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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Rui Rio não faria melhor

 


miguel guedes
 
Após a apresentação pública do candidato do PSD à Autarquia do Porto, tudo indicava que assistíramos a uma encenação particular com notas de autor e requintes de estratégica malvadez. Rui Rio não faria melhor. Promovendo ou apoiando um candidato convenientemente inexistente aos olhos da opinião pública, o PSD de Rio afluiu em peso para uma iniciática demonstração sobre a falta de peso específico do candidato Álvaro Santos Almeida (ASA). Uma apresentação sem candidato. Qualquer notícia que tenha reproduzido uma ou duas frases de ASA terá pecado manifestamente por excesso. Rui Rio não usou da palavra (não se comprometendo em demasia, exercício de estilo que demarca o autor da criação), acomodou-se na cadeira ao lado de Passos Coelho (solidariedade institucional com o líder, motivando aplausos) e reafirmou (antes da chegada de Passos) que concorrerá à liderança do partido caso não surja uma alternativa credível que permita ao PSD mobilizar o eleitorado. Num par de horas, sempre a somar pontos.
Até ao KO. O momento zen no pleno da roleta programada acontece quando Rio assiste e resiste - sem riso aparente - ao momento em que Passos Coelho assegura que "o Porto está parado há quatro anos", vivendo da "herança que foi recebida e do adiamento" numa altura em que "nada se passa". Ainda não há delegados eleitos para o Congresso, Rio não foi eleito líder do partido, ASA ainda não é deputado da nação ou cargo análogo pela mão-promessa do criador, mas já Passos assina mais uma metáfora da vida para aqueles que não entendem ter morrido politicamente de forma nada prematura. O lado risível da declaração não se confina aos seus termos. É quase cândida a forma como Passos não aceita que o país tenha mudado sem ele. É quase infantil como Passos definha na liderança do partido à espera que os adversários internos - que agora elogia pela caução positiva do passado - lhe façam a trama.
Passos Coelho comporta-se como um candidato a monarca sem reino que não resiste a cumprir o protocolo de Estado. Intrigante como não assinou, a bem da simetria, a Petição que defende a "Inclusão do Duque de Bragança na Lei do Protocolo de Estado". Por absurdo, seria bem menos risível do que as suas declarações sobre a herança duma cidade que ainda há dois anos via bem governada. Com boa parte da Direita militante reunida à volta da memória que honra a descendência e representação dos reis de Portugal, a ausência do líder do PSD faz-se notar. É que a descendência no mais-representativo-partido-da-oposição-apesar-das-sondagens já é um processo degenerativo: não há memória de uma coisa assim.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
* MÚSICO E ADVOGADO
 
Ovar, 12 de abril de 2017
Álvaro Teixeira

terça-feira, 11 de abril de 2017

O golpe de força é um golpe de mestre ou apenas bluff?

A opinião de

Francisco Sena Santos
Francisco Sena Santos

A barbaridade em Khan Sheikoun tem tudo para nos revoltar. Quando vemos as imagens daquelas crianças, daquela gente de todas as idades, a morrer em asfixia pelo gás tóxico, saímos da rotina do desfile de imagens de guerra que, pelo efeito de repetição, quase desarma a nossa sensibilidade. A utilização de armas químicas mortais, como ficou evidente ter acontecido na semana passada na Síria, tudo indica que por acção da aviação do regime de Damasco, é um crime de guerra e um ataque à humanidade. É mais uma atrocidade na crueldade infinita, com vários autores, nesta guerra que já levou, em seis anos, umas 400 mil vidas e que gerou milhões de refugiados. A retaliação de Trump, enviada em 59 mísseis Tomahawk, gera uma primeira impressão de castigo merecido, algo de vitória moral sobre o regime brutal do insustentável Assad. Mas a eficácia da acção afigura-se inconsequente, a não ser no espectáculo e na propaganda de Trump. Em contrapartida, do ponto de vista estratégico de procura da paz, estes mísseis podem fazer disparar os riscos de escalada. Rússia e Irão já avisaram que responderão com contundência se houver novo episódio.
Os factos destes dias encaixam em cheio no que Zygmunt Bauman, sábio a dar-nos a entender o que acontece à nossa volta, definiu para o tempo actual como sociedade líquida: uma realidade em que todas as metas mudam a cada momento. Resulta uma sociedade imprevisível, desconcertante, onde o que é passageiro se impõe ao que é estável.
Trump, em toda a campanha eleitoral e nas primeiras semanas da sua presidência, repetiu que a sua América não se meteria no tema da Síria e que a prioridade externa é a de derrotar o inimigo comum, o terrorismo do califado Islâmico. Trump virou costas aos sírios e anunciou-nos uma América isolacionista, a ligar pouco ao resto do mundo.
No tempo de Obama, Trump tinha argumentado contra a hipótese de resposta militar americana a um igualmente chocante bombardeamento químico pelos caças de Assad. Então, Trump recomendou a Obama que guardasse a pólvora. Como interpretar esta mudança abrupta ao lançar fogo Assad que combate o terrorismo do Estado islâmico? Trump impulsivo? Ou um Trump a mudar de perfil, a tentar encaixar na prioridade “America First” (em que tem sofrido revezes) o velho papel de xerife do mundo, uma espécie de “America is back”? Há uma estratégia consistente para promover a paz?
O tempo tem mostrado que Trump tem apurado sentido da oportunidade. O horror global pelo ataque químico na Síria ofereceu-lhe uma ocasião mesmo a calhar. Num momento de popularidade interna em quebra e de alta da impopularidade externa, Trump, com esta cascata de mísseis, conseguiu elogios de opositores democratas nos EUA e de dirigentes europeus que lhe recusavam benevolência. Colocou-se como homem de acção, recuperou a confiança de alguns eleitores desiludidos e deve ter entusiasmado os falcões e o lóbi das guerras ao mostrar que a América continua a usar o bastão.
Com o golpe de força através dos mísseis lançados à distância sobre uma base principal de Assad, Trump, para além da propaganda, também pode estar a enviar mensagens para vários destinatários. Deixou no ar a possibilidade de acção semelhante contra um outro sinistro déspota, o norte coreano Kim, que se supõe beneficiar de tolerância da China, cujo presidente jantou nessa mesma noite com Trump. É plausível que tenha pretendido dizer a Pequim que tem de fazer parar os planos nucleares da Coreia do Norte, ou entram em acção os mísseis americanos.
Também terá passado uma mensagem aos que acusam de demasiada proximidade com Putin, precisamente quando avança nos EUA a investigação sobre o envolvimento suspeito de gente do staff de Trump com o aparelho de Putin no Kremlin. Trump mostrou indirectamente os músculos a Putin, em vésperas de uma cimeira diplomática em Moscovo entre a Rússia e os EUA. Significará que Trump sai do proclamado isolacionismo e adere à negociação diplomática?
Alguma esperança? O que está em causa na Síria não é uma guerra civil. É uma guerra global, jogada por representantes. De um lado, à cabeça, os dos Estados Unidos, da Turquia e da Arábia Saudita. Do outro, os da Rússia e do Irão. Está em causa a hegemonia numa região estratégica no equilíbrio geopolítico global. É uma guerra com muitas guerras dentro e em que não há bons, são todos maus. Sobram as tantas vítimas.
A Nobel da Literatura Svetlana Aleksievic lastimava outro dia que Trump seja uma catástrofe semelhante a Putin. Svetlana lamenta que a Rússia tenha perdido um certo romantismo, ainda que ingénuo, que avançou no tempo de Gorbachov. Hoje há pouco espaço para ilusões.
É de admitir o benefício da dúvida a Trump com este seu golpe de força na Síria. Pode vir a revelar-se um golpe de mestre. À partida, parece mais um bluff para a propaganda. Sendo que a imprevisibilidade é perigosa em tempo de conflitos muito complexos. A frota naval americana a abeirar-se do mar da Coreia levanta inquietações.
 
Ovar, 11 de Abril de 2017
Álvaro Teixeira

Sei o que fizeste em Torremolinos (estatuadesal)

 

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 10/04/2017)
Autor
        Daniel Oliveira
Não há nada mais repetitivo do que o discurso dos velhos sobre os novos. Se formos rever tudo o que cada geração disse e escreveu sobre as gerações que as precederam descobrimos que, ao contrário do que pensamos, a humanidade nunca parou de regredir nos últimos milénios. É uma reação natural: os mais velhos estranham a novidade e tendem a romancear a sua própria juventude. A sua geração é sempre mais culta, educada, respeitadora e civilizada do que a geração dos seus filhos e netos. Muitos dos meus vizinhos pensam isso mesmo sempre que olham para o Jardim do Arco do Cego, transformado, ao fim de tarde, em bar para milhares de universitários que deixam um tapete de copos de plástico sobre a relva. Tento sempre defender o óbvio: não há nada de geracional naquela falta de civismo. Ainda se lembram de Vicente Jorge Silva ter falado da “geração rasca”? Agora é a “geração rasca” que fala da que veio depois. É tão antigo como a humanidade.
Este discurso é tão automático como discurso reativo, que faz a geração mais jovem ouvir qualquer crítica da mais velha como sinal de resistência à mudança e mau envelhecer. A arrogância é semelhante, aliás. Ainda há uns dias fui a Coimbra participar num debate e dediquei grande parte da minha intervenção a zurzir na praxe. Rapidamente surgiu, de um jovem, a defesa da sua geração contra os ataques dos mais velhos (no caso, eu). Tive de explicar que o conflito de gerações não me diz nada. Só me diz alguma coisa quando ele manifesta mudanças sociais e políticas que são corporizadas pelas novas gerações. Que não considero esta geração menos esclarecida do que a minha. Terá os seus próprios problemas, que resultam do que hoje existe e antes não existia: as redes sociais, a ausência de privacidade, a dificuldade de ter um foco quando a informação chega de todo o lado a uma velocidade impressionante, a precariedade como único futuro. Mas é, em geral, uma geração mais bem preparada e informada do que a minha.
Parece que no final dos anos 70 houve uma viagem nacional de finalistas a Torremolinos de tal forma brutal que estas foram proibidas durante uns anos. Foi a desbunda da geração que agora se arrepia com a falta de civismo dos seus filhos e netos
Não sei o que se passou em Torremolinos. Provavelmente será a justiça a avaliar. Os jornalistas começaram a fazer o seu trabalho, ouvindo, como é suposto nestes casos, as várias versões. Nenhum patriotismo me fará defender qualquer tipo de selvajaria. E não me custa acreditar que uma estada de cinco dias de adolescentes com bar aberto tenha este resultado. Qualquer hotel que resolve fazer um acordo destes tem de estar preparado para gerir situações difíceis. Uma coisa é certa: não há paciência para a conversa sobre a geração selvagem, versão renovada da “geração rasca” (era a minha), produto requentado, servido sempre da mesma maneira há milénios. Parece que no final da década de 70 houve uma viagem nacional de finalistas a Torremolinos de tal forma brutal que foram proibidas durante anos. Foi a desbunda da geração que agora se arrepia com a falta de civismo dos seus filhos e netos.
Mas a loucura atingiu níveis delirantes quando Nuno Rogeiro, nos microfones da SIC Notícias, comparou o sucedido a um ataque do Daesh: “Irrita-me essa história das criancinhas portuguesas que chegam e vandalizam os países vizinhos. As famílias têm de estar alerta, as próprias crianças têm de estar alerta, porque não pode ser. É uma vergonha. É possível ser adolescente e não ser igual ao Daesh. Se houvesse uma estância turística espanhola e tivesse sido devastada pelo Daesh não sei se os resultados seriam piores. As pessoas têm de ter um bocadinho de calma.” Isto não foi escrito numa caixa de comentários, foi dito num canal de notícias por um comentador de política internacional que, entre outras coisas, faz análise sobre ataques do Daesh.
Não quero relativizar um ato de vandalismo, se foi disso que se tratou. Não quero dizer que é da idade. Quero apenas dizer que em todas as gerações houve gente civilizada e pouco civilizada. Que, apesar de ser fundamental ensinarmos aos nossos filhos as vantagens da civilidade, não houve um tempo de adolescência ordeira e respeitadora. A adolescência é um tempo de excesso, temos de intervir quando esse excesso se manifesta de forma destrutiva. Agora como há quatro décadas.
O que me parece que está a mudar, mas isto talvez seja eu a idealizar o passado e a assustar-me com o presente, é a dimensão que cada episódio ganha pela repetição permanente nos media e nas redes sociais. Que faz as pessoas perderem noção das proporções. Ao ponto de Nuno Rogeiro comparar um triste e condenável episódio com adolescentes a um atentado do Daesh. Sim, temos de ter um bocadinho de calma.
Ovar, 11 de abril de 2017
Álvaro Teixeira

Síria: Fissão Tóxica (estatuadesal)

 

(Por Pepe Escobar, in Brasil247, 07/04/017)
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"Esses atos odiosos do regime Assad não podem ser tolerados." Assim falou o presidente dos EUA. Tradução instantânea: Donald Trump – e/ou toda a sopa de letras das agências de inteligência dos EUA, sem qualquer investigação detalhada –, estão convencidos de que o Ministério de Defesa da Rússia está simplesmente mentindo.
É acusação gravíssima. O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, major-general Igor Konashenkov, reforçando que se tratava de informação "absolutamente objetiva e verificada",  identificou  um ataque da Força Aérea Síria lançado contra um depósito "rebelde moderado" a leste da cidade de Khan Sheikhoun usado pelos rebeldes para produzir e estocar ogivas carregadas com gás tóxico.  Konashenkov acrescentou que os mesmos produtos químicos foram usados pelos "rebeldes" em Aleppo no final do ano passado, conforme amostras recolhidas por especialistas militares russos.
Pois mesmo assim Trump sentiu-se compelido a telegrafar a linha que, hoje, virou sua pessoal linha vermelha na Síria: "Militarmente, não gosto de dizer quando e o que faço. Não estou dizendo que não farei coisa alguma de um modo ou de outro, e com certeza não diria a vocês (à mídia.)"
Por seu lado no gramado da Casa Branca, o patético reizinho de Playstation da Jordânia elogiava a "abordagem realista [de Trump] para os desafios na região."
Poderia passar por sketch de Monty Python. Desgraçadamente é de verdade.
O que está em jogo em Idlib.  Histeria à solta – mais uma vez –, a opinião pública ocidental esquece convenientemente que as armas químicas que Damasco declaradamente  possuía foram destruídas  faz tempo, em 2014, a bordo de um navio dos EUA, sob supervisão da ONU.
E a opinião pública ocidental convenientemente esqueceu que antes que Barack Obama transpassasse teoricamente a linha vermelha das armas químicas, um relatório secreto da inteligência dos EUA  já deixara bem claro que Jabhat [Frente] al-Nusra, codinome: al-Qaeda na Síria, já dominava todo o ciclo de produção e emprego do gás sarín e era capaz de produzi-lo em quantidade.
Para nem dizer que o governo Obama e seus aliados Turquia, Arábia Saudita e Qatar firmaram um pacto secreto em 2012 para lançar um ataque com gás sarín e culpar Damasco, criando o cenário indispensável para um replay da operação "Choque e Pavor". O dinheiro necessário para o projeto veio da conexão OTAN-CCG combinada a uma conexão CIA -MI6 também conhecida como linha de rato, para transferir todos os tipos de armas, da Líbia para jihadistas-salafistas na Síria.
Assim sendo pois, aquelas armas tóxicas que "desapareceram" – em massa – dos arsenais de Gaddafi em 2011 terminaram por ser 'um upgrade' para a al-Qaeda na Síria (não para o Estado Islâmico/Daech), rebatizado como Jabhat [Frente] Fatah al-Sham e amplamente descrita em toda a Av. Beltway do Departamento de Estado dos EUA, como "rebelde moderada".
Encurralados na província Idlib, esses "rebeldes" são hoje o principal  alvo do Exército Árabe Sírio (EAS) e da Força Aérea Russa. Damasco e Moscou, diferentes de Washington, estão empenhadas em esmagar toda a galáxia jihadi-salafista, não exclusivamente o Daech. Se o Exército Árabe Sírio continua a avançar, e se esses "rebeldes" perdem Idlib, é fim de jogo.
Assim sendo, a ofensiva de Damasco tinha de ser impedida, custasse o que custasse, e bem à vista de toda a opinião pública global.
Mesmo assim, absolutamente não faz sentido que apenas dois dias antes de nova conferência internacional sobre a Síria, e imediatamente depois de a Casa Branca ter sido forçada a admitir que "cabe ao povo sírio escolher o próprio destino" e que ninguém mais falaria de "Assad tem de sair", Damasco lançaria um ataque com gás tóxico que absolutamente   contrário a todos os seus próprios interesses e antagonizaria todo do universo OTAN.
A coisa aí anda – e fala – mais como o velho tsunami de mentiras que anunciou o início da operação Choque e Pavor em 2003, e com certeza anda e fala como alguma mesma velha campanha da "al-CIAda" returbinada. A [Frente] Jabhat al-Nusra nunca deixou de ser a garotinha da CIA, no cenário preferencial de mudança de regime sírio.
As crianças de vocês não são suficientemente tóxicas A embaixadora de Trump à ONU, quadro da Heritage Foundation, Nikki Haley, girou como neomíssil embriagado, como se poderia prever, monopolizando todo o ciclo ocidental de noticiosos de TV. Apagado, também previsivelmente, foi o vice-embaixador da Rússia à ONU Vladimir Safronkov, que reduziu a pó de traque a "obsessão do ocidente com mudar o regime" na Síria, que é o que sempre emperra esse Conselho de Segurança".
Safronkov repetiu que o chamado 'ataque químico em Idlib estava baseado em "relatórios falsificados dos Capacetes Brancos" – organização "há muito tempo desacreditada". Pura verdade. Mas agora os Capacetes Brancos até já ganharam um Óscar , e essa medalha de honra da cultura pop   os torna inacusáveis – para nem dizer que os imuniza contra os efeitos do gás sarín.
Inventem Trump e o Pentágono o que quiserem, analista independente da inteligência dos EUA, avesso a pensar corporativamente é bem claro: "Ataque aéreo contra a Síria, só se for coordenado com a Rússia, e a  Rússia não permitirá ataques aéreos contra Assad. A Rússia tem os mísseis de defesa bem ali e pode bloquear o ataque. Terão de negociar.  Não haverá ataque, porque qualquer ataque pode precipitar uma guerra nuclear."
As "crianças sírias" mortas são agora peões de jogo muito maior, muito mais perverso. O governo dos EUA pode ter assassinado um milhão de homens, mulheres e crianças no Iraque – sem qualquer 'indignação' manifesta entre as "elites" em todo o espectro OTAN. Há uma criminosa de guerra ainda à solta, que admite diante das câmeras   que o assassinato direta e indiretamente de 500 mil crianças iraquianas foi "justificado".
Por seu lado, Barack [Nobel da Paz] Obama instrumentalizou a Casa de Saud para que pagasse – e armasse – coisa como 40 grupamentos "selecionados" pela CIA na Síria. Vários desses grupamentos já estavam fundidos, ou haviam já sido absorvidos pela Jabhat [Frente] al-Nusra, atualmente Jabhat [Frente] Fatah al-Sham. E todos eles dedicados aos seus próprios massacres de civis.
Enquanto isso, o Reino Unido segue alegremente armando  a Casa de Saud, em sua empenhada luta para reduzir o Iêmen a uma vasta terra devorada pela fome, semeada de "danos colaterais" em seus túmulos. Ninguém no espectro da OTAN chora por aquelas crianças iemenitas mortas.
São crianças mortas pouco tóxicas.
 
Ovar, 11 de Abril de 2017
Álvaro Teixeira

segunda-feira, 10 de abril de 2017

AS RECEITAS EXTRAORDINÁRIAS- Do Passos… (estatuadesal)

 

(Joaquim Vassalo Abreu, in 07/04/2017)
ppc
 
Eu estive distraidamente a ouvir a entrevista de Passos Coelho à SIC, e quando digo distraidamente é porque já pressupunha não esperar dali nada de novo nem de extraordinário, o que não aconteceu como previa pois, por incrível que pareça, coisa que nenhum pós opinador notou ou referiu, nem agora na Quadratura do Círculo sequer que, por curiosidade, acabei por ver, ele disse realmente algo de extraordinário!
Confusos? Mas não fiquem pois, estando já estão habituados à minha redonda maneira de pensar e analisar, eu não atribuo facilmente a qualidade de “extraordinário” a uma coisa qualquer. Tem que ser mesmo extraordinária!
É que Passos Coelho, reconhecendo que o Governo atingiu realmente a meta do Défice só a alcançou porque “Mudou de estratégia e recorreu a medidas extraordinárias”. Que, para ele, seriam o tal Plano “B”. E que, assim, até ele…
Ora, facilmente concluo, e quer-me parecer, que Passos Coelho nunca entendeu nada do que são essas tais “medidas extraordinárias”! Ou melhor, “Receitas Extraordinárias”. No seu Governo isso nunca aconteceu(!) e se aconteceu foi sem seu conhecimento, claro. Isso foi lá com o Gaspar, com a Marilu ou fosse lá com quem fosse! Com ele? Com ele nunca!
Portanto, segundo ele, e concluindo, para que sigam atentamente, este Governo só conseguiu o Défice que conseguiu com recurso às tais “Receitas Extraordinárias”. Está dito e redito.
Mas, meu caro Passos Coelho, eu que não tenho o canudo em Economia, como você, mas que dela conheço assim uns princípios, vou tomar a liberdade de lhe explicar o que é, realmente, uma “Receita Extraordinária”. E, desde logo, é fácil: é o contrário da “ordinária”!
Por exemplo, aqui na minha casa e na minha Família: para além da receita “ordinária” (sem qualquer sentido pejorativo na sua dimensão), que são as Pensões minha e da minha esposa, que podiam ser ordenados também, “Receita Extraordinária” seria sair-nos o Euromilhões! Ou a “Raspadinha, pronto! Ou como uma Empresa receber assim um donativo, como recebem muitas Misericórdias, de alguém que não tem a quem deixar o dinheiro, ou então, o que ainda mais extraordinário é, o Estado receber 20% dos Euromilhões que vêm cá para este quadradinho à beira mar plantado e que disso não se pode queixar. E tem sido extraordinário, não tem?
Isto que eu enumerei, e podia até elencar mais algumas situações, é que são “Receitas Extraordinárias”, meu caro Passos Coelho! Querem dizer simplesmente que são receitas para além do ordinário, do comum, do espectável, do normal, do corrente, do não previsto e por aí adiante…
Mas, na sua confusa perplexidade, perguntar-me-á: Então, não sendo extraordinárias, quer dizer que são ordinárias? A sua pergunta, meu caro, por ser da ordem do pertinente, merece a minha resposta: SÃO!
Pois repare: Uma Empresa, por exemplo. Tem uma série de clientes com dívidas já em Mora e, a não se fazer algo, vão para contencioso. Qual é a função, a obrigação, coisas que resultam do bom senso e da boa gestão, dessa Empresa? É colocar um objectivo para a recuperação dessa Crédito Malparado e desenvolver todas as “démarches” possíveis, com acordos de pagamento, com perdões de juros, com renegociação de prazos, de modo a manter o crédito vivo e recebível! É do senso comum e da gestão comum, meu caro. É ORDINÁRIO! Como nos Bancos, como deve saber e não me vou repetir…
E vamos agora ao Governo ou ao Estado. Em cada exercício anual e orçamental estipular como objectivo a recuperação de Créditos Duvidosos, de Impostos em Mora, de Prestações em incumprimento etc. não será um acto de gestão “ordinário”? Extraordinário seria nada fazer e com todos os devedores a continuarem alegremente sem pagar, nem a isso serem chamados.
Mas se não sabe eu digo-lhe: os seus Governos fizeram-no todos os anos, este também o fez e os vindouros também o farão. E fá-lo-ão em nome de muitas coisas: da justiça, da equidade, do dever, da obrigação e, finalmente, da boa gestão. Não percebe? Nem agora?
Portanto, meu caro e inefável Passos Coelho, arranje lá outra explicação, homem. Diga, por exemplo que, sem essas tais “Receitas Extraordinárias” teria conseguido melhor! Porque não diz e, mais que dizer, explica?
Eu sei que você também meteu aí na embrulhada a redução do Investimento Público, cortes nos Serviços etc. mas, francamente, quem é você para isso criticar? Eu sou obrigado a concluir que, na realidade, você não tem mesmo noção de como governou. Mas será que governou mesmo?
E sabe mais, Passos Coelho: é que enquanto você afirmava que ia cortar 600 milhões nas Pensões, que era imperativo, este Governo fez reversões, actualizou salários, repôs rendimentos e diminui drasticamente o desemprego. Donde resulta menos pobreza, sabe? Aquela que você promoveu, para não aplicar outro verbo menos simpático.
Mas, a contragosto, lá conseguiu reconhecer que foi bom este Governo ter atingido o défice que atingiu. E, acrescentou, que foi melhor tê-lo conseguido do que o não ter alcançado, inspirando-se aqui, sem margem para dúvidas no Monsieur de La Palisse!
Mas, sabe, notei-o mais cândido, mais sóbrio, diria mole até, o oposto daquele animal ferido e feroz naquela primeira bancada da Assembleia, de dedo em riste e quase perdendo a respiração (por força da claustrofobia, claro)…Quem o terá aconselhado? O Montenegro? Não acredito! O Rangel? Muito menos! Terá sido o Presidente? Quem sabe…apesar daquela da Teodora! “Vichyssoise”, está bom de ver…
Por último: Ó Passos Coelho, você nem imagina o quanto eu estou carente de uma “Receita Extraordinária”. É que, sabe, eu de um “ordinário” não passo: É que ninguém me deve nada!
Yours Sincerely, que em Português quer dizer: Continue assim…
 
Ovar, 10 de Abril de 2017
Álvaro Teixeira