A 16 de Junho de 2017, um dia antes da tragédia de Pedrógão Grande, a Aximage publicou uma sondagem encomendada pelo Negócios e Correio da Manhã. Long story short: PSD e CDS-PP em mínimos históricos (24,6% e 4,6% respectivamente, conquistando apenas 29,2% dos inquiridos), PS a subir em flecha, à custa, essencialmente, de eleitorado perdido pela direita, BE e PCP ligeiramente abaixo dos resultados das Legislativas. Segundo este estudo, à data acima, a Geringonça consegue 61,2% da amostra analisada. É uma sondagem, vale o que vale, mas não deixa de ser esmagadora.
Veio a calamidade de Pedrógão, o roubo de material militar em Tancos, muito mal explicado, e as cativações. O grito de revolta da oposição foi feroz, como há muito não se ouvia, e até o impasse entre a ministra da Justiça e o Sindicato de Magistrados do Ministério Público serviu para o que sobrou da Pàf pedir cabeças. Era o fim do estado de graça do governo, o início do fim de Costa, a Geringonça que finalmente se desmembraria. O êxtase foi tal que se aventaram suicídios que nunca aconteceram, confirmados por familiares e testemunhas que nada viram, causando embaraço e vergonha alheia.
Mas uma nova sondagem, efectuada no início deste mês pela Eurosondagem para Expresso e SIC, já depois dos incidentes em Pedrógão e Tancos, revela que o PS continua a subir nas intenções de voto dos inquiridos, acompanhado pelo PCP. Os restantes partidos, bem como a popularidade de todos os líderes, à excepção do inevitável Marcelo, registam resultados inferiores aos obtidos no estudo anterior. É de uma ironia finíssima. É que nem com desgraças reais (não confundir com palermices como a ameaça soviética ou a vinda do diabo), instrumentalizadas até ao tutano, a direita conseguiu descolar. Pior: apesar da quebra de popularidade de Costa, o PS consegue subir. Os profetas profetizaram, quase sempre ao poste, e agora, perante desgraças reais de gravidade extrema, que colocam em causa ministros e outras figuras de topo da hierarquia, conseguem perder ainda mais terreno.
Passos Coelho já não tem créditos e a barra de energia está no vermelho. Há focos de rebelião interna, o CDS é uma sombra do PP de Portas, e os indicadores económicos não ajudam, apesar das cativações. Apesar da manipulação da opinião pública, dos anúncios de resgates e programas cautelares, das conspirações soviéticas. Os profetas vivem a sua própria desgraça e nem as verdadeiras desgraças lhes valem. Um vazio constrangedor e uma oposição incapaz de cumprir o seu papel, sem rumo, perdida nos seus próprios demónios. E tantas tempestades por colher.
Fonte: Aventar
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