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segunda-feira, 26 de junho de 2017

Passos diz que há "pessoas que puseram termo à vida" por falta de apoio em Pedrógão


Foto: Arquivo
Fonte: Jornal de Notícias
26 Junho 2017
Atualizada às 13h09
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As declarações foram feitas aos jornalistas, esta segunda-feira, ao comentar a atuação do Estado na resposta ao incêndio em Pedrógão Grande.
"Não é necessária nenhuma auditoria para saber que o Estado falhou. O Estado falhou", afirmou. "Tenho conhecimento de que há vítimas indiretas, pessoas que puseram termo à vida, que em desespero se suicidaram, que não receberam apoio em tempo devido", declarou o líder do PSD, durante uma visita a Castanheira de Pêra, sem especificar onde e em que momento essas pessoas terão morrido.

Presidente da Câmara de Pedrógão  nega

Valdemar Alves garante não ter conhecimento de qualquer caso de suicídio relacionado com o incêndio de Pedrógão Grande. "Há boatos, há muito boatos",a circular, diz o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, que garante não ter tido qualquer informação nesse sentido. "Peço às pessoas que não acreditem em boateiros", acrescentou.
António Costa também reagiu às afirmações de Pedro Passos Coelho, recomendando cautela. "Devemos ser todos muito prudentes nas afirmações que fazemos", aconselha o primeiro-ministro. "Não com base em rumores, notícias avulsas e no diz-que-disse", concluiu.

A Origem do Grande Incêndio Florestal de Pedrógão Grande

Junho 24, 2017


Muito se tem falado e especulado sobre a origem da ignição e a propagação inicial do Grande Incêndio Florestal de Pedrógão Grande. Uns procuram buscar respostas às inúmeras questões sobre o acontecido e, se de algum modo seria evitável o triste desfecho que vitimou mortalmente 64 pessoas e mais de duas centenas de feridos. Outros, porém, alimentados pelo mediatismo procuram fazer justiça na praça pública e inflamar a opinião dos cidadãos e, na maioria dos casos com um profundo desconhecimento do comportamento do fogo, em geral e, sobretudo sobre incêndios convectivos. Publicidade

Aos olhos do analista, este incêndio tratou-se sem dúvida alguma de um incêndio inédito, dado o domínio de um comportamento convectivo, ou seja, um incêndio conduzido pelo estado fenológico e carga disponível do combustível, e associado a uma instabilidade atmosférica previsível que favorecia e sustentaria a coluna convectiva em caso de incêndio. Este tipo de incêndios, de comportamento extremo do fogo, origina consequentemente elevada complexidade nas operações de controlo e extinção. Não existem grandes receitas, a não ser a proteção de aglomerados. Por alguma razão, os analistas de incêndios americanos denominam de “Hungry Fires”, uma vez que terminam quando acabam com o combustível que os alimenta ou então a situação sinóptica muda e permite que os meios de combate possam exercer manobras eficazes e seguras.
Associado a este tipo de incêndio, ocorrem fenómenos meteorológicos que aumentam a complexidade do controlo, tais como a geração de ventos erráticos, normalmente soprando com intervalos de elevada intensidade e de direção variável. A coluna de fumo (pluma) rapidamente eleva-se verticalmente, sendo tridimensional e muito densa e escura, transportando material incandescente que não se apaga dada a temperatura dentro da coluna, permitindo o lançamento de projeções a longas distâncias e produzindo inúmeros focos secundários em várias direções no raio do incêndio.

ORIGEM PROVÁVEL
O Semanário Expresso de 23 de junho destaca a seguinte manchete «Daniel viu o fogo começar. Ligou para o 112 às 14h38. Tirou-lhe a primeira fotografia. “E não havia trovoada no ar”» e descreve o seguinte: «Daniel Saúde tirou a primeira fotografia ao incêndio 39 minutos depois de ligar para o 112. Diz que esteve uma semana à espera de ser contactado pela PJ – “afinal fui eu que liguei para o 112” – e que por isso vai ser ele agora a ligar à polícia. A história do momento zero do fogo em Pedrógão».





A partir daqui podemos começar a tentar explicar, fundamentando nos dados meteorológicos recolhidos.
Antes de mais importa referir que existem dois tipos de raios – raios negativos e raios positivos.
Normalmente, entre 90 a 95% dos raios são do tipo negativo.
Os raios negativos produzem-se quando a base da nuvem (parte mais escura) está carregada negativamente e a superfície do solo por baixo da nuvem tem uma carga positiva. Neste caso vai produzir-se uma descarga da base da nuvem para o solo.

Alguns raios – os positivos – formam-se no topo da nuvem, na parte branca do cúmulo-nimbos, onde se concentram as cargas positivas. Nesta situação ocorre uma transferência do topo da nuvem que alcança uma elevada altitude (14 kms) para o solo, sendo os mais perigosos uma vez que podem alcançar uma zona da superfície terrestre a longas distâncias do local da trovoada (entre 30 a 95 kms) e, uma vez que a camada de atmosfera que atravessam é maior, a descarga elétrica pode ser até 10 vezes superior aos raios negativos. Igualmente, importa referir que o fenómeno de queda de raio sem se ouvir o trovão é definido como relâmpago térmico e ocorre com maior frequência no verão.

Segundo a agência americana para a observação da atmosfera – NOAA – os raios positivos são considerados responsáveis por uma grande percentagem de incêndios florestais.
Logo, a afirmação de que não se ouviu qualquer trovão não significa que não tenha ocorrido uma descarga de raio positivo, pois a distância entre a trovoada e o local da descarga é de dezenas de quilómetros.
A imagem abaixo do Meteosat mostra a instabilidade às 14:00 UTC do dia 17 de junho, onde se pode verificar a formação de nuvens de evolução que dão origem a trovoadas na proximidade da zona do GIF de Pedrógão Grande.


Fonte: EUMETSAT
Considerando os registos meteorológicos do Meteosat referente à queda de raios, observamos que no dia 17 de junho de 2017, ocorreu precisamente na zona do incêndio, por volta das 13:45 UTC, uma descarga de raio positivo. O horário registado pelo popular entrevistado pelo Semanário Expresso refere-se às 14:38, isto é 13:38 UTC +1, ou seja, muito próximo dos registos da agência EUMETSAT através do satélite Meteosat.


Sendo assim, a afirmação do Diretor da Polícia Judiciária com base em evidências físicas encontra-se bem fundamentada: «“A PJ, em perfeita articulação com a GNR, conseguiu determinar a origem do incêndio e tudo aponta muito claramente para que sejam causas naturais. Inclusivamente encontrámos a árvore que foi atingida por um raio”, disse Almeida Rodrigues.». Sendo um raio positivo, muito provavelmente não se tenha ouvido o trovão dada a distância à nuvem.

HORA DO ALERTA
Igualmente, segundo fontes oficiais e já divulgadas nos media pela ANPC, o Alerta foi dado às 14:43 (13:43 UTC +1), um tempo muito aproximado ao referido na informação relatada na referida notícia. Se observarmos os dados do sensor VIIRS a bordo do satélite Suomi-National Polar-orbiting Partnership (S-NPP), o qual permite a deteção de focos ativos a 375 metros de resolução espacial, este detetou às 13:42 UTC do dia 17 de junho um foco ativo muito próximo do local do ponto provável de início do incêndio.


Dado o estado fenológico e a disponibilidade de combustível, bem como as condições meteorológicas nesse período, o fogo facilmente se propagou, alcançando uma elevada intensidade e alta velocidade de propagação. Pelo que foi possível em poucos minutos ser detetado pelo sensor VIIRS. Importa referir que o desvio mais a norte do local do início provável de incêndio deve-se ao calor emanado na cabeça do incêndio e da própria coluna de fumo. Considerando os dados de registos espaciais, estes permitem fundamentar as declarações das entidades oficiais, pelo que existem fortes evidências para a «tese meteorológica».

Por: Emanuel de Oliveira in Fogos Florestais

Só quando isto já for história



por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 25/06/2017)
Autor
                             Daniel Oliveira

Em janeiro deste ano deu-se a discussão pública da maior reforma legislativa florestal apresentada nas últimas décadas. Viram debates na televisão, entrevistas ao ministro e a técnicos, intervenções políticas de líderes partidários? Estou incluído nos faltosos: soube e nem uma linha escrevi. Como não há fome que não dê em fartura, Marcelo quer estas 12 leis complexas e discutíveis aprovadas antes do verão. Diz quem sabe que as causas dos problemas da nossa floresta são profundas e, tirando algumas medidas de segurança mais evidentes, as soluções são difíceis e demoram. Se fizermos tudo certo, só sentiremos os efeitos quando Pedrógão Grande já for história.
Comecemos pelo inimigo justo mas demasiado fácil: o eucalipto. O eucalipto e o pinheiro-bravo correspondem a quase metade da nossa floresta — o primeiro tem crescido sobretudo à custa do segundo. Apesar de serem terríveis propagadores do fogo, a opção por estas espécies é fácil de explicar. O sobreiro e o pinheiro-manso dão mais rendimento, mas o retorno é demorado. Com a quantidade de incêndios que temos, esse retorno pode não chegar antes de o investimento ter ardido todo. Sim, há um lóbi da celulose. Mas convém não esquecer, quando se procuram soluções, a racionalidade económica das escolhas que as pessoas fazem. É também na economia que pode estar parte da solução para a limpeza das matas. Com centrais de biomassa, os resíduos florestais passariam a ser rentáveis. Mas a maior doença da floresta portuguesa é o minifúndio. É impossível gerir, rentabilizar e tratar a floresta quando a área média da propriedade que não é gerida pela celulose é de cinco hectares e a maior parte tem menos de um hectare. Portugal é o país europeu com maior percentagem de área florestal privada e com as mais baixas dimensões por propriedade. A única solução é integrar as pequenas áreas em unidades de gestão semelhantes a zonas de intervenção florestal ou às entidades de gestão florestal, em troca de uma renda, dando dimensão às explorações sem que as pessoas percam a propriedade. Mas a intervenção do Estado pode ter de ser coerciva. Estamos dispostos a aceitar que há valores mais importantes do que o direito absoluto à propriedade? E há, por fim, um dos maiores problemas do país: o despovoamento de grande parte do território, que demoraria décadas a resolver. Se não há pessoas, não há quem trate e defenda a floresta. Cerca de um quarto dos proprietários florestais nem sequer vive na região da sua propriedade e, sem um verdadeiro cadastro, muitos nem sabem o que têm.
Tenho algumas dúvidas em relação à reforma proposta por Capoulas Santos. A principal é a da municipalização da gestão florestal: as autarquias onde a situação é mais dramática não têm dimensão política, técnica e financeira para esta empreitada, e isso pode deitar tudo a perder. Mas esta reforma, que trata de muitos dos assuntos de que aqui falei e à qual ninguém ligou pevide, merece mais do que um debate rápido em cima da emoção. Nada do que ali está evitará incêndios neste agosto. E, mesmo assim, é apenas uma pequena parte do que temos de fazer.
Porque o estado da nossa floresta é consequência do modelo de desenvolvimento que escolhemos, da economia que temos e do território que abandonámos. Isto não se muda ao ritmo da nossa indignação.

Semanada



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 25/06/2017)
HERMINIO
Esta foi a semana em que o diabo veio (finalmente), estava combinado aparecer em Setembro ali para os lados do ministério das Finanças, mas acabou por aparecer em Pedrógão Grande, uma localidade que em poucas horas se transformou numa imagem do inferno. O pessoal do PSD que estava instalado a tempo inteiro no terreiro do Paço, esperando pela queda de Centeno percebeu rapidamente a nova oportunidade, mudou-se de armas e bagagem para a Administração Interna.
Passos Coelho bem começou a encenação do político que não se aproveita da desgraça alheia, algo que já tinha feito com a crise financeira e com o Caso marquês. Mas a ansiedade dos seus deputados é tanta que desta vez o próprio Passos foi ultrapassado, propôs uma comissão técnica para avaliar os acontecimentos, mas o seu grupo parlamentar forçou um debate parlamentar sem quaisquer relatórios técnicos, só para aproveitar os acontecimentos.
Ninguém reparou, mas há uma figura grada do mundo autárquico do PSD que está a viver o seu próprio inferno, acompanhado de mais alguns companheiros. Hermínio Loureiro, homem forte de Oliveira de Azeméis e uma ponte entre o PSD e o mundo da bola está passando o fim de semana nas instalações hoteleiras da PJ.

domingo, 25 de junho de 2017

Incêndio no jornalismo português

A opinião de
Diogo Faro
Diogo Faro

Deflagrou um incêndio de grandes proporções, esta semana, no jornalismo português. Há grandes áreas que, para bem do país, se mantém intactas, mas outras, as que têm as maiores plantações de eucalyptus eticas zeru estão ainda cobertas de fogo.
Uma das zonas mais afetadas é, sem surpresas, a zona de Correio da Manhã, junto à aldeia de Se Cheira a Sangue É Notícia. No seu estilo habitual, o Correio da Manhã resolveu, no pior dia do incêndio de Pedrógão Grande, colocar na capa uma citação de Fernando Santos na antevisão do jogo da Seleção: “Ponho as mãos no fogo pelo Ronaldo”. As pessoas que tiveram esta ideia, ou que a aprovaram, acharam giro e muito importante do ponto de vista jornalístico fazer uma pequena graça com a trágica morte de tantas pessoas.
Outra zona muito afetada pelas labaredas foi a zona de Queluz de Baixo, mais propriamente no bairro social TVI, ali logo a seguir à rotunda de Sem Escrúpulos Vende Mais. A TVI, através da jornalista Judite de Sousa, achou que não só era decente como era pertinente fazer um direto cujo cenário era uma das vítimas mortais do incêndio coberta com um lençol. As redes sociais vieram em massa com lança-chamas e não houve bombeiros do teclado que conseguissem dominar a tragédia jornalística. Melhor que tudo isto, só a crónica no P3 do senhora João André Costa que conseguiu rastejar nas cinzas enlameadas ao julgar a atitude da Judite de Sousa pelas roupas que veste, pela sua suposta vida sexual e, basicamente, pelo facto de ser mulher. Um mimo do sexismo como acendalha.
Entre outras coisas, como a notícia divulgada em todos os órgãos de comunicação social da queda de um avião que não caiu, o jornalismo português continua a arder. Mas vai continuar sempre. Enquanto as pessoas adorarem ver reality shows sedentas por ver violência, intriga e sexo na vida de desconhecidos, enquanto abrandarem na estrada ao passar por um acidente para admirar a desgraça alheia, enquanto fizerem com que esta perversa e brutal busca por sangue e tragédia de alguns meios de comunicação continue a ser rentável. Muito rentável.
Por tudo isto e muito mais, podem queixar-se à vontade desta comunicação social incendiária que eles nunca vão mudar enquanto vocês, ao ver um acidente, ligarem primeiro a câmara do telemóvel antes de chamarem o INEM.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Bombeiros: Por todo o país, os bombeiros vão continuar a precisar de muita ajuda. Não deixem a onda de solidariedade passar e continuem a ajudar em força os vários quartéis.
- Nudez: está demasiado calor para se andar vestido. Torna mais fácil mandar nudes uns aos outros. Aproveitem.

Fonte: Sapo24