franquismo. O Mapa das Valas Comuns não para de atualizar-se. Sevilha, Huelva e Cádis têm respetivamente 136, 124 e 118 valas localizadas. Depois, vêm Granada com 108, Málaga (99), Córdoba (79), Jaén (27) e Almería (11). Na Andaluzia estimam-se desaparecidas 48.349 pessoas, durante a ditadura, muitas dispersas por outras províncias: 367 (Almería), 1.555 (Cádis), 5.139 (Córdoba), 11.563 (Granada), 10.382 (Huelva), 2.039 (Jaén), 7.241 (Málaga) e 10.063 (Sevilha). *

A violência adormecida durante quatro décadas acorda com inusitada violência e desejo de justiça num país dilacerado pela corrupção, desorientação do Governo, descrédito da monarquia e avidez da Igreja católica, ansiosa por recuperar e ampliar privilégios, numa luta despudorada contra a separação da Igreja e do Estado.

Mais do que o anacronismo das instituições e a desadequação da Constituição às novas realidades, é a sobrevivência e a impunidade do velho franquismo que ameaça a paz e a convivência entre os espanhóis.


* Os dados deste parágrafo foram recolhidos no diário País, Espanha, de 03-04-2018.

França e Portugal vão prestar homenagem aos que há cem anos tombaram em La Lys

3 ABRIL, 2018

França e Portugal vão prestar homenagem aos que há cem anos tombaram em La Lys

França vai homenagear os soldados portugueses que combateram na Batalha de La Lys, na Primeira Guerra Mundial, com vários eventos entre 8 de abril e 7 de maio.

O programa oficial das comemorações da Batalha de La Lys, vão começar a 8 de abril, ao fim da tarde, no Arco do Triúnfo, em Paris, onde o Presidente da República Portuguesa Marcelo Rebelo de Sousa e o Primeiro Ministro António Costa, vão depor uma coroa de flores junto ao Monumento ao Soldado Desconhecido. O Presidente francês Emmanuel Macron vai deslocar-se ao Cemitério Militar Português na segunda-feira, dia 9 de abril, para se juntar ao Presidente e ao primeiro-ministro portugueses, para assinalarem juntos, o Centenário da Batalha de La Lys.
As comemorações oficiais dos cem anos da Batalha de La Lys terão lugar na segunda-feira de manhã na presença dos dois Presidentes da República, primeiro no Cemitério Militar Português de Richebourg e depois junto ao Monumento ao Soldado Português de La Couture.
Mas as atividades vão também decorrer em La Couture, Richebourg, Neuve-Chapelle e Lillers, as quatro cidades do norte de França onde ocorreu, há 100 anos, a Batalha de La Lys, na qual os soldados portugueses foram destroçados pelos alemães na véspera do render de tropas.
Em Richebourg, onde estão sepultados 1.831 soldados, será inaugurada uma exposição sobre os descendentes de militares portugueses que combateram na Grande Guerra, comissariada por Aurore Rouffelaers.
Na localidade vizinha de La Couture, onde está o Monumento aos Mortos da Grande Guerra, projetado pelo escultor Teixeira Lopes, está a ser realizado um mural para “contar em imagens a história da Grande Guerra”. O mural, promovido pelo município, deverá ser inaugurado a 9 de abril, durante as comemorações oficiais do centenário da Batalha de La Lys.
Ainda em La Couture, a associação ‘Alloeu Terre de Batailles 1914-1918’ vai fazer uma exposição sobre a participação portuguesa na Batalha de La Lys e, em colaboração com a associação ‘La Couture Champs de Cultures (L3C)’, vai publicar uma brochura sobre o Corpo Expedicionário Português (CEP).
Em Neuve-Chapelle, onde estava a linha da frente na Batalha de La Lys, vai ser exposta a coleção do Corpo Expedicionário Português de Afonso Maia, neto de um soldado português que participou na Grande Guerra e que dedicou grande parte da sua vida a estudar o CEP.
No centro de turismo de Lillers, vai ser realizada a exposição intitulada ‘Amores Suspensos’, a partir de cerca de 150 cartas de soldados portugueses e que também faz parte da coleção de Afonso Maia.
No Manoir de La Peylouse, uma mansão do século XIX que era o quartel-general do CEP, na localidade Saint-Venant, o jardim vai ter plantas com as cores de Portugal e retratos de soldados nas árvores entre abril e outubro. Vai ainda ser difundido, no canal público France3, um documentário sobre escritores e poetas portugueses que participaram na guerra.
Na localidade de Saint-Venant, onde estava o Corpo Expedicionário Português, vai ser organizada uma exposição sobre os soldados portugueses na Batalha de La Lys, numa iniciativa da ‘Association de recherches historiques, archéologiques et militaires’ (Arham).

“Um vazio” na historiografia francesa

A presença de soldados portugueses nas trincheiras da Flandres durante a I Guerra Mundial constitui “um vazio” na historiografia francesa, refere o historiador Georges Viaud, sublinhando que há um século essa presença era “bem conhecida”. Espera-se que nesta comemoração do centenário da Batalha da Lys essa presença fique, dadas as comemorações, bem vincada.
“A presença portuguesa na Grande Guerra era bem conhecida naquela época. O ‘Le Figaro’, o ‘Le Matin’, o ‘L’Express du Midi’ de Toulouse são jornais que falaram da presença portuguesa na guerra. Mais tarde há um vazio que se instala porque deixa de se falar da presença portuguesa e agora os historiadores franceses não estudaram essa presença”, indicou o presidente da Sociedade de História e Arqueologia do 14° bairro de Paris.
Para o historiador francês Emmanuel Saint-Fuscien, professor na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial é, simplesmente, “um ângulo morto da historiografia europeia”, sobretudo francesa.
A segunda hipótese prende-se com a determinação de França “em insistir na participação do conjunto da nação”, ou seja, nas “regiões até aqui consideradas como periféricas – como o oeste da Bretanha, a Córsega, algumas partes do Midi e as colónias – o que apaga algumas participações estrangeiras”
O tema que não merecia destaque no universo editorial francês, o que levou o historiador Manuel do Nascimento a publicar dois livros sobre o tema, «A Batalha de La Lys» e «Primeira Guerra Mundial: Os soldados portugueses das trincheiras da Flandres e a mão-de-obra portuguesa a pedido do Estado francês». “Quando apresentei o primeiro livro à editora disseram-me que os franceses desconheciam o tema. Sempre que vou a palestras, todos os franceses ficam de boca aberta porque desconhecem a participação portuguesa”, afirmou Manuel do Nascimento.

I Guerra Mundial e a participação portuguesa

Portugal não quis deixar dúvidas de que estava empenhado em lutar ao lado dos aliados e para isso treinou e mobilizou para França uma divisão reforçada de 35 mil homens, sobretudo infantaria apoiada por artilharia de campanha, com a designação Corpo Expedicionário Português. Esta força passaria mais tarde a duas divisões, num total de 55 mil homens. Em todo o conflito (de 1914 a 1918), Portugal destacou pouco mais de 105 mil homens (55 mil para o teatro europeu e os restantes para África, sobretudo Angola).
Em Janeiro de 1917, Norton de Matos, que em março de 1916 ocupou a pasta da Guerra e era partidário da intervenção de Portugal na Primeira Guerra, organizou em tempo “recorde”, conjuntamente com o general Fernando Tamagnini de Abreu e Silva, nascido em Tomar, a Divisão de Instrução em Tancos, da qual resulta o Corpo Expedicionário Português. Este episódio ficou conhecido como o “milagre de Tancos”.
O primeiro Corpo Expedicionário partiu em 26 de janeiro de 1917 para a Flandres. Uma vez declarado o estado de guerra pela Alemanha, a 9 de Março de 1916, o Governo de Afonso Costa tratou de acelerar urgentemente a preparação dos primeiros contingentes.
Para aumentar a “produção” de soldados, a 24 de Maio de 1916, o Ministério da Guerra mandou reinspeccionar todos os cidadãos com idade inferior a 45 anos e que tinham anteriormente sido declarados “não aptos”: e até coxos seriam incorporados.
E no tórrido estio da charneca de Tancos, em condições climatéricas totalmente opostas às que os soldados iriam encontrar no campo de batalha europeu, era finalmente dada por “pronta” a maioria das tropas submetidas a treino.
O Governo, “em busca da aprovação pública e do sossego dos soldados e das suas famílias”, chamou à preparação relâmpago dessas tropas “o milagre de Tancos”.
Mais de vinte mil homens, sob o comando do general Fernando Tamagnini de Abreu e Silva, desfilaram a 22 de Julho de 1916 na parada de Montalvo, literalmente ‘para inglês ver’.
Na história francesa e apesar de haver em Paris uma Avenida de Portugal há muito desconhecimento da participação portuguesa na I Guerra Mundial.
Porém, o Corpo Expedicionário Português, com duas divisões, combateu na Flandres entre Novembro de 1917 e 9 de Abril de 1918, ocupou um sector da frente entre Armentières e Bethune, compreendendo um distância de doze quilómetros.
Ao longo dos anos de 1917 e 1918 o CEP participou em vários combates. A sua intervenção ficou marcada pela Batalha de La Lys, travada a 9 de Abril de 1918, data prevista para a rendição do efetivo militar português.
O CEP foi destroçado pelo exército alemão e inúmeros dos seus efetivos feitos prisioneiros. O que sobrou do CEP deu origem à formação de três batalhões que perseguiram a forças alemãs antes do Armistício.

A Batalha de La Lys

Com material danificado pelo inverno de 1917, desmoralizado e sem reforços enviados de Lisboa, o contingente português foi submetido a uma forte barragem de artilharia e “atropelado” pelas divisões alemãs.
A 8 de Abril o comando do CEP era surpreendido com uma nova ordem que mandava proceder de imediato a alterações no sector à responsabilidade da 2ª Divisão portuguesa, conducentes à rendição de algumas unidades. E quando, ainda a 8, as primeiras tropas inglesas surgiram, a notícia da rendição próxima correu como um rastilho por todo o dispositivo português.
Foi durante o desenrolar dessa operação de substituição de forças, cuja fase intermédia decorria a 9 de Abril de 1918, que os germânicos, depois de uma intensa barragem de fogo de artilharia e de metralhadoras de que não havia memória, com várias Divisões, esmagaram a linha portuguesa, apanhando-a em contrapé.
As forças portuguesas perderam, entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, 327 oficiais e cerca de 7.500 soldados, dos 721 e 20.359, respectivamente, que haviam entrado em combate.
Uma derrota humilhante – apesar da forte resistência dos portugueses e de algumas histórias individuais de heroísmo – que marcou o início do fim da participação portuguesa na I Guerra Mundial. Os efetivos ainda aptos do CEP foram posteriormente formados em três batalhões de infantaria, e integrados no exército inglês, no qual lutaram até ao armistício, em novembro de 1918.
A seguir à Batalha de Alcàcer Quibir, a Batalha de La Lys foi o maior desastre militar português, por mais ilustrações de heroísmo que o houve, a realidade é bem crua, triste.
Desde a entrada de Portugal na guerra até à assinatura do Armistício, a 11 de Novembro de 1918, Portugal mobilizou mais de 75.000 homens para a Flandres.

Contra os pulhas marchar, marchar

por estatuadesal

(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 04/04/2018)

CM-Viagra

Para além de se rirem à gargalhada do Código Deontológico dos Jornalistas e do Estatuto do Jornalista, para além de terem uma actividade criminosa regular ao serviço de uma agenda política, para além de se conceberem como uma organização paralela ao Estado de direito, a comercialização da pornografia e a redução das mulheres a objectos e animais sexuais é parte principal do sucesso do Correio da Manhã, tanto na versão em papel como no cabo. Eis um exemplo da passada quarta-feira:

Temos uma jovem fêmea em fato de banho a propósito de ser actriz algures. Temos uma senhora em roupa interior a propósito do Trump. Temos três rabos de três fêmeas adolescentes a propósito da Páscoa e do Algarve. Temos uma manchete sobre os “viagras” a propósito não se sabe do quê. E ainda temos, no canto superior direito, a promessa de se mostrar a namorada nua de um ou uma (não sei porque não consumi o artigo) jovem de Aveiro. Uma capa que é foda.

Este é o líder da imprensa escrita em Portugal, e da informação no cabo, uma fonte que irradia para o espaço público uma cultura machista e abusiva tão ao gosto “popular”. Os números validam os seus critérios, é o mercado a funcionar. A única moral que respeitam é a das audiências mais desqualificadas e pulsionais, como vimos no caso do vídeo publicado no ano passado sobre um episódio de bebedeira num autocarro com estudantes no Porto. Enfim, qual é o mal de deixar as senhoras exibirem as suas mamas e cus, se elas não se queixam e até agradecem a atenção? Qual é o mal de ilustrar a paisagem de uma praia com juvenis e graciosos traseiros de umas incautas raparigas? E qual é o mal, ó deuses, de chamar para a 1ª página o belo gesto do tal jovem de Aveiro que resolveu partilhar com o mundo a sua admiração pela anatomia da namorada? Estamos a falar de Aveiro, raios, não de uma terreola qualquer perdida no Baixo Alentejo.

Estranhamente, a Cofina, a entidade responsável por este tremendo sucesso comercial que fica como ex-líbris da sociedade que somos, não é alvo de qualquer agressividade pelas entidades e personalidades dedicadas e empenhadas na luta pela dignificação da condição feminina e pela igualdade de direitos entre os sexos. Os políticos, mesmo os valentões dos esquerdolas que não perdem uma oportunidade para sovarem os imperialistas e reaccionários que os cercam, calam-se quando se trata da Cofina. A criminosa e degradante Cofina.

E se esse silêncio se regista na esquerda pura e verdadeira, na direita e na indústria da calúnia há viscerais louvores ao que se passa no esgoto a céu aberto. Se o tema da conversa for poderes fácticos, a Cofina será um dos mais poderosos em Portugal tal a rede de influências e dependências que montou. Até o actual primeiro-ministro e o actual presidente da câmara de Lisboa, dois dos melhores políticos no activo, já por lá andaram a contribuir para aquela miséria.

O texto do Octávio Ribeiro onde trata o Gélson como um escravo fugido da plantação de açúcar é o espelho cristalino da axiologia que está em causa no que só aparentemente é díspar, a violação dos códigos deontológicos e a violação da condição humana. Que este esgoto a céu aberto tenha a protecção das forças onde depositamos a nossa confiança cívica e política, social e cultural, é uma prova do subdesenvolvimento estrutural que nos diminui a liberdade. Que fique calado quem quiser ser cúmplice destes pulhas.

Ladrões de Bicicletas


Moda Nancy Catalunya

Posted: 05 Apr 2018 02:31 AM PDT

Nos dias em que, no Brasil, se assiste a mais uma manifestação de judicialização da política - ou por palavras mais justas, a um claro acto de orientação política por parte de elementos da superstrutura judicial do velho Estado nunca desmantelado graças a uma transiçãopacífica - gostaria de dar imagem de outro caso semelhante mais próximo de nós.
Se dúvidas havia sobre uma sintonia entre os analistas políticos da TVE, a direita no Parlamento da Catalunha e os membros do Governo Rajoy, as imagens mostram-na de forma transparente. A moda Nancy Reagan continua a reinar, agora já reformatada. E de forma cada vez mais exaltada e acirrada.
Estranha e paulatinamente os elementos antidemocráticos, alçados em nome da defesa da Democracia, vão escorregando tão bem por entre nós, com apoio e cobertura de uma verdadeira internacional antidemocrática, com sede aparente em Bruxelas, cara de uma centralização europeia, comandada sabe lá Deus por quem... e que se vai transformando num simulacro de soberania popular em que apenas se vota o que alguém decide o que é permitido votar. E com o poder repressivo do Estado, desde aos serviços secretos até à Justiça.
Bem sei que não se compara (porque não?), mas dá-me sempre calafrios estes estados de letargia colectiva, de apatia de animais entorpecidos, de cabeça baixa durante anos e anos, porque me lembram como foi que - nas grandes democracias ocidentais - se foi aceitando que os nazis viessem buscar pessoas a casa. Ou a polícia política em Portugal e Espanha, logo no pós-segunda guerra mundial.
Não foi assim há tanto tempo.    

As duas pobrezas

Posted: 04 Apr 2018 07:29 AM PDT

Toda a gente sabe dizer mal da pobreza, da precariedade e da desigualdade.
Todos valorizam o voluntariado e gostam de dar uns sacos de plástico aos pobres, de ora em quando, ou à noite a quem dorme ao relento. Sabe tão bem: parece que somos úteis.
Até o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, há bem pouco tempo fez um discurso muito repetido na comunicação social. "Eu tenho vergonha”, afirmou ele. Até disse algo tão radical como: "É urgente juntar ao crescimento e ao emprego uma estratégia autónoma nacional de combate à pobreza, para a sua erradicação".
Ora, esta ideia da autonomia da pobreza é uma ideia errada porque dissocia os diferentes fenómenos da mesma causa - a eminente causa laboral. Como se os pobres medrassem nas cidades por autogeração, espontânea e até às vezes voluntária. Este pensamento tem se traduzido numa estratégia de combate autónomo aos pobres que tem, aliás, sido seguida - de forma mais ou menos acentuada - pelas políticas públicas, atacando apenas a juzante do problema.
Por isso, não é de estranhar que Portugal insista em ter - há décadas!! - mais de um quinto da população na pobreza. E tem ainda mais se não fosse o Estado a ajudar.
Mas quando alguém insiste em ligar o problema da precariedade laboral ao da pobreza, - fazendo eco de muitos estudos académico nesse sentido - aí o assunto é rapidamente empurrado para o quarto escuro da discussão política, de preferência acusando quem o suscita de ser comunista, radical de esquerda ou sindicalista da CGTP, o que é uma táctica muito Estado Novo de "resolver" o problema, mas tão actual entre nós.
Por isso, não é de estranhar que, ainda hoje o deputado do CDS António Carlos Monteiro, na audição do ministro do Trabalho sobre as alterações laborais em discussão, clamou que "a reforma laboral tem sido um sucesso". E lá voltou a repetir que foi essa reforma a suscitar o crescimento do emprego que hoje se sente. Ou seja, a reforma laboral de 2012 que aprovou uma longa lista de medidas, reduziu fortemente as retribuições salariais, aumentou o tempo de trabalho sem retribuição, acabou com o descanso compensatório por trabalho extraordinário, impediu a subida do SMN, asfixiou a negociação colectiva, abriu a porta à individualização da negociação, empresa a empresa, embarateceu fortemente o despedimento e ainda - pasme-se! - reduziu substancialmente os apoios aos desempregados...
Por isso, como alertou o próprio ministro,"é deveras impressionante que os beneficiários do subsídio social de desemprego inicial sejam pessoas que terminaram um contratos a termo sem direito a subsídio de desemprego e com condições de recursos que os habilitam a subsidio social de desemprego... "
Não é por acaso que as sociedades mais felizes - outra notícia muito divulgada na nossa comunicação social - está nos países nórdicos, que têm - ainda... - dos mais elevados níveis de sindicalização. E que esse nível de sindicalização vai de par com os mais elevados níveis de protecção no emprego. E que esses níveis de protecção no emprego andam de mão dada com o incentivo à contratação colectiva e com o papel dos sindicatos nessa negociação. Não é por acaso que nesses países se insista na protecção laboral e social como um bem colectivo.
Nada acontece por acaso e convém olhar para o que se tem feito em Portugal. Todos a legislação laboral tem evoluído - há décadas!! - no sentido de "partir a espinha" ao sindicalismo; de esvaziar  e até asfixiar o papel dos sindicatos (de preferência substituindo-os por comissões de trabalhadores - às vezes promovidas pelo patronato como na AutoEuropa); de esvaziar a contratação colectiva, de facilitar uma contratação em trabalho temporário, reforçando uma negociação individualizada que se reflecte invariavelmente num despedimento individualizado por negociação (protegido pelo Código doTrabalho e como tal pago pela Segurança Social em subsídios de desemprego); de se encontrar formas variadas de contratação precária - e mal paga - em que o trabalhador perdeu todo o poder negocial; de esvaziar as entidades reguladoras (como a ACT) e de dificultar legalmente o papel da Justiça laboral, ao legitimar os despedimentos ilegais.
Também não é por acaso que não se quer olhar o problema de frente. É preferível que Portugal seja um país com produção integrada de pobres, a quem os protegidos distribuem sacos de plástico - algo, aliás, tão Estado Novo! Só dessa forma se poderá manter trabalhadores educados na ideia de que a sociedade é assim e deve ser assim - pobre e mal paga. Somos assim, nós os Portugueses, dizem. E quem não gostar, que emigre.
Mas esta foi a lógica que funcionou em Portugal há apenas uns 40 anos. É uma lógica que os filhos das personagens do Estado Novo herdaram e reproduzem no Parlamento como se defendessem, cega e automaticamente, o reino deixado pelos seus pais. Foi de lá que Marcelo veio e medrou. Vamos repetir tudo outra vez?
Está em discussão um conjunto de alterações laborais, introduzidas pela mão do Governo e cujos projectos legais ainda não são conhecidos. É bom que nos debrucemos todos sobre as implicações dessas alterações. Porque delas dependem milhões de pessoas. E o país.