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terça-feira, 24 de outubro de 2017

AS MANIF’s CONTRA OS INCÊNDIOS!




por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 21/10/2017)

Manif em Lisboa

Vejo nas redes sociais, nomeadamente no Facebook, que algumas pessoas, algumas minhas amigas mesmo, me convocam para uma Manif que é, segundo eles, ” Contra os Incêndios”!

Mas eu não vou, não vou e não vou! Isso não significa que seja a favor dos incêndios, era o que faltava, antes pelo contrário! É que, é do senso comum, somos todos unanimemente contra os incêndios, exceptuando os incendiários. Manifestar-me, ou desfilar, melhor dito, contra os incendiários? Aí até vá que não vá…

Mas, dou por mim a pensar, e escrevo como vou pensando, quer acreditem ou não, o que é realmente um incendiário? Será apenas aquele que faz fogos ou não será também aquele ou aqueles  que os provocam? Tal como as violências várias, incluindo aquelas que instigam crente e ingénua gente sedenta de justiça? Nem que seja ela assim tipo ” de Fafe”?

Incendiário também pode ser aquele ou aqueles que se aproveitam de uma situação mais vulnerável para provocar um escusado confronto, aproveitando essa vulnerabilidade para dela tirar imediato proveito, tal como aqueles que saqueiam depois de uma guerra ou catástrofe, ou mesmo, neste caso concreto, quem, perante um sentimento de incapacidade humana perante o impossível e o dantesco induzir os ingénuos e desinformados numa culpabilização, dizendo que, com eles, nada disso sucederia!

E é disto que se trata e se movem estas Manif,s, pretensante contra os fogos.

Por isso mesmo eu, não sendo contra as Manif,s, no sentido estrito do termo, raramente na minha vida nelas participei. Principalmente quando elas eram contra algo em concreto e, nomeadamente, ” ad hominen”.

Mas em desfiles já participei e em muitos. Celebrando nuns e reinvidicando noutros. Celebrando o 1° de Maio ou o 25 de Abril, a conquista do Europeu ou coisas assim ou desfilando pela Paz, pela Justiça, pelos direitos das minorias, pela saúde universal e gratuita, pela defesa da Constituição, em suma, pela Democracia!

Mas também já desfilei contra algo: contra o vazio, por exemplo, contra o alheamento, contra a impunidade, contra a corrupção, contra a insensibilidade, contra o arbítrio, contra a desumanização e contra qualquer absolutismo.

E, já agora, e como parêntesis, quero dizer que ” desfilar” não é “marchar” contra, para tomar ou destruir: é apenas para lembrar e reclamar! E lembro-me daquele célebre desfile de Martin Luther King em Washington a que malévolamente chamaram de “marcha sobre Washington”, pretendendo associá-la a uma manifestação violenta, quando ela era absolutamente pacífica.

Mas desfilarmos por causas globais, mesmo que fracturantes, que indiciam um progresso da humanidade e uma adequação aos novos tempos e à sua maneira de estar e pensar, e que são inequívocamente inerentes à condição humana, reclamando adequadas políticas públicas, não é o mesmo que ir a uma Manif para, sob a capa e de uma coisa em que somos unânimes ( ser contra os incêndios), aproveitar-se o facto para a culpabilização ou responsabilização imediata de quem sendo seu opositor e estando no poder politicamente tem que responder, para daí tirar proveito político e minar a maioria parlamentar que o sustenta.

E aqui, sem quaisquer hesitações, é o que se verifica. Basta olhar e verificar quem convoca e quem diz pretender ir. Eu sei que muitos, movidos por um natural sentimento, por um lado de revolta e por outro lado de compaixão e humanidade, não se apercebem do essencial desígnio da convocação. Eu sei! Mas quando isto disse a uma pessoa amiga e bem intencionada que queria ir, e livremente podia ir, ela de imediato percebeu!

É que eu, por mais que matute e pense, não contestando nunca a liberdade de manifestação seja de quem for, se não for violenta, não consigo perceber o porquê de uma manifestação contra algo em que somos literalmente todos contra!

O Povo diz que “depois de casa roubada trancas à porta”! É dos livros. É que o Estado falhou e falhou rotundamente, digo eu. Mas quem é o Estado? Que fique bem claro: somos todos! E cada um com a sua pequena ou grande quota de responsabilidade. Falhou, e foi fatal, no nosso egoísmo. Falhou quando durante mais de cinquenta anos, nos conduziu à emigração e ao abandono da agricultura. Falhou quando lhe deu a estocada final e, nos macabros tempos do Cavaquismo, negociou a tenebrosa PAC. Falhou antes quando nos obrigou massivamente a ir para uma guerra longe da Pátria. Falhou quando, no ajustamento, sob o chavão da improdutividade e do não há alternativa obrigou milhares e milhares de jovens a emigrarem. E quando, querendo depois que regressassem, lhes oferecia uma côdea em relação ao que lá fora ganhavam…

Falhou também quando, depois e na sequência disso tudo, foi retirando às populações do interior tudo aquilo que significava Estado: o Hospital, o Centro de Saúde, o posto da GNR, o Tribunal, os CTT, a Estação dos Caminhos de Ferro, o Autocarro e a Escola! Resultado? O óbvio! A culpa? De todos…e de ninguém…

Que adianta fazer roteiros mais roteiros para verificar o óbvio? Para culpar outros quando a responsabilidade é também, e em grande medida, sua? É tal qual este, este que disse que “não iria andar por aí…”, mas que não resistiu à tirada oportunista e labrega do ” sinto vergonha do que se passa”… Vi um popular na TV que lhe respondeu, a ele e a todos: ” não há que meter culpas, não havia hipóteses”. A não ser que, num assomo de lucidez, pretendesse dizer que ” tinha vergonha de tanto incendiário”…! Ele, incendiário?

Sim ele, ele o que os mandou emigrar, serem resilientes e  também não serem piegas! Vergonha? Vergonha eu também sinto, a de ter sido governado por gente da sua estirpe, da estirpe de Salazar, de Caetano e de Cavaco. Disso me envergonho e vergonha porque  simplesmente governaram este País.

Claro que depois da fase da ilegitimidade deste governo, da fase da sua clara inconsistência, da iminência do seu fracasso, das multas de Bruxelas, da sua mais que certa capitulação e da vinda de um diabo que se escafedeu…, verificando-se em tudo todo o seu  contrário, a situação emergente destas catástrofes foram um enorme lenitivo para toda a direita e seus correlegionários e, sob a batuta de todos os seus assalariados nas TV’s ( principalmente na SIC,  infestada deles) e dos jornais, dos comentadores dos opinadores e demais assim assim, logo vieram imputar as óbvias responsabilidades aos actuais governantes  e, acolitados pelo Presidente, afirmar que já não tinham a confiança do Povo e do seu Presidente. Vejam só…

Parece que as sondagens não dizem bem isso. Mas sondagens são sondágens, não é?

E faz-se de santinha a direita e a D. Cristas, sua chefe por ora, que diz que, como a sua fé é superiormente ouvida, com ela nada disto se passaria! E pimba: Moção de Censura em cima, ultrapassando o PSD pela esquerda baixa! Ora toma, disse ela para o PSD…

Que lançou o Huguinho! Mas este Huguinho é mesmo um Huguinho!

Que, pasme-se, usou a mangueira! Eu não inventei, foi ele que o disse. Mas para quê? Para, num acto de altruísmo, de solidariedade, de apego ao colectivo e ao comum, à boa vizinhança, ao civismo e a bem do futuro da nossa Segurança Social…regar o jardim!

Disse que não queria dizer, mas disse, que foi ajudar com a sua mangueira num fogo ali perto. Mas disse-me um amigo de Braga que foi só treta! Não houve fogo nenhum perto da sua casa! Mas usou a mangueira, parece certo.

Uns familiares, garbosos e deleitados, logo disseram: meu Deus, como ele está crescidinho!

Mas um outro, mais antigo e sábio, disse: finalmente…!

PS: Digo e volto a dizer: perante tanta boçalidade, as minhas banalidades são pormenor…




O RUI e o PEDRO: o RuiPedro!



O RUI e o PEDRO: o RuiPedro!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 24/10/2017)

Rui Rio

Este texto que agora começo a escrever é a minha primeira incursão nessa nobre arte do comentário político. Pois por ser uma arte tão nobre e superior não está ao alcance de qualquer mortal, apenas de alguns eleitos.

Eleitos, disse eu, e com toda a propriedade, porque eleitos por generoso contrato, que não por qualquer democrática votação. Eleitos assim por nomeação. Assim é que está bem.

De modo que eu, um novato nestas andanças, não querendo de modo algum equiparar-me a esses inatingíveis pensadores seres, ases no conhecimento da estratégia e na adivinhação do futuro, vou fazê-lo de um modo completamente sóbrio, independente e equidistante.

Mas como irei eu manifestar essa minha equidistância? Simples: recorrendo àquela velha frase oriunda da sabedoria popular, e que é o celebérrimo ” tanto se me dá como se me deu”!

De que estou a falar, sinto alguém perguntar? Ora, da batalha do Pedro contra o Rui, ou do Rui contra o Pedro, tanto se me dá, para tomarem para si a designação da organização que pretendem chefiar. Mas, para além dessa tal denominação, para um PPD/PSD e para o outro simplesmente PSD, o que está em causa é muito mais profundo e valioso: é o assalto ao paiol’

Como o paiol? Ora pensem comigo: que é que ambos precisam para esta “batalha” ( aquilo que lá na organização costumam chamar à luta de ideias…)? Espingardas! Espingardas sim e, por isso, a primeira coisa que começaram a fazer foi contá-las, que é aquilo que também usam chamar à cooptação de militantes para o seu lado da barricada! Para os preparar, claro que em maioria, para a tal ” batalha”…

Mas um deles, o Pedro, não confiante na fiabilidade dessa contagem e temeroso quanto à capacidade de antecipação do Rui, reclamou ao seu contentor a realização de vinte e um duelos (21!), que é aquilo que lá chamam aos debates…

Mas o outro, o Rio, não aceitou, com medo de algum jogo sujo do seu contentor, isto é, de em vez de levar espingardas levar basucas pois que, para já, quem tem a chave do paiol é precisamente o Pedro, mas o outro, o desistente.

E neste vou não vou, ambos partiram para o aliciamento dos generais, que são aquilo a que os tais comentadores chamam aos “barões”, essas figuras lendárias e míticas, que fizeram daquelas “batalhas” dos Coliseus e campos de batalha assim, narrativas que, de tão inolvidáveis, passaram a fazer parte do nosso cancioneiro da fabulosa arte circense.

É que por essas ” batalhas” passaram soldados cuja estirpe ficou para sempre na nossa memória, tendo um deles sobressaído pela destreza da sua representação, ao nível de um Popov, no mínimo: o companheiro Marcelo!

Mas houve outros, como aquele que saiu a chorar do campo de batalha, insultando os seus adversários de sulistas e coisas assim, tal como se estivesse na guerra da Secessão e, ainda, um outro que imitando o ” Little Big Man” da batalha de Little Bighorn, mas mais conhecido pelo seu dom de prestigiador, ficou célebre também como o ” regenerador”, por barrar a luta a alguns infiéis e pecadores que, agora, regenerados, voltaram à liça.

Mas há um que, tal “compère”, sempre por elas, ” as batalhas”, passou e até ficou conhecido por ” menino guerreiro”! Mas na verdade ele nunca foi um soldado a sério e se espingardas usava elas eram de plástico! Ele foi, isso sim, um permanente animador das tropas, um eterno “enterteiner” com qualidades várias.

Por isso lá sempre foi e luta alguma ganhou. Foi para lugares sem nunca ter competido. De uns foi destituído e de outros desistiu. Mas vai sempre…e agora?

Qual deles conseguirá arrebatar mais ” espingardas” do tal paiol que, todos sabem, levou um tremendo rombo no consulado do outro Pedro, outro desistente, e até dizem que assaltando mesmo.

O seu contentor, o Rui, em modo desafiante, assim como naquelas apresentações pre-match dos combates de Boxe em que cada um se ergue sobre o outro querendo demonstrar mais pujnça e força, pergunta-lhe: Mas quem és tu? Eu sou e sempre fui o Pedro e não me arrependo de o ser e sempre ter sido…mais ou menos isto!

E tu, quem és tu, pergunta ao Rui o Pedro, com a leve esperança que ele desatento dissesse ” ninguém”? Eu sou o Rui, mas tu nunca serás Pedro porque esse negou Jesus três vezes! Eu nunca reneguei ninguém e fui o único com coisos para fazer a refiliacão, isto é, a remontagem, o inventário, em suma, para extirpar o paiol das espingardas enferrujadas e inoperantes…

Eles são o Pedro mais o Rui, o RuiPedro e vão apresentar ideias. Um as ideias do Pedro, do outro, o desistente, do qual reclama herança, em estilo tipo “stand up”, que ele adora! O outro, o Rui, mesmo não tendo renegado Jesus três vezes, renegou o Pedro, o outro, o tal que abandonou a “batalha”, assegurando ser um sério contabilista, coisa que ele, o Pedro, nunca foi.

Haver duelos parece fora de questão, pelo que ouvi, mas vai ser um verdadeiro “Waterloo” essa batalha do RuiPedro, a do PPD contra o PSD.

E eu vou assistir sentado porque de pé cansa muito…!




segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Clara Ferreira Alves. João Duque. Raul Vaz. Alguns dos vírus que intoxicam e estupidificam a opinião pública.


por estatuadesal

(In Blog Um Jeito Manso, 21/10/2017)

(Nota prévia: Quero deixar aqui o meu elogio à autora do texto, criadora do Blog Um jeito Manso. Texto contundente, certeiro e verdadeiro, tão rascas e mauzinhos são a cáfila dos opinadores de serviço nas televisões, que não "comentam" e se limitam a vender "banha da cobra", como se todo o auditório fosse uma cambada de imbecis. Não, imbecis são eles. Um vendedor de sabonetes tarimbado vende o seu produto muito melhor e mas eficazmente do que eles.

(Estátua de Sal, 22/10/2017)

Claro que, depois de aqui ter estado a meditar, na maior tranquilidade, -- e, já percebi, para mim escrever é uma forma de descansar a mente e o corpo -- a última coisa que me apetecia era voltar ao tema da porcaria de comentadores e de jornalistas sub-dotados que não vêem um palmo à frente do nariz, que aparentemente são pagos para dizer apenas o que os mais descerebrados dos espectadores esperam ouvir e que intoxicam a opinião pública de forma viral.

Clara Ferreira Alves(2)

Mas sentir-me-ia mal se não me pronunciasse sobre o que estou a ver, o Eixo do Mal, com a histérica e demagoga Clara Ferreira Alves a demonstrar, de novo, que, quando fala, desliga, o intelecto.

Já no outro dia, aquando do despacho de acusação do processo Marquês, ela se tinha atirado a Sócrates de uma forma estranha e desmiolada. Quando o Daniel Oliveira lhe perguntou se tinha lido o dito despacho para assim falar, engasgadamente reconheceu que não. Contudo, a esperteza ainda lhe chegou para dizer que não mas que tinha lido a narrativa que colegas do Expresso tinham feito sobre o assunto. Clara Ferreira Alves é isto. Uma catatua que papagueia o que outros dizem. Em primeira mão não sabe nada nem tem um pensamento consciente e bem informado sobre coisa alguma. Histriónica, descontroladamente excitada, ela é como muitos outros a quem a televisão dá palco: acham que é portando-se como caniches acéfalos que ladram constantemente e que se mostram prontos a morder as canelas de quem esteja debaixo de fogo por parte dos PàFs que garantirão o bem remunerado emprego de comentadeiros.

Claro que todos gostamos que não haja incêndios, todos gostamos que as linhas telefónicas não ardam, todos gostamos que haja bombeiros e aviões que cheguem e, sobretudo, todos lamentamos as vítimas, os danos, as perdas. Alguém duvida disso? Espero bem que não.

Mas a bem do decoro e da inteligência, quem seja intelectualmente honesto compreende que as causas para estas desgraças são muitas, algumas fora de controlo humano (seca severa, trovoadas secas, ventos intensos), são profundas (terras abandonadas, habitações esparsas no meio da floresta), resultam de erros antigos (terras não limpas, linhas de alta tensão a tocar as árvores), de hábitos ancestrais (foguetes e queimadas em tempo quente e seco), de receitas erradas (redução de gastos na prevenção) -- e que não é em poucos meses que se revoluciona tudo e se consegue evitar ou controlar catástrofes de dimensão incomum.

No entanto, aquela mulherzinha que ali está na televisão, grita contra António Costa e contra a ex-ministra Constança como se eles estivessem no governo há anos e fossem os responsáveis por tudo. Só uma mentecapta pode dizer o que ela diz. Gentinha como ela é perigosa pois pessoas assim recusam-se a compreender as coisas e apenas fazem barulho, quase incitando ao desmando. Assim se cria o terreno para o populismo. O populismo é isto que Clara Ferreira Alves aqui está a fazer. Assim se alimentam os mais primários e irrracionais instintos de vingança e justiça popular

Já antes, até ter feito um higiénico zapping, me tinha arrepiado com o ar arrogantezinho blasé de João Duque na SIC a pronunciar-se sobre as medidas do Governo.

.João Duque

À pergunta sobre o que tinha ele a dizer sobre o que tinha acabado de ser anunciado, responde o dito João Duque -- que, lembremo-nos, foi fervoroso apoiante de Passos Coelho e que assinava por baixo de tudo o que láparo decidia -- qualquer coisa como: 'O que se pode perguntar é porque é que o governo esperou tanto? Porque é que esperou tantos meses, depois de Pedrogão?'

E eu daqui apeteceu-me perguntar ao dito doutor-sapateiro-bombeiro: 'E porque é que não fez essa pergunta quando Passos Coelho era primeiro-ministro?' ou então: 'É isso que ensina aos seus alunos? Para tomarem decisões sem estudar, sem fazer contas, sem analisar a sua exequibilidade?'

É que é muito fácil perguntar isto agora que aconteceram as desgraças mas nunca estes novos acusadores se lembraram de pensar no assunto quando, ao longo de quatro anos, nada foi feito para ordenar o território, limpar as matas, vigiar e proteger, etc, etc.

Não digo que, nestes dias de desgraça, tenha sido feito tudo o que devia ter sido feito: o que digo é que não sou eu ou qualquer outro zé da esquina que sabe avaliar as causas do que aconteceu. Mas há quem o saiba.

O estudo que foi apresentado por uma comissão de sabedores, ao que ouço dizer, foi claro, exaustivo, abrangente. Segundo li, percorre de uma ponta a outra os aspectos a ter em atenção para prevenir e combater os incêndios florestais.

Ora, segundo António Costa disse, o Governo esteve à espera dos resultados do estudo para poder decidir como mais eficazmente actuar na raiz dos problemas, em profundidade, atacando o mal em várias frentes, de forma integrada e consistente.

E o que hoje ouvi no fim do Conselho de Ministros extraordinário parece revelar um conjunto de medidas inteligentes e abrangentes que parecem corresponder às necessidades detectadas aos mais diversos níveis.

Mas sobre o estudo das causas do incêndio de Pedrogão ou sobre as medidas agora decididas nem uma palavra de Clara Ferreira Alves. Nem dela nem do outro artista que se senta ao lado dela, o Luís Pedro Nunes. A estes dois zinhos apenas interessa se Costa chorou ou se a emoção que demonstrou foi genuína ou se não passou de uma lágrima política. Para estes zinhos, o exercício governativo não deve ser um exercício sério e honesto mas sim um exercício mediático para agradar aos comentadores.

Mas não são só eles. Não. A coisa é viral. Por todo o lado apanhamos disto.

Raul Vaz

Ao fim do dia, vínhamos no carro e ouvimos uma notícia na Antena 1. Dizia o jornalista que Marcelo tinha avisado o Governo: que os milhões que vão ser gastos nos apoios não deviam fazer esquecer a necessidade de manter o défice baixo. Ouvimos e ficámos perplexos. O meu marido exclamou: 'Este gajo...primeiro quer medidas e agora avisa para a aplicação das medidas não dar cabo do défice?'. Mas, logo a seguir, passaram as palavras do próprio Marcelo. Afinal não era nada do que o jornalista tinha dito. Marcelo concordava com as medidas de que já tinha conhecimento e referia apenas que a fórmula de cálculo do défice não deveria contar com estas verbas excepcionais e as palavras dele eram dirigidas sobretudo a Bruxelas e a quem monitoriza as contas públicas. Ou seja, o jornalista não tinha percebido nada. Mas, mais grave, logo a seguir passam a palavra a Raul Vaz. O que achava ele das palavras de Marcelo? Pois bem. Mostrando não ter ouvido as palavras de Marcelo mas apenas o disparate do jornalista, Raul Vaz, com voz assertiva, encheu a conversa de censura ao Governo, dos apelos de Marcelo para que não esquecesse o controlo do défice, para que não use o dinheiro que agora parece que salta das pedras para dar cabo do défice. Nem queríamos acreditar naquilo. Não se tinha dado ao trabalho de ouvir as palavras de Marcelo e ali estava a desfiar disparates, papagueando o que outro tinha dito. A desinformação espalhada pelos comentadores é uma mancha que alastra pelas rádios, pelas televisões e jornais.

Depois, o dito Raul Vaz continuou, falando das medidas anunciadas -- e criticava o Governo por ter esperado tanto sem fazer nada -- e como se as medidas tivessem nascido ali, na reunião do Conselho de Ministros, sem preparação prévia, como se os ministros ali estivessem apenas a mando de Marcelo, e tivessem estado todo santo dia a inventar medidas à pressão. Ouvíamos aquilo perplexos. Então aquela criatura não percebe que, antes de as medidas irem a discussão e aprovação no Conselho de Ministros, são feitos estudos nos ministérios, que orçamentam verbas, que equacionam alternativas, que analisam a forma de implementar medidas...? Acharão que trabalho sério se faz em cima do joelho, sem bases? Sem antes terem negociado com Bruxelas verbas extraordinárias? Sem antes terem negociado que estas verbas não contam para o cálculo do défice?

E como se dá palco e se põe um microfone à frente da boca de gente que não pensa, não estuda, não se informa? Porque é que os contratam? Para quê? Com que intuitos?

Não passam de uns vulgares maledicentes, ignorantes, populistas, incendiários sociais.

Estes comentadores avençados estão a destruir a credibilidade do jornalismo e a intoxicar a opinião pública.

São uma doença. São um perigo para a democracia.



DESENVOLVER COM BEIJINHOS?


por estatuadesal
(In Blog,  O Jumento, 21/10/2017)
Beijinhos
Marcelo Rebelo de Sousa descobriu que os problemas nacionais se revolvem com abraços e beijinhos, na sua estratégia populista passa a mensagem de que os políticos são todos incompetentes e insensíveis menos ele que com um par de abraços, selfies e beijinhos tudo se resolve. Há pobres porque os políticos são insensíveis, há muitos sem-abrigo porque não há amor, há recessão porque falta um presidente a anunciar indicadores uns dias antes de publicados no INE.
Esta abordagem populista das dificuldades do país cria a ilusão de que não existem problemas de desenvolvimento, todas as consequências do subdesenvolvimento não passam de manifestações de incompetência, de insensibilidade e de falta de espírito missionário. Para Marcelo não há injustiças sociais, modelos económicos que podem gerar pobreza. Para ele não há diferenças entre a política económica de Gaspar e a de Centeno, ambas merecem elogio.

As políticas de desenvolvimento não fazem sentido, a política económica deve obedecer a prioridades determinadas pelo sentimento populista da ocasião, se num mês a prioridade são os sem-abrigo no outro é o crescimento, depois é o pagamento da dívida, agora são as florestas, daqui a três meses o governo deve ir de armas e bagagens atrás de uma qualquer outra prioridade. Se ocorrer um sismo a prioridade será a habitação e os regulamentos da construção civil, se ocorrerem cheias a prioridade deixará de ser os sem-abrigo, o pagamento da dívida, a construção civil ou os incêndios para passar a ser a limpeza das ribeiras e a regularização dos rios.
O rei do Butão,Jigme Singye Wangchuck, inventou a Felicidade Interna Bruta (FIB) ou Gross National Happiness (GNH), o indicador de desenvolvimento passou a ser a perceção de felicidade. Basta ler os pilares desta abordagem (Wikipedia) para nos apercebermos de como o budista Jigme Singye Wangchuck e o católico Marcelo se norteiam pelos mesmos pilares. A abordagem conservadora e religiosa leva à mesma, desvalorização da realidade e dos princípios económicos em favor das ilusões.
Marcelo mede o sucesso do seu mandato em beijinhos, frases de velório, mensagens de dó a velhinhas, ao mesmo tempo que de forma subliminar vai promovendo a destruição da imagem e credibilidade dos políticos e das instituições, ele trata-se de se promover a si próprio aproveitando-se dos sentimentos primários das populações em situações de crise e de tragédia. Como não tem responsabilidades executivas e nunca poderá ser criticado pelas consequências do seu desempenho, ignora que o subdesenvolvimento exige muito mais do que as suas mezinhas populistas e que as prioridades não devem ser definidas em função da sua agenda populista.
Em vez de um país pensado a médio e longo prazo Marcelo quer um país governado segundo metas conjunturais e em função da sua popularidade. Em vez de um governo que aplica um programa aprovado no parlamento pelo qual irá responder, Marcelo deseja um governo que seja um anexo à sua Casa Civil. No fim dos mandatos presidenciais de Marcelo o país terá um elevado Felicidade Interna Bruta (FIB), mas estará tão subdesenvolvido como o encontrou.
Talvez o melhor primeiro-ministro para Marcelo seja mesmo Santana Lopes, Marcelo faz discursos e Santana tira notas, Marcelo dá abraços e Santana trata dos beijinhos, Marcelo trata das velhas enquanto Santana cuida das mais jovens, Marcelo preside onde há incêndios e Santana reúne o conselho de ministros onde ocorrerem cheias, Marcelo atira os foguetes e Santana apanha as canas.



História Universal da Infâmia


por estatuadesal

(Estátua de Sal, 22/10/2017)

7 Colinas(1)

Já publiquei hoje um excelente texto, retirado do Blog Um Jeito Manso, sobre os comentadores televisivos e as suas práticas, mormente sobre a prestação de Clara Ferreira Alves no último Eixo do Mal, no qual vociferou contra o actual Governo, contra António Costa, contra o PS, acusando este de enormes malfeitorias, às quais acrescentou, e cito, "para já não falar de Sócrates".

Pois bem, para aferirmos da credibilidade da escriba e comentadora, nada melhor que ler um artigo que publicou na Revista do Expresso, em 19/10/2013 e que aqui deixo. Em "História Universal da Infâmia", glosando o título de uma conhecida obra de Jorge Luís Borges (a rapariga é culta, pois claro), Clara defende Sócrates com unhas e dentes e acusa Passos Coelho de traidor à Pátria, sendo ele o verdadeiro responsável pela vinda da troika. É por isso que fico cada vez mais espantado com os ataques que faz ao Governo de António Costa e ao partido socialista. Ou talvez não fique. Clara Ferreira Alves é uma anti-comunista primária, inoculada nos tempos da guerra fria, uma frequentadora dos Encontros de Bilderberg a quem o apoio do Partido Comunista a um governo PS, causa ataques de urticária em catadupa.

O mais curioso é que o referido artigo foi retirado do site do Expresso, mostrando o link para o mesmo apenas a cara e a biografia da escriba, como podem ver Aqui. Talvez para não causar muito embaraço à Dona Clara, a quem foram dadas instruções para que, hoje em dia, desdiga tudo o que escreveu.

Subscrevo na íntegra o texto de 2013 de CFA. A rapariga até escreve bem. Pena é que à qualidade de escrita não alie maior memória do passado e maior coerência com o que escreveu e defendeu. Só os asnos não mudam de opinião, costuma dizer-se. Mas uma coisa é mudar de penteado, outra é fazer o pino, como uma acrobata exímia. Clara Ferreira Alves, se alguma vez deixasse de ser uma "vedeta televisiva", teria lugar garantido no Cirque du Soleil.

Clara Ferreira Alves



QUEM DÁ MAIS OU O PERÓN DE CELORICO


por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 23/10/2017)

Uma semana depois dos incêndios da semana passada o país vive um leilão. Quem dá mais beijinhos e abraços? Quem dá mais medidas? Quem dá mais dinheiro às vítimas? Quem dá mais vontade de chorar com os discursos oficiais? Quem apoia mais as medidas do governo?

No meio de tudo isto as vítimas são marionetas de ambições pessoais, de jogos partidários, de comentadores de qualidade discutível. Os problemas deixam de ser avaliados de forma racional, as políticas não carecem de reflexão, os dinheiros públicos jorram sem controlo público, as oposições devem deixar do ser em nome do unanimismo. Todos trabalham para a imagem, convém usar gravata preta e ter uma cara de acabou de saber que lhe morreu o pai.

O país vive uma bebedeira provocada pelos incêndios, Marcelo impôs uma metodologia de abordagem dos problemas, vai à frente dar beijos e abraços, chorar lágrimas de crocodilo, conquista o amor do povo, a velhinha chora, ele afaga, a televisão filma, o fotógrafo fotografa, o autarca põe um ar condoído, a jornalista chora, a senhora protesta e pede apoios para já, ele aponta ao governo, se ali não estivesse o protesto não seria filmado, ninguém ouviria a pobre senhora.

Os políticos deixam de ser avaliados pela competência, pela capacidade de refletir, o que dantes implicava preparação deve ser agora decidido na hora, Marcelo ouve o protesto e pede à televisão para transmitir em direto. No telejornal o apelo aparece, o primeiro-ministro vê, chama a televisão e diz que vai resolver o problema. É o governo na hora, ninguém pensa, ninguém equaciona, ninguém faz oposição, anda tudo a toque de caixa, é competente quem chorar mais, quem der mais beijos e abracinhos, quem conseguir levar os outros à lágrima.

O país deixou de ter governo, os governos deixaram de ter programas, o presidente suspende a agenda, o país nada perde porque as agendas presidenciais não passam de um calendário de almoços e jantares, alguns deles bem duvidosos como aquele do Santana Lopes. Sem agenda o presidente anda pelos problemas e subverte a democracia, a partir de agora o poder não emana da maioria parlamentar, não está na ponta da espingarda como diria Mao, agora está na lente da objetiva, na ponta da objetiva, de onde saíam balas saem agora imagens para destruir governos.

Já não é o general que a mando do comandante ordena que se aponte o canhão, agora é o presidente que monta o cenário, o assessor da comunicação que diz aos jornalistas quando devem filmar e estas apontam a câmara no momento adequado para passar a mensagem.

O governo deixa de governar, agora anda a toque de caixa e faz o que o presidente manda em direito, as ovelhas estão sem comer? o governo manda rações, a velhinha perdeu as galinhas? o governo manda um galinheiro novo. Estão a ver, diz o presidente, como eu consigo o que ninguém consegue? Nunca o país viu um santo milagreiro tão eficaz.

O problema é que neste imenso choradinho nacional promovido por Marcelo são os problemas que ele exibe que ficam mal resolvidos e todos os outros são ignorados, se hoje o que está a dar é o Pedrógão, amanhã serão esquecidos os de Pedrógão e passam a ser os de Oliveira do Hospital a estarem na moda. Como já estiveram os sem-abrigo, as agências de rating, o crescimento económico e tudo aquilo que foi útil para usar as televisões.

Este país já não precisa de governos e de Estado, é uma nova anarquia organizada, basta um presidente, uma comitiva de jornalistas e diretores de informação que usem os diretos e manipulem convenientemente a informação. O país mergulhou numa bebedeira populista nunca vista, aos poucos a crisálida da TVI está a transformar-se no Perón de Celorico.



"O adultério da mulher é um atentado à honra do homem"







“O adultério da mulher é um atentado à honra do homem”

(Paula Cosme Pinto, in Expresso Diário, 23/10/2017)
(Nota breve ao texto e à notícia: Como é que atrasados mentais e trogloditas como estes podem chegar a juízes em Portugal? Tal facto é revelador do nosso atraso enquanto país e da nossa ausência de instituições democráticas e progressistas. Com gente desta a aplicar a Justiça como se estivesse na Idade da Pedra lascada, como pode o país crescer, modernizar-se e ter futuro? 
Estátua de Sal, 23/10/2017)
Um resumo breve: uma mulher mantém um relação extraconjugal por dois meses. Termina-a por vontade própria e o amante começa a persegui-la e a ameaçar mostrar fotos íntimas ao marido caso ela não mantenha relações sexuais com ele. Ela não cede. O amante conta ao marido. O casal separa-se. O ex-marido, despeitado e deprimido, ameaça e insulta continuadamente a mulher após a separação. Ex-amante e ex-marido, embora sem grande premeditação, juntam-se para se vingarem. Encurralam a mulher e agridem-na. Esta consegue fugir e apresenta queixa. O que tem a Justiça a considerar sobre isto? Que a imoralidade da vítima é que levou a que isto acontecesse. Sim, em Portugal, em 2017.
O acórdão supostamente proferido pelo Tribunal da Relação do Porto – e digo aparentemente porque até agora ainda ninguém o desmentiu – foi partilhado na íntegra pela plataforma Capazes e pode ser lido aqui. Mas para vos poupar a leitura total, deixo-vos algumas passagens, agradecendo desde já que não se use o cliché da descontextualização para menosprezar alguns dos excertos que aqui vou reproduzir. Desde a Bíblia, às leis de países que punem mulheres adúlteras com lapidação e ao velhinho Código Penal de 1886, parece que vale tudo para tentar culpar a mulher vítima de agressão, tentando-se assim justificar o injustificável:
- “Foi a deslealdade e a imoralidade sexual da assistente que fez o arguido X cair em profunda depressão e foi nesse estado depressivo e toldado pela revolta que praticou o acto de agressão.”
- “Este caso está longe de ter a gravidade com que, geralmente, se apresentam os casos de maus tratos no quadro da violência doméstica. Por outro lado, a conduta do arguido ocorreu num contexto de adultério praticado pela assistente. Ora, o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte”
- “Na Bíblia, podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte. Ainda não foi há muito tempo que a lei penal (Código Penal de 1886, artigo 372.º) punia com uma pena pouco mais que simbólica o homem que, achando sua mulher em adultério, nesse acto a matasse”
- “A conduta do arguido ocorreu num contexto de adultério praticado pela assistente. Ora, o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte”
- “Com estas referências pretende-se, apenas, acentuar que o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher”
Há algo que não podemos esquecer ao ler isto: os juízes - e os Tribunais – quando falam, falam em representação do Estado. Um Estado, aproveito para relembrar, que por cá é laico. Este tipo de argumentação com base religiosa e repleta de estereótipos de género, por mais que seja dada com a justificação em jeito de “a título de exemplo”, é inaceitável e, quer-me parecer, inconstitucional. Está carregada de moralismos, de juízos de valor, de interpretações de comportamento de cada um dos intervenientes totalmente enviesadas, com o género da vítima e dos agressores a ter um papel decisivo na forma com se olha para o caso. Como se o facto de se ser homem ou mulher tornasse a situação mais ou menos grave. Tudo isto nos leva ao caminho da normalização da violência, principalmente a que acontecesse em contexto de relação de intimidade. E essa normalização é talvez a estrada mais perigosa de todas, principalmente porque parece nunca mais ter fim.
CONTINUAMOS A DESVALORIZAR A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM PORTUGAL
Ainda me lembro de há uns meses também ter acontecido uma situação do género em Évora, quando o Tribunal da Relação anulou uma pena de violência doméstica usando este tipo de considerações: “Não é, pois, do mero facto de o arguido consumir bebidas alcoólicas, ou de tomar uma ou outra atitude incorreta para com a ofendida (por exemplo, ir ‘tirar dinheiro’ da carteira desta)” ou o facto de numa discussão “ter agarrado o pescoço desta com uma mão, ou de, perante a recusa sexual repetida (e assumida) da ofendida, o arguido pensar, e verbalizar, que a mesma tinha amantes” que se pode considerar que houve maus-tratos à vítima.
Por mais que os números anuais sejam assustadores, ainda desvalorizamos a violência doméstica em Portugal. Continuamo-nos a esquecer que a violência não passa exclusivamente pelas agressões físicas e a achar que estes crimes só são realmente crimes quando existe uma tentativa de homicídio ou quando a desgraça fatal já aconteceu. E mesmo nesses casos, ainda muita gente se põe a ponderar até que ponto a vítima não teve alguma culpa pela situação. Continuamos a tentar justificar as agressões quando devíamos, acima de tudo, questionar porque é que estas acontecem repetidamente, e em larga escala, com o mesmo padrão de géneros no que toca a vítimas e agressores. Se queremos analisar comportamentos por géneros, comecemos por este, por exemplo.
Continuamos a considerar que homens e mulheres têm obrigações e direitos distintos, já para não falar daquilo que é esperado enquanto conduta e comportamento social e familiar de cada um. Continuamos a achar que no toca à liberdade sexual, por exemplo, há diferenças entre o que é aceitável para homens e para mulheres. Continuamos a achar que o adultério feminino é mais grave, imoral, condenável e passível de vingança justificada do que o masculino. Continuamos a achar que as mulheres ainda se querem “belas, recatada e do lar”.
Está na altura de tirarmos a cabeça debaixo da areia e enfrentarmos a nossa realidade, que este acórdão do Tribunal da Relação do Porto tão bem corrobora: ainda vivemos sob a herança histórica de uma mentalidade patriarcal, misógina e, consequentemente, discriminatória. Com tribunais e demais órgãos de soberania a darem o mau exemplo.
Secretamente, confesso que continuo à espera que surja um desmentido a dizer que isto não passa de uma cabala da Internet. Que os nossos juízes – homens e mulheres, porque isto do sexismo não é exclusivo a um género – não contribuem para cenários de injustiça e discriminação como este, tendo por base a manutenção da dignidade e da honra do sexo masculino enquanto valor fundamental, e que pode ser ameaçado pelo comportamento feminino. Mas ou muito me engano ou isso não vai acontecer. Veremos.