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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Panama Papers: há terceira será de vez, Expresso?

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por João Mendes

Em menos de uma semana, os famosos papéis do Panamá regressaram ao Expresso. Estranhamente, ainda não foi desta que a igualmente famosa lista de jornalistas avençados pelo saco-azul do GES deu à costa. Ontem foi a vez de José Sócrates, o homem que está em todas, cujo nome, avança o Expresso, foi incluído no relatório da Comissão de Inquérito do Parlamento Europeu sobre os Panama Papers. De estranhar seria se não fosse, ou não tivessem sido eles, os papéis, o momento Eureka da Operação Marquês. Ler mais deste artigo

Não consigo ficar calado



Estátua de Sal


por estatuadesal

(Manuel Alegre, in Diário de Notícias, 18/10/2017)

alegre

Sete séculos depois ardeu o pinhal de D. Dinis, o das "naus a haver", morreu o verde pinho do rei poeta. Dá vontade de chorar e não consigo ficar calado. É um símbolo triste da falência do Estado, fruto de décadas de desleixo, de incompetência, de amiguismos múltiplos, da submissão do interesse geral a interesses instalados e da capitulação perante lógicas que não são a dos fins superiores do Estado e do país.

Olho o rosto do camponês publicado na primeira página do Público e não consigo ficar calado. É o rosto de séculos de pobreza, o rosto do Portugal esquecido e abandonado pelo próprio Estado democrático, o rosto daquela parte do país que foi deixada para trás quando a agricultura foi vendida a Bruxelas a troco de fundos para auto-estradas que hoje levam a lado nenhum. Um Portugal que já só existe nas páginas de Aquilino e de Torga. Vi as imagens televisivas, aldeias destruídas, casas a arder, homens e mulheres a defender com as próprias mãos os seus bens ou o pouco e quase nada que lhes resta. Vi outra vez automóveis calcinados, ouvi as notícias dos mortos e não consigo ficar calado. Porque passou a haver cada vez mais incêndios desde que foram extintas as quatro regiões militares e os governadores civis a quem cabia a respectiva prevenção e coordenação? Não sei. Só sei que se fizeram grandes reformas e que os meios de combate aos fogos foram saindo das mãos do Estado, entregues ou partilhados com empresas privadas. Não sou um especialista, mas é preciso corrigir o que não deu bons resultados. Vi o meu país a arder, sei que morreram cem pessoas em quatro meses e não consigo ficar calado. Talvez a culpa seja minha, porque fui deputado e participei na construção de uma democracia que a páginas tantas se distraiu e não soube resolver problemas estruturais, como o reordenamento do território e das florestas, assim como o combate ao abandono e à desertificação do país. Não se ouviu como se devia ter ouvido o arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles. É certo que por vezes protestei, mesmo contra o meu próprio partido. Mas não foi suficiente. Não consigo calar-me e sinto-me culpado. Já disse que não sou um especialista. Mas acho que os meios de combate aos incêndios devem passar para o Estado. Os meios aéreos para a Força Aérea Portuguesa. E é óbvio que se torna urgente a criação de um corpo nacional de bombeiros profissionais organizado segundo normas e regras de tipo militar, como de certo modo já acontece em Espanha. Vai ser preciso enfrentar preconceitos e interesses instalados, mas este é um tempo em que é preciso coragem para tomar decisões para que o Estado não se demita de exercer as suas funções de soberania e seja capaz de proteger o território e garantir a segurança dos portugueses.




O CHARME INDISCRETO

Estátua de Sal


por estatuadesal

(Rui Namorado, in Blog O Grande Zoo, 18/10/2017)

discreto

1) Há vozes de direita trauliteiras e há vozes de direita meigas. Há vozes de direita que vociferam sempre e há vozes de direita que são hábeis nas tocaias, só atacando quando acham oportuno. Há vozes de direita que explodem ao vermelho e há vozes de direita que nunca perdem a calma.

Há vozes de direita que atacam sempre e há vozes de direita que só atacam quando nos vêem frágeis. Há vozes de direita que atacam todas as esquerdas e há vozes de direita que atacam a parte das esquerdas que em cada momento lhes convém. Há vozes de direita que não disfarçam a sua acrimónia quanto à esquerda e há vozes de direita que batem nas costas das esquerdas com a subtileza de quem procura o lugar onde um dia cravarão o punhal.

Da direita, seja ela trauliteira ou subtil, não se espere lisura e lealdade no combate político. Da direita, seja ela trovejante ou melíflua, não se espere uma distinção entre as esquerdas, quando as puder ferir seriamente. Para todas as direitas, a esquerda enquanto alvo está sempre unida.

2) Disto as esquerdas nunca se devem esquecer. As suas diferenças, se forem autênticas e não destruírem a casa comum, são uma virtude e uma respiração natural. Repito: se tiverem sempre em conta que são um alvo comum para todas as direitas, sejam elas brutais ou melífluas.

E que nenhuma das esquerdas se esqueça que, por mais mansa que pareça, qualquer direita, pela sua própria natureza, sempre que puder cravará a faca nas costas de qualquer das esquerdas.

3) Muitos de nós podem ainda  lembrar-se de como era, quando a direita autoritária ocupava o poder sem freios, quando havia um poder não democrático em Portugal .

E se nem todas as direitas são iguais, todas cabem numa mesma palavra. Todas têm no seu código genético como desígnios, a conservação da desigualdade, a relativização da liberdade, a subalternização de facto das pessoas às coisas, do trabalho ao capital. Todas vivem com base no pressuposto de que as esquerdas são um empecilho ao paraíso dos privilégios. E só não afastam esse empecilho se não puderem.

4) Em prol do mundo que almejam, o combate político das esquerdas deve ser sempre leal e democrático. Mas isso não significa que possa assentar na ilusão de que a direita adopta uma posição simétrica. A direita política é a formalização dos poderes de facto no tipo de sociedade  em que vivemos. Só encara o futuro para o confiscar, de modo a torná-lo um espelho cada vez mais pobre do presente.

Assim, no mundo em que vivemos a esquerda tem sobre a direita uma superioridade trágica, que está longe de ser evidente, mas que se reforça dia a dia. Na verdade, se a direita através do uso das suas vastas alavancas de poder conseguisse destruir as esquerdas no mundo, reduzindo a nada qualquer resistência ao capitalismo neoliberal, pouco tempo teria para celebrar a sua imaginária vitória. Apenas teria passado a certidão de óbito, não à esquerda, mas à própria civilização humana e no limite à existência da própria espécie humana. No mundo de hoje,  o drama é pungente. E se cada país tem uma história própria, ela  no essencial não difere de todas as outras. Principalmente, não está imune a todas as outras.

Por isso, devemos ter sempre presente, em analogia com a célebre metáfora  do leve bater de asas de uma borboleta na China que inundaria o mundo de imensas tempestades, que em política por vezes uma pequena pulhice, mesmo envernizada, pode causar grandes tempestades. Tem um risco para o seu subtil autor: qualquer tempestade leva sempre tudo à sua frente. Sem distinções.

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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

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    A esquerda e a mulher

    Estátua de Sal


    por estatuadesal

    (Carlos Esperança, in Facebook, 18/10/2017)

    mulher2

    Surpreende como a Humanidade progrediu tanto, renunciando a metade de si própria, ao longo de milénios. Há quanto tempo poderia ter chegado onde se encontra, e como seria se a igualdade de género fosse, desde o início, um axioma?

    Que raio de preconceito, que as várias religiões assimilaram, terá convencido uns brutos da pré-história de que a sua força física lhes permitia a prepotência sobre o sexo que os complementava e lhes assegurou a perpetuação da espécie?

    Como é possível, ainda hoje, haver quem, nascido de pai e mãe, e tendo procriado filhos e filhas, reclame superioridade e admita discriminar progenitores ou descendentes, em função do sexo?

    Sendo as coisas o que são e a evolução o que é, a mulher tem de ser muito melhor para poder competir com o homem. Foi talvez o estigma ancestral que a fez triunfar, pelo sacrifício e obstinação, em campos que o macho julgava privilégio seu. Foi assim que, da filosofia à ciência, da literatura à matemática, da política às artes, surgiu uma plêiade de mulheres que participam no avanço da Humanidade.

    Longe de estar atingida ou consolidada a igualdade de género, parece irreversível, mas é útil a vigilância porque nada é eterno, e é mais fácil o retrocesso do que a progressão.

    E por que raio havia de referir a mulher e a sua condição quando a intenção era falar da esquerda?

    Bem, a esquerda é, na política, a mulher. Precisa de ser muito melhor do que a direita se pretender impor-se. Deve-se à esquerda o Renascimento, o Liberalismo, o Iluminismo, a República, a Laicidade e a Democracia, e é a direita que regressa sempre ao poder.A direita é o macho tosco, que alicia trânsfugas, compra corruptos, avassala os meios de produção, submete os órgãos de comunicação e exerce a força. Tal como os camaleões, adapta-se ao ambiente e regressa ao poder depois de cada Revolução que a derruba.

    Foram os progressistas que lutaram pelos Direitos Humanos, aboliram o esclavagismo e impuseram o ensino público para homens e mulheres, moldando a civilização europeia, mas são os herdeiros do fascismo, reciclados ou não, que ressurgem na Europa.

    Em Portugal, são os herdeiros dos colonialistas, os ressentidos de Abril e os nostálgicos do salazarismo que, a cada tropeção da esquerda, real ou imaginário, reclamam o poder que julgam seu por um qualquer direito divino.

    A esquerda tem de ser, na eficácia, generosidade e abnegação, a mulher que se impõe. pela superioridade ética e eficiência política, na vitória da inteligência contra a força. São delas a sabedoria, a força e a beleza de que o progresso e a justiça social carecem.

    Costa pediu desculpas. E Cristas e Passos, não pedem?


    Estátua de Sal

    por estatuadesal

    (Por Estátua de Sal, 18/10/2017)

    Chuva Cristas

    O São Pedro ainda leva com uma moção de censura - Imagem in Blog 77 Colinas

    Estive a ver o debate parlamentar na Assembleia da República sobre a questão dos fogos. Devo dizer que as intervenções do palhaço Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, e da deputada Assunção Cristas, sobretudo desta me enojou.

    O Hugo caceteiro quer que o Governo se demita. Diz que é "em nome das vítimas", e que o Governo já não tem legitimidade para governar, e se não se quer demitir deve apresentar uma moção de confiança que lhe reforce (ou retire o apoio). Pois bem, ó meu pateta, se é em nome de vítimas de políticas, vamos a contas.

    Quantos morreram devido aos cortes de salários e pensões, de perda dos empregos, de casas e famílias destruídas, de suicídios por desespero, de mortes prematuras por os serviços de saúde estarem à míngua, devido às políticas de ladroagem aos pobres, empreendidas pelo governo pafioso? Quantos choraram lágrimas de raiva, quantos abandonaram o país e caíram nas ruas da amargura? A direita fala das cem vítimas dos incêndios, mas como consequência das políticas de saque da direita não terá havido muito mais mortes? Não terá havido muito mais desgraças e desespero? Perante isto, só me apeteceu vomitar na cara do rapazola.

    Depois veio a Cristas. Outro nojo, lamento dizê-lo. Ela que mais patrocinou o descalabro da floresta com a sua liberalização do eucalipto, ela que cortou nas verbas destinadas ao ordenamento e à defesa das florestas, ela que fez parte de um governo que até acabou com a isenção das taxas moderadoras na saúde de que os bombeiros gozavam - como bem lembrou Jerónimo de Sousa durante o debate parlamentar -, veio pedir responsabilidades ao Governo e a António Costa. Um perfeito exercício de fariseu de saias, um despudor que - apesar de o assunto ser grave e sério -, é de um ridículo burlesco e de mau gosto.

    Estranhamente, não vi a direita questionar nunca quais as causas dos incêndios, as causas estruturais determinadas por anos de incúria e de más opções de sucessivos governos apoiados pelos partidos da direita. Não acha a Dona Cristas que também deveria PEDIR DESCULPAS ao país? Costa pediu desculpa. Cristas, Coelho, o rapazola Hugo e toda a bancada pafiosa, esses, quais justiceiros de pacotilha - tendo em conta do seu perfil de salafrários -, brindaram-nos com uma farsa vergonhosa, colocando os mortos e as vítimas ao serviço da sua gula pelo poder.

    Também não vi a direita questionar a hipotética causalidade terrorista que poderá estar por detrás da vaga de fogos. Há especialistas que avançam que, as causas naturais, só por si não podem explicar, quer a intensidade dos fogos, quer a sua simultaneidade temporal. Pediu a direita que se investigue? Pediu a direita responsabilidades ao Governo por nada ter ainda avançado no esclarecimento cabal dessas dúvidas? Não. A direita não quer que não haja fogos. O fogo, os mortos, o alarme social, a destruição do país é a sua praia.

    Não digo que os archotes dos incendiários tenham sido autografados directamente pela Dona Cristas, ou pela caneta do Passos. Mas que devem estar a esfregar as mãos de contentamento pelo facto de as chamas lhes permitirem brindar o governo com uma chuva de críticas e dificuldades de percurso, disso não tenho qualquer dúvida. De tal forma que até estou com pena do Passos: soubesse ele da dimensão desta tragédia e seguramente não se teria demitido. Ou estarei errado, e tudo isto aconteceu, de facto, porque Passos se demitiu? Responda quem souber.