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sábado, 14 de abril de 2018

Chuva Dourada sobre Damasco

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Born 1946; retired military, historian

Apr 14

A noite de 14 de Abril ficará para a História como mais uma noite de fogo-de-artifício sobre a Síria. Os 3 Chefes de Estado ou de Governo que estiveram envolvidos nesse ato são, antes de tudo, fogueteiros. Esses três dirigentes são seres estranhos, anormais. Não mais anormais que outros ao longo da história, mas igualmente anormais. São os anormais que saíram à rua ontem.

Estamos perante uma ação sem causa nem efeito. Só loucos procedem assim. Nero era louco, mas pegou fogo a Roma. A cidade ardeu e alterou-se. Estes três anormais, Trump, May e Macron, são loucos, mas a sua ação não teve nem tem qualquer efeito. Serão onanistas?

Consta que Trump gosta de bacanais com um número de chuva dourada — para os menos informados, trata-se de uma fantasia sexual em que uma ou mais mulheres (3 no caso presente)urinam sobre o homem e este obtém assim um orgasmo. Acontece que, mesmo vista através dos olhos viciosos da comunicação social, do tipo espreita, o foguetório sobre a Síria não chega a ser a chuva dourada de que Trump gosta. Deve satisfazer outras fantasias sádico/eróticas dele ou dos seus dois parceiros. Estamos no mundo da pornografia. Não no da política nem da estratégia.

Voltemos ao básico, para não nos envolvermos em jogos de bordel.

Porque foi o trio lançar fogo de artifício sobre a Síria? Não faltam locais de prazeres mais ou menos húmidos nos seus países.

É que, quanto ao prazer de queimar pó e gazes, não existem provas de a Síria ter utilizado armas químicas. Não existem provas de a Síria dispor de instalações para produção nem armazenamento.

Logo, não existe qualquer causa para a chuva dourada.

O que existe desde 1997 é a «Organisation for the Prohibition of Chemical Weapons» (OPWC), uma organização independente, autónoma, com sede em Haia, que atua no âmbito das Nações Unidas para impor e verificar a Convenção para as Armas Químicas (Chemical Weapons Convention (CWC). Atualmente a OPCW conta com 192 Estados Membros, entre eles os Estados Unidos, a Inglaterra, a França, a Siria e a Rússia os quais, segundo a convenção que assinaram, ”trabalham (?) em conjunto para libertar o mundo de armas químicas.”

Os 3 Estados Membros do ataque, sendo membros da OPWC, não propuseram nenhuma investigação sobre a existência e o emprego de armas químicas pela Síria, outro estado membro da OPWC. Porquê?

Assim, os despejos pirotécnicos dos 3 Estados à margem da OPWC, suscitam as maiores dúvidas sobre a boa fé dos seus dirigentes.

Parece óbvio existir uma fortíssima questão de falta de credibilidade dos elementos do trio. Mas de aldrabões aos comandos de nações está a história cheia. Em princípio trata-se de mais 3 aldrabões. Mas não apenas.

Neste caso, além de 3 aldrabões, trata-se de três anormais em simultâneo. O que já não é vulgar. Anormais porque a sua atuação é inconsequente. Bush, no caso do Iraque, aldrabou mais de meio mundo com as “armas de destruição massiva”, mas arrasou o Iraque, derrubou o presidente, o governo, destruiu as forças armadas, provocou milhares de mortos, proporcionou um enforcamento ao vivo! Os resultados ainda estão e estarão à vista por muito tempo. Ora estes três anormais lançam fogo de longe e deixam a situação no terreno na mesma! O mesmo presidente, o mesmo governo, os mesmos aliados!

Sobre a desfaçatez dos três tristes aldrabões lançadores do fogo de artifício de 14 de abril estes são os links que apresentam a OPWC, que eles se recusaram a utilizar para encontrar uma causa credível para a chuva dourada. Não custava nada terem ligado para lá.

As autoridades portuguesas declararam entender o espetáculo da chuva dourada… e não foram nem o Vilhena, nem o Luíz Pacheco que disseram…

https://www.opcw.org/about-opcw/

https://www.opcw.org/news/article/opcw-director-general-on-allegations-of-chemical-weapons-use-in-douma-syria/

Beber água às refeições – sim ou não?

09/03/2017 - 14:51 POR IMAG

Beber água às refeições – sim ou não?

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Certamente já ouviu dizer que beber água às refeições faz mal, engorda, faz dilatar o estômago ou aumentar o volume abdominal, mas será isso verdade ou apenas um mito?

Começamos por um ponto básico: a água não contém quaisquer calorias, logo não será possível ganhar massa gorda, ou seja, engordar, devido ao seu consumo.

A ingestão moderada de água à refeição é benéfica pois humedece o bolo alimentar, ajuda na digestão e absorção dos nutrientes, a combater obstipação e a sensação de inchaço abdominal. Para além disso, pode ajudá-lo a manter um peso equilibrado pois promove a sensação de saciedade mais rapidamente.

Então por que razão surgiu o mito de que beber água à refeição é prejudicial?

Existem algumas razões que podem estar na origem deste mito. Um consumo exagerado de água às refeições pode despoletar uma sensação de desconforto abdominal e inchado durante algum tempo. No entanto, trata-se de inchado, não de ganho de massa gorda.

Outro argumento muitas vezes apresentado consiste em que beber água às refeições pode dificultar a digestão. Apesar de existir algum fundo de verdade, isso só ocorre quando são ingeridas grandes quantidades de água ou quando esta está a uma temperatura baixa. Assim sendo, beber um copo de água, à temperatura ambiente, não tem qualquer efeito negativo para a digestão, nem estimula o aumento de massa gorda.

É importante referir que o mesmo não se aplica ao consumo de outro tipo de bebidas como sumos, néctares, refrigerantes, nem mesmo “águas com sabores” ou tisanas. Estas bebidas apesar de incluírem água na sua composição podem conter também grandes quantidades de açúcar, e por consequência, um elevado valor energético, que irá reforçar a ingestão calórica da refeição, contribuindo para um possível aumento de peso.

Assim, o segredo está em consumir água às refeições mas em quantidades moderadas e à temperatura ambiente, e fazer o consumo maioritária de água ao longo do dia, entre refeições, para que esta seja rapidamente absorvida e cumpra com facilidade a sua função de hidratação.

Como se faz uma TAC e quais os cuidados a ter?

10/03/2017 - 16:50 POR IMAG

Como se faz uma TAC e quais os cuidados a ter?

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DESCRIÇÃO

A Tomografia Computorizada, também chamada de TAC, é um exame que consiste na emissão de raios-x através de vários ângulos em torno do corpo do utente. Desta forma, obtém-se informação necessária para formar imagens em vários planos e em três dimensões.

Com a tecnologia de sistemas de multi-detetores, o exame é rápido, eficaz e muito detalhado.

A TAC é muito abrangente, sendo indicada para o estudo de todas as partes do corpo, nomeadamente órgãos abdominais e pélvicos, pescoço e face, pulmões, sistema nervoso central (cérebro e coluna), membros e articulações.

BENEFÍCIOS

A TAC é um exame que se realiza rapidamente, não envolve dor nem esforço físico. Através deste exame podem descobrir-se causas e sintomas que possibilitam um tratamento mais rápido e eficaz, sendo que por vezes, anulam inclusivamente a necessidade de avançar outras formas de diagnóstico, mais agressivas e dolorosas para o utente.

PROCEDIMENTO

Durante o exame, o utente vai deitar-se numa mesa que desliza para um túnel estreito, aberto de ambos os lados.

O contraste endovenoso é um produto que contem iodo e que se destina ao realce de vasos sanguíneos, e à avaliação de funcionamento dos órgãos a examinar.

A decisão sobre a injeção deste produto é da responsabilidade do médico radiologista, após consentimento informado do utente. A injeção de contraste pode provocar calor no corpo e um sabor “amargo” na boca.

PECAUÇÕES:

Como preparação para o exame de TAC, apenas se recomenda jejum de 4 horas para estudos em que haja probabilidade de injeção de contraste endovenoso.

Para exames abdominais e pélvicos, é necessário ainda que se apresente na unidade 1 hora antes do exame para ingestão de um produto de contraste que se destina a realçar o tubo digestivo.

Mulheres que sabem ou suspeitam que estão grávidas devem sempre informar os profissionais de saúde antes de realizar o exame.

Entre as brumas da memória


Dica (744)

Posted: 14 Apr 2018 01:14 PM PDT

The idea that everyone should have a job is so common we forget to question it (Andrew Taggart)

«Martin Luther King Jr. once said that “We must create full employment or we must create [basic, guaranteed] incomes.” More than 40 years later, we talk a lot about the last half of that statement: Technology entrepreneurs like Y Combinator’s Sam Altman and Facebook co-founder Chris Hughes have campaigned for universal basic income (UBI)—the idea that everyone should receive a regular, unconditional, government-issued stipend that would be sufficient to cover one’s material needs—to the point at which it’s become a trendy topic.»

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Milos Forman morreu e deixa-nos a voar sobre um ninho de cucos

Posted: 14 Apr 2018 09:40 AM PDT

Miloš Forman, o cineasta nascido checo, mais tarde também norte-americano, morreu hoje com 86 anos. Teve  uma infância complicada: o pai, judeu, preso pela Gestapo quando Milos tinha apenas 8 anos, foi levado para Buchenwald onde veio a morrer em 1944, um ano depois de a mãe ter tido a mesma sorte em Auschwitz. Durante a invasão da Checoslováquia, em 1968, partiu para os Estados Unidos e em 1977 adquiriu a sua segunda nacionalidade.

Pretexto para recordar três filmes «monstruosos»: Amadeus, Voando sobre um ninho de cucos e o primeiro dos que vi – sem nunca mais perder o rasto do autor: O baile dos bombeiros.

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Síria

Posted: 14 Apr 2018 05:57 AM PDT

Nas redes sociais, uma elevada percentagem dos meus amigos parece não ter dúvidas, e raramente se enganar, sobre quem são os bons e os maus nesta tragédia, ontem à noite agravada. Gente feliz, não sei se com ou sem lágrimas. Não é o meu caso e vou-me informando em silêncio. Mas tenho, pelo menos, um bom prémio de consolação: nunca votei no PS, nem em Marcelo.

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Perguntas que não levam a parte nenhuma por causa das respostas

Posted: 14 Apr 2018 03:23 AM PDT

José Pacheco Pereira no Público de hoje:

Centeno quer matar a “geringonça”? Quer.

«Podia dizer-se de Centeno que está sentado em duas cadeiras ao mesmo tempo, mas não está. Quem está sentado em duas cadeiras, uma ao lado da outra, dividindo a sua anatomia pelas duas é António Costa e o PS. Parece que o espaço duplo é reconfortante, mas a prazo ver-se-á que não é. Centeno já está noutra, os resultados portugueses que vier a obter dentro da ortodoxia do Eurogrupo destinam-se essencialmente a reforçá-lo nas suas novas funções. Por isso está a ser excessivo com o défice, mesmo com o risco de ajudar a derrubar o Governo, e isso está a trazer-lhe vários apoios e não são dos socialistas.

A verdade é que alguns dos compromissos do acordo entre PS-BE-PCP não estão a ser cumpridos. Há alguns socialistas mais ingénuos e outros de má-fé que pensam que se o Governo cair o caminho para uma maioria absoluta está garantido. Não está e uma queda do Governo, mesmo por aquilo que alguns podem considerar benéfico com a nova ideologia do défice, é sempre má para o PS ir para eleições, e ainda pior, se depois delas ficar com maioria simples. Não se iludam que o caminho com o PSD é muito mais complicado do que se pode imaginar nestes dias, apesar de tudo, de calmaria antes da tempestade.

A “geringonça” quer matar Centeno? Quer.

PCP e BE, se tivessem a campainha do mandarim, há muito a tinham tocado para pôr Centeno definitivamente em Bruxelas.

Quer o Presidente ver o Governo cair? Já estive mais certo de que não queria...

... e não lhe vão faltar pretextos. É que ele já está a definir casos que servem de pretextos, condições, para preparar o terreno. Não estou inteiramente certo, presumo que nem o Presidente, mas a tentação começa a ser muito visível. E ele é um homem de tentações.

Um dia o turismo diminui ou acaba. O que é que vai sobrar nas cidades de Lisboa e Porto? Imensos estragos.

Eu percebo que enquanto dura se aproveite a benesse. O boom do turismo é positivo em muitos aspectos para as duas cidades em que ele tem tido imenso impacto, Lisboa e Porto. Tem havido alguma remodelação urbana em centros que estavam degradados, e há alguma vida de dia e de noite em cidades que pareciam adormecidas.

Mas se há casos em que a palavra conjuntura é bem aplicada é para o actual boom turístico. Tudo ajudou, a insegurança de muitos destinos, as qualidades do clima português, a facilidade de adaptação de muita gente que rapidamente criou empresas turísticas para responder à pressão, o efeito de “estar na moda” alimentado por operadores e por jornalistas de viagens, os preços baratos, mesmo quando subiram muito, a facilidade de acesso ao país, tudo mesmo. Só que “não há bem que sempre dure”.

Lembram-se do boom das lojas que compravam ouro? Convém lembrar.

Se passarmos os olhos sem qualquer ilusão e auto-engano, nem complacência escapistas, sobre o que realmente está a “mudar”, em particular nas cidades, deveríamos assustar-nos. Estão-se fazer hotéis, hostels, restaurantes a mais e tudo isso vai ficar um dia, que pode não ser muito longínquo, vazio, falido, a estragar-se. Faz-me lembrar um outro boom dos anos da crise, quando abriam lojas de compra de ouro por tudo quanto é esquina. Vejam lá as que sobram.

E pelo caminho, por muito brilhantes que sejam as suas fachadas — e, se virem bem, poucas o são, e percebe-se que para andar depressa os projectos arquitectónicos, as obras de remodelação, os interiores são pouco cuidados e muito estereotipados, feitos para um turismo barato e pouco exigente —, estão a criar problemas na cidade a montante e a jusante que muitas vezes não ligamos directamente ao boom dos hotéis. Por exemplo, o crescente tráfego em ruas pouco preparadas de veículos de serviços e distribuição, que servem a qualquer hora lavandarias, bares, restaurantes, reparações, que a pressão hoteleira fez aumentar consideravelmente. Já para não falar dos tuk-tuk.

E não só, olhem para muitas lojas em pleno centro que substituíram o comércio mais antigo, acabando no centro das cidades, por exemplo, com livrarias, alfarrabistas, e outras indústrias “culturais”, para venderem literalmente pechisbeque e bugigangas para turistas que compram souvenirs, que não são eles mesmos muito qualificados. Alguém tem alguma dúvida que nada daquilo tem qualquer capacidade para sobreviver, nem sequer agora, quanto mais depois. Subam, por exemplo, a Rua 31 de Janeiro no Porto e olhem para as lojas. Ao lado daquilo prefiro mil vezes as mercearias paquistanesas, que são mais úteis e certamente mais sustentáveis.

As cidades vão ficar muito estragadas e não vai ser fácil recuperar. É verdade que já estavam, mas não é a mesma coisa, porque entretanto muita coisa foi destruída pelo caminho.

O que se passa no Sporting é divertido? É.

Porque não é sério. Não dou um átomo de interesse e relevância às cenas absurdas que se passam num clube desportivo, que são tão ridículas que não podem ser tomadas a sério. O que seria, se as tomássemos a sério? Um homem entre o vociferante e o esquisito preside ao clube. Alguém o pós lá, alguém o mantém, e gente da mesma natureza dos dois “alguéns”, nalguns casos os mesmos, vai acabar por o tirar de lá. Mas quem é que quer saber disso? Os sportinguistas, claro. Não têm mesmo mais nada para fazer?

Os jogadores protestam, são suspensos, são readmitidos. Mas quem é que quer saber disso? Os sportinguistas, claro. Não têm mesmo mais nada para fazer?

Há mais duzentas perguntas destas que se podem fazer. Mas não vale a pena. Mas quem é que quer saber disso? Os sportinguistas, claro. Não têm mesmo mais nada para fazer?»

Não se enganem: as pessoas não estão a ser enganadas

por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso, 14/04/2018)

Daniel

Daniel Oliveira

Quando foi o Brexit a explicação veio rápida: era a xenofobia e a imigração. Bastava ouvir os argumentos do “leave” para o concluir. As mentiras que enganaram os eleitores. E eram os velhos, temerosos da mudança e do exterior, contra os jovens, generosos e abertos ao risco. Claro que para acreditar nisto era preciso ignorar que foi onde não há estrangeiros que o “leave” conseguiu os melhores resultados e que foi em Londres que teve os piores. E ignorar que se há coisa que não é nova no Reino Unido é a imigração. Não tão antiga como as mentiras em campanha e como a existência de velhos que temem o futuro e o exterior. Mas, ainda assim, bastante antiga.

Quando Trump venceu eram também os imigrantes. E o terrorismo, claro. Mais o politicamente correto, a que os norte-americanos, cansados, reagiam. E a Fox News, que os intoxicava. Os imigrantes também não são uma novidade nos EUA. São tão pouco que até parece que o país é quase exclusivamente composto pelos seus descendentes. Quanto ao politicamente correto, além de ter dúvidas que afete grandemente os operários e rurais que deram a vitória a Trump, dominava o discurso da esquerda quando Obama ganhou e reganhou. Assim como a Fox News dominava a comunicação social.

Quando Marine Le Pen chegou à segunda volta o discurso já começou a ganhar alguma forma política. Havia ainda o terrorismo e a imigração. Os velhos não, que foram os mais jovens que votaram em Le Pen. A comunicação social também não, que estava toda contra ela. E as mentiras, convenhamos, estão no ADN da Front Nacional e só uma vez a tinham levado tão longe.

Chega-se ao resultado da Liga e do 5 Estrelas, em Itália, e as razões passam a ser outras: a Europa, a relação entre o Norte e o Sul, os refugiados (que já tinham sido o grande argumento na Alemanha) e... o Facebook. Na realidade, este último culpado já tinha aparecido em todas as eleições anteriores. As pessoas votam em partidos de extrema-direita e antissistémicos porque estão zangadas e têm medo. Não é o Facebook que as convence, quanto muito potencia e direciona um sentimento que já existe.

Não é a globalização que lhes dá medo. A globalização da economia já começou há muito tempo. Desde a II Guerra que assistimos a um processo crescente de integração das economias numa rede global. Só que isso aconteceu com comando político. E essa integração foi acompanhada, no ocidente e até aos anos 70, por uma igualdade crescente nos países do primeiro mundo, pela criação de poderosas almofadas sociais, pelo reforço de serviços nacionais de saúde e da escola pública, por sistemas robustos de apoio social, à segurança na velhice e pelo horizonte do pleno emprego. Mas, acima de tudo, havia a certeza, na Europa e nos Estados Unidos, que o futuro seria melhor do que o passado.

Esperança, emprego e segurança. Foram estes os três pilares que permitiram a vitória das democracias ocidentais num contexto de crescente globalização económica. Não são os elementos constitutivos das democracias, são os elementos que garantem uma adesão maioritária à democracia. A partir do momento em que eles foram abalados – com o desespero coletivo de saber que o futuro nos reserva pior do que o presente, com taxas de desemprego impossíveis de acomodar e com uma sensação de precariedade absoluta –, a democracia tremeu.

Nunca estas crises sistémicas são simples, e para ela concorrem sempre muitos fatores. Mas não é preciso fazer um grande esforço de memória histórica para perceber a ascensão da extrema-direita e de partidos antissistémicos.

Podem continuar a procurar em todo o lado, do Facebook ao politicamente correto, da Fox News aos refugiados. Estarão a fugir do essencial. E compreende-se a fuga. Ignorar as causas sociais e económicas é a única forma de não pôr em causa o pensamento dominante. Quando movimentos antissistémicos crescem não é porque as pessoas estão a ser enganadas. É porque há um problema no sistema.

Esta coluna regressa a 30 de abril

Lucrando com a ignorância

Novo artigo em Aventar


por Autor Convidado

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[Nelson Zagalo]

E depois venham dizer que está tudo no Google, não é preciso saber nada. É como a Bertrand, existe imenso conhecimento por detrás desta montra, mas aquilo que nos apresenta é apenas a Ignorância Disfarçada de Livro.

A Bertrand Livreiros não paga mais a quem lá trabalha e, no entanto, cede a estas estratégias de marketing que nada têm que ver com literacia, cultura ou sequer livros. Porquê? Ganância? Desprezo por quem respeita a livraria e o seu legado secular? Se ainda há pouco dizia aqui que o que me fazia ir a um dos centros comerciais da cidade era a Livraria Bertrand, tenho de confessar que depois de ver esta imagem perdi muita dessa vontade.

Como é que se pode acreditar, ou confiar, numa livraria que, para comemorar o dia do livro, preenche a sua montra desta forma? É com estes livros que a Bertrand espera realizar a sua contribuição para uma sociedade mais formada? Ou a Bertrand quer lá bem saber se a sociedade tem falta de literacia e nem sequer consegue compreender a fraude dos discursos anti-vacinas, anti-alterações climáticas, anti-imigração, etc…, etc…?
Parece que à Bertrand interessa apenas, no final do mês, o pote bem cheio.

Fotografia: Montra da Livraria Bertrand, Coimbra. Por @Filipe Homem Fonseca.

A mais cobiçada arma russa não é a bomba atómica, é a Gazprom

Novo artigo em Aventar


por Autor Convidado

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[ António Alves * ]

Há cerca de um ano o mundo esteve à beira da confrontação por causa de um vídeo colocado no YouTube. Mostrava um massacre e pretendia provar que o regime sírio tinha usado gás sarin para matar indiscriminadamente população civil. O vídeo mostrava um elevado número de crianças mortas. John Kerry afirmou ao mundo que os americanos tinham provas obtidas "por outros meios", a partir de "fontes independentes", "através de processos adequados" contra o regíme Sírio. Os EUA ameaçaram bombardear a Síria.

"Sabemos que o regime [de Bashar al-Assad] ordenou o ataque, sabemos que eles se prepararam para isso. Sabemos de onde foram lançados os rockets. Sabemos onde caíram. Sabemos os danos que eles causaram. Vimos as imagens terríveis divulgadas nas redes sociais e temos provas [do que aconteceu] obtidas por outros meios. E sabemos que o regime tentou encobrir tudo, por isso temos uma argumentação muito forte" - John Kerry

Os russos e chineses ameaçaram auxiliar a Síria. Felizmente houve bom senso e a crise arrefeceu. Mais tarde, veio a provar-se que os rebeldes fundamentalistas islâmicos, que são financiados por potentados árabes amigos dos EUA, eram useiros e vezeiros no uso de armas químicas e, muito provavelmente, mataram premeditadamente inocentes com gás sarin [2] para inculpar o regime de Assad. Nos media ocidentais o coro que então culpava sem provas o regime sírio era praticamente unânime. Por trás do conflito na Síria está o interesse do Qatar e dos EUA [3] em abrir território para fazer chegar um gasoduto à Turquia de forma a abastecer a Europa e retirar à Rússia a sua força estratégica: o gás de que a Europa depende e a Gazprom tem.

A guerra segue dentro de momentos numa Europa perto de si. Não perca os próximos episódios.   * texto de 2014

Os três estarolas vão à Guerra

Um Bush com um esquilo albino morto na cabeça, um Tony Blair de saias e um Aznar sem bigode e com tiques pós-modernos descobriram armas químicas na Síria e vai daí toca a testar algumas armas novas, que isto da guerra não é para “meninos”.

O Presidente que funga segue os passos do seu antecessor, que cambaleava, e leva dois parceiros para o Tango Sírio. Desta feita o Touro de Rajoy é substituído pelo Galo de Macron. De comum estas três personagens têm os sérios problemas internos com que se debatem e a fragilidade dos seus poderes.

O único pais do planeta que até ao momento usou armas de destruição maciça em larga escala – em Hiroshima e Nagasaki e no Vietnam – junta-se assim  ao país que durante anos conduziu testes de armas nucleares no Sul do Oceano Pacífico, a França, e ao país que desenhou o desastrado Mapa do Médio Oriente, a Inglaterra, para “punir” a Síria por um ataque químico que só os capacetes brancos, leia-se “equipas de televisão da CIA”,  até agora viram.

Estes três países são responsáveis pela guerra na Síria e por 500 mil de mortos e 10 milhões de refugiados mas estão particularmente incomodados com umas putativas 75 vítimas, por “pura sorte” e “feliz coincidência” todas mulheres e crianças, pelos vistos mais susceptíveis aos efeitos da arma química usada por Assad. Não é que Assad seja flor que se cheire, como Hussein não era, Khadafi também não e Mubarak e muito menos o seu vizinho Tunisino Ben Ali não eram. Mas estas ditaduras comparativamente eram “sossegadas”.

Mas é verdade que nos Emiratos, na Arábia Saudita ou no Quatar, ou até mesmo no Kuweit a situação não é melhor que a das ditaduras acima referidas. E não é menos verdade que as Primaveras Árabes se tornaram em Outonos do nosso descontentamento e que entre mortos, refugiados e emigrantes em fuga desta zona do mundo não cessam de aumentar e de abalar a Europa, o Euro e o mundo. O Yemen é mais um exemplo da desastrada intervenção dos velhos aliados, com um enorme rasto de sangue atrás de si e o desaparecimento total do Estado e de qualquer vestígio de instituição que não seja a Guerra.

Estes três países têm serviços secretos especializados em assassinatos selectivos, que recorrem a Drones para eliminar os adversários políticos em países cujos regimes não são do seu especial agrado e têm pouca moral para falar das armas químicas da Síria. Que, de resto, devem estar escondidas ao pé das armas de destruição maciça do Iraque que ainda não apareceram. Tancos, pelos vistos, não é ali.

Percebemos agora melhor a mediatização da fantasia da tentativa de assassinato do ex-espião e da sua filha pelos russos. Era para criar o clima. O vírus, esse, pelos vistos é poliglota.

Síria, 15 anos após as armas de destruição maciça que ninguém conseguiu encontrar no Iraque

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Publicado por João Mendes

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Fotografia: Associated Press

Passaram 15 anos desde a invasão do Iraque e as armas de destruição maciça do regime de Saddam, cuja existência Bush, Blair, Aznar e Barroso juravam poder provar factualmente, continuam em parte incerta.

Esta noite, Trump, May e Macron bombardearam um Estado soberano, em violação da Carta das Nações Unidas, do seu Conselho de Segurança e das mais elementares normas do direito internacional que norteiam as relações internacionais entre estados civilizados, partindo do pressuposto de que o regime de Assad terá usado armas químicas contra a sua população, sem, contudo, apresentarem ao mundo as provas irrefutáveis que afirmam ter. Tal como aconteceu em 2003, quando o Iraque foi invadido. Com todas as consequências que isso teve, da escalada da violência ao sólo fértil onde germinou o Daesh.

Hoje seria o dia em que os peritos da Organização para a Proibição de Armas Químicas entrariam em Douma, na Síria, para investigar o alegado ataque químico do regime. Porque não esperar mais uns dias antes de bombardear a Síria? Teriam Trump, May, Macron e restantes aliados e financiadores do sector militar e da construção receio que o alegado ataque não pudesse ser confirmado? Talvez. E isso seria um problema para os lucros de uns e para o financiamento das campanhas eleitorais de outros.

Porque será que isto acontece? Porque os EUA, Reino Unido e França estão preocupados com a segurança dos sírios inocentes que são vítimas do regime opressor de Al-Assad? Não deve ser. Se fosse por aí, não venderiam armas à Arábia Saudita. Acontece porque o Ocidente quer mostrar as garras à Federação Russa, principal aliado da Síria, apesar de não mexer uma palha para incomodar minimamente o dinheiro sujo que os oligarcas amigos de Putin fazem circular através dos bancos, sector imobiliário ou clubes de futebol europeus, apenas para dar alguns exemplos. E talvez aconteça, quem sabe, para condicionar a instalação de gasodutos que, em muitos casos, precisam de uma Síria alinhada e servil para chegar à Europa.

No meio de tudo isto, Putin aproveita para fazer o papel do moderado e o Daesh exulta, de Corão e Ak-47 na mão, perante o enfraquecimento do regime sírio, que, opressor ou não, tem causado danos profundos na organização terrorista. A factura, essa, será paga pelos suspeitos do costume. E depois ficamos muito admirados porque milhares de desgraçados decidem arriscar a vida num barco de borracha para fugir para a Europa que anda há décadas a bombardear e a financiar guerras no Médio Oriente.

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Os 15 melhores locais em Portugal para sobreviver a um desastre nuclear

por admin

Este artigo tinha tudo para ser uma piada... se não fossem os recentes acontecimentos na Síria e o extremar de posições entre o Ocidente e países como a Rússia ou o Irão. O mundo está cada vez mais perigoso e à beira de um conflito em larga escala e nunca como hoje se falou tanto em guerra generalizada, fazendo lembrar os tempos que antecederam as 2 guerras mundiais. Não queremos ser alarmistas e pretendemos que encare estas sugestões com algum humor. No entanto, as razões aqui apresentadas são válidas e razoáveis e têm como fundamentos principais o facto de se tratarem de locais relativamente abrigados e protegidos e com acesso a água, comida e ar puro. Pelo sim, pelo não... mais vale prevenir. Veja as nossas sugestões sobre os melhores locais para procurar refúgio em caso de uma guerra nuclear.

1. Chaves

Ponte de TrajanoPonte de Trajano - Fernando Ribeiro

Chaves está inserida num vale fértil capaz de produzir alimentos variados e em quantidades suficientes para alimentar milhares de pessoas durante muito tempo. Tem também acesso a fontes abundantes de água e está localizada num local relativamente isolado, calmo e longe de grandes problemas.

2. Vale da Vilariça

Vale da VilariçaVale da Vilariça

O Vale da Vilariça, em Torre de Moncorvo, é um dos vales mais férteis do país. Além disso, esta é uma zona muito próxima a locais onde pode encontrar outros recursos e perto de um grande rio, o Douro, que pode servir como via de comunicação com outras áreas.

3. Estorãos

EstorãosEstorãos

Trata-se de uma das zonas mais rurais e típicas de Ponte de Lima, com grande acesso a água e pastagens óptimas para os animais. A zona de Estorãos é óptima para a criação de gado, o que pode ser importante para conseguir fontes de alimento.

4. Sistelo

SisteloSistelo - Rui Videira

Quem conhece este local percebe as razões da escolha: trata-se de uma aldeia isolada entre diversas montanhas, longe de tudo. Mas, ao mesmo tempo, possui um acesso muito bom a diversas fontes de água pura e os seus pastos e terras estão organizados de forma a maximizar a produção agrícola e a área de pastos para os animais.

5. Serra da Freita

Serra da FreitaSerra da Freita

Decidimos incluir a Serra da Freita em todo o seu conjunto porque esta região possui inúmeros locais, especialmente pequenas aldeias, onde é possível ter fácil acesso a água e alimentos. Além disso, a sua morfologia acidentada proporciona isolamento e abrigo.

6. Manteigas

ManteigasManteigas

Em pleno vale glaciar, Manteigas está protegida pela morfologia das montanhas que a rodeiam e tem acesso a água e a locais para praticar agricultura. O facto de estar numa zona montanhosa como a Serra da Estrela é um ponto a favor.

7. Ilha da Madeira

MadeiraMadeira - Olga Land

Ninguém se lembraria de atacar a ilha da Madeira com algum míssil nuclear. E além disso, a pérola do Atlântico está relativamente isolada, longe dos maiores pontos de potenciais conflitos. Possui ainda boas reservas de água, especialmente no lado norte da ilha, e alguns terrenos bons para a agricultura.

8. Ilha das Flores

cascatas mais bonitas de PortugalCascata da Ribeira Grande - Joel Santos

Também no meio do Atlântico, a ilha das Flores proporciona fácil acesso à água e pastos para animais. Tem a vantagem de estar a uma distância razoável da Base das Lages, o que significa que não corre grandes riscos de ser afectada por algum ataque nuclear a esta base americana.

9. Ilha de São Miguel

locais para visitar na Ilha de São MiguelLagoa das Sete Cidades

Apesar de estar um pouco mais próxima da Base das Lages, a ilha de São Miguel é também uma boa opção. Água com fartura e pastos abundantes para os animais, especialmente gado bovino, caracterizam esta região dos Açores. Possui tamanho e recursos suficientes para vários milhares de pessoas.

10. Castro Laboreiro

Castro LaboreiroCastro Laboreiro

Em pleno Gerês, Castro Laboreiro possui a vantagem de estar inserida num ambiente puro, com água abundante, com bons pastos para animais e num local isolado e montanhoso. A orografia do Parque Nacional Peneda Gerês proporciona uma protecção natural para quem aqui se queira refugiar.

11. Soajo

fim de semana românticoSoajo

Mais uma aldeia em pleno Gerês. O Soajo tem os mesmos pontos fortes de Castro Laboreiro, com a vantagem de ser um pouco mais central em relação ao Parque Nacional onde se insere. Aliás, dentro do Parque Nacional da Peneda Gerês são vários os possíveis locais para procurar um bom abrigo.

12. Rio de Onor

Rio de OnorRio de Onor

Rio de Onor, em pleno Parque Natural de Montesinho, é um caso especial. Não se trata apenas de ser um local isolado, rodeado por montanhas e com acesso a água e alimentos. O ponto mais forte de Rio de Onor é a sua tradição comunitária, em que os habitantes partilham os recursos naturais, como terrenos, fontes de água e gado. Por todo o Parque Natural de Montesinho existem diversas aldeias comunitárias, algo que pode ser essencial para sobreviver durante vários anos já que, sejamos honestos, a cooperação e entreajuda entre as pessoas será essencial.

13. Alqueva

AlentejoAlentejo

Os pontos mais fortes da região do Alqueva serão o acesso a uma fonte enorme de água e a vastas regiões de terrenos agrícolas. No entanto, a paisagem relativamente plana e aberta do Alentejo não é propriamente a mais indicada para procurar refúgio.

14. Buracas do Casmilo

Vale das Buracas do CasmiloBuracas do Casmilo

Situadas em Condeixa-a-Nova, as Buracas do Casmilo são um caso especial: não dariam refúgio a muita gente, mas o refúgio seria de qualidade. Tratam-se de formações naturais nas rochas que podem servir de abrigo. O acesso a fontes de água é relativamente bom. Um dos possíveis problemas poderá ser encontrar bons terrenos para a agricultura.

15. Grutas de Mira de Aire

Grutas de Mira de Aire

Existirá melhor local para procurar refúgio do que uma gruta? Bem... talvez a ideia seja um pouco disparatada a longo prazo. Se pretende refúgio para apenas alguns dias, prepare alguma água e comida e corra para as grutas de Mira de Aire. No entanto, dificilmente conseguirá sobreviver nas grutas a médio ou a longo prazo. Esta opção, portanto, é apenas para ser usada em casos de pânico de última hora.

O défice, Centeno e o euro

Ladrões de Bicicletas


Posted: 13 Apr 2018 11:39 AM PDT

O défice não é uma variável determinada pelo governo. Este apenas gere a despesa pública, enquanto as receitas dependem da evolução do produto, ou seja, da despesa interna - onde se destacam o consumo e o investimento privados - e do saldo externo. De facto, o governo não controla o comportamento das famílias e das empresas, nem as compras do resto do mundo aos nossos exportadores. Nem controla, pelo menos directamente, as importações que absorvem uma parte do rendimento por nós criado.
Portanto, se tem havido uma redução do défice (em % do produto), isso deve-se em alguma medida à boa táctica do PS quanto à reposição dos rendimentos que haviam sido cortados pela política desastrosa da troika. O que se gastou com a reposição foi mais do que recuperado em impostos e na redução de subsídios de desemprego. E também se deve ao crescimento do turismo e a uma bolha do imobiliário, sobretudo produzida pelo afluxo de capitais especulativos e pela retoma do crédito bancário à habitação, bolha que um dia destes vai rebentar e deixar um rasto de crédito mal-parado nos bancos. E obrigará o estado a sanear bancos, fazendo aumentar novamente a dívida pública. Pois, a livre circulação de capitais especulativos e o capitalismo financeirizado é isto. Mas não foi sempre assim, nem tem de ser para sempre assim.
Em resumo, uma contenção do numerador (Défice/PIB) através do adiamento sine die do investimento público e o congelamento das carreiras dos funcionários, algo que acontece desde há muito tempo para favorecer as contas, acompanhada de uma convergência de factores favoráveis ao crescimento do denominador (incluindo a reposição de rendimentos), ofereceu ao governo um défice muito mais baixo do que tinha inicialmente previsto. Sim, o défice pode surpreender um governo, tanto pela negativa (2012) como pela positiva (2017) porque, convém insistir, o governo não controla uma parte do numerador (receita dos impostos) e não controla mesmo a evolução do denominador (produto).
Então, porque é que esta orientação favorável ao défice não prossegue, tanto mais que em Bruxelas tem havido satisfação com Centeno? A resposta é simples. Há outra variável que Bruxelas também quer baixar e, tal como para o défice, também tem ideias erradas quanto à melhor forma de o conseguir. A dívida pública deverá reduzir-se para o nível de 60% do produto rapidamente, como manda o tratado Orçamental. Hoje, Centeno não está em condições institucionais (nem tem convicção) para executar uma táctica de arrastamento quanto a este objectivo, como tem sido feito por outros países. Por esta razão, o governo deseja que o défice do orçamento para 2019 (o défice anual acresce ao montante global da dívida pública) se aproxime de um saldo nulo e, nos anos seguintes, apresente um excedente. Portanto, para cumprir as metas da dívida, o governo não pretende usar as folgas obtidas com o crescimento do produto acima do previsto em 2017, e previsivelmente em 2018, para fazer investimento socialmente útil. O principal objectivo é construir uma imagem de credibilidade junto dos especuladores financeiros através de uma redução acelerada do peso da dívida pública no produto. E isto é possível desde que o produto continue a crescer e o povo mais penalizado com a erosão dos serviços públicos continue a sofrer com resignação, até porque não vê uma alternativa credível.
O governo podia ir mais devagar neste caminho e, se o fizesse, não criaria dificuldades políticas às esquerdas. Mas, aqui, saímos do horizonte da táctica e entramos no da estratégia. Para o socialismo que está no governo, a respeitabilidade financeira é um elemento central do seu programa e a moeda única é o que temos de sofrer para manter o sonho desse socialismo europeu. Até que um dia, quando a esquerda governar todos os países da zona euro, se possa mudar (por unanimidade) a arquitectura dos Tratados num sentido progressista. Sim, é preciso sofrer, caso contrário, como diz Carlos César, irá tudo por água abaixo.
Não será tempo de as esquerdas deixarem de falar a linguagem politicamente correcta, mas teoricamente errada, quando assumem implicitamente que a redução dos défices e, por essa via a redução da dívida, é um caminho respeitável se for percorrido mais devagar do que Centeno deseja? O apoio político ao governo, até ao fim desta legislatura, não deve estar em causa. Mas isso não obriga a fazer um discurso respeitador do quadro conceptual da direita e do ordoliberalismo dos Tratados. É possível fazer uma pedagogia mais clara e insistente do que são os défices e de como são financiados num país com soberania monetária. Com um discurso politicamente incorrecto mas cientificamente correcto, ficaria evidente para muita gente o quão absurdo e socialmente danoso é estarmos no euro e, pelo menos para o BE, tal permitiria tornar mais clara a estratégia política, o que não seria necessariamente mau do ponto de vista eleitoral. Este é um ponto que defendo no vídeo acima.

Seguros para-remuneratórios

Posted: 13 Apr 2018 09:15 AM PDT

Fonte: Associação Portuguesa de Seguradores

O peso dos seguros de saúde têm vindo a subir no total dos prémios de seguros. Segundo os números da Associação Portuguesa de Seguradores, eram 10,6% do total dos prémios emitidos em 2009 e passaram para 13,5% em 2017.
Mas nesse total e a partir de 2016, os prémios dos seguros pagos pelas empresas aos seus trabalhadores ultrapassaram já os prémios pagos individualmente. O número de pessoas cobertas reflecte essa realidade. Em Dezembro de 2014, eram 1,1 milhões de trabalhadores cobertos por seguros e três anos depois, abrangiam já 1,439 milhões de trabalhadores, acima dos seguros individuais que passaram de 851,6 mil pessoas em 2014 para apenas 900 mil em 2017. Qual a razão para esta inversão? Muito provavelmente, o Orçamento de Estado OE).

Até 2014, os prémios de seguros para os seus trabalhadores eram considerados rendimentos de trabalho e sujeitos a IRS. De qualquer forma, o Código do IRS previa também - e ainda prevê - que parte da despesa dos contribuintes individuais em seguros de saúde contava - e conta ainda - para as deduções fiscais à colecta com despesas de saúde, desde que tivessem "sido comprovadamente tributados como rendimento do sujeito passivo". 
Mas a partir do primeiro dia de 2015, a lei do OE para 2015 introduziu um aditamento ao Código do IRS.
No seu artigo 2-A, passou a ficar explícito o que "não se consideram rendimentos do trabalho dependente". Várias despesas patronais, a maior parte delas que contam como remunerações indirectas: "As prestações efetuadas pelas entidades patronais para regimes obrigatórios de segurança social, ainda que de natureza privada", "as prestações relacionadas exclusivamente com ações de formação profissional dos trabalhadores, quer estas sejam ministradas pela entidade patronal, quer por organismos de direito público ou entidade reconhecida", "as importâncias suportadas pelas entidades patronais com a aquisição de passes sociais a favor dos seus trabalhadores", "as importâncias suportadas pelas entidades patronais com encargos, indemnizações ou compensações, pagos no ano da deslocação, em dinheiro ou em espécie, devidos pela mudança do local de trabalho", os rendimentos recebidos pelos trabalhadores "após a extinção do contrato de trabalho, sempre que o titular seja colocado numa situação equivalente à de reforma".
E - além dessas e claro está - "as importâncias suportadas pelas entidades patronais com seguros de saúde ou doença em benefício dos seus trabalhadores ou respetivos familiares desde que a atribuição dos mesmos tenha carácter geral". Estranhamente, já que, a partir de 2014, graças ao OE 2014, esses prémios de seguros tinham ficado incluídos precisamente nos rendimentos de trabalho a tributar (ver pag 7056 III).
Qual é, pois, a importância desta regra que ainda está em vigor?


Antes, os prémios eram correctamente considerados como uma forma indirecta de retribuição e eram penalizados em IRS como rendimento dos trabalhadores. Era uma forma indirecta de remuneração, mas que beneficiava já as entidades patronais porque servia para compensar ausência de aumentos salariais mais acentuados. Tinha outra vantagem: era uma remuneração que podia ser reduzida ou mesmo cortada uniletaralmente pela empresa, e sobre a qual não pagavam contribuições para a Segurança Social (apesar de ser considerado rendimento do trabalho).
Depois, as entidades patronais não só gozam dessas mesmas vantagens de ser uma remuneração indirecta cujos valores podem ser reduzidos a qualquer momento, como ainda por cima podem alegar aos seus trabalhadores que desde 2015 nem sequer vão pagar IRS por isso. Trata-se de um subsídio público às empresas privadas, à forma de retribuição indirecta e, em última instância - e neste caso concreto - às companhias seguradoras. E em muito última instância aos trabalhadores.
Mais e mais inviamente:
1) fiscalmente, os prémios de seguros pagos aos seus trabalhadores abatem totalmente aos proveitos das empresas, pelo que quanto maior for a remuneração indirecta de trabalho, menor será o IRC sobre lucros a pagar. E em 2012 foram 546 milhões de euros pagos pelas empresas em prémios de seguros de grupo, mas em 2017 já eram 742 milhões. E quanto maiores as empresas, maior o bolo a descontar aos lucros.  
2) A expansão dos seguros de saúde, conectados ao funcionamento do sector privado de saúde, aliciou num primeiro momento os profissionais da saúde que viam os seus rendimentos complementados com uma perninha  no sector privado. Estabeleceu-se um negócio entre as companhias de seguros e os médicos em torno do valor do K, ou seja, a unidade de referência para o cálculo de cada acto médico. No princípio, o K era elevado e todos ficaram contentes. Mas o valor do K tem vindo a baixar por decisão das companhias seguradoras e os médicos tornaram-se em autênticos caixeiros viajantes, que andam de terra em terra, de instituição em instituição, de acto em acto, para conseguir a sua remuneração adicional. Ficaram na mão das companhias seguradoras. Pior ainda: antes quando trabalhavam nos consultórios (em complemento com o sector público) recebiam na hora. Agora, as companhias diferem os pagamentos...
Por tudo, os responsáveis pelo Estado têm de ter em atenção aos efeitos perversos das suas decisões. Por que deverá o Estado promover a expansão de seguros de saúde, já que se encontram em clara expansão? Quem e o quê se está a beneficiar com esta protecção pública?

Faixa do horror

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

  • Eduardo Louro
  • 13.04.18

Foi divulgado e está a correr mundo um vídeo que mostra um militar israelita  a matar, a frio, um jovem palestiniano desarmado, com um tiro na cabeça, em imagens de exaltação de desumanidade, de corrupção humana e de impunidade. A impunidade do Estado Israelita num massacre com a conivência da comunidade internacional!

Mas quando as imagens e as evidências não são suficientemente chocantes, há sempre um governante israelita capaz de fazer ainda mais pela indignação das nossas consciências. Como foi agora o caso do ministro da Defesa, Avigdor Lieberman que, depois de ter visto as imagens, declarou que o soldado que deu o tiro deveria ser condecorado. E, o que divulgou as imagens, despromovido

"Grande parte” do arsenal químico da Síria foi destruído

A informação está a ser avançada pela agência de notícias AFP.

"Grande parte” do arsenal químico da Síria foi destruído

© DR

Notícias ao Minuto

HÁ 7 MINS POR PATRÍCIA MARTINS CARVALHO

��Grande parte” do arsenal químico da Síria foi destruído com os mais de 100 mísseis que os Estados Unidos da América, Reino Unido e França lançaram, numa ofensiva conjunta, na madrugada deste sábado.

Segundo a mesma fonte, que a AFP ainda não identificou, terão sido os serviços secretos sírios a estarem por detrás do ataque químico levado a cabo no sábado passado na cidade de Douma.

[Notícia em atualização]

"Não conheço quem defenda eutanásia que não defenda cuidados paliativos"

Deputada socialista é a favor da despenalização da eutanásia, um projeto que a bancada do PS pretende aprovar até junho.

"Não conheço quem defenda eutanásia que não defenda cuidados paliativos"

© Global Imagens

Notícias ao Minuto

08:00 - 13/04/18 POR PATRÍCIA MARTINS CARVALHO

POLÍTICA ISABEL MOREIRA

No dia em que o presidente do PS disse que a bancada socialista planeia aprovar, até junho, um projeto para a despenalização da eutanásia, afastando a possibilidade da realização de um referendo, a deputada Isabel Moreira expressou, mais uma vez, o seu ponto de vista nas redes sociais.

Numa publicação feita na sua página do Facebook, a deputada socialista diz acreditar que se houvesse um referendo o “sim à eutanásia sairia vencedor”. No entanto, frisa que “não é boa ideia referendar direitos fundamentais”.

Nesta senda, Isabel Moreira faz questão de frisar que cuidados paliativos e eutanásia “são questões diferentes”.

“Não conheço nenhum defensor da eutanásia em circunstâncias excepcionais que não defenda os cuidados paliativos”, escreve, defendendo que o “doente deve ser informado de todos os cuidados ao seu dispor caso queira pedir auxílio para morrer numa situação de doença fatal e com mais requisitos que estarão previstos na lei (se for aprovada)”.

Posto isto, a deputada do PS considera que “não há duas barricadas imaginárias constituídas por quem defende e por quem não defende os cuidados paliativos”, e explica que a sua “insistência” nesta questão prende-se com o facto de saber que “esta vai ser a forma de tentar confundir o debate”.

Começou a guerra contra as armas químicas. Síria está sob fogo

Tornaram-se reais as ameaças de Trump, que esta noite, juntamente com o Reino Unido e a França, protagonizaram um ataque conjunto contra o regime de Bashar Al Asad.

Começou a guerra contra as armas químicas. Síria está sob fogo

© Reuters

Notícias ao Minuto

HÁ 2 HORAS POR NOTÍCIAS AO MINUTO

Tornaram-se reais, esta noite, as ameaças que o Estados Unidos já vinham protagonizando há vários dias, e que visavam a Síria.

Esta noite, EUA, Reino Unido e França lançaram uma ofensiva contra o Governo de Bashar Al Asad e que consistiu em três ataques contra instalações utilizadas para produzir e armazenar armas químicas, informou o Pentágono.

O primeiro dos ataques, perto de Damasco, teve como objetivo um centro de investigação científica utilizada, segundo o chefe de Estado Maior Conjunto dos EUA, general Joseph Dunford, para a "investigação, desenvolvimento, produção e testes de armas químicas e biológicas".

O segundo objetivo dos EUA e aliados europeus foi um depósito de armas químicas situado a oeste de Homs, que segundo Dunford armazenava as principais reservas de gás sarin nas mãos do governo de Asad.

Por último, os três países atacaram um outro armazém de armas químicas e um "importante centro de comandos", ambos situados perto do depósito de armas químicas a oeste de Homs.

Os ataques dos aviões foram feitos depois de se ter confirmado que aquela base militar era usada pelo regime de Assad "para guardar precursores de armas químicas que estavam a ser armazenados infringindo as obrigações da Síria pela Convenção de Armamento Químico".

O presidente francês, Emmanuel Macron, confirmou ter ordenado as forças armadas a intervir na Síria, num ataque conjunto com o Reino Unido e os EUA. referindo que "não podemos tolerar a banalização do uso das armas químicas".

Rússia alerta para consequências

Em resposta ao ataque, o embaixador da Rússia em Washington, Anatoli Antónov, avisou hoje que o ataque lançado contra a Síria pelos EUA, Reino Unido e França "não ficará sem consequências".

"Os piores presságios cumpriram-se. Não ouviram as nossas advertências. Voltaram a ameaçar-nos. Tínhamos advertido de que estas ações não ficarão sem consequências. Toda a responsabilidade recai em Washington, Londres e Paris", afirmou Antonov numa declaração oficial difundida pela embaixada, em que considera, ainda, "inadmissíveis" as palavras do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a responsabilidade de Vladimir Putin no suposto ataque com armas químicas contra a cidade síria de Douma.

Já o ministério da Defesa russo indicou que foram disparados mais de 100 mísseis nas últimas horas sobre a Síria, tendo sido intercetados "um número significativo destes".

Segundo a agência oficial síria SANA, o regime sírio criticou a "agressão bárbara e brutal" do ocidente, após os ataques realizados pelos EUA, França e Reino Unido contra bases militares.

A agência síria cita uma fonte do ministério dos Negócios Estrangeiros que acusa o ocidente de procurar assim esconder "as suas mentiras".

Ataque recebe apoio da NATO

Entretanto, o secretário geral da NATO, Jens Stoltenberg, mostrou o seu apoio ao ataque conjunto dos EUA, Reino Unido e França a instalações de armas químicas na Síria.

Stoltenber considerou que tal "reduzirá a capacidade do regime" de Asad de voltar a atacar a população com este tipo de armas, sublinhando também que o uso de armas químicas "é inaceitável" e os seus responsáveis devem ser responsabilizados por isso.

Por sua vez, o secretário-geral da ONU, António Guterres, exortou os estados membros a exercerem moderação e se absterem de qualquer ação que possa levar a uma escalada após os ataques contra a Síria.

Apesar de considerar que "qualquer uso de armas químicas é horrível", Guterres apelou a "todos os Estados membros para que exerçam contenção nestas circunstâncias perigosas e para evitar todos os atos que possam agravar a situação e agravar o sofrimento do povo sírio".

Síria já reagiu

A presidência da Síria reagiu, entretanto, na rede social Twitter, garantindo que "boas almas não serão humilhadas".

Imediatamente após o ataque, centenas de sírios começaram a reunir-se na histórica praça Omayyad da capital síria. Muitos acenaram bandeiras sírias, russas e iranianas e outros bateram palmas e dançaram.

A televisão síria adiantou que três civis ficaram feridos num dos ataques liderados pelos Estados Unidos contra uma base militar em Homs, embora a incursão tenha sido alegadamente intercetada.

Enquanto ainda estamos vivos

por estatuadesal

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 14/04/2018)

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1 Nos dias que correm, é preciso seguir o mundo hora a hora para saber se a terceira guerra mundial já começou. A avaliar pela despreocupação aparente com que os habitantes de Damasco, ouvidos ontem de manhã pela Sky News, esperavam pelos mísseis “lindos e inteligentes” anunciados por Donald Trump, o mundo não está para acabar. Mas nunca se sabe onde esta escalada de estupidez pode conduzir. Porque sustenta Putin este carniceiro de Assad, se qualquer outro fantoche menos sanguinário e mais aceitável para o Ocidente resolveria o problema e lhe serviria perfeitamente para a ocupação estratégica de uma Síria que Trump lhe deixou livre? Porque o negócio feito entre os dois vai-se tornando cada vez mais claro: Hillary era a candidata anti-Putin e por isso este deu uma ajuda decisiva à campanha de Trump, espalhando milhões de fake news estrategicamente distribuídas via Facebook entre os eleitores certos. Em troca, Trump deu-lhe mãos livres no Médio Oriente, onde só lhe interessa Israel e o supermercado de armas da Arábia Saudita. Só que a investigação do FBI à intromissão da Rússia nas eleições americanas, que Trump sempre julgou poder controlar, vai-se apertando cada vez mais, ao ponto de ele já estar a ponderar demitir o procurador especial que nomeou, Robert Mueller. E, nesta fase do processo, em que já não precisa dos serviços de Putin, nada melhor do que um conflito com a Rússia para desviar as atenções do escândalo interno e proclamar-se, afinal, inimigo da Rússia, mesmo que ponha o planeta a ferro e fogo. É louco o suficiente para isso. Tenham medo, tenham muito medo.

2 Se ainda estamos vivos, passemos então a outros assuntos. Lula e o Brasil, por exemplo. Por aqui e por lá, já todos disseram de sua justiça e as posições são claras: a direita acha que a esquerda quer politizar a justiça e a esquerda acha que é a justiça que tomou conta da política e que, aliada à direita e sob ameaça militar, quer afastar de vez qualquer hipótese de a esquerda regressar ao poder. Assim extremados os campos, a discussão nem é sobre justiça nem sobre política: é sobre poder. No rescaldo, já lançou o Brasil num clima de guerra civil, tornou inviável qualquer reflexão sobre a origem profunda do mal brasileiro, e, no limite, pode fazer o país regredir décadas ou até trazer de volta os militares — que, ninguém, se iluda, são iguais ao que eram há cinquenta anos e de todo não se recomendam.

Fiquemos apenas pelas verdades sem contestação séria. Quando Lula chegou ao poder, o Brasil era, talvez, o país mais escandalosamente desigual e corrupto do mundo. Tudo estava à venda e todos se vendiam, desde os polícias que deviam controlar os vendedores de droga das favelas até aos barões da droga, que financiam as escolas de samba, os clubes de futebol e vários congressistas. Como qualquer Presidente, todavia eleito por sufrágio universal, Lula não conseguiria nunca ver a sua agenda política aprovada no Congresso — onde o PT era uma minoria face aos 24 partidos presentes, mais os interesses organizados por ramos de negócio (fazendeiros, vendedores de armas, grandes construtoras, Petrobras, banca, etc.), e ainda as bancadas estaduais — se não seguisse a recomendação de José Dirceu: comprar votos entre os deputados. Foi assim que nasceu o ‘Mensalão’. Nisso, Lula não inovou, apenas se rendeu ao inevitável: todos os Presidentes antes dele fizeram o mesmo, incluindo Fernando Henrique Cardoso, que comprou votos no Congresso para conseguir uma revisão constitucional que lhe permitiu cumprir um segundo mandato, não previsto constitucionalmente. Em contrapartida, segunda verdade inquestionável, Lula arrancou à miséria e ao gueto social mais de 15 milhões de brasileiros, a quem deu pão, casas, escolas, vacinas, luz, assistência médica e um mínimo de dignidade.

Nesta fase do processo, em que já não precisa dos serviços de Putin, nada melhor do que um conflito com a Rússia para desviar as atenções do escândalo interno em que Trump está mergulhado

Mas o pior veio depois, como se, tendo provado do veneno, o PT já não fosse capaz de lhe resistir. O ‘Lava Jato’ é coisa completamente diferente: já não se tratava apenas de comprar votos no Congresso para conseguir governar com o programa aprovado pelo povo, mas de, para assegurar a manutenção do poder, garantir o financiamento do partido através da corrupção financeira, pura e simples. Em abono da verdade, diga-se porém que a Odebrecht, líder destacado do esquema, corrompeu quem quer que estivesse disponível, políticos e partidos — em especial esse maldito PMDB, verdadeiro centro e escola do crime político no Brasil. Quando Lula saiu do Planalto tinha 80% de aprovação popular, hoje tem 40% — a diferença foi todo o prestígio que se volatilizou no ‘Lava Jato’. Há muita, muita gente, que votou nele e no PT, que não lhe perdoa a traição aos ideais de regeneração ética proclamados quando chegou ao poder. Sérgio Moro tentou de todas as formas possíveis conseguir uma delação premiada que envolvesse Lula e Dilma Rousseff no ‘Lava Jato’, mas não conseguiu — foi o seu maior falhanço. Dilma, um dos raríssimos políticos brasileiros contra quem nunca houve uma suspeita criminal, acabou destituída por um Congresso onde um terço dos votantes que a destituíram estavam implicados no ‘Lava Jato’ ou outros crimes de corrupção, a começar pelo presidente do Congresso, o notório bandido Eduardo Cunha, agora na prisão, mancomunado com o vice-presidente Michel Temer, agora na Presidência, apesar de implicado até aos cabelos, e a continuar até no ex-Presidente Collor de Mello, que se demitira anos antes para não ser destituído, por roubo de dinheiros públicos, e que depois de um exílio dourado em Miami, regressara, eleito como senador, para presidir à Comissão de Relações Externas do Senado, e agora também implicado no ‘Lava Jato’. Este notável trio integrou a turba dos que destituíram um Presidente por uma simples irregularidade orçamental, comum a qualquer governo do mundo, numa sessão parlamentar que cobriu de vergonha o Brasil.

Quanto a Lula, Sérgio Moro teve de ir à volta. Em vez da Odebrecht e do ‘Lava Jato’, descobriu outra construtora, a OAS, e um negócio exclusivo que implicasse Lula: a oferta de um triplex na praia em troca de favorecimento num concurso público. Problema nº 1 — Moro não conseguiu apresentar uma única prova: uma escritura, um contrato-promessa, um e-mail, uma escuta, um testemunho, um papel, uma conta bancária, uma só data em que Lula ou a mulher tenham dormido uma noite no dito apartamento. Condenou-o a nove anos de cadeia com base numa única “delação premiada”, que outra coisa não é do que um testemunho comprado — a antecâmara do testemunho arrancado sob tortura. Para aqueles para quem tal é suficiente, chamo a atenção apenas para isto: com a delação premiada, que o nosso Ministério Público suspira por introduzir aqui, ficamos com a certeza apenas de que um criminoso certo é deixado em paz para que um hipotético criminoso mais importante possa ser preso. Problema nº 2: só por grande generosidade se pode entender num Estado de direito que Lula alguma vez tenha sido julgado em primeira instância. De facto, o que aconteceu no Tribunal de Curitiba é que um só magistrado, Sérgio Moro, abriu a investigação do processo, dirigiu a instrução, deduziu a acusação, conduziu sozinho o julgamento (onde foi acusação e juiz) e, no final, decretou a sentença e a pena. Onde aqui seriam necessários cinco magistrados diferentes, garantindo o contraditório, lá, no que chamam primeira instância, bastou um. Enfim, problema jurídico nº 3: o habeas corpus julgado tangencialmente contra Lula pelo Supremo Tribunal Federal, não obstante as longas e doutíssimas, embora confusíssimas, alegações dos condenantes, decidiu contra lei expressa e clara da Constituição brasileira: “Ninguém pode ser preso sem trânsito em julgado da sentença”. Como em qualquer país civilizado.

Politicamente, Lula está morto, o PT está morto. E, se tiverem juízo e algum pudor, deviam agora conformar-se em atravessar o deserto e meditar naquilo que traíram e fizeram de errado e naquilo que o Brasil precisa de mudar, começando por uma reforma urgente do seu sistema político-constitucional. Mas, por favor, não venha a direita invocar a justiça para ganhar nos tribunais o que perdeu nas urnas. Em termos de justiça, a condenação de Lula, assim como a destituição de Dilma não passou de uma fantochada.

3 A mensagem de Mário Centeno não podia ser mais clara: temos agora uma oportunidade única de nos livrarmos do défice e de nos começarmos a livrar do sufocante fardo da dívida e respectivos juros. Antes que a conjuntura externa dê a volta e nos apanhe outra vez desarmados. Queremos aproveitar ou não?

P.S. — Resposta de MST à Celtejo

  1. Como é óbvio, referi-me à multa aplicada à Celtejo e posterior revisão judicial com base em notícias vindas na imprensa e que, essas, não vi a Celtejo contestar.
  2. A Celtejo “exerce a sua actividade no Tejo... de acordo com as melhores práticas” e “é alheia ao fenómeno de poluição manifestado no rio Tejo em janeiro passado” (e cujas conclusões da investigação o Ministério Público de Castelo Branco resolveu surpreendentemente colocar sob segredo)? Deixem-me rir antes que me esqueça.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia