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quinta-feira, 29 de março de 2018

Entre as brumas da memória


Pequim: esmagador

Posted: 29 Mar 2018 03:36 AM PDT

Um dia com acesso generalizado mas inútil à net, porque os chineses não brincam em serviço e a censura bloqueia não só o Facebook como o próprio Google e todos os seus derivados. Sensação curiosa…

Mas revi Pequim e, por mais que me tivessem avisado, nunca imaginei que tivesse crescido tão vertiginosamente em 14 anos! Novíssimos blocos habitacionais gigantescos, onde cabem milhares de pessoas, muitíssimos arranha-céus sofisticados, um trânsito completamente diferente, onde 8 milhões de bicicletas foram substituídas (se não totalmente, tem-se a ideia de que quase…) por 8 milhões de automóveis, na sua maioria topo de gama, dezenas de viadutos em construção, milhões de novas árvores plantadas, multidões de turistas, mais de 90% asiáticos e dizem-me que sobretudo chineses, etc., etc., etc.

Se se tiver presente que tudo isto se passa numa cidade que caminha para 30 milhões de habitantes, com uma poluição assustadora, talvez chegue para dar que pensar. Uma coisa parece garantida: qualquer que seja a evolução deste país nas próximas décadas, todo o bater de asas de uma borboleta por aqui terá efeitos bem significativos por aí.

Um elogio a António Costa e Mário Centeno

FINANÇAS PÚBLICAS

29/3/2018, 0:06

Muitos ministros das Finanças tentaram dominar o “monstro”, apenas um parece estar a conseguir. Centeno está de parabéns. E Costa também. Esperemos que as tentações eleitoralistas não estraguem tudo.

O Governo de António Costa tem a possibilidade de ficar de novo na história das finanças públicas portuguesas, ao atingir o primeiro excedente orçamental desde 1974.  Se não este ano, em 2019. O défice público de 0,92% do PIB, sem a despesa de capital irrepetível da CGD, transforma a possibilidade de um excedente orçamental em 2019 num objectivo até pouco ambicioso.

Antes de continuar vale a pena dizer que o número para o qual devemos olhar é 0,9% e não os quase 3% que foram determinados pela capitalização da CGD. O debate “entra não entra para o défice” é irrelevante. Teremos sempre de pagar esse valor e ele está na dívida pública, sendo esta que condiciona a margem de manobra orçamental e nos obriga a manter a política de rigor ou de austeridade como se preferir. Mas sendo o aumento de capital da Caixa uma despesa irrepetível, a base de partida para os anos seguintes em matéria de contas públicas é o défice de 0,92%.

António Costa e Mário Centeno, temos de o reconhecer, estão de parabéns. Conseguiram uma combinação óptima de estratégia política e de políticas económicas e financeiras. Claro que sem a conjuntura externa favorável esses objectivos não seriam alcançáveis. Mas não estragaram. Pelo contrário. Tiveram a arte de potenciar esses ventos e de conseguir acelerar o barco da economia, através da criação de confiança. Tudo isto foi feito ao mesmo tempo que se mantinha uma política financeira de austeridade no Estado, sem que ninguém reparasse nela ou alterasse as suas decisões de consumo ou de investimento por causa dela.

Eis alguns factos numéricos, usando os dados do INE:

  • A carga fiscal, medida pela receita fiscal e contribuições para a segurança social ficou nos 37% do PIB, ligeiramente abaixo do ano do “enorme aumento de impostos” de 2013 (quando ficou em 37,1% do PIB), assumindo-se assim como a segunda mais elevada desde 1995.
  • A tributação indirecta, onde está por exemplo o IVA e os impostos sobre o consumo, atingiu em 2017 um peso historicamente elevado (15% do PIB), quando a média desde 1995 é de 13,9%.
  • A despesa corrente sem os juros da dívida pública – onde se destacam os gastos com pessoal e as prestações sociais – foi de 37,7% do PIB, menos 1,1 pontos do que em 2016 e correspondendo ao mais baixo valor relativo desde 2003.
  • As despesas com os salários da função pública registaram o mínimo histórico de 11% do PIB.

Estes quatro grandes números são suficientes para perceber que a redução do défice público é explicada, obviamente, pela recuperação da economia, mas também por medidas de rigor na despesa pública, o que significa uma actuação bastante pró-activa de Mário Centeno, e pela manutenção da carga fiscal, redistribuída de uma forma que não é sentida pelos contribuintes. Os fiscalistas tradicionais chamam-lhes “impostos narcotizantes” e os economistas tradicionais criticam-nos em geral por serem regressivos – ou seja, pesam mais sobre os rendimentos mais baixos do que sobre os mais altos. Mas são sem dúvida os mais eficazes, quer do ponto de vista da colecta, quer na perspectiva da gestão política dos governados – ninguém repara que se está a dar com uma mão e a tirar com a outra.

O resultado mais importante de 2017 é sem dúvida o das despesas com o pessoal pelo que nos diz da sustentabilidade desta redução do défice público. E diz-nos que esta redução do défice, contrariamente ao que aconteceu no passado, pode ser mais sustentável do que poderia parecer.

A explicação para esta descida do peso dos gastos públicos com salários pode ser encontrada neste texto de Sérgio Aníbal que tem como referência o último relatório do Conselho das Finanças Públicas. O crescimento da economia é apenas um factor que justifica essa redução. Os outros, que permitem antecipar que esta tendência se mantenha, são a entrada de funcionários que ganham menos do que aqueles que saem para a aposentação e um rácio de quatro contratações por cada cinco saídas. E são estes dois últimos elementos que, estando nas mãos de decisões políticas e não de conjuntura económica, permitem esperar que esta redução do défice seja mais sustentável.

A ironia do destino é estarmos agora, com um Governo apoiado pelo PCP, PEV e Bloco de Esquerda, a corrigir um aumento das despesas com pessoal na função pública que tem as suas origens no início da década de 90 do século XX, com o Novo Sistema Retributivo da Função Pública (que Miguel Beleza designava como “ruinoso”) e que garantiu a segunda maioria absoluta a Aníbal Cavaco Silva.

Claro que a durabilidade deste controlo das contas públicas depende em grande medida da capacidade de António Costa resistir à expectável onda de reivindicações, que já se está a sentir no discurso político, e à tentação de o PS usar as contas públicas para obter a maioria absoluta no próximo ano de eleições legislativas. A história eleitoral portuguesa mostra bem que se ganham facilmente eleições simplesmente com aumentos salariais da função pública e subida das pensões de reforma.

Com estes resultados orçamentais, o Governo tem uma oportunidade única de começar a reinvestir nos serviços públicos, em equipamentos mas especialmente em organização, ao mesmo tempo que começa a reduzir a enorme carga fiscal que o país ainda carrega. Mantendo a trajectória de descida do défice.

António Costa e Mário Centeno, para já, estão de parabéns. O primeiro-ministro pela capacidade política que tem revelado, demonstrando que se atingem mais facilmente os objectivos da austeridade sem nos confrontar com a verdade dura da falta de dinheiro. O ministro das Finanças por ter sido cúmplice dessa estratégia e por ter tido a confiança de António Costa para gerir com mão de ferro o dinheiro dos nossos impostos.

Nada está garantido, mas estamos hoje muito mais perto de controlar as contas públicas do que alguma vez estivemos no passado. Há uma luz ao fundo deste túnel orçamental em que temos estado metidos desde o início do século XXI. Esperemos que não se estrague tudo outra vez. Resta-nos a esperança de não ser possível destruir os progressos alcançados, por causa da dimensão ainda muito elevada da dívida pública.

Castelo do Rei Wamba: o mais misterioso dos castelos portugueses

Novo artigo em VortexMag


por admin

O castelo é tão belo e bem localizado que é uma pena estar amaldiçoado. Construíram ao lado uma capela mas ninguém esquece a maldição da mulher do rei Wamba. Tudo por causa de amores proibidos.  O Castelo de Rodão e Capela de Nossa Senhora do Castelo, também conhecido por Castelo do Rei Wamba, situa-se a cerca de 2km do centro de Vila Velha de Ródão, na região Centro de Portugal.

Castelo do Rei WambaCastelo do Rei Wamba

Situado num local de grande beleza natural, sobranceiro ao Rio Tejo que aqui confere paisagens indescritíveis, pensa-se que a sua origem remonte ao tempo de ocupação Moura da região, ao contrário do que o sabor popular afirma, ao associá-lo ao Rei Wamba (672-680), último grande rei dos Visigodos.

Portas de RódãoPortas de Ródão

O conjunto é composto por uma torre-atalaia, de forma quadrangular, erguida provavelmente pelos Templários entre os séculos XII ou XIII, popularmente denominada como torre de menagem, envolvida por uma muralha. A cerca de 150 metros encontra-se o templo rústico de Nossa Senhora do Castelo, já muito degradado, sobretudo no interior, pelos sucessivos roubos e degradação que tem sido alvo ao longo dos séculos.

Castelo do Rei WambaCastelo do Rei Wamba

A estrutura terá sido reedifica no século XII, no contexto da afirmação da Nacionalidade e Independência Portuguesa, e pensa-se que poderá ter sofrido posteriores trabalhos, nomeadamente nas épocas moderna e contemporânea, em particular no período das invasões francesas.

Castelo do Rei WambaCastelo do Rei Wamba

Na verdade não é um castelo mas sim uma torre de vigia que desempenhou um papel importante devido à sua localização. D. Sancho I doou a torre aos Templários no séc. XII e nesta fase funcionava para vigilância dos mouros. Séculos depois, nas invasões francesas, serviu como posto de artilharia. A torre foi recuperada e tem dois pisos e um formato rectangular. A entrada faz-se pelo piso térreo, por um acesso improvisado que permite verificar a largura da parede feita de pedras e barro. Uma escada metálica permite a passagem para a parte superior.

Portas de RódãoPortas de Ródão

O Tejo serpenteia a serra, presencia-se o voo de alguns grifos que aqui têm uma colónia, observam-se bem as escarpas das Portas de Ródão e, um pouco mais longe, a ponte rodoviária, muito próxima de Vila Velha de Ródão. Vê-se também a linha do comboio, sempre ao lado do rio, nem que para isso tenha de perfurar os penhascos e a serra. Ao lado do castelo está um miradouro de aves com uma vista que revela a riqueza paisagística do lugar.

Portas de RódãoPortas de Ródão

O Castelo fica no alto da Serra das Talhadas, defronte ao Tejo e de uma das escarpas que comprime o rio nas Portas de Ródão. O Castelo vê-se a longa distância de várias partes da região. Acede-se facilmente de carro. O local está arranjado e tem um parque para descanso e piqueniques. Quando se chega, depara-se de imediato com a capela da Senhora do Castelo, toda branca e com vista para o vale onde passa o Tejo. É um lugar calmo, rodeado de oliveiras e azinheiras. A capela terá sido mandada construir por um barqueiro que se salvou da morte numa passagem atribulada pelas Portas de Ródão, no séc. XVII. Num passado recente, roubaram vários objectos da igreja e a Senhora do Castelo, do séc. XVI, está em Vila Ruivas.

Portas de Ródão

Reza a lenda como senhor desse lado da margem, inimigo de um rei mouro, que habitava do outro lado. Conta também a história que a mulher de Wamba se terá perdido de amores pelo inimigo, que para a resgatar construiu um túnel por debaixo do Tejo. Não seria, por certo, a engenharia o principal atributo do rei mouro, que falhou as contas acabando por sair acima do nível das águas, num buraco que ainda hoje lá está, aos olhos do opositor.

Portas de Ródão

Perante o pânico da mulher, Wamba percebe não ser dele o coração da esposa e decide oferece-la ao mouro do outro lado do rio. Para a enviar, atou-a à pedra de uma mó e fê-la rolar pela encosta abaixo em direcção ao rio Tejo. No sítio onde passou a pedra, dizem os que conhecem a lenda, nunca mais cresceu qualquer vegetação até aos dias de hoje.

Avençados da Câmara de Ovar custam mais de 336 mil euros anuais

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Reunião de Câmara de 22.03.2018

“… critiquei o facto de grande parte delas (avenças) serem de pessoas com ligação direta ou indireta ao PSD, não sendo as avenças cargos de confiança pessoal ou política.”

Na última reunião de Câmara o presidente começou por prestar informação sobre os assuntos mais relevantes da última quinzena, realçando o projeto SOSP – Saúde em Ovar Sem Papel, que foi apresentado em sessão que teve a participação da Secretária de Estado da Saúde.

Sobre o desassoreamento da Ria informou que esteve na sessão de apresentação das obras de defesa da costa, que se realizou em Ílhavo, na qual o Ministro do Ambiente anunciou o seu lançamento a concurso.

Deu conta da reunião que teve com a Infraestruturas de Portugal a quem terá transmitido a insatisfação do município pelo estado em que se encontram as estações de Ovar e Esmoriz e duma reunião com a EDP para tentar o acordo quanto às avarias de equipamentos elétricos no Centro Cívico de Cortegaça, em consequência duma descarga elétrica.

Falou também das obras dos Cais do Torrão e da Tijosa, que estão a ser monitorizadas e disse estar empenhado na realização de algumas obras na Escola da Oliveirinha. Quanto às últimas tempestades, deu nota positiva à equipa da Câmara que “articulou muito bem com todas as entidades”. Destacou o facto do concelho ter várias empresas que foram distinguidas com prémios empresariais.

Ainda no período antes da ordem do dia, coloquei as seguintes questões: apesar do notário público já ter encerrado há alguns anos, continua a existir sinalética vertical indicando o local onde funcionava, nomeadamente na Rua Fonte do Casal, induzindo as pessoas em erro.

Na Rua S. Sebastião, em Esmoriz, com as últimas chuvas agravou-se o estado do já degradado piso, que a torna quase intransitável, impondo-se uma rápida intervenção para a sua regularização.

No que respeita ao projeto de requalificação da Rua Manuel Arala e Rua Elias Garcia e encerramento ao trânsito da Praça da República, manifestei que esta obra está a causar grande preocupação aos moradores e ao comércio local, chamando à atenção para a necessidade de criar mais estacionamento no centro urbano de Ovar, devendo o executivo camarário debruçar-se para encontrar uma solução que resolva esta questão antes ou paralelamente à realização daquela obra, investindo na cidade de Ovar com a criação de novos parques de estacionamento, sugerindo-se um a nascente da estação de Ovar e outro nos terrenos entre a Casa de São Tomé e a Escola de Artes e Ofícios.

Por fim, chamei à atenção para o que considero ser um elevado valor anual dos serviços prestados à Câmara em regime de avença, que ultrapassa €336 000 (mais de €28 000 mensais), até porque entendo que temos serviços técnicos qualificados que desenvolvem um bom trabalho. Ainda sobre isto coloquei dúvidas em relação a algumas dessas avenças e critiquei o facto de grande parte delas serem de pessoas com ligação direta ou indireta ao PSD, não sendo as avenças cargos de confiança pessoal ou política. Faço esta crítica em relação a qualquer outro partido, seja nas autarquias ou no poder central.

Em resposta, foi-nos garantido que a questão da sinalética seria corrigida e que seria feita uma intervenção na Rua S. Sebastião. Quanto às obras no centro urbano de Ovar e falta de parques de estacionamento, foi-nos dito que está em negociação a cedência de terreno para alargamento da Rua da Mercantil, junto à estação, com a criação de lugares de estacionamento e que as propostas por nós apresentadas seriam analisadas.

No que respeita às avenças o presidente da câmara entende que elas são necessárias, pela dificuldade legal em contratar pessoal técnico e que as pessoas não foram escolhidas pela sua cor partidária.

O Artur Duarte, face à demolição da antiga fábrica de descasque de arroz da Mercantil, questionou sobre o que estava previsto para aquele local, obtendo como resposta que nada está previsto, além da negociação a que acima se faz referência.

Questionou também o facto da AdRA não repor convenientemente os pisos das ruas onde intervém e referiu que é necessário fazer mais e melhor fiscalização e não rececionar as obras sem que elas estejam devidamente concluídas, ao que o presidente respondeu que a dona das obras é a AdRA, a quem compete a fiscalização, embora haja um acordo de não receção da obra sem a Câmara se pronunciar, mas concordou que é um problema pertinente.

Por fim, falou da necessidade do Mercado Municipal de Ovar ter mais dinâmica, devendo este espaço ser mais bem aproveitado. O vice-presidente esclareceu que os comerciantes podem, querendo, utilizar diariamente aquele espaço e que só não o fazem porque nos dias em que não estão em Ovar vão para outros mercados e feiras. No entanto, a dinâmica, no nosso entendimento, não passa apenas pela utilização diária nos moldes de mercado, como ele é hoje.

Na ordem do dia, foi aprovado o relatório final do procedimento para atribuição do direito de utilização do Vela Areinho, de onde se constata que o concurso ficou deserto, razão porque se deverá reformular o quadro de condições para tornar um novo concurso mais aliciante e desta forma surjam bons concorrentes.

Foi também aprovada a regularização de vínculos precários, de pessoas (16) que exercem ou exerceram funções que correspondem às necessidades permanentes dos serviços da Câmara, o que acarretará um custo anual de quase duzentos mil euros.

Na linha do que tem vindo a acontecer, foram aprovados vários apoios sociais, tendo o Artur Duarte chamado à atenção para a necessidade de monitorizar estes apoios, para não se cair numa eventual situação de comodismo por parte de quem deles beneficia por período prolongado.

Foram também aprovados os autos de receção provisória do Centro Cívico de Cortegaça e do Museu Escolar Oliveira Lopes. Sobre este, coloquei várias questões, que o vereador Pedro Coelho ficou de analisar e dar resposta breve, entre as quais: Qual o sistema que foi colocado na cobertura do edifício para reduzir a afluência das pombas? O edifício, que servirá em parte para museu, tem a pré-instalação do sistema de climatização em todo o edifício? O edifício está preparado para receber toda a cablagem necessária aquando da instalação dos serviços? Qual o sistema de gestão que está pensado para o edifício? Quais os serviços que estão previstos para aquele espaço? Está a ser preparada alguma candidatura a fundos comunitários? Quando está prevista a construção do parque infantil que consta do programa geral para aquele espaço? Referi ainda a necessidade da Câmara acelerar o processo da sua abertura ao público, criando sinergias com todos os agentes, desde a nossa divisão do património, Junta de Freguesia, Associação dos Antigos Alunos da Escola Oliveira Lopes, Dr. João Borges (familiar dos beneméritos), etc.

Vítor Amaral

“Inclusão misteriosa” pode levar à queda da Direcção do PSD Ovar

Alguns militantes do PSD Ovar encontraram discrepâncias na formalização do processo eleitoral, de 17 de março de 2018, para a eleição da Comissão Política do PSD Ovar.


Lista Pedro Coelho

Por esse motivo, o militante António Jorge Valente dos Reis, de Válega, requereu, em 23 de março de 2018, a impugnação do Acto Eleitoral da Mesa da Assembleia da Secção de Ovar e da Comissão Política da Secção de Ovar, realizadas naquela data. Este requerimento baseia-se no estipulado no Regulamento Eleitoral e nos Estatutos do PSD.

“Inclusão misteriosa”

Ovar Novos Rumos tem conhecimento que no documento enviado ao Conselho de Jurisdição Distrital de Aveiro do PSD, o requerimento de impugnação tem como principal argumento, o facto de a convocatória para o Acto Eleitoral, com a data de 15 de fevereiro, ter sido “incluída misteriosamente”, no Povo Livre, no dia anterior, 14 de fevereiro de 2018.

O militante António Jorge Valente dos Reis considera que se trata de “rato escondido, com rabo de fora”, pois, diz, “este Acto Eleitoral nunca foi agendado no Site do PSD, onde constam os outros, a realizar nesse mesmo dia, de 17 de março.”

A “ética política”

Ora, o militante impugnador, diz não querer acreditar que esta “inclusão misteriosa” no Povo Livre online, em data posterior a 14 de fevereiro de 2018, tenha sido feita com a aprovação dos secretários-gerais e do Director do Povo Livre, militantes que António Reis sempre conheceu por terem “ética política”.

Este requerimento é apresentado, com conhecimento ao Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, pelo que, se adivinha que o caso poderá evoluir para outras instâncias. Também é sabido que se a Impugnação tiver provimento, o Acto Eleitoral será anulado, não podendo os eleitos concorrer a novo Acto Eleitoral.

Ovar Novos Rumos

Diplomacia, demagogia e hipocrisia: o caso Skripal e o oportunismo político

29/03/2018 by João Mendes

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Indústria petrolífera à prova de sanções diplomáticas. Fotografia via CBS

Percebe-se o desespero de Fernando Negrão e a necessidade de se pôr em bicos de pés para tentar marcar a agenda mediática com declarações como as que proferiu ontem, que de resto mais não foram do que uma espécie de retweet parlamentar das declarações proferidas no dia anterior por Paulo Rangel na SIC Notícias. Ou não estivéssemos perante um líder parlamentar desorientado, cuja primeira linha de oposição que enfrenta está no interior do próprio grupo parlamentar que tenta, sem grande sucesso, dirigir. Um líder parlamentar fragilizado, em sintonia com uma direcção partidária enredada em casos que se sucedem, sob fogo cerrado da imprensa afecta ao passismo. É natural que recorra ao facilitismo deste tipo de subterfúgio.

Porém, atribuir a posição do governo português relativamente à retaliação em curso contra Moscovo, a propósito da execução do ex-espião russo Sergei Skripal, à “aliança com dois partidos que estão do lado errado” é demagógica, populista e imbecil, mas tão imbecil que deixei imediatamente de sentir qualquer simpatia pela forma como foi tratado pelos deputados do seu partido aquando da sua eleição para líder da bancada parlamentar. Afinal, tal como suspeitava, eles merecem-se mesmo uns aos outros.

As afinidades ideológicas do BE e do PCP com a Federação Russa, nacionalista e oligarca, cuja ideologia é ideologia nenhuma, parecem-me pouco evidentes. Mas vamos assumir que existem mesmo. Alguém no seu juízo perfeito acredita mesmo que o PS cederia a pressões do BE e do PCP numa matéria desta natureza? Porquê? Para evitar que os parceiros parlamentares roam a corda e façam cair o governo? E quem sairia a ganhar, caso o governo caísse devido a um caso destes? Fácil: o PS. O PS que todas as sondagens apontam como estando no limiar da maioria absoluta, que iria para eleições antecipadas contra um PSD em frangalhos, contra um CDS-PP com excesso de confiança, apesar da expressão residual, e contra dois partidos que facilmente passariam, dadas as circunstâncias, por emissários do Kremlin. Seria fácil demais para António Costa.

A posição assumida pelo governo é discutível, como qualquer posição assumida por qualquer governo ou governante. Dai a ter sido condicionada pelo PCP e pelo BE vai uma longa distância. Porque, se assim fosse, teria Portugal validado a decisão da NATO de expulsar diplomatas russos? Aliás, se o peso dos parceiros de António Costa em matéria de política externa fosse assim tão relevante, não estaríamos já de saída da UE e da NATO? Não teriam já as nossas tropas estacionadas nos mais variados cenários de guerra recebido ordem para regressar à base?

A soberania que nos resta, entregue que está boa parte dela à UE e a outras organizações supranacionais, só a nós diz respeito. Se vamos andar a reboque de outros Estados, ou, pior, a fazer as tristes figuras que alguns Estados fizeram ao expulsar apenas um diplomata como quem dá a pata ao dono, então mais vale estar quieto. Se Theresa May e respectivos aliados estivessem verdadeiramente interessados em bater o pé a Vladimir Putin, expulsavam todos os diplomatas russos dos seus países e davam ordem para que os seus diplomatas em território russo regressassem. Mas nada disso aconteceu. Nem no Reino Unido, nem nos EUA, nem na NATO nem em lado nenhum.

Quem também não foi afectado pela histeria do momento (e cito apenas este exemplo, poderiam ser dezenas deles) foi a parceria firmada entra a BP e a estatal russa Rosneft, que, envenenamentos à parte, continuam a lucrar com a sua frutuosa joint venture. Sanções diplomáticas sim senhor, mas ai de quem interferir com a mão invisível que ampara o capitalismo à prova de direitos humanos. Grande Rosneft! Passou ao lado das sanções de 2014, passará com certeza ao lado da crise diplomática de 2018, tem como chairman Gerhard Schroder e como CEO Igor Sechin, um oligarca do círculo mais restrito de Putin, mas não se passa nada. Business as usual.

Finalmente, o PSD. Quem é o PSD para se insurgir contra as práticas despóticas de uma ditadura, quando vendeu, ao desbarato, posições sólidas em empresas estratégicas portuguesas a oligarcas do regime chinês, uma ditadura sem respeito algum pelos direitos humanos e tão violenta como a russa, ou à monarquia tirana e absolutista de Omã? Que PSD moralista é este, que se insurge selectivamente em função da sua agenda partidária, mas que batia continência ao regime dos Santos e que se faz representar no congresso do MPLA, um partido cujos mais altos oficiais enriqueceram à custa da miséria do povo angolano? Quem é o PSD para bater no peito contra o nacionalismo ditatorial, sem que nunca se lhe tenha ouvido um pio sobre a agenda xenófoba e fascista do seu parceiro húngaro no PPE, Viktor Orban? Será que estes tipos nos tomam a todos por idiotas com este discursozeco demagógico e oportunista de ocasião?

Alinháceos

  por estatuadesal

(Por Júlio, in Blog Aspirina B, 28/03/2018)

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Criei agora este neologismo para designar as aves da capoeira que desde ontem cacarejam freneticamente para que o governo português alinhe com os nossos aliados e expulse imediatamente diplomatas russos.

Paulo Rangel e Fernando Negrão são os primeiros a merecer o crisma de alinháceos. Para eles, alinhar com a histeria de Teresa May é um dever patriótico de todo o bom português. Pensar, reflectir, usar de prudência, ponderar os nossos interesses de país independente é antipatriótico e indigno. Alinhar é que é baril — nem que seja alinhar com o MI-6, o serviço de espionagem de sua majestade.

É caso para o PSD apresentar rapidamente uma proposta de lei para a alteração do hino nacional. Onde originalmente estava, pela pena de Henrique Lopes de Mendonça, contra os bretões, marchar, marchar, que depois a República oportunista amansou para contra os canhões, marchar, marchar, espera-se que o PSD de Rangel e Negrão proponha agora pelos bretões, alinhar, alinhar.

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P.S. 1: Não faço a mínima ideia se Putin mandou envenenar aquele agente duplo russo que foi parar ao hospital. Quanto ao governo de Teresa May, penso que das duas, uma: ou também não faz a mínima ideia quem foi, mas convém-lhe enormemente que tenha sido o Putin, ou sabe perfeitamente quem foi, mas nunca o confessará. Num caso como no outro, o lema de Rangel e Negrão de “alinhar com os nossos aliados” é imbecil. Que é que Portugal tem que ver com essas merdas de espiões ingleses e agentes duplos russos?

P.S. 2: Lembre-se que a mais recente invenção da direita inglesa contra o popular líder trabalhista Jeremy Corbyn foi acusá-lo de ter sido colaborador dos serviços secretos da Checoslováquia comunista. O jornal Independent publicou sobre isso há um mês uma reportagem hilariante, recordando a velha história de acusações falsas com que a imprensa de direita britânica (quase toda a imprensa britânica!) sempre tentou difamar os dirigentes trabalhistas insinuando a sua ligação ao Kremlin. Depois de Harold Wilson, também Michael Foot e Neil Kinnock foram alvo dessas acusações porcas, vindas de gente ligada aos serviços secretos britânicos e disseminadas pelos jornais do costume. Assim, não me custa nada imaginar que por detrás da actual histeria de Teresa May esteja simplesmente um plano cozinhado por ela e pelo MI-6 para atacar a popularidade de Corbyn. Desde as últimas eleições, os conservadores ingleses estão mesmo assustados com a perspectiva de uma próxima vitória trabalhista.

P.S. 3: E porque é que foram Rangel e Negrão a cacarejar pela cor laranja? Não há galo naquela capoeira?

Posição soberana

29/03/2018 by Bruno Santos

Serão vários os motivos pelos quais o governo português decidiu, e muito bem, não acompanhar a expulsão colectiva de diplomatas russos, levada a cabo por vários países, num movimento concertado sob a liderança do Reino Unido, país que se encontra de saída da União Europeia.

A decisão anunciada por Augusto Santos Silva – o melhor e mais sólido ministro deste governo – foi certamente tomada com o conhecimento e o acordo do Presidente da República, e espelha os princípios de uma política diplomática responsável e equilibrada, que foi sempre apanágio das relações externas portuguesas e que faz de Portugal uma das maiores potências diplomáticas do mundo.

Ao contrário do que a oposição ao governo do PS tenta agora fazer crer, numa atitude irresponsável e profundamente demagógica, procurando colocar em causa a política externa do país e a solidez das suas decisões, Portugal não está sozinho nesta tomada de posição, sendo acompanhado por vários e importantes países da União Europeia que também decidiram não subscrever a estratégia colectiva de expulsões encabeçada pelo país do Brexit. Tanto quanto foi possível apurar, a Áustria, a Bulgária, o Chipre, a Eslováquia, a Eslovénia, a Grécia e Malta, são países que também optaram por não seguir os ditames do Reino Unido.

Outro facto é de relevar. Portugal assume, neste contexto – até ao momento -, uma posição soberana diferente da que a Espanha, seu parceiro ibérico, assumiu, facto que, do ponto de vista das relações internacionais, é muito significativo e só contribui para a solidez e a credibilidade da política externa portuguesa.

Celebrado acordo para o regresso do comboio ao Tua

HÁ UMA HORA

Foi celebrado o acordo que permite o regresso do comboio à linha do Tua, em Trás-os-Montes. O Governo vai financiar a manutenção da linha e a Infraestruturas de Portugal continua a ser proprietária.

ESTELA SILVA/LUSA

O acordo que permite o avanço do Plano de Mobilidade do Tua, em Trás-os-Montes, e o regresso do comboio foi celebrado esta quinta-feira, informou o Gabinete do ministro do Planeamento e das Infraestruturas.

A Infraestruturas de Portugal (IP) e a Agência do Desenvolvimento Regional do Vale do Tua (ADRVT) formalizaram o acordo que já tinha sido anunciado a 15 de março e que acaba com o impasse de quase um ano a concretização do Plano de Mobilidade Turística e Quotidiana, a principal contrapartida pela construção da barragem de Foz Tua.

O contrato agora oficializado determina, segundo a informação oficial, que “a IP concessione à ADRVT o troço entre Brunheda e a Estação Ferroviária de Mirandela-Carvalhais, incluindo a infraestrutura de via, infraestrutura de obras de arte, superestrutura de via, passagens de nível e cais de embarque”.

O troço de cerca de 30 quilómetros é o que resta da desativada ferrovia centenária que deixou de fazer a ligação ao Tua, com o novo plano a prever passeios de barco entre este ponto e a Brunheda, a extensão da nova albufeira.

Segundo o acordado entre as partes, a agência “obriga-se a assegurar, por si ou através de terceiro, o transporte de passageiros no âmbito do sistema de mobilidade turística e quotidiana do vale do rio Tua”.

“Foi ainda estabelecido um acordo entre a CP, a IP e a ADRVT para regulamentar os termos em que o serviço de transporte de passageiros é assegurado, com qualidade e em segurança”, acrescenta a informação do gabinete da tutela.

O presidente da agência, Fernando Barros, adiantou à Lusa, em 15 de março, que tinha sido alcançado o acordo, que deveria ser formalizado até ao final do mês, o que foi confirmado oficialmente neste dia.

Depois de meses a discutir quem ficaria responsável pela linha, Fernando Barros indicou ter ficado acordado que a agência será a gestora da linha, o Governo assumirá o financiamento da manutenção e a Infraestruturas de Portugal (IP), que continua a ser a proprietária e assumirá a parte técnica, nomeadamente relativamente às obras de arte.

Este acordo resolve o impasse, mas não implica que o comboio comece imediatamente a circular nos cerca de 30 quilómetros que restaram da linha do Tua, entre Mirandela e a Brunheda.

Será ainda necessário esperar pelos resultados dos testes de segurança ao novo material circulante que o empresário Mário Ferreira, conhecido pelos passeios de barco no Douro e que vai explorar turisticamente esta zona de Trás-os-Montes, tem disponíveis há alguns meses.

Ao comboio turístico juntam-se também barcos para passeios na nova albufeira da barragem, entre a Brunheda e o Tua.

A EDP entregou dez milhões de euros ao empresário para o projeto e para reabilitação da ferrovia, que já foi realizada. No entanto, serão ainda necessárias outras intervenções ao longo do canal da linha, como a retirada de blocos que ameaçam queda nas encostas do Tua e a prevenção de futuros deslizamentos.

Estes trabalhos contemplam a instalação de equipamento informático, através de fibra ótica, “para detetar o movimento de blocos ao longo dos taludes”, além de drenagens e reabilitação dos carris entre o Cachão e Mirandela.

A EDP já disponibilizou, segundo o presidente da agência, “3,5 a 3,7 milhões de euros para estes trabalhos”. Falta também saber de que forma será assegurada, neste projeto, a mobilidade às ou populações ribeirinhas do rio Tua, já que é uma condição imposta como contrapartida pela construção da barragem.

Uma estação espacial vai cair do céu e pode ser no norte de Portugal. 9 respostas para saber se deve ter medo

29 Março 2018116

Marta Leite Ferreira

A estação espacial que está em queda descontrolada em direção à Terra pode chegar entre esta sexta-feira Santa e domingo de Páscoa. O sítio? É "uma roleta russa". Mas o norte de Portugal está na mira.

Vamos começar pelas más notícias: há uma estação espacial com o tamanho de um autocarro escolar em queda livre em direção à Terra; e uma das regiões onde é mais provável que possa cair é no norte de Portugal durante este fim de semana da Páscoa. Agora as boas: a probabilidade de se despenhar entre o Porto e o Minho, embora seja a maior de todas, não ultrapassa os 3%; e, de qualquer modo, é altamente improvável que uma das peças lhe caia em cima do folar. Não há registo na História de qualquer pessoa atingida por uma peça de um veículo espacial em queda descontrolada em direção ao nosso planeta.

Tudo indica que a Tiangong-1, a estação chinesa que foi desativada há cinco anos e cujo nome significa “Palácio Celestial”, vá entrar na atmosfera terrestre algures entre esta sexta-feira, 30 de março, e domingo, 1 de abril. As estimativas mais recentes da Agência Espacial Europeia apontam o domingo de Páscoa como a data mais provável para o evento, mas as incertezas são tantas — em parte por causa do secretismo dos chineses — que não se sabe sequer o local exato onde o veículo vai cair. O melhor mesmo é ficar atento ao céu, mas permanecer afastado de qualquer pedaço da maquineta: é que a bordo dela está um químico corrosivo que pode causar desde tosse até convulsões e ferimentos profundos na pele.

Em conversa com o Observador, o astrónomo Rui Agostinho, do Observatório Astronómico de Lisboa, explicou que a queda desta estação espacial é mais preocupante do que a queda de um simples satélite por causa da robustez que tem: um satélite tem de suportar apenas as forças extremas do lançamento para o espaço, por isso não precisa de materiais muito resistentes nem pesados; mas a Tiangong-1 foi feita para receber missões tripuladas, por isso alguns dos seus materiais podem ser robustos e fortes o suficiente para chegarem ao solo sem serem destruídos pela fricção, pelo desgaste e pelas temperaturas na ordem dos milhares de graus Celsius provocados pela atmosfera terrestre.

Por enquanto não há nada que se possa fazer, a não ser esperar que a trajetória da Tiangong-1 seja rasante o suficiente para que, ao entrar na atmosfera da Terra, fique obrigado a percorrer mais tempo o percurso entre o espaço e o solo e, portanto, a ser mais massacrado pelo caminho. “É uma autêntica roleta russa”, descreve Rui Agostinho. O melhor mesmo é estar preparado para o que der e vier, por isso veja as respostas a todas as suas perguntas aqui em baixo.

A Administração Espacial Nacional da China disse que a estação "parou de funcionar" e já não estava a enviar informações para os técnicos da agência espacial chinesa. Tiangong-1 estava assim em queda livre em direção à Terra.

O que que vai acontecer?

A estação espacial chinesa Tiangong-1 vai reentrar na atmosfera terrestre algures entre esta sexta-feira Santa e o domingo de Páscoa. Estima-se que grande parte do material não vá resistir à força de fricção nem às temperaturas extremas provocadas pela atmosfera, que funciona como um escudo que protege a integridade do planeta de objetos vindos do exterior. De acordo com a Agência Espacial Europeia, em meados de janeiro a estação estava numa órbita a 280 quilómetros de altitude, mas tem vindo a diminuir desde então.

A Tiangong-1 já não estava a funcionar. A estação espacial foi lançada para o espaço em 2011 e estava projetada para continuar ativa durante dois anos. Foi isso que aconteceu: em junho de 2013, a missão espacial tripulada Shenzhou-10 visitou a Tiangong-1 naquela que foi a sua última operação. Pouco depois, a máquina foi posta em suspensão para depois ser guiada para dentro do planeta de forma controlada.

No entanto, em março do ano passado, a Administração Espacial Nacional da China disse que a estação “parou de funcionar” e já não estava a enviar informações para os técnicos da agência espacial chinesa. Tiangong-1 estava então em queda livre em direção à Terra. Desde então, a agência chinesa limitou os detalhes que tem partilhado com as outras agências espaciais.

Qual é o trajecto da queda?

A Administração Espacial Nacional da China, que é a agência espacial chinesa, começou por dizer que a Tiangong-1 faria “uma reentrada controlada” na Terra: o controlo em solo iria assumir o comando dos motores, fazê-los disparar e depois utilizá-los para diminuir a velocidade da máquina até que as peças mais resistentes caíssem em segurança. A ideia era que os motores fossem postos a trabalhar num momento específico da órbita que permitisse à estação espacial arder quase por completo ao atravessar a atmosfera da Terra. As peças mais resistentes iriam cair na região sul do Oceano Pacífico, longe de qualquer zona povoada.

Era algo parecido com o que mostra este vídeo, captado na reentrada controlada da Julio Verne ATV/ Veículo de Transferência Automatizado 001 em 2008, o que devia acontecer com a Tiangong-1.

Mas o plano saiu furado. Em março de 2016, a Tiangong-1 ainda estava completa, isto é, não tinha perdido nenhuma peça. Mas quando a estação espacial “parou de funcionar”, e tanto quanto podem confirmar as agências internacionais, o controlo em terra deixou de ter acesso aos motores e a reentrada na atmosfera deixou de poder ser comandada pelos técnicos. Tiangong-1 passou a cair “de forma descontrolada” em direção à Terra.

Quando a China notificou as Nações Unidas do que estava a acontecer, explicou por pontos o que iria fazer a partir dali. Em primeiro lugar, prometeu “rastrear e monotorizar de perto” a estação espacial para conhecer o desenvolvimento orbital da máquina e, em função dele, “publicar uma previsão oportuna da sua reentrada” terrestre. Essa operação está a ser possível graças aos dados enviados à agência espacial chinesa pelo Comité Inter-Agências de Coordenação de Detritos Espaciais. Depois, garantiu que publicaria qualquer informação que recebesse sobre a Tiangong-1no site da Administração Espacial Nacional da China, tanto em mandarim como em inglês. De facto, alguma dessa informação iria ainda ser enviada aos meios de comunicação social, nomeadamente detalhes sobre a hora e o local da reentrada.

Este vídeo da Corporação Aerospace mostra uma simulação do que pode vir a acontecer na reentrada da estação espacial chinesa algures nos próximos dias.

Mais que isto é que já não se sabe.

Quando é que tudo vai acontecer?

As últimas previsões da Agência Espacial Europeia dizem que a Tiangong-1 vai começar a reentrar na Terra em qualquer dia entre 30 de março (esta sexta-feira) e 2 de abril (a próxima segunda-feira). No entanto, só teremos certezas mais fundamentadas do que vai — e  de quando vai — acontecer um dia antes da estação espacial chegar à Terra, porque só na véspera é que podemos desenhar melhor a órbita precisa que Tiangong-1 seguirá nas últimas horas antes de colidir com o planeta.

As últimas previsões da Agência Espacial Europeia dizem que a Tiangong-1 vai começar a reentrar na Terra entre 30 de março e 2 de abril. Só teremos certezas mais fundamentadas do que vai acontecer um dia antes da estação espacial chegar à Terra.

Mesmo assim, não fique demasiado entusiasmado quando a véspera do embate chegar: nenhuma das agências espaciais ativas neste momento têm ferramentas suficientemente precisas para adivinhar as coordenadas dos sítios onde as peças de Tiangong-1 podem cair ou simplesmente serem vistas a entrar em órbita. A Agência Espacial Europeia disse mesmo que “não podemos fazer previsões locais nem sequer com margens de erros na ordem dos quilómetros” porque “isso está para lá das nossas habilidades técnicas atuais por causa da complexidade de retratar a atmosfera”.

A Agência Espacial Europeia explica que, por norma, a incerteza tipicamente existente em casos de reentradas descontroladas como esta fica em redor dos 20%. Em termos práticos, isto significa que sete horas depois de Tiangong-1 ter entrado na atmosfera, nenhum astrónomo ou especialista em astronáutica conseguiria prever onde é que as peças da estação espacial iriam cair: “A incerteza do lugar da desintegração [quando o objeto se estilhaça] é de milhares de quilómetros”.

Que zonas da Terra podem ser afetadas?

Como as agências espaciais estão a monitorizar os movimentos da estação espacial, sabemos que a órbita da Tiangong-1 tem uma inclinação de 42,8 graus em relação à atmosfera terrestre. Isso significa que a Tiangong-1 pode entrar na atmosfera, desintegrar-se e cair em qualquer região da Terra que estava confinada entre as latitudes 42,8º norte e 42,8º sul. Essa região inclui quase todo o continente americano (desde os Estados Unidos até ao sul da Argentina), todo o continente africano, o sul asiático, a Oceânia e o sul da Europa, que inclui Portugal inteiro.

A Tiangong-1 pode entrar na atmosfera, desintegrar-se e cair em qualquer região da Terra que esteja confinada entre as latitudes 42,8º norte e 42,8º sul. As regiões mais prováveis são o norte de Portugal e o sul da Austrália.

Mas nem todas essas regiões estão em condições de igualdade: há maior probabilidade (3%) da Tiangong-1 reentrar na atmosfera terrestre na latitude 42,8ºN (que coincide com o norte do nosso país) e na latitude 42,8º S (na ponta sul da Austrália) do que em qualquer região mais próxima do equador (próximo de 0%). E é assim porque a órbita da estação espacial à volta da Terra é circular, por isso passa mais tempo nessas latitudes do que a atravessar a região da Terra entre uma e outra.

Se a reentrada ocorrer nas zonas com maior probabilidade de tal acontecer, será pior caso aconteça na nossa latitude do que na que a atravessa a ponta sul da Austrália, por causa da densidade populacional ser muito maior do que a do hemisfério sul.

A verde estão marcadas as áreas onde há maior probabilidade que a estação espacial chinesa venha a cair. No gráfico mais à esquerda pode consultar as regiões com maior densidade populacional (onde a queda do objeto pode causar mais danos). No gráfico à direita pode ver-se a probabilidade de queda naquela altitude: Portugal está numa das duas mais altas. Créditos: ESA CC BY-SA IGO 3.0

Quão provável é que uma peça caia na minha casa?

É possível que isso aconteça, mas a probabilidade é muitíssimo baixa. Os cientistas tentam perceber o comportamento que os materiais da Tiangong-1 vão assumir ao estudar o comportamento dos materiais que compõem outras naves espaciais mais conhecidas de outras agências espaciais, como o Veículo de Transferência Automatizado da Agência Espacial Europeia, o Progress da Agência Espacial Federal Russa ou a Dragon da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço. Tanto quanto sabemos sobre o que aconteceu com essas máquinas, grande parte da Tiangong-1 vai desintegrar-se ao atravessar a atmosfera, mas algumas partes, as mais resistentes, podem sobreviver e chegar a terra.

Os estilhaços vão cair sobre uma área gigantesca “com milhares de quilómetros de comprimento e centenas de quilómetros de largura”. Mas embora grande, essa área pode não ter um significado muito expressivo porque a maior parte da superfície da Terra está coberta por água ou é desabitada. De acordo com a Agência Espacial Europeia, “a probabilidade pessoal de se ser atingido por um pedaço da Tiangong-1 é dez milhões de vezes mais pequena do que a probabilidade de ser atingido por um raio”.

De acordo com a Agência Espacial Europeia, "a probabilidade pessoal de ser atingido por um pedaço da Tiangong-1 é dez milhões de vezes mais pequena do que a probabilidade de ser atingido por um raio".

Há uma outra boa notícia a juntar a esta: é que nunca houve registo de uma pessoa ter sido atingida por estilhaços vindos do espaço e com origem em objetos espaciais em queda. Mas também estamos numa situação de cara ou coroa: segundo Rui Agostinho do Observatório Astronómico de Lisboa, quanto mais rasante for a trajetória da estação espacial em relação à atmosfera, maior a distância que ela terá de perfurar ao longo desse nosso escudo e mais tempo estará à mercê da fricção e das altas temperaturas da reentrada sendo assim mais fácil que se estilhace. Mas quanto mais próxima estiver a inclinação da órbita dos 90º, maior a velocidade o objeto vai adquirir e menor será o espaço que terá de percorrer podendo ficar mais intacta.

Outra coisa que é preciso ter em conta, do lado das notícias menos boas, é que nenhum dos veículos espaciais estudados pelas agências espaciais foram concebidas para receber humanos, por isso foram feitos de materiais menos resistentes: “Os mecanismos dos satélites não são robustos porque só têm de sobreviver ao lançamento, mas depois não estão sujeitos a forças extremas enquanto estão no espaço. Como quanto maior for o peso do satélite, mais caro será lançá-lo num foguetão, as agências tentam fazê-los o mais leves possível”, explica Rui Agostinho. Mas a Tiangong-1 é uma estação espacial, por isso “está preparada para colocar pessoas lá dentro, tem zonas mais robustas que podem sobreviver à reentrada na atmosfera”. São essas as peças mais perigosas para o humano.

Há produtos perigosos a bordo da estação espacial?

Sim. A hidrazina é um composto químico no estado líquido que foi usado na Tiangong-1 como um propelente em veículos espaciais e é também usado em alguns produtos na agricultura. O problema é que a hidrazina é altamente tóxica e corrosiva: um relatório da Agência das Substâncias Tóxicas dos Estados Unidos diz que “respirar hidrazina por curtos períodos de tempo pode causar tosse e irritações na garganta e nos pulmões, convulsões, tremores e ferimentos”. No entanto, segundo os cientistas chineses, “é muito pequena a probabilidade de [a hidrazina] vir a causar danos à aviação ou às pessoas em terra”.

Se encontrar objetos que possam ter tido origem na estação espacial chinesa, o melhor é não tocar neles e nem sequer se aproximar: os vapores que emitem podem tornar-se muitos perigosos para a saúde.

A hidrazina é um composto químico no estado líquido que foi usado na Tiangong-1 como um propelente em veículos espaciais e é usado em alguns produtos na agricultura. O problema é que a hidrazina é altamente tóxica e corrosiva.

Quem está a controlar a situação?

A 10 de maio de 2017, a China enviou ao Departamento das Nações Unidas para os Assuntos Espaciais uma notificação onde dizia que a Tiangong-1 tinha “parado de funcionar” e que “mantinha total integridade estrutural”. Naquela altura, a estação espacial estava a 349 quilómetros de altitude e caía diariamente, e em média, 160 metros em direção à Terra, por isso a matemática dizia que reentraria na atmosfera entre outubro do ano passado e abril deste ano. A China garantia ainda que “a maior parte dos componentes estruturais da Tiangong-1 seria destruído por inflamação ao longo da sua reentrada” e que “a probabilidade de causar estragos e colocar em perigo a aviação ou as atividades em solo são muito baixas”. Tendo isto em conta, a China pediu a ajuda do Departamento das Nações Unidas para os Assuntos Espaciais e Comité Inter-Agências de Coordenação de Detritos Espaciais para estar de olhos postos na estação chinesa.

Ao mobilizar o Comité, a Administração Espacial Nacional da China colocou 13 agências espaciais, entre as quais a NASA (dos Estados Unidos), a ESA (com 22 estados-membros europeus), a Roscosmos (da Rússia), a JAXA (do Japão), a ISRO (da Índia) e a KARI (da Coreia do Sul). Todas estão em sintonia para tentar descobrir, acima de tudo, onde e quando ia a Tiangong-1 entrar na atmosfera terrestre.

Esta reentrada é a mais perigosa a que já assistimos?

Não. A 23 de março de 2001, o mundo assistiu à reentrada na atmosfera da estação espacial Mir, que com 120 toneladas (a Tiangong-1 tem 8,5 toneladas) foi o maior veículo espacial construído pelo Homem a cair na Terra. Era uma estação modular — a primeira de todas e o maior veículo espacial até àquela época — que esteve na órbita baixa da Terra entre 1986 e 2001, pertencia à União Soviética e foi montada já em órbita entre 1986 e 1996. Até começar a cair, o Mir era o maior satélite em órbita, um título que depois passou a pertencer à  Estação Espacial Internacional.

A Mir permaneceu no espaço a 400 quilómetros de altitude, completando uma órbita em volta da Terra a cada 90 minutos. Em 2000, a Rússia decidiu destruir o veículo espacial “por falta de meios técnicos e financeiros” para suportar a máquina. A 23 de março de 2001, a Mir entrou na atmosfera terrestre e desintegrou-se em segundos: a maior parte das partes da estação foi completamente destruída, mas algumas peças caíram em chamas no Oceano Pacífico a dois mil quilómetros da Austrália sem causar danos a nenhuma pessoa ou infraestrutura. A operação custou 27 milhões de dólares.

Este não é o objeto mais perigoso que já vimos reentrar na Terra. A 23 de março de 2001, o mundo assistiu à reentrada na atmosfera da estação espacial Mir, que com 120 toneladas (a Tiangong-1 tem 8,5 toneladas) foi o maior veículo espacial construído pelo Homem a cair no planeta.

Posso ver a reentrada da estação na Terra?

De acordo com a Corporação Aerospace, uma organização independente dedicada à investigação técnica e científica relacionada com a aeronáutica, dependendo das condições meteorológicas, da hora e do local da reentrada da Tiangong-1, pode ser possível ver objetos incandescentes a rasgarem o céu durante um minuto ou mais.Se tiver sinais da reentrada da estação espacial na Terra, envie um relatório para a Corporação Aerospace com informações do local em que estava, que horas eram, uma descrição do que viu e, se possível, fotografias ou vídeos que consiga captar desse momento.

ATIVOS TÓXICOS, GASES TÓXICOS E COBARDES TÓXICOS

  por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 29/03/2018)

caveira

Esta direita de galos-da-Índia que são algumas personagens do CDS e do PSD só têm coragem quando americanos e ingleses lhes pedem para ladrarem contra gente perigosa com armas químicas. Cá por dentro só aparecem para tentar colher frutos das desgraças nacionais, sejam assaltos a paióis ou grandes incêndios. Quando lhes convém deixam de estar esganiçados, metem o rabinho entre as pernas e calam-se, não se vá reparar neles.

Onde estão Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque, Carlos Costa, Passos Coelho, Teodora Cardoso e todos os que durante quatro anos executaram, apoiaram ou deram cobertura à política económica de um governo que fez uma coleta nacional junto dos pobres para refinanciar a banca? Onde estão os bandalhos que não se cansavam de repetir que a intervenção no BES não teria custos para os contribuintes? Até garantiam que os investimentos na banca iriam dar lucros.

Onde estão os senhores banqueiros que não se cansavam de dar lições de moral ao país, que andavam muito preocupados com saída dos centros de decisão e até se juntaram para forçarem o governo a pedir a intervenção externa? Deixaram o agora presidente do Novo Banco a falar sozinho, não apareceu uma única personalidade a dar a cara.

Agora já não se queixam de que o governo está condicionado pela Geringonça para tapar os buracos que deixaram em vários bancos. Agora não aparecem como fizeram em várias ocasiões em que mal saíam boas notícias eram os primeiros a dizer que os louros eram deles. Não aparecem para assumir o buraco no Novo Banco, como não apareceram no caso Banif e só aparecem no Montepio mas não para dizerem que esconderam o problema para agora tentarem colher frutos.

Nem Marcelo Rebelo de Sousa, que disse que tinha sido Passos que tinha aberto o trilho, pelo qual este governo caminhou tranquilamente, aparece agora a comentar; poderia dizer que foi o Passos Coelho que abriu os buracos em que este governo e o país se poderiam ter enterrado.

Não deixa de ter alguma graça o fato de políticos tão corajosos contra os russos, como já o foram contra Sadam, se revelem tão cobardolas quando o assunto é o BES, o BANIF ou o BPN. Parece que estão mais preocupados com os gases tóxicos produzidos pelos russos do que com os ativos tóxicos resultantes dos roubos promovidos pelos seus amigos corruptores da banca portuguesa, que terão de ser pagos pelos contribuintes.

Resta saber o que será mais tóxico, se os gases que acusam os russos de ter usado, os ativos tóxicos dos nossos banqueiros corruptos ou a as intervenções dos cobardes que andam por aí escondidos quando lhes convém.

O Brasil real é brutal

Novo artigo em Aventar


por Autor Convidado

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[Gil Sotero]

O mito do Brasil cordial, sem violência foi criado e perpetuado ainda no século 19 e os quadros pintados, bem longe daqui, foram financiado por uma elite que queria passar uma imagem nova da identidade brasileira. Como este quadro do Victor Meirelles de 1860 que "retrata" a primeira missa no país como um momento mágico com indígenas dóceis sendo meros espectadores da luz do homem branco colonizador. O próprio pintor era um dos artistas preferidos de D. Pedro II.
Nesta edição do Café Filosófico o historiador Jorge Coli disserta sobre esses mitos criados no Brasil, até hoje, mesmo no cinema brasileiro, contribuem para uma percepção muito limitada do que é o Brasil de verdade: um país violento, dominado por boçais racistas, sinhás, fanáticos e lacaios que mantém as estruturas que lhes convém.
O BRASIL REAL É BRUTAL.

E se assaltassem a “Casa de Papel” portuguesa?

29 Março 2018222

Carolina Branco

Sónia Simões

Onde se fabrica o dinheiro em Portugal? Como está protegido o local? E como seria negociada a libertação de reféns, caso alguém imitasse o assalto da série de ficção espanhola "Casa de Papel"?

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“O que achas de 2.400 milhões de euros?”, pergunta “o professor” a Tóquio, quando a recruta para concretizar “o maior assalto da história”: sequestrar os funcionários e os visitantes da Casa da Moeda em Madrid e prolongar o sequestro o máximo de tempo possível, para permitir que os próprios reféns produzam 2.400 milhões de euros. Se estranhou as linhas anteriores, é porque ainda não viu “A Casa de Papel”, a série espanhola que está a ser um fenómeno na Netflix e que acompanha as peripécias de Berlim, Rio, Denver, Nairobi e os outros assaltantes profissionais que usam cidades como nomes de código.

A ideia dos argumentistas é sempre a de aproximar ao máximo a ficção à realidade, quando se trata de policiais deste tipo. Daí que tenhamos feito o exercício, trazendo a hipótese do assalto até Portugal. Onde fica a fábrica do dinheiro? Como está protegida? Quem agiria em caso de assalto? E quem teria de autorizar uma intervenção de atiradores? Sete perguntas e respostas para tentar perceber o que aconteceria se o ataque à Casa de Papel fosse em Portugal.

Onde é e como funciona a “Casa de Papel” em Portugal?

A Fábrica Nacional de Moneda y Timbre da série está localizada no centro da capital espanhola. Se os assaltantes se dirigissem à Imprensa Nacional – Casa da Moeda, junto ao Jardim do Arco do Cego, em Lisboa, por muito que os reféns trabalhassem, nunca seria um assalto muito proveitoso: ali só se fazem moedas. Para produzir notas, o local do crime teria de ser a 40 minutos do centro de Lisboa, na zona industrial do Carregado. É aí que fica localizada a Valora, uma empresa detida a 100% pelo Banco de Portugal, instalada numa área de 67 mil metros quadrados, junto a uma fábrica de batatas fritas. E é aí que chegam diariamente as carrinhas de transporte de valores para recolherem as notas que distribuem pelo sistema bancário.

“Agora vamos trabalhar”, avisa Nairobi na série espanhola, na primeira noite do assalto em que os reféns começam a imprimir notas de 50 euros. É “o trabalho mais bem pago da história: 2.400 milhões de euros”. Na fábrica portuguesa, quanto tempo seria necessário para produzir essa quantia? Em 2017, a Valora produziu 248 milhões de notas. (Foi a quantidade atribuída pelo Eurosistema ao Banco de Portugal — um dos 15 bancos centrais com capacidade de produzir dinheiro). Se as 248 milhões de notas fossem todas de 50 euros (as notas que, na série, os assaltantes produzem), a Valora teria produzido 12.400 milhões de euros num ano. Ou seja, para conseguirem atingir os 2.400 milhões de euros em notas, ou imprimiam notas de um valor superior, ou teriam de manter o sequestro durante dois meses e 8 dias, numa média aproximada, uma vez que em regime normal, as máquinas não trabalham 24 horas por dia.

O método de produção é semelhante ao de qualquer outra fábrica: há matéria-prima, máquinas, funcionários e um produto final. Cerca de 200 funcionários da Valora transformam o algodão preparado, que inclui produtos têxteis reciclados, em notas. A ser assaltada, os autores do crime sairiam da Valora com notas facilmente identificadas: todas as que são produzidas na empresa têm um número de série que começa com a letra M. Na série o bando tinha essa questão acautelada, porém.

Em 2017, a Valora produziu 143 milhões de notas de 20 euros, que dizem respeito a encomendas recebidas em 2016 e 2017

A circulação do dinheiro implica desgaste das notas. Por isso, além de imprimir notas novas, a Valora tem também uma importante função de regeneração do dinheiro. No departamento de saneamento da fábrica, existem cinco máquinas que avaliam as condições das notas a uma velocidade de 33 notas por segundo. Aquelas que estiverem danificadas são analisadas para avaliar a sua substituição. Em 2016, foi avaliada a qualidade de 627,5 milhões de notas entregues ao Banco de Portugal por empresas e bancos. 7757 notas foram retiradas de circulação por serem falsas, segundo o relatório do Banco de Portugal.

Só elementos da cúpula do Banco de Portugal é que decidem quem entra na casa forte.  Os administradores do Banco de Portugal José de Matos e Hélder Rosalino (ex-secretário de Estado da Administração Pública) são, respetivamente, presidente e vogal da Valora. O administrador delegado da empresa é Eugénio Fernandes Gaspar. Será em Portugal o que tem as funções mais parecidas com as de Arturo Roman, o diretor da Casa da Moeda espanhola, uma personagem que incita vários outros reféns a iniciar esquemas de fuga, mas raramente tem a coragem de avançar primeiro.

Como funciona a segurança da “Casa das Notas”?

A segurança da “Casa das Notas” — na verdade, em Portugal, o nome Valora não dava para um título de uma série — foi pensada logo no momento em que foi construído o edifício. Como as instalações estão na área da GNR, o Banco de Portugal fez um protocolo com a Guarda para definir todo o sistema. O Comando optou por escolher a sua unidade de elite, a Unidade de Intervenção, como responsável por aquelas instalações. Por isso, no local, existe uma sala reservada aos militares da Unidade de Intervenção que ali prestam serviço 24 horas por dia, 365 dias por ano. Cada um deles faz turnos de seis horas e é substituído de oito em oito dias.

O próprio Banco de Portugal acordou com a GNR e comprou os carros a usar no patrulhamento do edifício. As viaturas ali utilizadas não saem do perímetro da fábrica, porque assim dificilmente alguém consegue alterá-las ou usá-las para promover um assalto no interior, por exemplo, através da instalação de uma câmara.

No interior do edifício foram montados sofisticados sistemas de videovigilância, que dispõem de sensores de movimento e de calor. Cá fora, se alguém pular um muro, o sistema de alarme dispara só pelo toque dos pés do suspeito no chão. Mesmo no interior do edifício está um cofre “suspenso no ar” para evitar assaltos por via subterrânea. Trata-se de um armazém com luzes fluorescentes, mas que guarda notas em paletes: durante uma visita permitida aos jornalistas em abril do ano passado, estavam visíveis várias paletes de 8 milhões de euros em notas de 20 euros, por exemplo. É nesse cofre que está uma reserva fiduciária em numerário. Ao lado do armazém há uma câmara com cerca de metade das reservas de ouro do país, avaliadas em 6 mil milhões de euros: são mais de 170 toneladas de barras de ouro — algumas ainda estão gravadas com uma foice e um martelo, símbolos da antiga URSS.

Mas não se pense que esta abertura a jornalistas seja uma rotina. Lá dentro, os funcionários não comunicam, estão separados por paredes de vidro à prova de bala. E as portas não abrem ao mesmo tempo. Não há entrega direta de materiais ou de dinheiro. Se for preciso entregar um saco é deixado num local, depois fecham-se as portas e abrir-se-ão outras para que outro funcionário pegue no saco. Não há comunicação entre eles sequer.

No exterior do edifício existem dois perímetros e uma equipa da unidade de elite da GNR, a Unidade de Intervenção, está permanentemente no local, apoiada por cães. Além do acesso às câmaras do Banco de Portugal, tem também câmaras próprias.

Assaltos com algumas semelhanças com o da série da Netflix não são só ficção e os funcionários do Banco de Portugal sabem disso. Um deles revelou ao jornal Eco que o cuidado é tanto que nem os filhos podem dizer na escola onde os seus pais trabalham, porque neste setor é comum a prática de tiger kidnaping — um tipo de crime em que são raptadas pessoas para que elas próprias executem outro crime. Tal como na série A Casa de Papel, em que são os próprios funcionários e visitantes da Casa de la Moneda que são mantidos sequestrados para serem eles a produzir as notas. Esta é uma das particularidades da série: os assaltantes não querem levar o dinheiro que ali está e que tem dono, querem produzir o próprio dinheiro.

No entanto, apesar dessas precauções de segurança, além dos administradores, há pelo menos mais três funcionários da Valora com perfil na rede Linkedin: uma diretora financeira, um diretor adjunto de produção e uma embaladora.

Porta de segurança do armazém de notas para expedição no Complexo do Carregado do Banco de Portugal

Quem era chamado a intervir em caso de assalto?

O Observador falou com o chefe da Secção de Operações, do Comando de Lisboa da GNR para perceber o que acontecia. O tenente-coronel Bolas admite que dificilmente alguém ali entraria. Uma outra fonte militar, que conhece o local, disse que mesmo se entrasse “dificilmente conseguiria sair”. O sistema de segurança ali instalado é “ímpar” no País, garante.

A título de exemplo, na série espanhola, o grupo de assaltantes consegue fazer uma emboscada ao carro com dois polícias que escolta a carrinha que leva o papel para as notas. E é assim que consegue entrar nas instalações. Em Portugal não são dois patrulheiros que escoltam estas carrinhas, mas militares da Unidade de Intervenção da GNR em número que depende da carga transportada — militares estes preparados para enfrentar os cenários mais extremos, mesmo os de guerra. O tenente-coronel Bolas explica que quando as carrinhas chegam ao Banco de Portugal no Carregado ficam num local completamente bloqueadas. “Só temos espaço para fazer a descarga e voltar a sair, nem sequer o veiculo pode arranjar balanço para arrancar”, descreve.

Como agiria a GNR e as outras forças?

Imaginando que um ou mais assaltantes conseguiriam entrar e fazer reféns, a primeira intervenção seria dos militares que ali prestam serviço permanente, que deviam fazer um perímetro de segurança, avisar a Unidade e acionar aquilo a que a Polícia chama de Incidente Táctico Policial (ITP). “Neste caso, com particularidades interessantes”, admite o tenente-coronel Bolas ao Observador. É que existem dois tipos de ITP: o normal e o grave.

Este último acontece quando está em causa um ataque terrorista ou uma intervenção que leve à participação de várias polícias — obrigando a secretária geral de Segurança Interna, Helena Fazenda, a assumir o comando da operação, em vez do comandante das forças no local.  “Mas, neste caso, o BdP funciona como uma ilha, não pertence ao Comando Territorial de Lisboa, porque todo o efetivo que lá presta serviço é da Unidade de Intervenção”, explica.

Para mais, na série espanhola umas das reféns é filha de um diplomata o que, a acontecer em Portugal, obrigaria à intervenção do Ministério dos Negócios Estrangeiros. “Considerando que é uma instalação crítica do Estado, estou em crer que o Governo teria de se envolver diretamente. Creio que se a secretária-geral não quisesse o Comando, teria de pelo menos assumir o controlo da operação”, considera o oficial. O que até podia ser feito a partir do seu gabinete em Lisboa.

Atiradores especiais da Unidade de Intervenção da GNR

Para o local seriam chamadas as várias valências da Unidade de Intervenção, como o Grupo de Intervenção de Operações Especiais, onde se incluem os negociadores e os especialistas em intelligence, o Grupo de Inativação de Engenhos Explosivos e até o Grupo de Intervenção Cinotécnica da Guarda (com cães polícias). Estes militares, que estão aquartelados na Pontinha, têm neste momento uma prontidão de zero minutos, ou seja, estão dentro das viaturas com os carros prontos a sair desde o momento em que exista um telefonema para o comandante. É assim desde os ataques em Paris, em que os países da União Europeia decidiram mudar os seus planos de alerta e alterar a prontidão de 30 minutos para zero.

Ainda assim, meia hora seria o tempo necessário para chegarem ao Carregado. “Num caso destes não me parece que a celeridade inicial seja muito relevante, porque o objeto do crime neste caso, pela frieza com que o mesmo foi planeado, não me parece que seja de fazer vítimas. Isso pode acontecer à posteriori se se enervarem”, considera o tenente-coronel Bolas. “Temos um protocolo de emprego de forças a aplicar face à tipologia do incidente. De acordo com o número de reféns, de assaltantes e com as armas usadas parece-me estarmos num tipo de incidente n.º5, o mais grave”, refere.

O plano de coordenação das forças e serviços de segurança num caso destes prevê que no posto de comando participem outras polícias. O oficial explica que Helena Fazenda poderia mandar chamar alguém do Serviço de Informações e Segurança ou mesmo da Força Aérea, caso fosse necessário, por exemplo, um helicóptero munido de câmaras para tentar perceber algo mais do assalto. Já a PJ normalmente está sempre presente num ITP, porque depois de terminado são eles que têm a competência para investigar este tipo de crimes.

O trabalho destas forças também poderá ser essencial para descobrir a identidade dos agressores e negociar com eles. Em “A Casa de Papel”, durante uma discussão entre Tóquio e Rio, uma refém acaba por fazer um vídeo do interior do local do crime que vai parar à mão da polícia. O vídeo permite identificar um dos assaltantes, Rio (especialista em programação e responsável pela inativação dos sistemas de segurança eletrónicos da Casa de Papel). Segue-se depois a identificação de Tóquio.

E a negociação?

Depois de avaliado o grau de ameaça, deve estabelecer-se a “ligação ao outro lado”, como explicou uma fonte policial ao Observador. E o incidente táctico policial, em teoria, desenvolve-se de acordo com vários fatores. Há reféns? Na ficção há funcionários e uma turma de jovens em visita de estudo. No Carregado trabalham cerca de 200 funcionários, mas não conseguimos saber se são permitidas visitas de estudo, uma vez que o Banco de Portugal não quis comentar nem responder às questões colocadas. As portas já chegaram a abrir-se, por exemplo, a jornalistas que tiveram direito a visitas guiadas e possibilidade de tirar fotografias.

É importante para as autoridades perceber se há vítimas e, sobretudo, perceber o que os assaltantes querem. E isso é trabalho para os negociadores.

A negociação é sempre feita por um negociador escolhido pelo seu perfil ou pelo perfil dos assaltantes. Em a “Casa de Papel” este trabalho é atribuído a “Raquel Murillo”, uma polícia que dizem ter o perfil ideal para o trabalho, mas que enfrenta alguns problemas pessoais. (Acaba de acusar o ex-marido, também ele polícia, de violência doméstica e o tribunal decreta uma ordem de afastamento da filha que têm em comum). Por vezes, os negociadores têm de recorrer a intérpretes e têm o trabalho mais dificultado.

A identificação dos suspeitos é um elemento importante para a negociação. “Descobrir a identidade das pessoas para perceber fragilidades, para criar laços, é importante, mas pode ter outro efeito”, avisa o oficial da GNR. No caso de um local tão fortemente vigiado, as autoridades iriam procurar ligações com funcionários que pudessem ser cúmplices.

Na série a polícia espanhola faz um vídeo com os pais de Rio a apelarem que ele se entregue e mostra-o. “Por vezes usamos intermediários, que podem ser importantes, um filho, a mulher, a mãe, que aparecem para desestabilizar emocionalmente. Quando eles percebem que já os identificámos deixam de ser uma coisa cinzenta. Conseguir sair do local e não ser descoberto dissipou-se. Isso pode gerar um sentimento de raiva e pode levar a suicídio ou homicídio.Outras vezes resulta muito bem, porque desestabiliza ao ponto de haver um convencimento da entrega”, explica o oficial da GNR.

Segundo a experiência do tenente-coronel Bolas, normalmente nos incidentes que envolvem armas de fogo, os suspeitos entregam-se ao fim de um dia e de uma noite de negociações. Mas já houve situações em que tal não aconteceu e que a Guarda teve que intervir, como a ocorrida no Pinhal Novo, em 2013, que acabou na morte do suspeito e de um militar da GNR.

As exigências dos assaltantes também fazem parte da vida real. Na série, para ganhar tempo, o “Professor” pede um barco que tinha sido apreendido com um carregamento de cocaína pelas autoridades. Por cá, se acontecesse no Carregado, a GNR admite que teria que dizer que não a certos pedidos. “As exigências são uma moeda de troca. São consideradas porque servem de moeda de troca ou ponte de entendimento. Devem ser atendidas na medida do possível, mas às vezes são negadas. São estabelecidas regras”, diz. Na série, os polícias fornecem comida e medicamentos sem qualquer discussão. “Porque ao nível biológico, se as pessoas passam fome ou sede, os seus níveis de ansiedade vão subir e vão ficar mais agressivas. Se comerem vai haver um relaxamento muscular e vai ser melhor para comunicar”, explica. Por vezes até existem pausas na negociação. As autoridades chegam a permitir que os suspeitos durmam. “Muitos deles acabam por se alcoolizar e o problema resolve-se de manhã quando passou a embriaguez”, diz.

A secretária geral de Segurança Interna, Helena Fazenda

Quando se decide intervir?

A resposta, na boca do tenente-coronel Bolas, não é simples. “Há várias questões, não há uma resposta linear. Mas existem orientações”, explica. Mais uma vez, usando o exemplo do Pinhal Novo, o oficial lembra que os “homens não disparam só à ordem, porque se aplica o princípio geral da legítima defesa”. Ou seja, se um atirador especial vê um suspeito com dois reféns que dispara sobre um deles e se prepara para atirar sobre o outro, então o atirador pode disparar.

“No Pinhal Novo, tínhamos no interior um militar nosso, que estava gravemente ferido e a esvair-se em sangue e que segundo o INEM ou atuávamos depressa ou ele morria. E foi esse perigo para a vida que determinou a entrada”, recorda.

Já nos casos de suicídio, em que os visados estão sozinhos, “negociamos até à exaustão, até ele se cansar”. Mas se houvesse um assalto à “Casa das Notas” no Carregado seria diferente. “Numa situação destas havia repercussões internacionais. Entraria aqui em questão a exposição em termos dos media ao nível internacional. Expõe o país e as suas fragilidades. Intervir ou não, em termos técnicos pode ser vantajoso…  Mas enquanto houver diálogo há sempre a possibilidade de convencimento da desistência”, considera. Na série, também a mediatização do caso é abordada. As televisões estão sempre em cima do acontecimento. E, a certa altura, a negociadora, Raquel, questiona mesmo como os jornalistas conseguem tanta informação.

Para a GNR, o desfecho de um caso destes “ficaria muito dependente da forma como o discurso da negociação decorreria”. A ideia era perceber se “a GNR estava a perder tempo e a deixar os suspeitos organizarem-se”. Na série, os assaltantes querem tempo precisamente porque também estão a tentar cavar um túnel para fugir.

Tendo em conta que é percetível que os suspeitos não querem ferir alguém e que os ferimentos causados se deveram a vicissitudes ou acidentes por se terem enervado, o tenente-coronel considera que, num caso semelhante em território português, que a secretária geral de Segurança Interna teria que propor ao Primeiro Ministro uma solução: dar luz verde para os militares entrarem na fábrica do dinheiro.

O facto de suspeitos e vítimas estarem vestidos da mesma forma poderá parecer uma forma de complicar o cenário, mas a GNR considera que, numa intervenção, a forma como estão vestidos não faria diferença. “Nenhum agressor ou vítima é libertado até serem feitas as identificações. O facto de estarem vestidos de igual só serve para não termos uma identificação imediata, mas na verdade vai materializar-se quando ela aponta uma arma ou dispara. Supõe-se que uma vítima não aponte uma arma à polícia e que não constitua ameaça”, diz.

Uma fonte da PSP recordou ao Observador o assalto ao BES de Campolide, em Lisboa, que agitou o verão de 2008. Neste caso, eram dois os assaltantes que irromperam na agência e que fizeram reféns funcionários e clientes. Foram longas horas de negociação até que os dois homens deixaram sair os clientes, mantendo os gerentes no interior da dependência bancária. A PSP acabou, horas depois, por estacionar o carro que os assaltantes exigiam à porta do banco. Mas mal os dois se aproximaram da porta, os snipers (atiradores especiais da Unidade Especial de Polícia) abriram fogo. Um dos assaltantes morreu no local, o outro foi julgado e condenado a 11 anos de prisão. Foi a primeira vez que um atirador especial da PSP fez uma vítima mortal para salvar reféns.

No verão de 2008, dois assaltantes entraram no BES de Campolide e fizeram reféns

“Do ponto de vista psicológico era completamente diferente. Eles não eram assaltantes preparados como os da série, estavam nervosos, cansados e isso também é tido em conta ao longo da operação”, explicou a fonte, que esteve no caso do BES e que agora acompanha a série. “É um pouco irreal. Seria impossível deixar os assaltantes a produzir dinheiro lá dentro. Nem que cortássemos a luz e a água, teríamos que impedir que o fizessem”, disse. No caso do BES, foi o diretor nacional da PSP quem decidiu atirar. Informou o então ministro da Administração Interna, Rui Pereira, e ele disse “para fazer o que fosse necessário e adequado”.

Se os assaltantes produzem dinheiro, mas não roubam, qual é o crime?

A ideia dos nove assaltantes da série é sair sem roubar dinheiro, por isso a ideia é produzi-lo. A acontecer em Portugal, ainda assim os suspeitos incorriam num crime de contrafação de moeda, punível entre os três e os 12 anos. Na série, apesar de não quererem fazer feridos, os assaltantes acabam por ter alguns percalços, o que os pode levar a incorrer em crimes de tentativa de homicídio (o homicídio simples é punível com uma pena entre os 8 e os 16 anos), tanto de um polícia logo no início do assalto, como de reféns. Em causa podem estar ainda crimes de ofensas corporais graves, de posse de arma proibida e de posse ilegal de arma e, até, de associação criminosa e sequestro de mais de duas dezenas de reféns. Em cúmulo jurídico, a pena a aplicar a um destes assaltantes (todos eles têm antecedentes criminais) podia atingir facilmente a pena máxima de cadeia em Portugal, que é de 25 anos.

Texto de Carolina Branco e Sónia Simões, ilustração de Maria Gralheiro.