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terça-feira, 3 de julho de 2018

Entre as brumas da memória


Alemanha e refugiados

Posted: 03 Jul 2018 11:10 AM PDT

Merkel cede a ministro do Interior e reforça política contra imigrantes.

«Chanceler acordou com Seehofer que imigrantes registados noutros países da UE sejam levados para campos de detenção e a constituição imediata de três desses campos na fronteira com a Áustria. Marisa Matias alerta: “ou acordamos a tempo ou seremos cúmplices da barbárie que está a avançar na Europa”.

Ler também, no NYT: Merkel, to Survive, Agrees to Border Camps for Migrants.

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Franz Kafka, 03.07.1883

Posted: 03 Jul 2018 08:55 AM PDT

Na situação verdadeiramente kafkiana em que o mundo se encontra, recordemos que Franz Kafka nasceu em Praga, em 3 de Julho de 1883.

Renúncia

Era muito cedo, pela manhã, as ruas estavam limpas e vazias, eu ia à estação. Ao comparar a hora no meu relógio com a do relógio de uma torre, vi que era muito mais tarde do que eu acreditara, tinha que apressar-me bastante; o susto que me produziu esta descoberta fez-me perder a tranquilidade, não me orientava ainda muito bem naquela cidade. Felizmente havia um polícia nas proximidades, fui ter com ele e perguntei-lhe, sem fôlego, qual era o caminho. Ele sorriu e disse:

– Queres conhecer o caminho através de mim?

– Sim – disse –, já que não posso encontrá-lo por mim mesmo.

– Renuncia, renuncia - disse e voltou-se com grande ímpeto, como as pessoas que querem ficar a sós com o seu riso.

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Com pena, com muita pena

Posted: 03 Jul 2018 05:48 AM PDT

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O sabor da corrupção

Posted: 03 Jul 2018 02:30 AM PDT

«No mundo da corrupção não há pós-verdades nem pós-mentiras. Porque, aparentemente, elas são as duas faces da mesma moeda. A operação Tutti Frutti da PJ lança um pouco de luz sobre este intrigante tema. A corrupção, entre nós, é tão comum como os tremoços ou os caracóis. Faz parte do nosso quotidiano e alimenta as nossas teorias da desconfiança. Este é um país de desconfiados. Desconfiamos sempre dos suspeitos do costume e dos outros. Os portugueses conseguem, ao mesmo tempo, desconfiar dos políticos, dos polícias, dos árbitros, dos professores e dos médicos. Em contrapartida há uma desconfiança muito mais sibilina: o Estado desconfia dos portugueses. Desconfia que estes não pagam impostos e que se esquecem de pagar o estacionamento. Portugal é uma espécie de "offshore" da desconfiança. É um gelado feito de muitos sabores sintéticos e químicos, onde não há nada de verdadeiro.

Olhamos para aquilo que vai sendo contado sobre assessores fictícios, trocas de favores, ofertas de peixe ou concursos falseados e chega-se à conclusão de que a corrupção é a essência do país político. E os partidos nada fazem para sossegar os cidadãos, dizendo-lhes que esta é a excepção e não a norma. Envergonhados, calam-se e alimentam a onda da suspeição. Em Espanha, Rajoy caiu por causa da corrupção peganhosa que contaminava os que estavam à sua volta. Em Portugal, quem cai fica em casa à espera do último julgamento divino. Há, intui-se, corrupção para todos os sabores. E há pouca ética. Pensamos no que pensariam hoje Gottfried Leibniz e Spinoza quando estiveram em 1676, em Haia, a discutir durante 48 horas a obra "Ética" do génio de origem portuguesa. Ética? Para algumas elites que cirandam pelo poder, esse é um princípio tão valioso como um gelado Perna de Pau. Para alguns a corrupção é tão saborosa como caviar. Não resistem a isso. Mas é isso que mina a democracia e também promove o populismo. De desconfiança em desconfiança caminhamos, seguros, para o fosso do fim da democracia.»

Fernando Sobral

O DN, o Criacionismo e os seus defensores

  por estatuadesal

(Carlos Esperança, 03/07/2018)

criação

Li o primeiro número impresso do Diário de Notícias semanal no último domingo, logo a seguir ao último exemplar diário impresso, com a amargura de quem não sabe ainda se a opção que vai tomar não estará condenada ao mesmo destino. Há 65 anos que o hábito contraído com o exemplo paterno, no Primeiro de Janeiro, de Manuel Pinto de Azevedo, me acompanha.

À medida que morrem os jornais impressos, sinto que morro com eles e que fica mais pobre o mundo que deixamos.

Não consegui ler todos os artigos do semanário. Faltou-me o tempo e disposição, mas li notícias e artigos de opinião numa edição cuidada e em bom português, num formato a que o tempo me desabituara.

Das 56 páginas, excluídos os suplementos, escolhi uma, nem sequer a mais importante, para refletir e tecer alguns comentários. Soube que em Mafra «(…) há um parque onde se promove a teoria criacionista: tudo foi criado por Deus, a Terra não tem mais de 6000 anos e que a evolução não está comprovada.». Num filme ‘didático’ afirma-se, entre outras tolices, que «A Terra pode parecer algo insignificante comparada com tudo o que Deus criou, mas foi neste lugar minúsculo que Deus quis colocar as joias da coroa da sua criação. Foi neste pequeno planeta que o criador do universo quis fazer obra e morrer por nós, mas depois ele ressuscitou oferecendo o perdão a todos aqueles que combatem pelo seu nome.»

Quando a religião substitui a razão, o hábito se sobrepõe aos factos e as evidências dão lugar a suposições, a indústria dos embustes substitui a ciência. Há sempre um farsante à espera do regresso à Idade do Bronze, um criacionista capaz de negar o conhecimento com o Antigo Testamento, de substituir um laboratório por uma madraça e de contrariar os cientistas com a desvairada obstinação de um pateta. É verdade que o vice-presidente dos EUA, Mike Pence é um defensor do criacionismo e Trump é presidente dos EUA.

Na Universidade de Coimbra, no manual "Direito Internacional, Do paradigma clássico ao Pós-11 de Setembro" (...) da autoria do Doutor Jónatas Machado, que é usado obrigatoriamente na cadeira de Direito Internacional Público e Europeu do segundo ano da licenciatura em Direito (...) se encontra logo à entrada uma apologia do criacionismo contendo comentários como (vão "ipsis verbis"): (...) ["estou farto desta homobiologia homem-macaco" (...), "a teoria do intelligent design é a maior conquista intelectual dos últimos 200 anos" (...)]
Será que a universidade permite que do alto de uma cátedra alguém faça proselitismo religioso? Podem os alunos de uma universidade laica ser evangelizados em vez de ensinados?» («Cátedra ou púlpito?», no De Rerum Natura) Posted by Carlos Fiolhais)

Em outubro de 2007, o Conselho da Europa discutiu as teorias da conceção da vida na Terra e aprovou a resolução que rejeita a possibilidade de o Criacionismo ser ensinado nas escolas.
(...)
De acordo com essa resolução, o Criacionismo pode ameaçar os direitos humanos. O documento, aprovado por 48 votos a favor, 25 contra e três abstenções, sublinha a ameaça para a pesquisa científica em geral e para a medicina em particular. (A surpresa reside nas abstenções e, sobretudo, dos votos contra).

Isso não inibe os criacionistas de negarem os milhares de milhões de anos da Terra, na alucinada defesa de que a criação do Planeta obedece à narrativa da criação do Génesis, negando as provas do evolucionismo e o Big Bang.

O Arcebispo Ussher, concluiu que a idade atual da Terra seria precisamente de 5.978 anos, se adicionarmos aos seus cálculos os anos que passaram até hoje, 2018. Trata-se de um criacionista radical, que definiu o dia da semana e a hora, os moderados admitem cerca de 6 mil anos, sem o mesmo grau de precisão.

Não vivemos num mundo de homens racionais, isto é o Planeta dos Macacos.

Regime Geral das Infracções dos Chefes das Repartições de Finanças

  por estatuadesal

(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 03/07/2018)

cobrança

A coima enviada nesta semana a quem não se inscreveu no Via CTT, para lá de não ter sido precedida de qualquer aviso para uma parte indeterminada de contribuintes, começa por levantar interrogações acerca do sentido desse serviço. Serve para quê se até aqui toda a gente agora multada passou tão bem sem ele na sua relação com as Finanças? Admitindo a minha ignorância, salto para a questão mais importante, embora lateral: o poder arbitrário e não sindicado dos chefes das repartições de Finanças.

Recorrendo a uma experiência pessoal análoga ao que está aqui em causa, descobri que a invocação dos requisitos previstos no artigo 32.º do Regime Geral das Infracções Tributárias – (i) a prática da infracção não ocasione prejuízo efectivo à receita tributária: (ii) estar regulariza a falta cometida; (iii) a falta revelar um diminuto grau de culpa – não chegava para que a Lei fosse aplicada em favor do cidadão. Era ainda preciso fazer um requerimento ao chefe da repartição de Finanças, mesmo depois de tal já ter sido feito repetidamente por via digital ao longo de 3 anos. Assim fiz, entregando presencialmente e em papel esse pedido e ficando a aguardar a resposta. A resposta foi a de que a Lei não tinha mais poder do que o chefe da repartição de Finanças, o qual decidia em casos similares de acordo com critérios impossíveis de prever até para os funcionários fiscais que atendem os contribuintes nos balcões. Se eu quisesse, que fosse para tribunal – situação em que poderia perder, e situação em que, mesmo que ganhasse, os custos de iniciar o processo equivaliam ao valor da coima que pretendia ver anulada. Logo, saía mais barato pagar sofrendo a injustiça do que procurar a Justiça. Para além disto, fiquei com a cristalina ideia de que esse tipo de decisões fiscais podia envolver múltiplas pessoas que imitavam o chefe da repartição na facilidade com que decidiam de forma arbitrária até em casos tão básicos como o meu na circunstância.

O cenário é de flagrante violação do Estado de direito. Se os chefes das repartições de Finanças e suas equipas exercem este poder de forma discricionária, se o Estado não faz um levantamento das respostas aos requerimentos (e aposto os 10 euros que tenho no bolso como não faz) com a intenção de proteger os contribuintes, então estamos perante uma cultura corrupta, haja ou não vantagens para os trabalhadores estatais envolvidos.

Cultura corrupta porque, obviamente, se eu tivesse um amigo ou meia amiga na repartição de Finanças onde fui roubado teria saído de lá com um sorriso e uma assinatura do chefe a garantir que estavam respeitados:

“os requisitos previstos no artigo 32.º do Regime Geral das Infracções Tributárias – (i) a prática da infracção não ocasione prejuízo efectivo à receita tributária: (ii) estar regulariza a falta cometida; (iii) a falta revelar um diminuto grau de culpa”

Não sou votante do PS também por causa disto. É chato ser gamado por aqueles que recebem salários por causa dos meus impostos.

79 INCENDIÁRIOS

  por estatuadesal

(Dieter Dellinger, 03/07/2018)

bombeiros

No noticiário de hoje da TVI, o comandante da GNR declarou que desde o início do ano foram detidas 79 pessoas pelo crime de fogo posto.

Os GIPS-GNR fizeram cerca de 20.000 patrulhas e levantaram 2000 autos de contra-ordenação por falta de limpeza das zonas obrigatórias por lei. 500 desses autos foram anulados porque, entretanto, os proprietários deram cumprimento às imposições legais.

O número de militares integrados nos GIPS-GNR ascendeu 1064 pessoas com um excelente equipamento em viaturas muito móveis e bem equipadas.

Enfim, posso acrescentar que se as condições meteorológicas fossem este ano semelhantes às do ano passado teríamos já mais de 10% da PÁTRIA a arder porque os INCENDIÁRIOS detidos já teriam cumprido a missão para a qual foram pagos por gente de direita e, Rui Rio, estaria a esfregar as mãos de contentamento, enquanto Marcelo diria "eu bem avisei", mas claro não avisou nada nem se sabe o que deveria ter avisado.

Devemos achar estranho que tenha havido fogo em muitos edifícios, geralmente iniciado em plena madrugada. A TVI disse à uma da tarde que uma loja num grande edifício de Portimão começou a arder pelas três da madrugada. A pronta intervenção dos bombeiro evitou que o fogo se alastrasse para o edifício para ficar confinado à loja onde foi prontamente apagado. Já antes arderam fábricas, andares, etc. Quase todos os dias é anunciado um fogo que surge assim de repente sem a presença humana. Estranho, muito estranho.

Quanto aos 79 detidos nada se sabe sobre a sorte deles e nem os nomes foram divulgados. O Ministério Público considera que o carácter público de um crime advém da categoria da pessoa detida e não do perigo que pode causar à população e à PÁTRIA. É uma atitude idiota porque o mais importante é a PÁTRIA por via da extensão do crime e não a personalidade em causa.

Um simples habitante de uma aldeia do interior sem estudos nem grande inteligência é no plano jurídico igual a um ex-PM e a haver segredo de justiça para um deverá haver para o outro e nunca esquecer que os INCENDIÁRIOS provocaram prejuízos superiores a dois mil milhões de euros, tanto nos estragos provocados como na contratação de pessoal dos GIPS para vigiar a floresta e nos meios de combate aos incêndios, incluindo os caríssimos aviões e helicópteros.

Não vamos pôr em igualdade de circunstâncias, o dinheiro que um amigo muito próspero de um ex-PM tem, mas valor inferior a 1% da verba gasta com os incêndios.

Os detidos por fogo posto devem ser denunciados com nome e local de residência para que vizinhos e familiares os possam passar a vigiar. Se foram libertados, sentem-se IMPUNES e logo que o tempo aqueça e deixa de cair estas pequenas chuvas passam ao ataque lançando fogo à PÁTRIA.

A culpa nesse caso será do Ministério Público e, em particular, da PGR Joana Marques Vidal.

Foto: Uma das novas viaturas dos GIPS adquiridas para uma pronta intervenção no apagamento de fogachos e fogos postos por criminosos INCENDIÁRIOS que o Ministério Público teima em não levar a julgamento.

O drama da direita

Ricardo Costa28/06/2018

Ricardo Costa


opiniao@newsplex.pt

193VISUALIZAÇÕES

Rui Rio e Assunção Cristas atravessam um período difícil de afirmação das suas lideranças, acentuado pela ausência de um projeto comum de PSD e CDS para 2019

Aproxima-se a tradicional pausa política das férias de verão e, a partir de setembro, inicia-se a última etapa pré--eleitoral. PS, PCP e BE vão a jogo com o que conquistaram nos últimos anos de exercício de poder e de condicionamento sobre o poder. PSD e CDS desafiam o poder vigente, ou tentarão desafiar, com grandes incertezas sobre a possibilidade de reconquistarem esse poder. De facto, é no lado da (chamada) direita que se preservam as grandes dificuldades, enfatizadas pelas opções de ambos os partidos de seguirem o seu próprio caminho. Teria mais impacto haver bloco comum em alternativa; a sua falta gera naturais e previsíveis obstáculos que a dicotomia gera na definição de mensagens comuns. E também na ausência de identidade e na contradição da atitude: por um lado, Assunção Cristas combate invariavelmente o governo; por outro, Rui Rio parece interessado em construir pontes seguras de entendimento com o PS. E, na descoordenação, fica mais fácil para António Costa. E também para o eleitorado que hesita.

Para além das decisões estratégicas, a tal direita confronta-se com o problema de sempre: o carisma das lideranças. Que traz consistência, confiança e alinhamento, nomeadamente para um eleitorado que, sociologicamente, sempre terá um caráter de forte ligação personalista. A tal direita, nomeadamente depois de ostracizada pela esquerda que se fez vencedora com Abril, sempre se afirmou com líderes que entrassem pelo centro e, ademais, disputassem o eleitorado do PS e fossem intransigentes com a esquerda radical e ortodoxa. Sá Carneiro, Cavaco Silva, Durão Barroso, Passos Coelho (decisivo para a luta contra Sócrates), Freitas do Amaral e Amaro da Costa no lançamento do CDS, Lucas Pires e Manuel Monteiro na resistência ao declínio do CDS, Paulo Portas. Independentemente do maior ou menor êxito na aspiração eleitoral imediata, essas lideranças fizeram o caminho para se alcandorarem ao poder ou dele se aproximarem e marcaram os seus partidos (com os “ismos” que todos conhecem em fileiras endógenas), tornando mais difícil o percurso dos seus sucessores. Não podemos, por isso, esquecer que Passos e Portas deixaram raízes até porque, mesmo numa conjuntura implausível, conseguiram ganhar. Juntos e com carisma, cada um à sua maneira e cada um convencendo os seus. Logo, o problema original de Assunção Cristas (que não repetirá no país o que aconteceu na eleição municipal em Lisboa) e de Rui Rio é comum e é de afirmação das suas lideranças, requisito imprescindível à direita para ter sucesso.

Depois virão os programas, as propostas, as reformas e as pessoas. Sem identidade pessoal de grande lastro, não valerá a pena. E ainda mais não valerá a pena se, olhando para o lado, os aspirantes e desafiadores são tudo menos líderes agregadores, tão-só chefes de fação ou secção. Não se estranha, em consequência, que as desavenças, os dissensos e as derrotas internas se acumulem no PSD e no CDS – as desautorizações do grupo parlamentar com Fernando Negrão e os desaires do aparelho de Cristas nas contendas do Porto são apenas os sinais mais imediatos de que o futuro não deixará de ser crítico.

Dir-se-á que sobra Marcelo como figura tutelar da direita. Que, na sua veste ecuménica, não resistirá a mexer nas lideranças se as legislativas de 2019 confirmarem o declínio. Não parece. Marcelo ama hoje o país e o amor que o país lhe oferece. Deseja terminar com esse legado a sua vida política, esquecendo as brigas e as lutas que o caracterizaram no passado. Pode custar-lhe, mas não se envolverá, tirando os comentários adequados. Fica a questão: com quem pode contar a direita para ganhar?

Professor de Direito da Universidade de Coimbra. Jurisconsulto

“Xutos” à democracia: Marcelo, o “Rock”; Costa, o “Roll”!

João Lemos Esteves03/07/2018

João Lemos Esteves


opiniao@newsplex.pt

321VISUALIZAÇÕES

Marcelo não convida Donald Trump porque não quer espicaçar Catarina Martins e companhia, utilizando a “opinião pública portuguesa” para não assumir o óbvio: até o Presidente da República – com a sua obsessão pelas selfies e pelas sondagens – já está refém da extrema-esquerda

1. A imprensa portuguesa rejubilou na semana transata: afinal, os portugueses podem ter orgulho em pertencer a esta nação, que tem sobrevivido às contingências da História contra todas as probabilidades e vaticínios mais fatalistas. Não há muito tempo, os mesmos jornalistas, comentadores e autointitulados intelectuais que pululam pelas nossas televisões, rádios e jornais faziam carreira a parodiar, a satirizar e a denegrir Portugal. O nosso país não passaria, afinal, de uma “choldra”, de uma “país do quinto mundo habitado por gente inculta”, com uma “classe política absolutamente corrupta e impreparada”. Entretanto, tudo mudou: Portugal passou a ser fantástico; o “último paraíso na terra”; um “exemplo de civilização”! Qual a razão desta mudança súbita? Estará a economia nacional estruturalmente melhor, projetando um presente mais seguro e um futuro mais auspicioso para todos os portugueses? Será que o nosso poder político é mais competente, sequer transparente, do que no passado?

2. Não, não e não: Portugal, na lógica da opinião publicada (sim, porque hoje praticamente não há notícias: só opinião ou propaganda), virou paraíso porque o fetiche sonhado por numerosos jornalistas do politicamente correto se tornou realidade. Finalmente temos um governo da extrema-esquerda com o PS: o casamento sonhado (e negado) durante décadas foi consumado, derrubando--se destarte os muros que separavam a esquerda. E a esquerda unida será invencível: independentemente das preferências políticas dos portugueses devidamente manifestadas nas urnas, a esquerda (basta querer) vencerá sempre. É uma mera questão aritmética: somando-se os deputados do extremo-PS com a extrema-esquerda, é bastante verosímil que a direita fique afastada do poder por um longo tempo. Só uma maioria absoluta da direita assegurará a sua possibilidade de exercer funções governativas – pelo que só em situações de exceção, de crise profunda, após o PS levar o país à bancarrota (cumprindo a sua tradição político-constitucional mais conhecida e reiterada) é que a direita poderá aspirar a corresponder aos anseios de mudança da maioria (cada vez menos) silenciosa dos portugueses.

3. Pois bem, qual o motivo que excitou as nossas “elites comunicacionais”? A lição de História dada por Marcelo a Donald Trump – e o seu aperto de mão em forma de “puxão ostensivo”. A prioridade nacional desde quarta-feira tornou-se, pois, desvendar os segredos do “aperto de mão singular” de Marcelo Rebelo de Sousa. Para tal foram ouvidos especialistas em linguagem corporal e mestres de judo (parece que o cumprimento é uma forma de sinalizar a disposição do combatente) e o próprio Presidente Marcelo comentou ao “Expresso” a sua façanha. De facto, Marcelo descreveu o gesto como um “golpe de aikido”, confirmando as análises com que o país político-mediático se entreteve: o nosso Presidente é especialista em aikido, o que, como se sabe, é a principal valência de política internacional que um político deve ter. Mais acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa que não convidou o presidente Donald Trump para vir a Portugal porquanto tal poderia causar melindre na opinião pública nacional. Na mesma declaração ao “Expresso”, Marcelo revelou que o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, virá a Portugal em novembro – o que é uma notícia, segundo o próprio Marcelo, entusiasmante. As leitoras e os leitores já perceberam o ridículo desta situação: então o nosso sábio Presidente Marcelo Rebelo de Sousa recusa convidar o presidente Donald Trump (o que é, aliás, um gesto contrário à cortesia diplomática, ainda para mais relativamente ao nosso mais importante aliado) porque isso poderia causar “urticária” na opinião pública devido ao “radicalismo” (como?!) do presidente dos EUA? No entanto, Marcelo anda muito contente (e a jornalista do “Expresso” fica em êxtase!) com a vinda do presidente de um Estado onde não há respeito pelos direitos humanos, não há limitação do poder político, onde há um Estado centralizado com “capitalismo de Estado” como é a República Popular da China! Então como é, senhor Presidente Marcelo: a opinião pública não fica com urticária por vir um presidente autoritário ao nosso país? Ainda para mais, Marcelo anunciou a vinda do presidente chinês a Portugal… nos Estados Unidos da América! O que, convenhamos, é uma singularidade diplomática…

4. Ora, por que razão terá Marcelo sentido “urticária” pela vinda do presidente dos EUA a Portugal (não obstante ter considerado a sua reunião com Donald Trump um “enorme sucesso” e com muita empatia entre os dois, como nós explicámos no “Sol” online na semana passada) – mas apenas júbilo pela vinda do presidente da China? Fácil: porque Marcelo não está preocupado com a opinião pública portuguesa – está tão-somente apreensivo quanto à sua popularidade junto dos militantes (e elite) do Bloco de Esquerda e da ala radical do PS. Marcelo não convida Donald Trump porque não quer espicaçar Catarina Martins e companhia, utilizando a “opinião pública portuguesa” para não assumir o óbvio: até o Presidente da República – com a sua obsessão pelas selfies e pelas sondagens de popularidade – já está refém da extrema-esquerda. Já convidar um presidente realmente autoritário que pensa que os direitos humanos são meros lirismos ocidentais e que tem evidentes objetivos expansionistas é uma animação para Marcelo – afinal de contas, até o Bloco de Esquerda e o PCP já se renderam aos encantos chineses. Portanto, no caso do presidente Xi, Marcelo não chateará nem Catarina Martins nem Jerónimo de Sousa. Não haverá, portanto, urticária na pele política de Marcelo… Assim como não haverá urticária no convite que Marcelo terá formulado ao presidente Putin para visitar Portugal: aliás, já em 2016, Marcelo, em declarações à agência de notícias do Kremlin, Sputnik, afirmou que “gostaria muito de receber o seu presidente, o presidente Putin, em Portugal”. Aí parece não haver urticária…

5. O melhor momento, contudo, ocorreu na passada sexta-feira. O poder político português esteve todo (literalmente todo!) no palco do Rock in Rio Lisboa, cantando as saudades que têm da sua alegre casinha. Entendamo-nos: a homenagem a Zé Pedro é mais do que merecida e justifica-se. Todavia, Marcelo poderia ter encontrado outras formas mais institucionais de proceder a tal tributo: por exemplo, um concerto aberto nos jardins do Palácio de Belém, como já fez. É que subir ao palco e ser fotografado encenando o símbolo do Rock in Rio suscita problemas políticos para o Presidente da República. Efetivamente, um Presidente que pugna e dá lições sobre a prevalência do poder político sobre o poder económico dá por esta via um sinal de que, afinal, é o poder económico e mediático que condiciona o poder político. Como poderá no futuro Marcelo Rebelo de Sousa reclamar (invocando a sua velha doutrina) que os políticos não devem envolver-se demasiado com iniciativas empresariais ou com os poderes fácticos? Será muito difícil…

6. Em segundo lugar, Marcelo Rebelo de Sousa ainda não percebeu que o tempo de tomar decisões difíceis está a chegar – no próximo ano teremos um calendário eleitoral intenso, com europeias e legislativas. Ora, o Presidente da República – que deveria ser o Presidente de todos os portugueses –, ao cantar junto de António Costa (e sua esposa, Fernanda, a estrela da noite, batendo todos em qualidade artística e vocal) e Catarina Martins, está objetivamente a beneficiar dois partidos políticos. Nossa questão: Marcelo também convidou representantes do PSD, do CDS ou do PCP para cantar no palco do Rock in Rio?

7. Por outro lado, como acreditar que Marcelo Rebelo de Sousa, quando for chamado a decidir sobre a nomeação do próximo governo, tem distanciamento crítico em relação a António Costa e Catarina Martins para rejeitar, em nome do interesse de Portugal, um executivo proposto por estes dois partidos? Politicamente, o que parece é. E o que parece é que Marcelo quer continuar com António Costa e Catarina Martins em São Bento… Enfim, os nossos políticos deram mais uns “xutos e pontapés” na qualidade da nossa democracia. Na autoridade do Estado. Surpresa? Talvez não… Portugal não é mesmo os Estados Unidos da América.

joaolemosesteves@gmail.com

À consideração da beleza do futebol português

Opinião

Miguel Guedes

27 Junho 2018 às 00:54

ÚLTIMAS DESTE AUTOR

A mudança de chip que a selecção portuguesa insinuava ser capaz de operar ainda não se materializou. Decorrida a fase de qualificação e após uma bem sólida exibição no particular contra a Bélgica, a sensação era a de que tínhamos um meio-campo capaz de desatar o nó, sepultando a monotonia artística que nos coroou campeões da Europa, sem que com esse upgrade perdêssemos consistência defensiva, solidez e espírito operário. Pela qualidade dos nossos jogadores, julgava-se por antecipação que continuaríamos a fazer das nossas fraquezas força mas algo mais: esta equipa podia não ir tão longe como em 2016 mas jogaria diferente, para melhor, e poderia ser bem sucedida. Com outro brilho, nota artística, outra beleza. Apesar do melhor jogo colectivo contra o Irão, a sensação que abala é a de que dificilmente melhoraremos o tanto que precisamos para os jogos a eliminar. Talvez porque ainda hesitemos, achando que somos capazes de mudar o chip em tempo recorde. A beleza não tem idade mas tem o seu tempo. E já a seguir vem o Uruguai, uma equipa sem "eyeliner".

Alguns jornalistas em auto-análise, que se queixam de que há um Mundial que lhes está a passar ao lado à custa das denúncias e investigações judiciais que atingem o Benfica e os seus responsáveis, foram - eles mesmos - protagonistas permanentes do maior enxovalho diário a um clube de que tenho memória, à boleia de um homem e das suas circunstâncias. Durante os últimos dois meses, o pântano do futebol português chamou-se Sporting e alimentou-se do seu ex-presidente. Entretanto anunciou-se a convocatória, a preparação da selecção entrou em curso, jogaram-se três particulares e o Mundial da Rússia disparou ao ritmo de quem desmantela matrioskas em loop. E apesar da beleza do futebol continuar bela, não houve um dia em que a crise do leão ficasse alojada nas grades internas da sua jaula. Pelo contrário, alimentou finados serões "non-stop" como se de uma novela de voyeurismo espírita se tratasse. E o futebol continuava belo, porém.

Agora que, a propósito da operação "Mala Ciao", a Polícia Judiciária desenvolve mais uma investigação que envolve o Benfica e, no respeito pelo Estado de Direito, há uma multiplicidade de buscas ordenadas por um juiz, algo parece estar a impedir alguns daqueles que alugaram cadeira de orquestra para a crise leonina de poder desfrutar da tão terna beleza do futebol, à conta do "ambiente irrespirável que se vive no futebol português". Vão medindo as tensões ao drama, é um belo jogo colectivo. Estimo as melhoras.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

* MÚSICO E JURISTA

Geringonça. PCP diz que “o mito acabou” e aguarda encontro com Costa

CRISTINA RITA03/07/2018 12:40

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Comunistas endurecem o discurso sobre o acordo e o Orçamento. O primeiro-ministro ripostou: investe-se no IP3, mas não há dinheiro para “evoluções” salariais

“Termina um mito de que era possível fazer a quadratura do círculo de corresponder à reposição de direitos (...) e aceitar a submissão aos ditames da União Europeia e do euro”. A frase do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, depois de dois dias de reunião do comité central, traduz-se no registo mais duro dos comunistas sobre o acordo com o PS, o “exame comum”, como lhe prefere chamar o PCP.

O líder do PCP não tinha ontem data e hora marcada para se encontrar com o primeiro-ministro e iniciar a negociação do Orçamento de 2019 ao mais alto nível. Talvez ainda seja esta semana, apurou o i – um detalhe que em política é sintomático do distanciamento entre as esquerdas. O Bloco de Esquerda já falou com Costa no passado dia 19, mas os comunistas ficaram na lista de espera. E o chefe de governo repisou ontem a ideia de que não há dinheiro para se fazer tudo. Para o efeito usou a requalificação do IP3, que liga Viseu e Coimbra.

“Quando estamos a decidir fazer esta obra estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos.” A declaração do primeiro-ministro é clara. Não vai ceder aos argumentos do PCP ou do Bloco sobre o descongelamento integral de nove anos das carreiras dos docentes. O custo da intervenção no IP3 são 134 milhões de euros, e sem espaço para a introdução de portagens.

O primeiro-ministro insistiu: “É preciso ter em conta que, quando decidimos fazer esta obra, significa que estamos, simultaneamente, a decidir não fazer outra obra.” O aviso tinha um destinatário: os sindicatos de professores. Os recursos são limitados, mas o PS parece estar apostado numa nova bandeira, a do investimento público.

Mais a sul, o líder parlamentar, Carlos César, fez o discurso de que o Alentejo tem ficado em segundo plano e que o momento é de inverter a tendência.

Nas jornadas parlamentares, que terminam hoje na Pousada do Alqueva, César confessou o objetivo das visitas aos concelhos de Beja e Évora: “Viemos para aprender e apreender. Saímos daqui com a convicção do que é prioritário.” Os socialistas prometem pressionar o executivo a incluir Beja no mapa do plano nacional de investimentos, o projeto sobre o qual o chefe de governo já pediu uma maioria de dois terços no parlamento, facto que irritou Os Verdes no último debate quinzenal com António Costa.

Memórias do pec IV

No PS, o discurso de crise política tem um preço e uma memória. Em 2011, com o chumbo do PEC iv, do então primeiro-ministro José Sócrates, abriu-se a porta a eleições antecipadas e a esquerda foi penalizada por ajudar o PSD e o CDS a derrubarem o executivo. Os riscos são elevados, apesar de a História não se repetir. Este fim de semana, o ministro do Trabalho deu corpo à voz corrente de vários parlamentares. “Hoje, os eleitores são muito exigentes a esse respeito e estão à espera de que esta legislatura termine, e termine nesta lógica de compromissos”, declarou Vieira da Silva ao “DN”.

No dia em que o primeiro- -ministro voltou a dizer que não haverá dinheiro para se fazer tudo, a coordenadora do Bloco de Esquerda atacou o executivo. “É pouco prudente que o governo esteja à espera da muleta do PSD para quebrar o compromisso”, defendeu Catarina Martins, aludindo à situação dos professores.

pacote laboraL Os comunistas apelaram ao protesto no dia 6 de julho, data da discussão no parlamento sobre o pacote de medidas de alterações legislativas laborais, e, hoje, o Bloco senta à mesma mesa Carvalho da Silva, antigo líder da CGTP, a coordenadora do BE e o deputado José Soeiro para discutir a “valorização laboral”.

Ainda não é certo se o PSD votará a favor das propostas do governo ou se optará pela abstenção. A decisão deve ser tomada esta quinta-feira, dia 5, com a hipótese de se fazerem algumas propostas de alteração. E tudo depende da estratégia que os socialistas adotarem: se as alterações mudarem o acordo de concertação social, então, o PSD não passará cheques em branco aos socialistas.

Agora, tudo depende da geometria parlamentar. Basta que os partidos à direita do PS se abstenham para assegurar a aprovação dos diplomas, num dia que servirá para medir o nível de tensão entre os partidos que sustentam o executivo.

As negociações para o Orçamento do Estado de 2019 ainda não entraram no detalhe de propostas concretas, mas os comunistas sublinham que não aceitam pressões nem do Presidente da República nem do primeiro-ministro para votarem favoravelmente o documento.

No Bloco de Esquerda, o discurso varia entre a cautela e o ataque. “O que está a acontecer neste primeiro semestre de 2018? António Costa perdeu a estrelinha, demonstrou que as suas escolhas são mero jogo político. E dá razão ao Bloco de Esquerda: a ausência histórica de entendimentos à esquerda não foi defeito da esquerda. Foi feitio do PS. E só aconteceram em 2015 porque a esquerda teve força para os impor e o PS não teve força para lhes resistir. O mel com que a esquerda era tratada passou recentemente a fel”, escreveu Pedro Filipe Soares, líder parlamentar, num artigo de opinião no “DN”. Entre os bloquistas, o sentimento é o de esperar para ver até onde vai António Costa e se há a tentação de obrigar o Bloco ou o PCP a romperem a corda.

Costa garante que a geringonça vai continuar

Miguel SilvaLUÍS CLARO03/07/2018 13:53

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“Queremos continuar este caminho com a companhia que temos”, disse o secretário-geral do PS

António Costa dedicou boa parte do seu discurso, no encerramento das jornadas parlamentares do PS, ao acordo entre os socialistas e os partidos à sua esquerda. O secretário-geral do PS garantiu que “quando se está bem acompanhado não se deseja mudar de companhia”.

Costa quis aliviar o clima de tensão e defendeu que o acordo à esquerda deve ser renovado. “Queremos continuar este caminho com a companhia que temos porque nos sentimos bem acompanhados”, disse.

O líder socialista pediu “estabilidade” e alertou que a proximidade das eleições legislativas não deve afetar as negociações do Orçamento. “Não será por ser ano de eleições que vamos pôr em causa tudo aquilo que conseguimos”.

Costa referiu, porém, que o PS é “essencial” para que a geringonça exista e “funcione”.

Acordo entre Merkel e Seehofer adia crise política na Alemanha

Andreia Martins - RTP03 Jul, 2018, 11:51 / atualizado em 03 Jul, 2018, 12:16 | Mundo

Acordo entre Merkel e Seehofer adia crise política na Alemanha

O acordo entre a CDU e a CSU prevê a rejeição de requerentes de asilo que estejam registados noutro país da União Europeia. | Hannibal Hanschke - Reuters

A chanceler alemã e o líder bávaro alcançaram um entendimento sobre as políticas migratórias que prevê a criação de “centros de trânsito” para conter a migração secundária. O documento tenta salvar a coligação de Governo e impede para já a demissão do ministro alemão do Interior, mas a sua aprovação depende agora da palavra final do SPD e de um novo acordo com os vizinhos austríacos.

É uma aparante cedência por parte da chanceler alemã que evita um cenário imediato de crise política no executivo alemão. Depois de várias semanas de confronto, Angela Merkel, da CDU (União Democrática Cristã), e Horst Seehofer, líder da CSU (União Social Cristã), chegaram a um entendimento sobre a questão migratória.

Os detalhes ainda não são totalmente conhecidos, mas sabe-se que este inclui a criação de “centros de trânsito”, à imagem de zonas de segurança em aeroportos internacionais onde se faz o controlo alfandegário e de passaportes. Na prática, estes centros não serão considerados território alemão, o que fará com que seja mais fácil deportar migrantes, refere a agência Reuters.

O acordo prevê também recusar a entrada de requerentes de asilo junto à fronteira com a Áustria caso estes estejam registados noutro país da União Europeia. 

As medidas pretendem, desta forma, conter as “migrações secundárias”, ou seja, o movimento de migrantes dentro do Espaço Schengen, uma vez que muitos chegam a outros países europeus acabam por escolher a Alemanha como destino. 

O entendimento chegou cinco horas depois de uma reunião realizada esta segunda-feira, em que Angela Merkel, no poder há mais de 12 anos, tentou evitar a demissão iminente do seu ministro do Interior. Horst Seehofer chegou mesmo a ameaçar bater com a porta no último domingo, dando três dias à chanceler para propor novas medidas satisfatórias. Ao fim de 24 horas, havia um acordo selado entre os dois líderes. 

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“O espírito de parceria na União Europeia é preservado e, ao mesmo tempo, estamos a dar um passo importante para impor ordem e controlar a migração secundária. Encontrámos um bom compromisso após duras negociações e dias difíceis”, disse a chanceler aos jornalistas.

Por sua vez, o ministro do Interior, que ocupa igualmente a liderança da CSU – partido bávaro aliado da CDU há quase 70 anos – assumiu estar satisfeito com um “acordo claro” que visa “conter a imigração ilegal na fronteira entre a Alemanha e a Áustria”.

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A questão migratória foi um ponto de enorme tensão nas últimas semanas entre as duas forças políticas irmãs que não concorrem uma contra a outra em eleições desde 1949 e chegou a colocar em risco a estabilidade do Governo de Angela Merkel.

Vários responsáveis da CSU arrastaram o tema da migração para o topo da agenda mediática, assumindo perante o seu eleitorado uma posição bastante mais rígida sobre os migrantes, quando faltam menos de quatro meses para as eleições na Baviera, onde a AfD (Alternativa para a Alemanha, partido de extrema-direita) tem registado um crescimento significativo em sondagens recentes que ameaça a maioria absoluta dos conservadores aliados de Merkel. 

Enquanto o ministro do Interior defende, desde o início do mandato, em março deste ano, a rejeição de migrantes registados noutros países europeus junto das fronteiras alemãs, a chanceler tem optado por dar prioridade a uma solução ao nível europeu no âmbito das questões migratórias, como a que foi alcançada na última sexta-feira, durante a recente cimeira europeia.

O que diz o SPD?

Com este novo acordo, Angela Merkel cede à agenda do ministro para garantir a sobrevivência do Governo. Mas há outro parceiro nesta equação que poderá não facilitar a nova posição conjunta da CDU e CSU. Os social-democratas do SPD, que também fazem parte da “grande coligação” que governa a Alemanha, querem ver esclarecidos vários pontos deste acordo.

“Ainda há muitas questões que precisam de ser clarificadas. Vamos demorar o tempo que precisarmos para tomar uma decisão”, disse esta terça-feira a presidente do partido, Andrea Nahles, citada pela imprensa alemã.

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Até que seja dado o aval pelo SPD, o Governo de Merkel continua em risco de colapso, uma vez que os social-democratas assumem uma posição bastante mais flexível na temática das migrações. 

No domingo, o partido tinha delineado um plano em cinco pontos para fazer face à questão migratória, onde se opõe a qualquer “ação unilateral para recusar pessoas em fronteiras nacionais, dentro da União Europeia”. 

Independentemente da direção escolhida pelo SPD, a revista Der Spiegelconsidera, em editorial, que o que se passou na noite de domingo, com a ameaça de demissão de Hosrt Seehofer, deixou marcas irreparáveis na política alemã. Para a publicação germânica, a chanceler conseguiu o que era exigido pela CSU na cimeira europeia, e a insistência na questão migratória por parte do ministro do Interior pode ter consequências para o país em termos políticos. 

Na decisão do SPD, a ser conhecida nas próximas horas após reunião com os restantes parceiros de coligação, poderá pesar o comportamento do partido nas mais recentes sondagens, uma vez que a recusa do acordo entre CDU e CSU poderá precipitar a queda do Governo. 

Os dados mais recentes não são animadores perante um cenário eventual de eleições federais antecipadas, até porque as sondagens continuam a colocar os social-democratas abaixo dos 20 por cento, muito próximo da AfD, que ultrapassa nesta altura os 16 por cento.

E a Europa?

Pelo que já se sabe do acordo celebrado na segunda-feira entre Merkel e Seehofer, a abertura de “centros de trânsito” nas fronteiras alemãs poderá ter repercussões imediatas para outros países circundantes.  

Ao final da manhã, o presidente da Comissão Europeia afirmava que o acordo vai ser analisado por peritos europeus, mas que "à primeira vista" parecia estar em linha com as leis europeias.

"Ainda não estudei po acordo em detalhe. (...) Pedi aos serviços jurídicos que o analisem, mas parece-me estar alinhado com a lei", disse Jean-Claude Juncker numa declaração aos jornalistas em Estrasburgo.

Quem também já está a escrutinar este entendimento é a Áustria. O país vizinho, que faz fronteira com a região sul da Alemanha, disse esta manhã que está “pronto” a proteger as suas próprias fronteiras, caso o acordo firmado entre a CDU e a CSU seja implementado. 

“Se este acordo se tornar na posição oficial do Governo alemão, vamos tomar medidas para prevenir as consequências negativas para a Áustria e para a sua população”, frisou o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, numa declaração conhecida esta manhã. 

Viena pede ao Governo de Merkel que “esclareça a sua posição”, mas garante que “o Governo está pronto para tomar as medidas necessárias para proteger as nossas fronteiras”, refere o comunicado conjunto do executivo austríaco citado pelas agências internacionais.

O acordo firmado entre CDU e CSU prevê que o Governo alemão procure um entendimento bilateral com a Áustria sobre o que fazer no caso de outros países da União Europeia se recusarem a aceitar de volta os requerentes de asilo registados nos seus países.

Verbas para a NATO. Portugal entre países criticados por Trump

Cristina Sambado - RTP03 Jul, 2018, 08:51 / atualizado em 03 Jul, 2018, 11:28 | Mundo

Verbas para a NATO. Portugal entre países criticados por Trump

Donald Trump recebeu Marcelo Rebelo de Sousa na Casa Branca a 27 de junho | Jonathan Ernst - Reuters

O Presidente dos Estados Unidos escreveu cartas a líderes de países-membros da NATO, incluindo Portugal, a queixar-se, uma vez mais, de contribuições insuficientes para a Aliança Atlântica. Donald Trump avisa ainda que Washington está a perder a paciência com o que considera ser o fracasso em cumprir obrigações partilhadas de segurança.

Segundo o jornal The New York Times, os destinatários da missiva foram, entre outros, o Governo português, a chanceler alemã, Angela Merkel, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o novo chefe do Executivo espanhol, Pedro Sánchez.
Nas missivas, enviadas em junho, Donald Trump questiona repetidamente a contribuição dos países da Aliança Atlântica e afirma que os restantes membro da NATO se estão a aproveitar financeiramente dos Estados Unidos.
O Presidente norte-americano refere ainda que em 2017 expressou queixas em privado e em público para pressionar os países da NATO a contribuírem com dois por cento do Produto Interno Bruto (PIB) para a defesa comum. As cartas foram conhecidas uma semana antes da cimeira da NATO, que vai decorrer entre os dias 11 e 12 de julho, em Bruxelas.
Há muito que os presidentes norte-americanos se queixam da falta de partilha dos encargos por parte dos países-membros da NATO. No entanto, Trump leva as críticas mais longe e alega que alguns dos aliados são essencialmente “mortos” que não conseguem pagar as dívidas à Aliança Atlântica.
Segundo o New York Times,Trump frisa também que os pagamentos não foram “suficientes”, acrescentando que, na sequência deste quadro, os Estados Unidos podem vir a reconsiderar a “presença militar” a nível mundial.
“Como discutimos durante a sua visita em abril, verifica-se uma frustração que é crescente nos Estados Unidos em relação a alguns aliados que não deram o passo seguinte, tal como o prometido”, afirma o Presidente norte-americano na carta enviada à chanceler alemã, Angela Merkel, citada pelo mesmo jornal.
“Os Estados Unidos continuam a contribuir com mais recursos para a defesa da Europa numa altura em que a economia europeia se encontra bem. Isto não é sustentável para nós”, sublinha Trump.
“A crescente frustração não se limita ao nosso Governo. O Congresso dos Estados Unidos também está preocupado”, acrescenta.
Após a cimeira da NATO, Trump vai encontrar-se com o homólogo russo, Vladimir Putin, em Helsínquia, na Finlândia.
Além dos governos de Portugal, Espanha, Alemanha e Canadá, a carta foi também enviada aos executivos da Noruega, Bélgica, Itália, Holanda, Itália e Luxemburgo.
A Administração Trump já tinha analisado a retirada, em larga escala, das forças norte-americanas da Alemanha, depois de o Presidente norte-americano ter expressado surpresa pelo facto de 35 mil soldados norte-americanos reclamarem que os países da NATO não estavam a contribuir com o suficiente.
Na missiva enviada a Merkel, o Presidente norte-americano afirma que “a continuação das despesas alemãs com a defesa mina a segurança da Aliança Atlântica e fornece, aos outros aliados, a possibilidade de também não cumprirem os seus compromissos de despesas militares, porque veem a Alemanha como um modelo”.
“No entanto, será cada vez mais difícil justificar perante os cidadãos norte-americanos o motivo pelo qual alguns países não partilham a obrigação de segurança coletiva da NATO, enquanto os soldados norte-americanos continuam a sacrificar as suas vidas ou voltam gravemente feridos”, acrescenta Trump na carta enviada a Merkel. Desde que foi eleito, o sucessor de Barack Obama tem-se queixado de que Washington gasta demasiados recursos com a NATO e tem reportado esta situação, de forma reiterada, aos aliados.
Durante a campanha eleitoral, Trump chegou mesmo a considerar a NATO como uma “organização obsoleta”.
Durante uma recente visita de Angela Merkel a Washington, o Presidente afirmou que “a NATO é maravilhosa, mas ajuda mais a Europa que os Estados Unidos”.
“Por que motivo somos nós a pagar a maior parte dos custos?”, questionou.
O New York Times, recorda que Trump reclama há muito tempo que os Estados Unidos são tratados com desleixo por organizações multilaterais das quais são membros, como por exemplo a Organização Mundial do Comércio.
Na Europa, as cartas de Donald Trump foram recebidas com um certo grau de preocupação devido à possibilidade do Presidente norte-americano estar preparado para impor consequências aos aliados - como fez com a imposição de tarifas alfandegárias - no caso de não preencherem o pedido.
Não se sabe ao certo quantas cartas foram enviadas por Trump, mas fonte diplomática revelou ao New York Times que terá sido pelo menos uma dúzia.
A Casa Branca não quis comentar a correspondência presidencial, mas um funcionário que falou sob condição de anonimato afirmou que Trump está comprometido com a NATO e agora espera que os aliados “assumam a sua parte nas obrigações comuns com a defesa”.

Ladrões de Bicicletas


Não há alternativa

Posted: 03 Jul 2018 02:57 AM PDT

O The Guardian apoda o vencedor das eleições presidenciais mexicanas, André Manuel López Obrador, de “nacionalista de esquerda”. O que é crítica para uns, é elogio para outros: lá como cá, as questões nacional e social não podem nunca deixar de ser concretamente articuladas; cá como lá, é preciso reconquistar margem de manobra para políticas nacionais de desenvolvimento, o que passa no mínimo por renegociar os acordos de comércio dito livre. A esquerda que pode ganhar é a que quer aprender a falar a língua nacional-popular.
Apesar de todos os obstáculos colocados numa sociedade brutalmente desigual e violenta, demasiado próxima dos EUA, com um Estado fragilizado pela corrupção ou pelos efeitos da NAFTA, e de alguns compromissos duvidosos com forças sociais e políticas duvidosas, a sua eleição à terceira tentativa é uma excelente notícia para as classes subalternas mexicanas, surgindo ainda para mais num contexto geral, latino-americano, de recuo das forças da esquerda nacional-popular. Esta esquerda pode também recuar, mas é a única que pode avançar de novo.
Num artigo informativo no Le Monde diplomatique do mês passado, René Lambert resumia o dificílimo estado mexicano de coisas, usando uma fórmula de aplicação mais geral perante o poder por conquistar: “a tentação da esperança”. Não há alternativa a essa tentação.

Carrocel infernal

Posted: 02 Jul 2018 03:11 AM PDT

Imagens do filme Starwars - The Phantom Menace (1999)

Na semana passada, fui buscar o carro ao mecânico.
Eu já estava pronto para pagar, mas o mecânico adiava o momento. Conversava sobre tudo e não se resolvia a transacção. Pressenti que alguma coisa se passava e deixei a conversa fluir. Tudo se transformou num longo desabafo de uma hora.
O que segue é o relato resumido, mas que dá, um pouco, a ideia do impasse económico em que nos encontramos, com um semi-regime de austeridade, sem que se encare os problemas de frente.
Dizia o mecânico:
- Desde que me conheço que trabalho. Tenho 67 anos e mais de 50 anos de oficina. Trabalhei muitas horas, fiz muitas directas. Era preciso. Ainda tenho força, mas a cabeça... Já me esqueço de muitas coisas. Eu até ficava mais anos, mas estou aqui, estou a fechar isto.
- Mas o que se passa?

- Estou farto. É tudo muito complicado. As pessoas vêm aqui e todas pedem descontos. E a gente faz o que pode porque sabe que não têm dinheiro. Pedem pagamentos a prestações e aceitamo-los. Eu já disse ao meu filho... Ele andou na faculdade de Educação Fisica, fez mestrado, ainda foi professor secundário, mas eram uns horários aqui, outros ali. Pagava mais de gasóleo do que ganhava como professor. Veio para aqui. Mas já lhe disse: "Arranja alguma coisa que só dependa de ti. Já viste como foi a minha vida, o apoio que te dei e como estamos. Não dá". Dizem que isto está melhor, mas não está.
- Porquê?
- Porque é tudo a jogar contra. É como as grandes superfícies que dão cabo dos lugares e mercearias. As companhias de seguro têm as suas oficinas e oferecem logo ao cliente um carro de substituição. Depois, o cliente acaba por perceber a porcaria de trabalho que lhe fizeram, mas já é tarde. Os carros são cada vez mais complexos e têm de ser tratados pelas marcas. Há oficinas a fechar. E quando vierem os carros eléctricos vai ser geral. E depois não encontro mão-de-obra. Não querem. Vêm para aqui e nem querem aprender. Tive aqui uns estagiários daquelas acções de formação do IEFP. Não deu: não sabem nada e nem querem saber. Disseram-me logo que vinham só por uma semana porque tinham o subsídio de desemprego suspenso e não lhes convinha. Não arranjo mão-de-obra. Antes cada oficina tinha aprendizes que começavam e iam crescendo aqui. Chegávamos a ter uns tantos. Mas agora não dá. Eles não querem. E veja lá: Portugal esteve como esteve, depois o Passos Coelho - nem sei como - lá foi endireitando as coisas, mas agora estão todos a pedir cada vez mais coisas e sabe-se lá o que vai acontecer.
Nem discuti esse suposto papel positivo da política de austeridade, que em parte explica os problemas do mecânico. Pensei como a comunicação social acaba por marcar o que as pessoas pensam e como ainda transmitem essa medo de que tudo vai rebentar de novo. Como se nada tivesse sido aprendido: 1) esqueceu-se já a enorme depressão causada pela austeridade e que acabou interrompida pela própria troica; 2) esqueceu-se o aumento substancial da divida pública após a intervenção da troica e que tornou o país ainda mais fragilizado face aos ditos mercados financeiros, porque a dívida é simplesmente impagável... 3) E pior: esqueceu-se que essa fragilidade não vai lá com pouparmos mais do pouco que se tem, porque nunca será suficiente. Se as taxas de juro subirem vários pontos percentuais, nada será sustentável! 
Devo ter feito, pois, algum esgar porque ele reagiu de imediato.
- Eu não sei qual é a sua política. A minha é o trabalho.
- Mas - disse eu - se as coisas estivessem melhor, se pudesse cobrar mais aos clientes, já poderia pagar salários maiores e assim talvez os aprendizes quisessem ficar para trabalhar...
- Ah sim! Isso sim, talvez. Mas não é possível. Ninguém pode pagar mais e percebe-se que não têm dinheiro. E depois é só cairem em cima de nós. Olhe, há umas semanas tive aí uma inspecção. Vieram todos: era a Autoridade Tributária, a ASAE e mais não sei quem. Entraram por aí, sentaram-se nos computadores. Eu pensava que mandava nisto e que isto era meu! Mas afinal não era. E é só exigir coisas. Complicam. É só complicações. É para isto, é para aquilo. Tive de pagar 2 mil euros por causa de um filtro por causa das emissões das pinturas. Ná. Eu fecho portas. Mando tudo à fava. Vou para uma terra que tenho, oito mil metros quadrados ali para Palmela.
- Vai fazer o quê?
- Não vou fazer nada. Planto umas coisas e deixo-me ficar. Já estou cansado. Foram muitos anos. Mas se eu visse que valia a pena ia ficando, mas assim, não! Prefiro ir-me embora.
Um miúdo equipado com uma camisola de jogador dava pontapés numa bola contra a parede da oficina. O mecânico enxutou-o, para que fosse jogar para outro lado. O miúdo tinha o cabelo muito curto e sorria. Ficámos os dois em silêncio.
- Desculpe o desabafo, mas às vezes também precisamos. Se calhar, isto é pensar o pior e depois as coisas não são assim tão más. Mas já não vou saber.
Paguei, despedimo-nos. Um aperto forte, de uma mão forte.
Quando se olha para esta descrição parece que vivemos num carrocel que roda, infindável e sem apelo, para o precipício. A austeridade mantém-se e vai encarquilhando o tecido económico que vai desistindo e que, por isso, acentua o seus efeitos. O Estado parece trabalhar para a construção de um biombo decorativo em que faz de conta que se aplicam as melhores e mais modernas regras - muitas delas positivas, vindas da Europa - sem que a outra parte do Estado, a do Estado visionário, precaveja os seus efeitos perversos ou sem que haja uma política pública de relançamento económico.
Parece que o país está preso à Europa, ela também desequilibrada, desigual e que acentua as dificuldades entre países, mesmo através dos seus sumarentos fundos estruturais cuja distribuição social está para ser estudada. E estes efeitos todos jogam na diminuição dos agentes económicos que, por acaso, jogam a favor de unidades de maior envergadura que passam a ter condições para fixar os preços de mercado, os preços de mão-de-obra e o volume dos lucros, que se transferem para os accionistas ou para fundações de fins louváveis, mas cuja finalidade é – como todos sabemos – outra. E que, sobre as quais, o Estado não tem qualquer coragem de mexer...
“Eles dizem que está tudo bem, mas não está”.

E quando decide pagar a dívida dos bancos, está a fazer o quê?

Novo artigo em Aventar


por j. manuel cordeiro

António Costa, primeiro-ministro dos banqueiros e das betoneiras:

"É preciso termos em conta que, quando decidimos fazer esta obra, significa que estamos, simultaneamente, a decidir não fazer outra obra", avisou o primeiro-ministro. "Quando estamos a decidir fazer esta obra, estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos", reconheceu. [António Costa, citado pela TSF, ontem]

Ontem concluiu-se o ciclo de indiferenciação face à PAF e recuou-se, até, à guerrilha baixo-ventre dos tempos de Maria de Lurdes Rodrigues. O "tempo novo" cheira a bafio.

Já sabíamos que não há dinheiro para tudo. Há a banca para pagar e, agora, chegou a vez das construtoras do regime.

Poderíamos pensar que chegámos ao grau zero da política. No entanto, Cavaco Silva, o betonador do país que agora se lembrou que precisamos de mais filhos e de menos estradas, fez questão de ontem nos recordar que nunca dele saímos.

Racismo e Iogurtes

Novo artigo em Aventar


por Bruno Santos

Nunca fiando, não se esqueça de ir ao Continente e de passar pela praia do Meco.

Entre as brumas da memória


Afinal Costa disse mesmo isto assim!

Posted: 02 Jul 2018 02:09 PM PDT

E eu a julgar que tinha ouvido mal…
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Bifes à Madonna

Posted: 02 Jul 2018 12:45 PM PDT

«Perto do Café Império há vários parques de estacionamento.»
Página do Café Império no Facebook
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Dia grande para o México

Posted: 02 Jul 2018 06:28 AM PDT

La victoria de López Obrador lleva al poder a la izquierda en México.

A ler também: Quem é López Obrador, o candidato progressista que lidera as sondagens no México?

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Migrações: a extrema-direita não passará !

Posted: 02 Jul 2018 03:18 AM PDT

«Em 2018, já morreram mais de mil pessoas na travessia do Mediterrâneo. Desde 1993, segundo o jornal The Guardian, 34 mil pessoas morreram a tentar chegar à Europa. No preciso momento em que o Conselho Europeu se reunia, um pequeno barco de borracha com 120 migrantes a bordo, ia ao fundo, matando 100 pessoas. A Organização Internacional das Migrações denunciou que a Argélia tinha expulsado e abandonado no deserto do Sara mais de 13 mil migrantes, muito do quais morreram (e recordemos as recentes revelações de que nos campos de retenção de migrantes na Líbia se pratica a escravatura).

Seria um sonho que os dirigentes europeus se tivessem reunido para criar um sistema que acabasse com a tragédia humanitária, que debelasse a cumplicidade europeia e tomasse medidas contra os Estados que não têm cumprido as decisões europeias em matéria de solidariedade no acolhimento de refugiados, como a Hungria ou a Polónia, que apoiasse os esforços das ONG que salvam vidas em operações de socorro naval no Mediterrâneo. Pelo contrário, porém, a agenda foi marcada pelas exigências da extrema-direita italiana anti-imigrantes e seus aliados da CSU alemã.

As conclusões do Conselho são um plano, condenado ao fracasso, para por termo aos “fluxos migratórios”, abrangendo todas as rotas, “existentes e potenciais”, em cooperação com os "países de origem e de trânsito” – leia-se Líbia, um Estado dominado por milícias armadas, e os do Magrebe, nomeadamente Marrocos – e sobretudo a Turquia. Apela-se aos navios de socorro das ONG para que não criem dificuldades às “operações da guarda-costeira líbia”. O Conselho destaca o reforço dos meios financeiros no domínio da segurança interna, concentrados na protecção das fronteiras.

No que diz respeito à solidariedade entre países europeus, nomeadamente com a Itália e a Grécia, que recebem a maioria dos refugiados, não foi reafirmado o sistema obrigatório de quotas, mas afirmado que a relocalização e reinstalação funcionam “numa base voluntária”. A questão dos controversos centros de retenção, na Europa ou no Sul do Mediterrâneo - já se viu o horror que podem ser na Líbia - ficou aberta à iniciativa dos Estados.

No fim do Conselho Europeu, ouvimos os líderes da extrema-direita, como Viktor Orbán, declararem vitória. E esta é a mais perturbante conclusão que se pode tirar deste Conselho – pela primeira vez, a extrema-direita deixou de ser uma força sem peso real, na defensiva, nas instituições de decisão da União, para ser uma força na ofensiva, capaz de obrigar os outros Estados a responder à sua agenda. A extrema-direita já não é uma força marginal, uma espécie de eterna derrotada à última hora. Ter em Itália um Governo populista, em que o homem forte parece ser o líder da Liga, Matteo Salvini, tornou a extrema-direita incontornável.

Foi Salvini que voltou a colocar as questões dos refugiados e das migrações no centro da política europeia – mesmo quando os fluxos estão em decréscimo, longe do pico de 2015.

Começou por recusar a obrigação de ajuda humanitária do direito do mar, forçando o Aquarius a navegar em mar alto até ser recebido em Espanha. Depois, organizou um encontro com o seu congénere da extrema-direita, o ministro do Interior austríaco, a que se juntou o ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, da CSU (que ameaça Merkel, líder do seu governo). Esta coligação reaccionária teve o apoio dos governos da Europa Central, Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia.

A realização do Conselho Europeu é em si mesmo uma vitória para os populistas italianos, mesmo que não tenham conseguido a distribuição pela União dos refugiados que chegam a Itália. Se, no essencial, tudo ficou na mesma, a verdade é que os portos italianos continuam fechados e foram criados obstáculos às acções de salvamento das ONG.

Não nos enganemos, o debate não é sobre imigrantes e refugiados. O que está em causa é a União Europeia, são os direitos fundamentais, é o debate entre uma visão da Europa e do mundo centrada nos valores fundamentais da União e os que defendem o que chamam de democracia iliberal, como Orbán e o seu protector Trump.

A extrema-direita (e a sua xenofobia) pode ser vencida, mas para isso é preciso que os líderes políticos que defendem o estado de direito sejam coerentes na defesa dos seus valores. Macron e Merkel, que procuram organizar a frente antipopulista na União, não têm, hoje, uma posição coerente na questão das migrações.

Os países europeus onde os populistas não estão no poder devem começar por assumir que não são as migrações que favorecem o crescimento da extrema-direita – veja-se a sua força em países com poucos ou nenhuns migrantes, como a Hungria ou a República Checa.

Segundo, que a obsessão com o controlo dos fluxos migratórios está condenada ao fracasso e só serve para alimentar a demagogia da extrema-direita.

Terceiro, que é possível criar vias legais de imigração, correspondendo à efectiva necessidade europeia de migrantes, fruto do envelhecimento da população.

Quarto, e mais difícil, assumir um direito internacional à livre circulação, mesmo que, obviamente, deixando aos Estados capacidades para a limitar, de acordo com as suas prioridades.

Quinto, é necessário reformar os acordos de Dublin e federalizar a política de asilo, criando uma fronteira comum exterior entre os países da União que resistem à extrema-direita.

Acima de tudo, é fundamental abandonar todo o discurso securitário sobre migrações, e optar por uma perspectiva que realce os valores da humanidade comum.»

Álvaro Vasconcelos