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quinta-feira, 2 de março de 2017

A culpa é do Centeno

 

(In Blog O Jumento, 01/03/2017)
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Mário Centeno

O país conseguiu provar que era possível reequilibrar as contas do Estado sem a experiência inovadora da desvalorização fiscal combinada com o empobrecimento dos trabalhadores e a destruição da classe média? Conseguiu e a culpa foi do Centeno, o diabo não apareceu, Passos Coelho pode cumprir a promessa de votar no PS se conseguisse tal feito e a Maria Luís pode regressar à escola primária para fazer a disciplina de aritmética.
Os portugueses podem ter um ano tranquilo, sem tarados a explicarem desvios colossais, sem um primeiro-ministro a usar a troika para os chantagear, sem as palermices do Paulo Portas? Sim, o país percebeu que se pode viver sem medo da troika e do Eurogrupo, que se pode planear a vida sem receio de que Passos lhe tire metade do próximo ordenado ou que decida que só vai receber salário, mês sim, mês não. E a culpa foi do Centeno.
O país pode viver tranquilamente, com estabilidade fiscal, sem a necessidade de planos B, C e D, sem serem necessários sucessivos orçamentos rectificativos? Pode e deve isso a Centeno, acabaram-se as paranóias do Passos, a incompetência da Maria Luís e os livros brancos do Paulo Portas.
É possível um ministro das Finanças rigoroso e competente dialogar com o BE ou com o PCP, fazendo aprovar orçamentos de forma quase tranquila? É, e a culpa é do Centeno; foi graças a ele que o parlamento aprovou dois orçamentos, algo que a direita nunca imaginou ser possível.
É possível gerir altos níveis de austeridade, melhorar os rendimentos, evitar a recessão e conseguir que os portugueses estejam optimistas, como se não se via há muitos anos? É, e a culpa é do Centeno, os portugueses confiam na sua competência, no seu rigor, na sua capacidade negocial interna e externa e na sua palavra.
São demasiadas culpas para um ministro, ainda por cima alguém semqualquer experiência politica, que ainda não domina os truques de linguagem palaciana de uma seita política formada nas juventudes partidárias, gente para quem é melhor andar a roçar o cu pelas cadeiras e depois ir tirar um curso de canalhice a Castelo de Vide, do que queimar as pestanas com um doutoramento nas melhores universidades do mundo, onde, aliás, pouco mais poderiam fazer do que serem jardineiros.
É por isso que querem destruir Centeno a qualquer custo, é por isso que vale tudo e até se servem de um maluquinho vingativo e sem princípios, que pede a um qualquer Don Corleone que divulgue as mensagens SMS que recebeu no quadro de uma relação de confiança e lealdade. O problema é que os portugueses não são parvos e esta sanha de ódio pode ter o resultado contrário ao esperado. Centeno é o melhor ministro deste governo e aquele que mais é apreciado pelos portugueses.
A manobra é tão evidente e de tão baixo nível que a direita pode vir a pagar um preço muito elevado pela institucionalização da canalhice. O desespero de Passos Coelho está a conduzi-lo para um beco sem saída.
 
Ovar, 2 de Março de 2017
Álvaro Teixeira

Procurador-geral dos EUA reuniu-se com embaixador russo durante a campanha

 

RTP 02 Mar, 2017, 07:22 / atualizado em 02 Mar, 2017, 11:49 | Mundo
Procurador-geral dos EUA reuniu-se com embaixador russo durante a campanha
| Kevin Lamarque - Reuters

O procurador-geral dos EUA, Jeff Sessions, manteve dois encontros com o embaixador da Rússia durante a campanha, um contacto que já desencadeou apelos para que Sessions se afaste da investigação sobre a interferência de Moscovo nas presidenciais que conduziram Donald Trump à Casa Branca.

Jeff Sessions, um dos primeiros apoiantes do Presidente, Donald Trump, e assessor político do candidato republicano, não divulgou que manteve essas comunicações na audiência do processo da sua confirmação, em janeiro, altura em que foi questionado se "alguém afiliado" à campanha presidencial tinha tido contacto com os russos.
Em defesa do agora procurador-geral dos Estados Unidos, a porta-voz do Departamento de Justiça dos Estados Unidos defendeu na noite de quarta-feira que "não havia nada de enganador na resposta" de Sessions.
"Mentir sob juramento"
Essa resposta não convenceu, contudo, os democratas que exigem que Session peça escusa da investigação federal em curso. A líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, acusou o procurador-geral de "mentir sob juramento" e exigiu que renuncie.
Jeff Sessions manteve mais de 25 conversas com embaixadores estrangeiros na qualidade de membro de um comité do Senado, e duas interações, separadas, com o embaixador da Rússia, Sergey Kislyak, uma informação já confirmada pelo Departamento de Justiça norte-americano.
Uma das visitas teve lugar no outono, segundo Sarah Isgur Flores, enquanto a outra decorreu no âmbito de um encontro de um grupo após um discurso de Sessions na Heritage Foundation no verão, quando vários embaixadores - incluindo o russo - o abordaram posteriormente.
Os contatos foram inicialmente revelados pelo Washington Post que falou com os outros 25 membros do comité dos Serviços Armados para saber se também tinham mantido contactos com o diplomata russo. Dos 20 que responderam, todos disseram que não.
Pedido afastamento da investigação

Os mais recentes desenvolvimentos desencadearam já apelos de membros do Congresso para que Sessions seja afastado da investigação do FBI que analisa um eventual envolvimento russo na campanha presidencial.
"Se forem rigorosas as informações de que o procurador-geral Sessions - um proeminente substituto de Donald Trump - se encontrou com o embaixador Kislyak durante a campanha e falhou em revelar este facto durante a sua confirmação, é essencial que ele se abstenha de desempenhar qualquer papel na investigação à ligação entre a campanha de Trump e os russos", afirmou Adam Schiff, principal democrata membro do comité das Informações da Câmara dos Representantes.
Durante a sessão de confirmação de janeiro, o senador Al Franken alertou Sessions para as alegações de que teria havido contactos entre assessores de Trump e a Rússia durante as eleições presidenciais.
Em concreto, perguntou a Sessions o que faria se houvesse provas de que alguém da campanha de Trump tinha estado em contacto com o governo russo durante a campanha.
Sessions respondeu não estar a par dessas atividades e, depois, acrescentou: "Fui chamado de 'substituto' por uma ou duas vezes durante a campanha e não tenho, não mantive comunicações com os russos, pelo que não estou em condições de comentar sobre isso".
Resposta "enganadora"
A porta-voz do Departamento de Justiça considera que essa resposta que não foi enganadora: "Ele foi questionado durante a audiência sobre comunicações entre a Rússia e a campanha de Trump - não sobre os encontros que teve como senador e membro da Comissão de Serviços Armados", afirmou num comunicado, citado pela agência noticiosa norte-americana Associated Press.
O senador Al Franken, num comunicado também emitido na noite de quarta-feira, afirmou que lhe preocupa que a resposta de Sessions tenha sido, "na melhor das hipóteses, enganadora", afirmando que planeia insistir com Sessions sobre o seu contacto com a Rússia.
"É mais claro do que nunca que o procurador-geral não pode, em boa fé, supervisionar a investigação do Departamento de Justiça e do FBI sobre a ligação Trump-Rússia, e que deve recusar-me imediatamente", afirmou Franken.

Ovar, 2 de Março de 2017
Álvaro Teixeira


LafargeHolcim admite financiamento a grupos armados na Síria

LafargeHolcim admite financiamento a grupos armados na Síria

RTP 02 Mar, 2017, 10:03 / atualizado em 02 Mar, 2017, 11:34 | Mundo


O relatório conduzido pela empresa não esclarece se o financiamento teve como destinatário o Estado Islâmico | Khalil Ashawi – Reuters
 

A gigante suíça de construção admitiu ter financiado grupos armados na Síria para manter a atividade numa fábrica em Jalabiya, a 150 quilómetros de Alepo. A LafargeHolcim não especifica que grupos receberam dinheiro, mas uma investigação do jornal Le Monde denunciava no ano passado que os fundos tinham chegado aos cofres do Estado Islâmico.

A LafargeHolcim admite ter alcançado acordos “intoleráveis” com grupos armados de forma a garantir a segurança de uma fábrica de cimento na Síria. O jornal Le Monde revela que a empresa conclui, através de um estudo interno, que a subsidiária local financiou grupos armados, sem esclarecer quais em concreto. 
Em causa está uma fábrica de cimento em Jalabiya, comprada pela francesa Lafarge em 2007, à egípcia Orascom. A aquisição aconteceu anos antes da fusão entre a Farage e o grupo helvético Holcim, consumada em julho de 2015.
A cimenteira de Jalabiya só ficou operacional em 2010, um ano antes do início da guerra civil na Síria, em março do ano seguinte. Mas gestão de fábrica procurou garantir o funcionamento da fábrica tanto tempo quanto possível, mesmo com o recrudescimento dos conflitos. 
“Em retrospetiva, as condições necessárias para assegurar a continuidade da operação da fábrica eram inaceitáveis”, concluiu uma investigação interna, a que o diário francês teve acesso.
"Desafios muito difíceis"
Em junho do ano passado, o jornal Le Monde noticiava que os pagamentos da subsidiária tinham chegado aos cofres do Estado Islâmico. Após várias denúncias por parte de organizações não-governamentais, a gigante suíça ordenou uma investigação interna a estes pagamentos a grupos armados. 
"A deterioração da situação política na Síria levou a desafios muito difíceis para a segurança das operações e funcionários. Isto incluiu as ameaças à segurança dos funcionários e interrupções no fornecimento necessários para operar a planta e distribuir seus produtos" admitiu a LafargeHolcim.

A partir de 2013, com a emergência e presença constante do Estado Islâmico naquela região, o normal funcionamento da empresa ficou comprometido. Segundo o Le Monde, a Lafarge cedeu ao pagamento pela passagem de materiais que passavam nos postos de controlo dos jihadistas, na tentativa de manter a operação. 
"Os responsáveis pelas operações na Síria parecem ter agido da forma que pensaram que era do melhor interesse da empresa e dos seus funcionários. No entanto, o inquérito revelou erros de julgamento significativos, que contradizem o código de conduta em vigor ", acrescenta o relatório interno.
O relatório conduzido pela empresa não esclarece se o financiamento teve como destinatário o Estado Islâmico, referindo-se no abstrato a “grupos armados”. Mas o jornal francês garante que a empresa financiou diretamente a organização terrorista durante um ano, uma vez que os jihadistas interromperam o funcionamento da fábrica em setembro de 2014, quando captaram a zona de Jalabiya. 

Ovar, 2 março de 2017
Álvaro Teixeira


quarta-feira, 1 de março de 2017

A sério que o menino não está na Operação Marquês? É que está lá toda a gente

 

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 01/03/2017)
Autor
Daniel Oliveira

                                

A Operação Marquês começou por ser em torno das relações entre José Sócrates e o grupo Lena. Mas, apesar deste grupo continuar a ser investigado, os números conhecidos deixaram claro que os seus negócios com o Estado até tinham sido menos recorrentes durante o mandato de Sócrates do que no governo anterior. Depois, a investigação passou a ser em torno do empreendimento de Vale do Lobo. Fosse o caso, dir-se-ia que a montanha tinha parido um rato. Dificilmente tal negócio poderia explicar o fluxo de dinheiro que ia de Santos Silva para Sócrates. Agora, chega um negócio a sério e que envolve as golden share do Estado na PT, a própria PT e o BES.
A sensação com que ficamos é que os investigadores sabem, como nós sabemos a partir dos dados já provados, que José Sócrates recebia dinheiro que não era seu e estão convictos que esse dinheiro tinha como origem a corrupção. Eles sabem que Sócrates é culpado. Estão a investigar para saber de que é ele culpado. Talvez seja assim que se investigue, mas quando essa investigação se faz, em simultâneo, nos tabloides, deixa um rasto de confusão e de condenados sem provas pelo caminho. E esta é a minha perplexidade: a ligeireza com que a acusação deixa cair na imprensa diferentes suspeitas e pistas indicia uma investigação que está há vários anos à procura de rumo. E que abre novas frentes de ataque sempre que o prazo vai expirar.
A minha segunda perplexidade tem a ver com a dimensão deste processo. Toda a gente está lá: Sócrates, Salgado, Vara, Lalanda de Castro, Horta e Costa, Zeinal Bava, Granadeiro. E está o grupo Lena, a PT, o BES. Se a investigação durar mais tempo arriscamo-nos a ter lá o PSI20 inteiro. O que me leva a desconfiar da dimensão desta investigação. Não que duvide que as teias da corrupção atravessem grande parte das maiores empresas nacionais, passem pelo bloco central e tivessem como centro nevrálgico o dono disto tudo. Mas porque uma investigação que tente cobrir toda a corrupção nacional, estendendo-se mesmo até às ramificações do processo Lava-Jato, está condenada ao fracasso. Poderá, como aconteceu no Brasil e em Itália, implodir com o sistema político. Mas dificilmente chegará, pela sua megalomania, a qualquer tipo de conclusão judicial. Como em quase tudo, também nestes processos “small is beautiful”. Se tudo o que o Ministério Público vai fazendo cair na imprensa constar mesmo de uma investigação que há muito ultrapassou todos os seus prazos de validade, ou saiu a sorte grande ao Ministério Público ou tem mais olhos (suspeitas) do que barriga (provas). Alguém acredita que se fará uma investigação sólida, abrindo tão ambiciosa frente como a da PT/BES, a duas semanas do fim do prazo?
A minha terceira perplexidade não tem diretamente a ver com a investigação e, para ser sincero, é mais uma confirmação do que uma perplexidade. Se bem se lembram, Zeinal Bava era um dos gestores mais competentes deste país. Henrique Granadeiro era de uma seriedade à prova de bala. O Banco Espírito Santo era o mais sólido dos bancos nacionais. Quem se atrevesse a pôr em causa estas certezas firmadas – como quem hoje se atreva a criticar Belmiro de Azevedo ou Alexandre Soares dos Santos, António Domingues ou António Mexia – era um radical de esquerda, um populista movido pela inveja.
No entanto, como se vai percebendo de cada vez que se puxa um fio do novelo, a nossa elite económica, e não as nossas leis laborais, a produtividade dos nossos trabalhadores ou o nosso Estado demasiado grande, são o grande problema nacional. Há séculos.
 
Ovar, 1 de março de 2017
Álvaro Teixeira

AS MEMÓRIAS de um “INCONSEGUIMENTO”! por estatuadesal

 

 

(Joaquim Vassalo Abreu, 01/03/2017)

vendido

Há uns dias, quando publiquei aquele texto a que chamei de “A ELEVADA ELEVAÇÃO”, que felizmente muita, mas muita gente mesmo leu, uma Amiga leitora assídua e que demonstra gostar do que escrevo, comentou que agora faltaria apenas que eu escrevesse sobre a Maria Luís quando ela fosse à Assembleia para “fazer de nós parvos”! Disse ela.

Eu respondi-lhe que sobre a dita já tinha dito o suficiente, já tinha há uns tempos publicado “A ÉTICA da MARILU”, disse-lhe que tinha sido o primeiro nas redes sociais a apelidá-la assim, e que não tinha passado disso, para além de a ter feito figurante proeminente no “QUEM TRAMOU O PETER STEPS RABBIT”, como Jessica Rabbits, claro!

Mas uma outra Amiga, esta dedicadíssima leitora mesmo e que, para além de condescendente Amiga, é Professora de Português e Literata, lembrou-me que faltava falar de uma tal “inconseguida” para finalizar o ramalhete e colocar a cereja em cima do bolo. Então eu lembrei-me de um texto que escrevi há quase dois anos, que a maior parte dos meus recentes leitores não conhecem, e mandei-lho. Respondeu-me que há muito não se ria tanto.

Pois se assim foi, sendo minha particular obrigação partilhá-lo, eu vou utilizá-lo como uma parábola, ou talvez melhor como alegoria, ao que agora se passa e ao que foi aquele mais que “inconseguido” poder anterior, e que era constituído por quem? Vejam só: Por um “inconseguido” Presidente da República; por uma autointitulada “inconseguida” Presidente da Assembleia e por um mais que “inconseguido” Chefe de Governo!

Comparando com os actuais até dá dó mas, agora e perante esta questão dos 10 mil milhões, tal comparação atinge os limites do inimaginável. O que disse hoje, resumidamente, o Dr. Núncio, pós graduado em “Offhores” e demais “Offs”? Que ao não publicar a lista não queria “prejudicar o infractor”! Se era para rir, eu não consegui!

Mas consegui sorrir quando, há quase dois anos atrás alguém, muito a propósito, alguém colocou aquela sarja no frontispício da Assembleia da República com a inscrição “VENDIDO”! Lembram-se, claro!

A “Inconseguida” Esteves, mesmo sem peito para a quilo, levou tal coisa tão a peito que quis saber quem teriam sido os responsáveis que tinham “conseguido” colocar ali aquilo e assim retratar de um modo eficaz o que aquilo realmente à época era.
E eu escrevi então este texto, que intitulei de: “QUEM VENDEU O PARLAMENTO, ESTEVES”?

Recordo que é uma parábola, ou uma alegoria, como entenderam, e é assim:

“Devo desde já confessar-te, para que saibas, que eu também não achei assim grande piada. Porque, mesmo sendo um significativo acto de rebeldia, é um acto inócuo. Quem lá colocou o “Vendido” pretenderia talvez dizer que “foi vendido” e vendido nesse último leilão de vendas, assim enrolado no pacote da TAP, da Carris, do Metro etc, mas não, eu não achei piada porque aquilo é uma redundância. E sabes porquê? Porque há muito já o foi e não é como aqueles apartamentos que têm a placa “vendido” para servir de chamariz e fazer-nos pensar que havendo já alguns vendidos poderemos comprar porque não estaremos sozinhos. E querem pretender dizer também que têm saída e são, portanto, bom negócio. Foi mesmo e tu, lamentavelmente, nunca notaste!

Por isso, ao contrário de ti, não me interessa quem foi porque isso não resolve o problema. E, sabes, com a permissividade que por essa casa impera, a começar pela gestão das contas que tu não consegues administrar, seguindo com a equilibrada bonomia que tu não consegues ter, continuando com a forma como tu não sabes dirigir, que interessa afinal quem foi se o centro, o chamado âmago do problema está aí dentro, a fugir-te entre os teus dedos, por entre os teus cachos de enriçadas menelhas, está aí mesmo nas tuas barbas (perdoa a força de expressão) e tu não consegues ver? É que tu, como arregimentada “inconseguida” que és, tu não vislumbras, tu não vês, tu não descortinas, tu não investigas nem prevês, tu não perguntas, tu não queres saber, tu vives, enfim, tu vives num mundo regimental.
Que interessa quem foi se um dos responsáveis da venda és tu?

Pois, minha doce, pura e regimental Esteves, tu nem te apercebes que és a segunda figura da Nação! Eu sei que se um dia acordasses dirias “Como é Possível?” e não te apercebes não é bem porque só te apercebes quando, em qualquer cerimónia oficial, ocupas aquele lugar ao lado da Cavacal múmia e achas engraçado, achas o máximo. E mandas piadas à Maria e olhas em volta a ver se descortinas no ambiente alguma jeitosa que valha a pena e estás no teu mundo porque aquilo é um divertimento. É assim como sair, estás a ver?

Sim, porque tu estás reformada, reformadíssima diria eu com todo o preceito, mas no activo e, como se diz cá na minha terra, com tudo em cima. Divertes-te, não é? Pois é! Tens todo o direito, mas…que interessa afinal quem foi? Para mim foste tu, ó Esteves! Não é bem “foste tu” mas foste conivente. Verdade verdadinha e sabes porquê Esteves? Porque tu não vês nada! Tu assustas-te facilmente. Se alguém nas Galerias manda um palpite tu mandas logo evacuar. Evacuar, repito, porque aquilo é um perigo para a Democracia, dizes logo. E se um polícia qualquer sobe a escadaria tu chamas logo a Polícia porque a casa da Democracia fica em perigo de ser assaltada pela Polícia e logo, e concomitantemente, o teu lugar, o lugar de uma reformada que não tem que fazer e se diverte fazendo cumprir o regimento. És, portanto, uma temperal regimental!

É que o Parlamento apresenta défice, dá prejuízos e tu és, automaticamente, uma inconseguida gestora. Tu diriges uma empresa, presides a um conselho de administração, e não sabes quais são as tuas funções. Ok, está certo, são apenas regimentais. Mas dá prejuízo o Parlamento Esteves? Como Esteves? Tu não tinhas um orçamento? Tu não controlas as contas, as viagens, as faltas, as ausências, as comissões, tu não controlas? Que administras tu, ó Esteves?

A gente sabe que tu és uma “ inconseguida” mas isso é coisa simples : é apenas um “ in”. E quem não tem um “in” que levante o dedo. Mas tu és uma reformada Esteves, tu não estás nem aí, que se danem dizes tu, têm é dor de cotovelo, mas…quem pôs afinal aquilo na varanda Esteves? Tu tens que saber e isso é que é importante para ti. Um ultraje ao Parlamento que diriges e tão bem administras, um infâmio ultraje à casa da democracia… a casa que tu deixas que apresente prejuízo, já viste? Que lindo exemplo para o resto do país, não é Esteves. E começa logo pelo teu imediato acima. Vê lá se todas as casas tivessem um orçamento assim. Ele gasta tudo, mas ao menos não apresenta prejuízo Esteves. E quem paga o prejuízo Esteves? Tu pagas? Vão-te à pensão de reforma? Tu pagas é nada! Tu só queres é estar ao lada da Cavacal múmia no 25 de Abril, no 10 de Junho, no raio que os parta, olhando para o fato da Maria ancuda e desdenhando-a porque ela conseguiu eleger comendador o que lhe fez a fatiota e tu a achares que o teu penteador é que merecia…

Mas ouve-me bem Esteves: eu sei quem foi que pôs lá aquela placa “vendido”. Mas tu não sabes mesmo? Pois, tu não sabes porque tu não vês, tu não auscultas, tu não lobrigas, tu não enxergas, tu és míope, tu andas na lua, tu só te preocupas com o regimento, com o “ Sr. deputado faça o favor de terminar, já excedeu o seu tempo ( já excedeu, reparaste?)”, não é esse o teu serviço. O teu serviço é estar lá!

Tu nunca te passou pela cabeça que aquele “vendido” esteja ultrapassado e, por isso, tu não sabes quem lá o colocou. Esteves, ouve-me mais uma vez : aquilo há muito que foi vendido. Há muito Esteves. Tu nunca notaste, não foi? Tu nunca notaste porque tu queres saber é de regimento. Isso sabes tu de cor, isso e as leis do regimento.

Mas eu vou-te dar uma dica: olha para a câmara, olha para o anfiteatro, tu olha para as comissões. Para as de Defesa, para as de Economia, para as de Saúde…quem lá vês? Não vês nada? Olha bem, vê quem lá está, raciocina um pouco se fores capaz e tenta saber a que organismos pertencem, não digo a que lóbis, porque isso é capaz de ser muita areia para ti, mas a que gabinetes, a que escritórios de advocacia, com quem eles coabitam, depois vê as negociatas que são feitas, quem as fês, aquelas leis à medida que tu mandas votar, aquelas leis precisas e concisas quando convém e aquelas oblíquas e indecifráveis quando interessa, tu que até consta que sabes de leis e foste até reformada pelas leis, tu não vês nada? Nada te chama a atenção? Nadica de nada?

Ao tempo que ele foi vendido Esteves, ao tempo. Que foi “vendido” é uma constatação Esteves. Para quê quereres a todo o custo saber quem lá colocou aquela constatação que toda a gente sabe menos tu?

Porque tu só sabes do regimento Esteves”!

Foi assim que acabei e, recordando-me do dia de hoje e da prestação do “OffNúncio”, veio-me à memória a “memória do inconseguimento”. Raio de memória a minha…

 

Ovar, 1 de março de 2017

Álvaro Teixeira