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quarta-feira, 21 de junho de 2017

Síndrome do sobrevivente – A culpa de continuar a existir


por estatuadesal

(Por José Gabriel, in Facebook, 21/06/2017)
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Alguns amigos discordam do tom cáustico que muitos de nós têm usado na crítica à cobertura televisiva da tragédia de Pedrogão Grande. Por mim, admito que algumas das abordagens que aqui tenho feito têm sido algo duras, já que considero esta questão fundamental, e de um alcance que está longe de se limitar a estes eventos.
Nesse sentido, julgo, até, ter sido contido. Para além de a maioria dos repórteres fazer um trabalho de manipulação das consciências na mais grosseira linha tablóide - enquanto nos estúdios se trata das tarefas de manipulação mais tecnicamente política - quase todos jogam um jogo muito perigoso ao insistir em remexer nas emoções e feridas emocionais das vítimas com, por vezes, o entusiasmo de um torturador.
Os sinais de dificuldade em assumir a própria sobrevivência e o sentimento de culpa que se vai instalando no espírito de muitas destas pessoas pode ter consequências a longo prazo gravíssimas. O chamado "síndroma do sobrevivente", amplamente estudado, sobretudo no pós-guerra e a propósito dos sintomas psíquicos apresentados por muitos dos sobreviventes - o caso das vítimas do Holocausto é o mais notório -, pode gerar nos que sobrevivem a uma calamidade, uma guerra ou, até, um despedimento colectivo a que se escapa, um quadro que leva à auto-culpabilização, com sintomas físicos, psíquicos, comportamentais cujas consequências podem ser funestas.
Não aceito nem acredito que os repórteres não saibam disso. Por isso, não há perdão para muitas das técnicas de interrogatório - meço as palavras - que utilizam quando cercam as vítimas, de microfone em riste. O título que chegou a figurar na capa do Público a propósito de uma tragédia familiar de um homem que perdeu a mulher e duas filhas mas salvou-se e salvou outros familiares num outro carro - "Mário mandou mulher e filhas para a morte" - penso dar a medida do que estou a tentar transmitir e explica porque, apesar de tudo, considero, como muitos dos meus amigos, ter sido contido e sóbrio nos termos usados.
É que a desorientação, a inconsciência, a boçalidade que têm perpassado por muitos dos trabalhos de reportagem - designadamente a repetição até à náusea de entrevistas às vítimas mais desesperadas - , não são só tendenciosos e profissionalmente indigentes. São perigosos. Muito perigosos.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Jornalistas da SIC e da TVI


por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 18/06/2017)
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Pedrógão Grande foi vítima de uma tempestade de fogo, a combinação entre ventos fortes e de múltiplas direções em conjunto com uma trovoada desencadeou um incêndio de grandes dimensões. Um pouco mais tarde e com dimensões muito menores o fenómeno registou-se em Lisboa, onde por volta das seis da tarde se registou uma trovoada seca acompanhada de rajadas de vento.
Mas o que preocupa muitos dos jornalistas deslocados para o local não foi dar notícia do que sucedeu ou do que estava sucedendo, ávidos de morte e de sofrimento os jornalistas procuraram imagens que chocassem, que atraíssem espetadores, a TVI24 foi a vencedora, logo de manhã encontrou mortos na estrada e apesar das insistências da GNR para se afastarem insistiam em filmar.
Depois, desrespeitaram um familiar das vítimas que se encontrava no local, aproveitaram-se de alguém que passava por um momento difícil para expor o seu sofrimento em direto.
A SIC Notícias encontrou um possível motivo para culpas e quando ouviram que o sistema de comunicações Sirene tinha tido uma falha não se cansaram de procurar quem lhes dissesse que havia relação entre essa pequena falha e a tragédia. Já não era o que sucedia que devia ser notícia, o importante era beliscar as autoridades para agradar ao dono da estação de televisão, tantos mortos vinham mesmo a calhar.
Explora-se o sentimento de quem sofre, a impaciência de quem quer chegar a casa, incendeia-se o ambiente sugerindo que a GNR se atrasou a fechar estradas, chegam onde o INEM ainda não chegou e acendem o rastilho da revolta. Depois da trovoada seca chegaram a Pedrógão Grande estes jornalistas incendiários. às vezes tenho vergonha dos nossos jornalistas, uma classe que no passado granjeou grande prestígio mas que nos dias de hoje há muitos profissionais que não dignificam a sua própria classe.
Na busca de encontrar culpados para crucificar ainda antes de os incêndios estarem controlados a SIC ainda entrevistou um senhor zero da associação "Zero". É sabido que os ambientalistas são uns produtores de culpados e este zero á esquerda não desiludiu, não fez a mais pequena referência às consequências ambientais, disse as banalidades sobre pinheiros e eucaliptos, logo ali e sem qualquer base falou em descoordenação de meios. Enfim, um nojo.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Uma vergonha e casos de (muita) pouca vergonha



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 13/06/2017)
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Celebrava-se o Dia 10 de Junho, era feriado nacional, Marcelo e Costa multiplicavam-se em discursos e viagens, Assunção Cristas punha o seu ar mais sério. Todos celebravam o Dia de Portugal. Todos? Não. Passos Coelho precisa de recuperar os votos perdidos, o Expresso deu-lhe uma deixa, e mal se livrou do frete oficial acelerou rumo ao sul. Mas não foi para passar o resto do dia com a esposa e muito menos para celebrações, o tema era um petisco, um amigo de Costa tinha sido nomeado administrador da TAP, a mesma TAP que ele privatizou numa noite e que Costa devolveu ao país.
Era um escândalo entre os nomeados em representação do capital do Estado na transportadora estava quem tinha negociado, em nome do Estado, a reversão da privatização. Um escândalo, uma enorme falta de ética, quem defendera o Estado nas negociações com os privados ia agora defender os mesmos interesses do Estado como administrador não executivo.
O país parou de espanto, uma vergonha, Costa tinha inventado um novo “Catroga”, um amigo ia enriquecer na TAP. Como é sabido o cargo de administrador executivo numa empresa onde apenas os administradores nomeados pelos privados mandam na empresa, não só é um cargo altamente remunerado como tem um grande poder. Até a Catarina Martins juntou a sua à voz de Passos Coelho, estava indignada com tanta pouca vergonha.
Passos Coelho está de parabéns, o país anda há quatro dias a discutir um cargo da treta, remunerado com pouco mais do que gorjetas e sem qualquer poder. Foi este o grande problema nacional que levou Passos Coelho a ignorar tudo e todos e a esquecer que era Dia de Portugal. Depois dele anda meio mundo a perder tempo e até o CDS veio perguntar se a CRESAP tinha sido ouvida.
Passos Coelho tem mesmo razão, é uma vergonha que a sua grande preocupação no Dia de Portugal não tenham sido os problemas familiares ou proporcionar a sua companhia à família, mas sim aproveitar-se de uma notícia da treta para criar um fato político que só merece uma gargalhada e apenas serviu para percebermos as preocupações com que se ocupam os nossos partidos.
Em contraponto:
casos de (muita) pouca vergonha
Pouca vergonha é a Maria Luís ter empregado o seu marido na EDP, pouco depois de ter privatizado esta empresa.
Pouca vergonha é a EDP conseguir que Passos substituísse o secretário de Estado da Energia, gesto que Mexia terá celebrado com champanhe, para pouco tempo depois a EDP empregar o pai do novo secretário de Estado arranjar emprego na .... EDP.
Pouca vergonha é Passos Coelho se ter esquecido de pagar as contribuições `Segurança Social.
Pouca vergonha foi o Catroga ter negociado com a Troika que queria baixar as rendas da EDP e depois aparecer em presidente daquela empresa. Pouca vergonha foi o mesmo Catroga se ter oferecido a António Costa para lhe fazer fretes.
Pouca vergonha foi o último presidente do BES escolhido pela família Espírito Santo ter sido Mota Pinto?
Pouca vergonha foi a escolha de nomeação de Manuel Frexes, presidente dos autarcas sócias-democratas e da Câmara Municipal do Fundão, e Álvaro Castello-Branco, do CDS-PP e vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, para administradores da empresa “Águas de Portugal”.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

É pena, Costa.



por estatuadesal
(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 12/12/2017)

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Sabemos que os direitolas estão a sofrer quando se calam. Costa foi entrevistado por José Gomes Ferreira na passada quarta-feira e os direitolas ficaram calados. Portanto, ficaram em sofrimento. Não gostaram de ver a facilidade com que o socialista limpou o rabinho ao palhaço pago pelo Balsemão.
Não há nada de errado nisto de existir um império de comunicação, o Grupo Impresa, que serve os interesses políticos do seu dono. É a iniciativa privada, é a democracia, é a liberdade. Mas, então, que comam todos posto que não há moralidade. A gestão das linhas editoriais da SIC e do Expresso fez de Mário Crespo e do Zé Gomes, para dar exemplos notáveis na sua completa e caricatural distorção do código deontológico dos jornalistas, dois operacionais de uma estratégia reles, maníaca, de propaganda política a favor do PSD e contra o PS. Por extensão, e de acordo com a mesmíssima lógica, o papel político de Ricardo Costa e de Pedro Santos Guerreiro – o qual até pode estar a ser exercido de forma natural; isto é, genuína, porque eles serão isso e sempre o seriam mesmo que não trabalhassem para o militante nº 1 do PSD – é o de orientar a leitura noticiosa oficial para aquela perspectiva que promova os interesses de uma certa direita e que denigra ou apague os interesses de uma certa esquerda. Nenhuma novidade nisto, obviamente, apenas se lamentando que tal não seja assumido frontalmente.
A novidade que importa chama-se António Costa. Estava destinado há muito a ser primeiro-ministro, mas ninguém conseguiu antecipar, sequer imaginar, a pedrada no charco que constitui a actual solução de Governo. Fruto de várias circunstâncias felizes, desde a chegada de Marcelo à manutenção de Passos, da recuperação do poder de compra aos ganhos nas exportações, Costa vai com um ano e meio de sucessos ininterruptos e crescentes. Se conseguir levar as agências de notação financeira a retirar Portugal da categoria “lixo”, não haverá champanhe suficiente em Lisboa para acudir aos brindes no Rato. Este o contexto do seu confronto com o cão de fila da SIC, o qual decorreu sem qualquer laivo de agressividade, sem a mínima acrimónia. De um lado, o pseudo-jornalista que explora a iliteracia económica generalizada e o populismo do tempo para disparar contra o PS com fanatismo circense, do outro, o líder do partido mais importante do sistema partidário e actual chefe de um Governo que promete inaugurar uma nova era na cultura política portuguesa, caso os dirigentes do PS, PCP e BE reproduzam nas próximas décadas a inteligência ideológica que levou ao acordo de 2015. Dois mundos sem qualquer contacto entre eles, pelo que a entrevista serviu apenas para vermos como a famigerada displicência de Costa chegou e sobrou para a vacuidade e deboche do Zé que nos toma por muito parvos.
Porém, Costa merece que se diga algo mais a seu respeito. Ele tem gosto em exibir a sua capacidade para meter no bolso os profissionais da caça aos socialistas que pululam no ecossistema mediático ao serviço da direita. Com isso igualmente transmite a ideia de que não há mal nenhum neste aspecto da nossa vida social e política, de que é errado estar a protestar, a indignar-se.
Pelo contrário, há que cobri-los de sorrisos, risinhos e até oferecer-se para tomar conta dos seus filhos nas instalações do Governo caso precisem de ajuda. Foi assim que terminou a entrevista com o grande especialista em acções do BES, satisfeito da vida pelo “debate” que tinha ganhado por KO. É verdade, como escreve a Isabel, que valeu a pena vermos Costa esmagar os sofismas do palhacito, mas não há nada de admirável num chefe político que sente a necessidade de recorrer à adulação para lidar com a escória da indústria da calúnia.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Keep calm and carry on


por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 05/06/2017)
Autor
                        Daniel Oliveira
Em plena campanha eleitoral, em queda nas sondagens e vendo o seu opositor a conseguir mudar o tema da campanha para os assuntos sociais (graças ao arrojado programa eleitoral trabalhista), Theresa May aproveitou os atentados de Londres para endurecer o seu discurso em matéria de segurança. Jeremy Corbyn fez o mesmo, acusando os conservadores pelos cortes feitos nas forças de segurança. Líderes de todo o mundo transmitiram a sua solidariedade aos londrinos. O idiota supremo aproveitou o momento para atacar o presidente da câmara da enlutada capital britânica que teve de declarar que tinha mais que fazer do que responder aos twittes de Donald Trump.
Os atentados, de que resultaram sete mortos e 48 feridos, são também uma oportunidade para os media de todo o mundo. Durante dois dias assistimos a diretos à escala global, com e sem informação, em que, para além dos factos relatados e que são notícia, se fizeram horas de análise. Horas em que não foi dito nada que não tivesse sido dito nos últimos atentados, numa espécie de ritual sazonal que vai perdendo cada vez mais o sentido.
Ariana Grande voltou a subir ao palco para o concerto “One Love Manchester”, em que, com Robbie Williams, Katy Perry, Miley Cyrus, Justin Bieber ou os Cold Play, prestou homenagem aos 22 mortos de há duas semanas. Foi recolhido muito dinheiro para o fundo de emergência instituído pela câmara da cidade e pela Cruz Vermelha britânica e muitos canais de televisão, incluindo a nossa RTP, transmitiram o espetáculo carregado de emoção.
Se para um ou outro político os atentados terroristas são uma oportunidade, a maioria das reações aos trágicos acontecimentos de Londres resultam de gestos generosos ou de um sincero sentido de dever. Os diretos, as declarações públicas, os rituais simbólicos de solidariedade, tudo é compreensível e sinal do melhor que temos. Mas é mau para nós.
Se não queremos ser fantoches dos terroristas, temos de dosear o festival em torno de cada atentado. Evitando diretos televisivos vazios de conteúdo, recusando a construção coreografada de momentos de emoção coletiva, fugindo de discursos que tentam traduzir a mensagem que os terroristas nos querem fazer passar
Quando eu era bastante novo a Europa era palco muito frequente de atentados terroristas. Do IRA, dos unionistas da Irlanda do Norte, da ETA, das Brigadas Vermelhas, do Baader-Meinhof ou de grupos palestinianos, as notícias de atentados eram muito frequentes. 1979 até foi o ano em que se registaram mais atentados em solo europeu até hoje. Mais de mil. É verdade que se tratava de um tipo de terrorismo diferente. Tinha reivindicações políticas e isso tornava-o, por assim dizer, mais inteligível. Mas, tirando casos muito extraordinários, como o dos Jogos Olímpicos de Munique ou o sequestro e assassinato de Aldo Moro, eram notícias de um dia com algumas repercussões nos noticiários seguintes. Não tomavam estas proporções mediáticas porque estes meios mediáticos não existiam. E como as proporções mediáticas não eram estas a sensação de insegurança era menor e as reações políticas também não eram tão fortes.
Não podemos fazer com que o mundo volte para um tempo em que tínhamos mais controlo sobre a dose mediática que cada assunto merecia. Mas, se não queremos ser fantoches dos terroristas, temos de dosear o festival em torno de cada atentado. Evitando diretos televisivos vazios de conteúdo, recusando a construção coreografada de momentos de emoção coletiva, fugindo de discursos que tentam traduzir a mensagem que os terroristas nos querem fazer passar. E nunca procurando, um ou dois dias depois de cada atentado, definir políticas que com ele se relacionem.
Os terroristas já não precisam de grandes meios para os seus ataques. E nós tratamos de lhes garantir a produção mediática e estética, dando sentido, dimensão e até banda sonora ao seu terror. E criando as condições emocionais para sermos obrigados a reagir politicamente como eles querem. Eles disparam sobre os nossos pés e nós dançamos ao ritmo dos tiros. Temos de decidir se queremos recuperar o controlo. Se sim, temos de tentar deixar de querer mostrar quem sente mais, quem é capaz de comover-se mais e comover mais os outros. Temos de ser mais fleumáticos. Porque é com a nossa emoção coletiva que eles jogam. E parece que nós a queremos amplificar. Talvez seja o medo de deixarmos de sentir qualquer coisa. E, por mais terrível que isto pareça (e de facto é sinistro), é quando deixarmos de sentir tanto que eles deixarão de nos manipular.
Em 1939 o Ministério da Informação britânico produziu um cartaz que se destinava a dar força à população em caso de invasão alemã. “Keep calm and carry on” (“tenha calma e siga em frente”), foi um cartaz visto por muito pouca gente durante o Blitz. Não era um apelo à resignação nem uma frase para ser usada em t-shirts. Era um apelo à resistência e à inteligência coletiva. Perante o terrorismo, não se pede a inação. Pede-se, na exibição de tantas emoções e momentos mediáticos, alguma contenção.