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sexta-feira, 6 de abril de 2018

Polícia espanhola desmantela rede de tráfico de enguias-de-vidro com ramificações em Portugal

6/4/2018, 17:38

A rede de tráfico exportava ilegalmente enguias-de-vidro para a Ásia, que era dirigida por cidadãos chineses em Espanha e tinha ramificações em Portugal. Polícia apreendeu mais de cinco mil quilos.

PAULO NOVAIS/LUSA

Autor
  • Agência Lusa
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A polícia espanhola desmantelou esta sexta-feira uma rede que exportava ilegalmente enguias-de-vidro para a Ásia, que era dirigida por cidadãos chineses em Espanha e tinha ramificações em Portugal, onde a organização se queria também instalar. Numa operação da Guardia Civil (correspondente à GNR portuguesa) realizada hoje foram detidas dez pessoas — quatro de nacionalidade chinesa, três espanhola e três marroquina — e feitas buscas em edifícios nas regiões espanholas das Astúrias e Cádiz, onde foram apreendidas 364 embalagens prontas para transportar para a China mais de 5.000 quilos de enguias-de-vidro.

Este pequeno animal, que também é conhecido pelo nome de enguia-bebé ou meixão (norte de Portugal), tem cerca de oito centímetros de comprimento e calcula-se que o lucro por cada quilo exportado pode ir até os 7.500 euros. O anúncio do desmantelamento da rede foi feito pela Guardia Civil, numa conferência de imprensa esta manhã onde, segundo a agência espanhola EFE, estavam também representantes da Europol (polícia europeia), que coordenou a operação, e da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) de Portugal.

Segundo foi explicado, a intervenção da polícia espanhola obrigou o grupo a montar uma base provisória no Porto, tendo vários envios sido intercetados nos aeroportos desta cidade e ainda de Lisboa e de Faro. As enguias são muito apreciadas na Ásia e em particular na China, Hong-Kong e Coreia do Sul.

Depois de operações realizadas pela polícia portuguesa, a rede transferiu novamente a sua atividade de preparação dos envios para Algeciras (sul de Espanha), tendo a polícia espanhola decidido intervir depois da apreensão de 65 quilos de enguias-de-vidro em Tarifa e de 129 quilos que estavam a ser transferido para Marrocos num camião.

Segundo dados de várias entidades, saem por ano de forma ilegal da Europa cerca de 100 toneladas de enguias-de-vidro. A EFE também refere que o inspetor da ASAE, Hugo Alexandre Matos, fez uma exposição sobre as ações realizadas em Portugal, onde esta temporada já foram apreendidas cerca de uma tonelada destas enguias e detidas 28 pessoas.

Língua Portuguesa: há três palavras portuguesas impossíveis de traduzir

Novo artigo em VortexMag


por admin

Um novo estudo decidiu tentar traduzir as palavras sem tradução – as palavras que, em todo o mundo, não têm tradução literal em mais nenhuma língua. Três são portuguesas e constam na lista. A mais óbvia é saudade, mas existem mais duas. O estudo foi elaborado por Tim Lomas, da Universidade de Londres, e conta já com um projecto pessoal, o Positive Lexicography Project. O objectivo é tornar familiar aquelas palavras que só são entendidas num certo país e que não têm tradução literal em nenhuma outra língua, mas que transmitem um sentimento específico que, segundo conta a BBC, é negligenciado pelas outras línguas.

O Projecto de Lomas tentou então encontrar “sentimentos” não traduzíveis, por todo o mundo, na esperança de conseguir incorporá-los noutras culturas, que não as de origem. Para encontrar as palavras ‘intraduzíveis’, Lomas procurou na literatura académica e falou com as pessoas do país de origem das palavras que pretendia descobrir. Os primeiros resultados do seu projecto foram lançadas num jornal de psicologia, no ano passado. E foi nessa pesquisa que descobriu três palavras portuguesas.

1. Saudade

Esta palavra é, há muito, catalogada como sendo ‘só portuguesa’. Segundo a tradução feita, esta palavra significa um desejo melancólico ou nostálgico por uma pessoa, lugar ou coisas, que estão longe, quer no espaço, quer no tempo. Uma vaga de nostalgia que sonha, por vezes, com fenómenos que podem mesmo nem existir. Assim é a explicação da saudade, para Lomas. Para ilustrar a palavra ‘saudade’, o artigo da BBC fala da fadista Cristina Branco e das suas músicas com o tema do que é sentir-se saudoso a ponto de se morrer de saudade. Tal como tantos outros artistas o fazem.

2. Desbundar

A expressão é explicada, segundo a BBC, como sendo a forma de perder as inibições e, simplesmente, entrar em modo de diversão.

3. Desenrascanço

Toda a gente sabe o que é ‘desenrascar-se’ de algo. Pois bem, segundo conta a BBC, é o ato de se desembaraçar engenhosamente de uma situação problemática. Falta é a expressão exacta para traduzir.

Além das palavras portuguesas, existem várias outras. Por acaso já se sentiu um pouco mbuki-mvuki? Ou talvez já tenha sentido um pouco kilig, ou até mesmo uitwaaien. O que lhe parece? Confuso? Pois bem, veja alguns exemplos de palavras (e sentimentos) que provavelmente nem sabia que existiam:

Mbuki-mvuki – Esta palavra é do dialecto africano Bantu e significa algo como ter uma vontade irresistível de tirar a roupa enquanto se dança.

Kilig – Termo filipino e tem um significado bastante específico: a sensação nervosa e vibrante que sentimos quando vamos conversar com alguém que gostamos.

Uitwaaien – Esta palavra faz juz ao efeito revitalizante de fazer uma caminhada ao vento e é holandesa.

Shinrin-yoku – Esta palavra é japonesa e significa algo como a sensação relaxante que se tem através de um banho na floresta (literalmente ou de forma figurativa).

Yuan bei – Palavra chinesa que simboliza um sentido de realização completa e perfeita.

Sehnsucht – Palavra alemã que, se traduzirmos de forma literal, fica algo como “desejos de vida”, ou seja, é uma espécie de desejo intenso por estados de espírito alternativos e de realizações pessoais, mesmo que sejam inalcançáveis.

Para descobrir mais exemplos de palavras cheias de significado em mais línguas, mas quase impossíveis de traduzir, visite o estudo aqui.

Fonte: observador.pt

Sérgio Moro: a história do juiz que quer prender Lula e citava “Breaking Bad” nas aulas de Direito Penal

Sérgio Moro: a história do juiz que quer prender Lula e citava “Breaking Bad” nas aulas de Direito Penal

6/4/2018, 16:54160

Sérgio Moro tem 45 anos, é casado com uma advogada e tem dois filhos. Estudou num colégio de freiras, foi professor e citava "Breaking Bad" nas aulas. Agora, é o juiz que quer prender Lula da Silva.

Sérgio Moro é o filho mais novo de dois professores universitários

AFP/Getty Images

Autor
  • Mariana Fernandes
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Sérgio Fernando Moro é o nome do momento no Brasil. Na verdade, Sérgio Fernando Moro é o nome do momento há quatro anos.Já foi “Brasileiro do Ano” em 2014 para a revista Época e a Bloomberg considera-o o 10.º líder mais influente do mundo. Filho de dois professores universitários, passava despercebido nas aulas, mas as notas saltavam à vista nas pautas. Sérgio Moro é juiz federal da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba e o principal responsável pela Operação Lava Jato. Esta semana, ordenou a prisão de Lula da Silva.

O aluno de mérito que preferia ginástica a futebol

Nasceu a 1 de agosto de 1972 – dia em que o pai, Dalton, comemorava o 29.º aniversário. A relação com o pai foi sempre próxima e com uma boa dose de idolatração, quiçá agudizada por partilharem o dia em que nasceram. Dalton Áureo Moro era professor de geografia. A mulher, Odete Starki Moro, lecionava português. Sérgio é o mais novo dos dois filhos do casal.

O juiz federal foi criado numa família de classe média, em plena ditadura militar, mas gozava de certos privilégios de que o comum brasileiro não desfrutava. Maringá, a cidade paranaense onde nasceu, foi considerada a mais limpa e segura do Brasil e, em certa altura, a mais arborizada do mundo. O pai de Sérgio Moro era sócio e frequentava o Clube de Campo da cidade: pai e filho iam juntos de carro para o clube, onde Dalton se juntava a amigos para jogos de futebol. O Diário do Centro do Mundo conta que, ao longo dos anos, ninguém viu Sérgio num campo de futebol. No país de Pelé, Romário e tantos outros, o juiz preferiu sempre a ginástica e o ciclismo.

Embora fossem ambos professores numa escola pública, Dalton e Odete confiaram a educação de Sérgio ao Colégio de Santa Cruz, uma instituição privada e católica, onde o mais novo dos Moro recebeu uma educação rígida por parte de duas freiras carmelitas espanholas – ambas canonizadas. Desde os 6 anos e pelos dez seguintes, Sérgio Moro estudou numa escola onde se segue o lema “o caminho é a perfeição” e em casa tinha dois professores universitários enquanto pais. A missão de corrigir o que estava errado foi-lhe enraizada desde bastante novo.

No colégio de freiras, fez três grandes amigos que se mantêm até aos dias de hoje: Lafayete, Luis e Eduardo. Nenhum deles fala sobre Sérgio.O superjuiz que controla os destinos da Operação Lava Jato pediu aos amigos – bem como à família e aos colegas de trabalho – que nada revelem sobre a sua vida fora dos tribunais. E os três amigos cumprem. O máximo que contam é que Sérgio Moro, hoje com 45 anos, é adepto do Grémio Maringá, das divisões estatais do futebol brasileiro. O juiz federal recusa a grande maioria dos pedidos de entrevistas e, segundo a Gazeta do Povo, os assessores até já se riem dos jornalistas que as pedem. A mãe, Odete, conta que “tem uns amigos na Folha de S. Paulo, na Veja e na Globo a quem dá entrevistas quando quer”.

Em 1989, saiu do Colégio de Santa Cruz e continuou os estudos no Colégio Gastão Vidigal. No último ano antes de entrar na universidade, em dez disciplinas, a nota mais baixa que teve foi um 8,6 (no Brasil, a classificação faz-se de 0 a 10). Entrou em Direito na Universidade Estadual de Maringá e pertenceu a uma turma de 40 alunos de onde saíram seis juízes. Manteve-se discreto, de poucas palavras, raramente frequentava festas e dedicava todo o tempo livre aos estudos. A primeira festa a que foi coincidiu com o primeiro dia em que andou de autocarro: a amiga Rita Agioletto, que o tinha convidado para a dita festa, conta que Sérgio chegou em êxtase, contando a toda a gente que tinha acabado de andar de transportes públicos pela primeira vez.

Além deste dia, o desconhecimento do agora juiz face à pobreza que se vivia no resto do país foi visível quando tinha já 29 anos. Nessa altura, propôs-se a escrever um ensaio jurídico intitulado “Quem são os pobres”, onde revelou a dificuldade que sentiu em descrever quem era e como vivia a classe mais baixa do Brasil.

O professor que citava “Breaking Bad” e o juiz que é “o espelho do pai”

Estagiou num escritório de advogados durante o curso e em 1995 estava licenciado em Direito. Tornou-se mestre em 2000 e em 2002 concluiu o doutoramento em Direito do Estado. Antes disso, fez um programa de formação de advogados em Harvard e assistiu a uma iniciativa sobre lavagem de dinheiro promovida pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Em 1996, tornou-se juiz federal no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região e começou a dar aulas na Universidade Federal do Paraná — onde citava Walter White, a personagem principal da série “Breaking Bad“, para dar exemplos de conduta ilícita.

Foi em 2003 que começou a dar nas vistas nos julgamentos de colarinho branco. Entre 2003 e 2007, trabalhou no caso Banestado, que resultou na condenação de 97 pessoas; na Operação Farol da Colina, um desdobramento do Banestado, decretou a prisão temporária de 103 suspeitos de evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Em 2012, auxiliou a magistrada do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber no Mensalão: foi convocado por ser especialista em crimes financeiros e no combate à lavagem de dinheiro. Na mesma altura, pediu a dispensa do cargo de professor na Universidade do Paraná.

Em março de 2014, já enquanto juiz federal da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, foi apontado como principal responsável da Operação Lava Jato – considerada a maior investigação contra a corrupção da história do Brasil. Sérgio Moro conduz as operações com distinta rapidez – num país onde considera a justiça “muito morosa” -, um traço de personalidade que, de acordo com um antigo amigo da família, o juiz herdou do pai.

“O Serginho é o espelho do pai. Ele não gostava de inovar. Era metódico e legalista, seguia os regulamentos. A gente ia para um congresso e ele levava provas para corrigir no ônibus [autocarro]. Ninguém mais fazia isto, só o Moro era tão exigente consigo mesmo. O Dalton passou isto ao Serginho. Passou conceitos de moral, de bons costumes. Serginho é Dalton Moro no passado”, conta ao Diário do Centro do Mundo Elpídio Serra, ex-aluno e mais tarde amigo do pai de Sérgio Moro.

A relação próxima entre Sérgio e Dalton — que morreu em 2005, vítima de cancro — é motivo para a esquerda brasileira no geral e o Partido dos Trabalhadores em particular acusarem o superjuizde ter uma agenda própria no que toca à Operação Lava Jato. Desde 2014, os rumores de que Moro é próximo do Partido da Social Democracia Brasileira multiplicam-se e a investigação judicial tornou-se uma luta esquerda-direita que tem o magistrado como principal eixo.

Amigos, família e colegas de profissão recusam qualquer associação partidária de Sérgio Moro – bem como do pai, Dalton. A suspeição tem origem em 1990 e é Basílio Baccarin, amigo do pai do juiz, que desmistifica a história. Naquele ano, Baccarin associou-se à fundação do Partido da Social Democracia Brasileira em Maringá e acabou por ser eleito vereador. Dalton Moro, seu colega e amigo, apoiou a campanha. “Moro me apoiou, como amigo. Esteve sempre comigo durante a minha campanha e só me dizia que eu deveria ser menos radical”, explicou Basílio Baccarin. De acordo com o antigo professor, este foi o único contacto de Dalton Moro com partidos políticos.

A família e o medo que a Lava Jato trouxe

A condução da Operação Lava Jato levou Sérgio Moro a ter preocupações acrescidas com a própria segurança e a da família. Casado com a advogada Rosângela Wolff de Quadros e com dois filhos, tomou as medidas necessárias para proteger a privacidade de que não abdica. Deixou de ir trabalhar de bicicleta e agora fá-lo de carro blindado e acompanhado por seguranças. Deu indicações explícitas à família e aos amigos para que nada contassem sobre ele e pediu-lhes que apagassem todas as fotografias que pudessem ter nas redes sociais onde aparecesse. Para a direita, é um ídolo. Para a esquerda, o líder do golpe.

As repercussões das suas decisões – principalmente da condenação de Lula da Silva – foram difíceis de imaginar. Ameaças de morte tornaram-se o dia-a-dia de um homem que sempre gostou de passar despercebido. O Diário do Centro do Mundo conta um episódio caricato: o porteiro do prédio onde ainda vive Odete Moro, a mãe do juiz, é um fã incondicional do magistrado. Sérgio entrava no edifício pelas traseiras e Edson, o porteiro, só o via através da câmara de vigilância do elevador.

Um dia, decidiu pedir à mãe do juiz que o ajudasse a conseguir uma fotografia com Sérgio. O dia chegou, ela chamou-o, o porteiro subiu e conseguiu a tão aguardada selfie. Na semana seguinte, foi abordado por dois agentes federais que lhe pediram para apagar a fotografia. As ameaças de morte tinham-se tornado mais frequentes e era perigosa a existência de fotografias de Sérgio Moro perdidas no telemóvel de um qualquer porteiro.

Em julho de 2017, o juiz Sérgio Moro condenou Lula da Silva a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro – pena que foi entretanto agravada para 12 anos e um mês. Esta semana, em abril de 2018, após rejeição do habeascorpus preventivo pelo Supremo Tribunal Federal, enviou um ofício a autorizar a prisão do ex-presidente do Brasil. O superjuiz é a cara da luta contra a corrupção na política brasileira.

CRISTAS E A AUSTERIDADE

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 06/04/2018)

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Há mais de dois anos que Assunção Cristas insiste que a austeridade não acabou, como se o fato de haver rigor orçamental, austeridade ou o que quer que seja pudesse justificar as canalhices que aprovou enquanto membro de um governo de que insiste ser a derradeira defensora. Esta birrinha idiota está a levá-la de forma sistemática ao desespero, ao ponto de já fazer o papel de imbecil.

Para a líder do CDS qualquer aumento da receita fiscal significa aumento da carga fiscal e isso prova que há agora mais austeridade. É um argumento que está entre o desonesto e o imbecil. Quando o seu governo tentou aumentar a TSU dos trabalhadores, reduzindo a dos patrões, pretendia reduzir os salários de todos os trabalhadores portugueses sem aumentar as receitas do Estado, neste caso da Segurança Social.

Quando decidiu reduzir o rendimento de todos os trabalhadores com um aumento brutal do IRS, através da sobretaxa, para financiar uma redução do IRC, medida com a qual Vítor Gaspar tentou substituir o golpe da TSU, não se pretendia um aumento da receita fiscal.

São dois exemplos de medidas brutais de austeridade que são neutras em relação à evolução das receitas fiscais. Esse fato mostra como a austeridade que deve ser a regra normal de governar, pode ser usada como instrumento político de um governo sem escrúpulos, que a coberto de uma crise nacional tentou promover uma brutal alteração na distribuição de rendimentos em favor dos mais pobres.

A esquerda cometeu o erro de referir-se a esta política como de austeridade, associando-as ao objetivo de redução do défice orçamental. Criou a ideia de que menos défice significa mais austeridade e que os défices são progressistas enquanto o rigor ou austeridade orçamental é um atributo das políticas de direita. Tudo isto é falso.

Na hora de distribuir o que conseguia tirar aos trabalhadores e pensionistas o governo da Assunção não era rigoroso, não foi rigoroso na forma como injetou dinheiro nos bancos, não foi rigoroso na forma como subsidiou os colégios privados, não foi rigoroso na pressa em descer o IRS a qualquer custo. Não admira que o governo da Crista tenha falhado sistematicamente nas previsões orçamentais, essa não era a sua preocupação.

É natural que agora o rigor do Estado tenha impacto nas contas públicas, ao contrário do que sucedeu com o governo da Cristas o aumento das receitas fiscais ou o que se poupa não se destina a financiar colégios privados ou a enriquecer os mais ricos. É também natural que com o crescimento económico e o aumento do consumo aumentem as receitas fiscais.

Há um par de meses a Assunção Cristas defendia que o crescimento se devia às exportações e não ao consumo, apontando isso como um falhanço da política do governo. Agora que o aumento do consumo se traduz num aumento das receitas fiscais, por via dos impostos sobre o consumo, Assunção Cristas em vez de aceitar que se enganou arma-se em burra e acusa o governo de promover mais austeridade.

Somos todos Ronaldo

por estatuadesal

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 06/04/2018)

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O golo de pontapé de bicicleta de Cristiano Ronaldo no triunfo (3-0) do Real Madrid sobre a Juventus, nos quartos de final da Liga dos Campeões, tornou-se em poucos minutos, até graficamente, um ícone do futebol mundial. É um momento histórico. Afinal, Portugal tem meios aéreos que ninguém supunha. O golo foi de tal modo extraordinário que já há quem chame a Cristiano Ronaldo o Centeno da UEFA.

Confesso que ainda esperei pelo final do jogo e pelas análises "antidoping" porque estamos habituados a que sempre que alguém consegue um grande feito de bicicleta é porque estava dopado.

Como não tenho memória curta, não considero que este tenha sido o maior momento na carreira de Ronaldo, não nos podemos esquecer do que ele fez durante o último Europeu de Futebol. Aquela atitude, do nosso capitão, de atirar o microfone da CMTV para o lago foi uma obra-prima. Na altura, pensei: mesmo que CR não ganhe este ano a Bola de Ouro (ganhou), o Pulitzer do jornalismo já não lhe escapa.

Para mim, Cristiano é a verdadeira biblioteca de livros de auto-ajuda. Vale por mil palestras de empreendedorismo e motivação. Há quem viva da teoria do "bate punho" e há os que a praticam.

É muito estranha a relação de alguns portugueses com o Cristiano. Convivem mal com o sucesso do rapaz. Muitas vezes, pergunto-me: será que gostam mais do Messi porque julgam que ele é do Entroncamento? Há uma má vontade para com Ronaldo de alguns portugueses. Lembro-me de que quando CR andava com a Irina, nos programas de bola chegaram ao ponto de dizer que a miúda não era nada de especial. Só faltou dizer que era um bocado gorda e tinha mau hálito.

Uma das frases que mais vezes oiço é: "Eu não gosto do Ronaldo porque ele é um bocado bimbo" - e normalmente isto é dito por um indivíduo com calças de corsário, camisola de alças, óculos escuros no topo da cabeça e com "headphones" dourados nos ouvidos a ouvir D.A.M.A.

Tenho enorme orgulho no Cristiano, gostava de lhe dar um abraço, mas imagina que o despenteava?! Estava tramado, nunca mais teria dinheiro que chegasse para lhe pagar um penteado novo.

Já me questionei, independentemente do facto de ser português e, mais importante, sportinguista, qual é o melhor jogador do mundo. Cristiano ou Messi? A minha resposta é simples. A ter de viver num mundo em que só um deles exista, claramente optava por ter estado vivo para ver jogar Ronaldo. Por tudo o que significa e que vai muito além do futebol e da possibilidade de ver fotos das namoradas. Por mim, está resolvido o problema do dinheiro para as artes, vai tudo para o Cristiano.


TOP-5

Bicicleta

1. Fórmula americana de probabilidades diz que o Benfica tem o penta à vista - aposto que o Putin está metido nisto.
2. Garraiada sai definitivamente do programa da Queima das Fitas de Coimbra - é substituída por uma largada de Dux Veteranorum.
3. Secretário de Estado da Cultura diz: "Este é um momento sofrido para o sector artístico." E que António Costa sabia de tudo - António Costa é Harvey Weinstein dos artistas portugueses: confiaram nele, até foram apoiá-lo ao hotel e acabaram por ser... papados.
4. O Ministério Públicoinformou que arquivou, na passada terça-feira, o inquérito contra Dias Loureiro e José de Oliveira e Costa relacionado com o caso BPN - não dá para prendê-los no Arquivo do Ministério Público? Às vezes, tenho a sensação de que há mais bandidos arquivados do que presos.
5. Cientistas britânicos não conseguem provar que veneno é russo - aposto que são os mesmos do caso Maddie. Lá vamos ter de expulsar cientistas britânicos.

em louvor de luiz inácio «lula» da silva

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por rui a.

lulalula

No dia da mais do que provável prisão de Lula, não duvidando, por um segundo, do seu carácter venal, da justeza e necessidade da sentença, como também tendo a certeza – porque vi – da máquina de corrupção que foi o PT durante os seus anos de governo, e, por fim, não descrendo do rigor processual com que ele foi tratado, quero fazer aqui um louvor a Luís Inácio «Lula» da Silva, por um conjunto de motivos que passo a explicar.

O primeiro de todos foi o facto de Lula da Silva, eleito presidente da República e empossado em 2003, ter feito no seu primeiro governo o exacto contrário daquilo que se esperava dele: um governo moderado, financeira e economicamente conservador, que respeitou o Plano Real e contribuiu, assim, para refrear a inflação. Para o assegurar teve, infelizmente durante pouco tempo, um excelente ministro das finanças chamado Antonio Palocci, que ele colocou nesse lugar. Foi graças a ter mantido a política monetária do país e não propriamente às suas medidas propagandísticas, que a economia cresceu e que o Brasil se desenvolveu por alguns anos. É pouco? Bom, num país da América Latina, naquela altura e com um partido vindo da esquerda radical, o mais provável era ter desfeito tudo o que vinha de trás e ter começado a «construir um país novo». Veja-se, a contra-exemplo, o que foi feito, em situação semelhante, num pequeno país europeu nos últimos três anos…

O segundo facto foi Lula da Silva ter fechado o acesso ao seu primeiro governo da extrema-esquerda, que estava fortemente implantada no seu partido. Inclusivamente, expulsou do PT alguns membros mais radicais, como sucedeu com a célebre Heloísa Helena (que deve estar hoje a rebolar de gozo e a repetir «eu não dizia?»…). É coisa fácil? Num país da América Latina, naquela altura e num partido como o PT? Talvez. Mas tenha-se, mais uma vez a contra-exemplo, o que em matéria parecida foi feito num pequeno país europeu nos últimos três anos…

O terceiro motivo de louvor prende-se com ter conseguido resistir, ao contrário da sua sucessora «presidenta», a intervir na autonomia do Banco Central, tendo nomeado para o garantir um excelente governador, que foi Henrique Meireles, até há dias ministro das finanças de Temer que ajudou a tirar o Brasil do buraco em que se afundava. Também é pouco? Bom, novamente a contra-exemplo, atenda-se às relações entre o governo de um certo pequeno país europeu e o governador do seu Banco Central…

O quarto está em ter exercido o seu primeiro mandato sem complexos ideológicos. Eu mesmo o ouvi, duas ou três vezes, dizendo expressamente que a sua função como presidente da República era «proteger e apoiar o capitalismo [sic] brasileiro». É pouco? Num país da América Latina e num presidente vindo do sindicalismo e líder do PT? Provavelmente. Mas vão lá perguntar aos líderes dos dois partidos da direita do tal pequeno país europeu o que pensam do capitalismo…

Por último, Lula da Silva foi, como chefe do seu país, um incomensurável ladrão, montou uma rede criminosa e, por esses factos, merece ser preso. É certo que, apesar da dimensão gigante da coisa, no Brasil não é nada de novo, nem exclusivo de nenhuma formação política. Isso não o desculpabiliza, nem relativiza a sua culpa. Pelo contrário, agrava-a, porque ele, antes de chegar ao poder, estava mais do que consciente de que o Brasil era assim e prometeu que, com ele, deixaria de o ser. Mas também aqui vale a pena comparar o que se passou, há uns anos, num pequeno país europeu, muito mais polido e civilizado em matéria de corrupção, com alguém que também chegou ao poder para defender os mais pobres e desfavorecidos. E como os defendeu tão bem...

P.S.: Posto isto, apenas para dizer que a prisão de Lula é necessária, justa e higiénica, embora este ambiente de histerismo de turba que, por causa do facto, lá se vive, seja altamente prejudicial ao Brasil, porque esta prisão pouco – ou nada – resolverá. De facto, acreditar que a detenção do líder do PT porá termo ao grave problema endémico da gigantesca corrupção brasileira é meio caminho para que tudo fique na mesma, ou seja, é meio caminho andado para a desgraça. De facto, os «servidores públicos» brasileiros são genericamente corruptos, e essa corrupção ataca o governo federal, os governos estaduais e os municípios (onde existem muitas centenas de milhares de gatunos), e é frequentada por gente de todos, mas de todos sem excepção, partidos políticos. Desse modo, sem uma mudança profunda do paradigma político, que terá que passar necessariamente pela refundação do federalismo, por uma nova Constituição, pelo reforço da segurança pública, por reformas políticas gigantes – como a da segurança social e a tributária, e, também, claro, por um massivo e brutal ataque à corrupção, o Brasil não terá solução. E, mesmo assim, duvido que haja «uma» solução para problemas tão graves quanto aqueles que se vivem nesse extraordinário país. Antes houvesse, que certamente já alguém a teria encontrado.

Lula: e agora Brasil?

Seis meses antes das eleições, ninguém pode ousar prever onde o Brasil estará em Outubro. A possível  prisão  de Inácio Lula da Silva agrava ainda mais a incerteza e os ânimos brasileiros.

  • 6 Abril, 2018
  • Costa Guimarães, em Braga

  • A polarização que domina a sociedade brasileira desde a reeleição de Dilma Rousseff atingiu um novo patamar nesta quinta-feira (05/04), com o Supremo Tribunal Federal (STF), na prática, colocar Luiz Inácio Lula da Silva à porta da prisão.

Lula é o maior nome da política brasileira nas últimas décadas, vive mais um capítulo do seu inferno pessoal, dentro de uma trajectória de glória e pesadelo sem paralelos na história brasileira.

Alexandre Schossler  lembra que, à parte a questão de saber se ele deve ir ou não para a cadeia (as evidências apontam para uma relação promíscua com a construtora Odebrecht), o que preocupa é que efeito essa decisão terá sobre a sociedade brasileira.

Esta jornalista da DW, assegura que, a menos de seis meses das eleições gerais, o Brasil caminha para o caos. Por três razões que “copiamos”.

Primeiro, Lula da Silva é o primeiro nas sondagens,  deixando frustrados e revoltados os seguidores, que vêem o “seu” presidente como um prisioneiro político, como Carles Puidgemont, na Catalunha. A situação adiciona um elemento ao clima de intolerância entre apoiantes e críticos, que resvalará para a violência, como mostrou o ataque a tiros contra a caravana do ex-presidente.

Em segundo, os políticos e partidos tradicionais estão descreditados entre os eleitores por causa das acusações de corrupção levantadas na Operação Lava Jato.

Em terceiro, a violência nas grandes cidades alcançou um novo patamar com a intervenção federal no Rio de Janeiro. O assassinato da ativista e vereadora Marielle Franco elevou a sensação de  impunidade entre a população.

No meio de tudo isso, há quem defenda a ditadura militar que abre portas à eleição de Jair Bolsonaro.

Ninguém ousa prever que Brasil teremos daqui a apenas seis meses, em Outubro.

Após a decisão negativa na madrugada de 05/04 do Supremo Tribunal Federal (STF) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está a um passo de ser preso.

De vitória em vitória até à derrota final?

Em 1975, Lula foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema e ganhou projecção nacional ao liderar uma série de greves no final da década. Em 1980, foi preso e processado após comandar uma paralisação que durou 41 dias. Lula ficou 31 dias no cárcere do Departamento Estadual de Ordem Política e Social.

Em 10 de fevereiro de 1980, pouco antes de ser preso, Lula ajuda a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) com intelectuais e sindicalistas. Em maio, ao sair do cárcere, é eleito primeiro presidente do partido. O pernambucano ingressa de vez na política: em 1982, concorreu ao governo de São Paulo e, em 1986, foi eleito deputado constituinte.

O PT lança a candidatura de Lula nas primeiras eleições presidenciais diretas após o fim do regime militar. Com a imagem de operário e discurso de esquerda, Lula provoca temor em vários sectores da economia, que se alinharam a Fernando Collor. O sindicalista é derrotado, depois da campanha que envolve acusações de manipulação da imprensa em favor de Collor.

Lula lança, em 1991, o movimento “Fora Collor” em apoio ao impeachment. Em 1994, concorreu à presidência, com Aloizio Mercadante como vice, mas é derrotado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), “pai do Plano Real”.

Em 1998, Lula sofre uma das piores derrotas eleitorais, com vice o ex-governador Leonel Brizola (PDT), um dos seus rivais na eleição de 1989 e com quem disputava a hegemonia na esquerda brasileira. O presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito com 53%.

O eterno candidato do PT assumiu a Presidência em janeiro de 2003, após oito anos de governo do PSDB. Lula foi eleito com 61% dos votos. A vitória foi alcançada após uma intensa campanha, que vendeu uma imagem mais moderada – no slogan “Lulinha paz e amor” – com o objetivo de acalmar os mercados e ampliar o eleitorado do partido.

A economia brasileira volta a crescer com Lula, embalada pela descoberta do Pré-Sal e investimentos em grandes obras de infraestrutura. O crescimento médio do PIB no segundo mandato chegou a 4,6%. O bom momento catapultou a popularidade de Lula, que chegou a 87% no final de 2010.

Os programas sociais lançados, como Minha Casa, Minha Vida e ProUni, contribuíram para a popularidade do presidente. Quase 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza nos oito anos do governo Lula.

Em 2005, Lula foi atingido em cheio pelo escândalo de compra de votos de deputados, o mensalão. Apesar do desgaste, Lula sobreviveu à crise. O ministro José Dirceu, uma das figuras do governo, cai em desgraça. No início, Lula afirmou que assessores o haviam “apunhalado”, mas depois mudou o discurso e disse que o caso era uma invenção da oposição e da imprensa.

Em 2007, logo após ser reeleito com mais de 60% dos votos, Lula começou a preparar o terreno para a sua sucessão. Como sucessora, escolhe a sua chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tecnocrata sem experiência política. Lula promoveu a imagem de Dilma junto dos brasileiros. A estratégia funcionou, e ela foi eleita em 2010.

Em Outubro de 2011, Lula foi diagnosticado com cancro na laringe, sendo submetido a um agressivo tratamento – pela primeira vez desde 1979, aparecia sem a barba.  Lula voltou e uma das grandes vitórias de 2012 foi a de Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo.

Em Março de 2016, Lula é alvo de um mandado pela Operação Lava Jato, que investiga o escândalo de corrupção na Petrobras: um triplex no Guarujá e a relação com construtoras investigadas na Lava Jato.

Lula foi denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, obstrução da Justiça e tráfico de influência, tornando-se réu em cinco processos diferentes. Lula desmentiu as acusações, negou a prática de crimes e disse ser vítima de perseguição política e nega ser proprietário dos imóveis.

Em Maio de 2017, o ex-presidente se apresentou pela primeira vez como réu perante o juiz Sérgio Moro. Lula nega as acusações e alega estar a ser perseguido politicamente. Exigiu provas de ser dono dos imóveis em Guarujá e Atibaia.

O Caso

Lula e sua família tinham desde 2005 direito de compra de um apartamento (não havia uma unidade específica) no condomínio Solaris, um prédio na praia de Astúrias, no Guarujá. A obra do condomínio era da Bancoop.

Em 2009, a cooperativa dos bancários repassou o empreendimento para a empreiteira OAS em razão de dificuldades financeiras.

A OAS reformou um tríplex do condomínio. Lula chegou a visitar esse imóvel, acompanhado do então presidente da OAS, Léo Pinheiro, em meados de 2014.

A existência do tríplex e a possibilidade de o imóvel ser comprado por Lula vieram a público no final de 2014, em reportagem do jornal O Globo.

Em Novembro de 2015, o ex-presidente e sua família desistiram da compra do imóvel no edifício Solaris. Ou seja, o negócio não foi concretizado. (CF. Entenda o caso do apartamento tríplex)

Lula foi condenado em 12 de Julho de 2017. O juiz Sérgio Moro determinou 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Em segunda instância, aumenta a pena para 12 anos e um mês de prisão. É a primeira vez que um ex-presidente é condenado por corrupção no Brasil.

Por 6 votos a 5, os ministros do Supremo Tribunal Federal negaram um pedido de habeas corpus preventivo apresentado pela defesa de Lula para evitar a prisão.

As saídas de Lula

Condenado em Janeiro a 12 anos e 1 mês de prisão, Lula ainda tem várias opções legais para tentar anular a sentença, mas elas são rápidas e sem  garantias de sucesso.

Que pode acontecer? Pode ser preso? Sim. A dúvida é saber quando isso pode ocorrer. Pode ser nas próximas horas ou demorar semanas. O polémico juiz Sérgio Moro, responsável pelos casos na primeira instância, pode decretar a prisão imediata.

Moro, no entanto, pode preferir o esgotamento completo do processo no antes de decidir. O ex-presidente tem possibilidade de recorrer, até a noite do dia 10 de abril. Pelo histórico, esse recurso será negado, mas até lá o ex-presidente pode ganhar alguns dias ou até algumas poucas semanas até o tribunal decidir e caso Moro decida esperar por essa etapa.

Lula pode apresentar novos pedidos de habeas corpus e recorrer aos tribunais superiores para anular a sentença.

Agora, a defesa de Lula pediu um habeas corpus preventivo, para impedir sua prisão iminente após a condenação em 2.ª instância. Caso seja preso, ele pode apresentar novos pedidos de HC, desta vez para ser solto. Os pedidos podem ser apresentados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao STF.

A defesa pode solicitar que Lula da Silva cumpra prisão domiciliar. Recentemente, o STF autorizou que condenados como os ex-deputados Paulo Maluf e Pedro Corrêa cumprissem as penas em casa.

Nestes casos, porém, contaram o estado de saúde dos condenados. Maluf, por exemplo, tem 86 anos e é um inválido. Já Lula, com 72 anos,  declarou nas redes sociais que está esbanjando saúde, fatores que devem dificultar uma argumentação similar à de Maluf.

A defesa conta com opções para tentar anular a pena, são demoradas, têm pouca garantia de sucesso, podendo se arrastar por anos.

Lula pode recorrer da sentença para o STJ e o STF. Mas esses tribunais não discutem as provas do caso, se Lula, por exemplo, recebeu mesmo um tríplex como suborno. Em jogo estão falhas na tramitação ou se o ex-presidente teve algum direito negado. Se os tribunais entenderem que houve falhas, o processo será anulado e Lula ficará solto.

A anulação das sentenças nos tribunais superiores é raríssima: apenas 0,62% dos recursos analisados pelo STJ resultaram em absolvição.

Como ficou claro no julgamento de Lula, há uma nova tendência no STF sobre o cumprimento de pena a partir da segunda instância.

A questão volta em setembro, quando Cármen vai ser substituída na presidência do tribunal por Dias Toffoli, membro da ala do STF que quer rever a regra. Caso isso aconteça, Lula passa apenas alguns meses preso.

Ao ser condenado por um colegiado de desembargadores, Lula cumpre os requisitos para ser enquadrado na Lei da Registo Criminal limpo. Ele pode registar a candidatura – o prazo é 15 de agosto –, mas corre risco de ter o registo invalidado quando a Justiça Eleitoral analisar o assunto.

Uma decisão final vai depender dos ministros Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas até os aliados de Lula admitem que dificilmente a Justiça vai ignorar as regras da Ficha Limpa para validar o registo. Neste caso, Lula poderá pedir uma liminar ao STJ e ao STF para prosseguir com a campanha.

Se o PT não quiser correr o risco de ter os votos dados a Lula nas urnas anulados, tem que substituir o candidato até 15 de setembro.

Há também uma possibilidade insólita: mesmo preso, Lula pode registar sua candidatura e fazer campanha da cadeia. É possível até mesmo que ele possa ganhar a eleição atrás das grades se conseguir levar sua campanha até o dia da eleição. No caso de ele sair vencedor e sua candidatura ser finalmente rejeitada pela Justiça, os seus votos são anulados, e novas eleições tem que ser convocadas.

Sócrates e Relvas reeditados em Madrid

Sócrates e Relvas reeditados em Madrid

06/04/2018 by João Mendes


Fotografia@El BoletinCC.jpg

Sócrates fez cadeiras ao Domingo, Relvas teve equivalências a várias cadeiras da Universidade da Vida, muito popular no Facebook, e Cristina Cifuentes, líder do governo regional de Madrid, obteve um mestrado com notas falsificadas, avança o El Diario, citado pelo Expresso.

A investigação do jornal espanhol revela que a classificação do trabalho final do mestrado, “Não apresentado”, foi alterada para “Muito bom”, dois anos após a conclusão dos estudos da conservadora, e acrescenta que Cifuentes raramente ia às aulas e terá feito exames em datas diferentes dos demais alunos.

Exposto este caso, a Cristina Cifuentes terá apresentado a acta da sua tese de mestrado para justificar a sua inocência. Porém, segundo o jornal digital El Confidencial, o documento terá sido forjado e duas das assinaturas que lá constam terão sido falsificadas, poucas horas antes do escândalo ser denunciado pelo El Diario. Querem ver que também foi visiting scholar em Berkeley?

RTP - O Essencial

6 Abril, 2018

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Sérgio Alexandre
Jornalista
Sérgio Alexandre

Bem-vindo

Não há infetados: detetada legionella no Hospital das Caldas da Rainha. PSD e CDS disponíveis para dscutir referendo sobre a eutanásia. No Brasil, Lula considera “absurdo” e “politicamente motivado” o mandado de detenção e poderá não se entregar voluntariamente à Justiça. Alemanha ainda não vê razões para extraditar Puigdemont para Espanha.


Legionella no Hospital das Caldas da Rainha

Legionella no Hospital das Caldas da Rainha

Em “valores baixos” e ainda sem transmissão a humanos, mas foi detetada legionella no Hospital das Caldas da Rainha. O Centro Hospitalar do Oeste confirmou ter sido identificada esta noite, em análises de rotina à água, a presença da bactéria da doença do legionário naquele estabelecimento de saúde. Contra-medidas foram imediatamente acionadas e não está previsto o encerramento de qualquer serviço no Hospital das Caldas.


Médicos fazem "luto" às sextas-feiras

Médicos fazem

É mais uma ação de protesto desta classe profissional contra o Governo. Os médicos dos hospitais e centros de saúde vão passar a usar peças de vestuário negras à sexta-feira. O movimento informal “SNS in Black” pretende alertar para os problemas existentes no Serviço Nacional de Saúde e conta com da Ordem dos Médicos. Em entrevista à RTP, o bastonário Miguel Guimarães volta a deixar duras críticas ao ministro Adalberto Campos Fernandes.


Direita favorável a referendo sobre a eutanásia

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Apesar de ser contra a eutanásia (mas “não por questões de natureza religiosa”),o presidente da bancada parlamentar do PSD considera útil a reflexão sobre a possibilidade de se fazer um referendo à morte medicamente assistida, “para que os partidos políticos possam dar a conhecer aos portugueses o conjunto das soluções que há para as situações de morte”, como é o caso do testamento vital. Fernando Negrão pronunciou-se sobre esta questão em entrevista concedida à Antena1. O CDS também não descarta a possibilidade de uma consulta popular, nos termos definidos pelo centrista João Almeida.


Mandado de detenção é "absurdo", diz Lula

Mandado de detenção é

Lula da Silva acusa Sérgio Moro de agir com “motivações políticas” e considera “um absurdo” a ordem de prisão dada pelo juiz brasileiro. Moro emitiu um mandado de detenção contra Lula, “concedendo-lhe a oportunidade” de se entregar voluntariamente esta sexta-feira à Polícia Federal de Curitiba.  A decisão judicial decorre da rejeição do pedido de habeas corpus apresentado pela defesa do ex-Presidente do Brasil, que foi condenado, por corrupção, a 12 anos de prisão.


Alemanha não vê razões para extraditar Puigdemont

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Noutro caso judicial proeminente na atualidade internacional, a Justiça alemã não admitiu o crime de rebelião como motivo para a extradição de Carles Puigdemont para Espanha, mas ainda pode fazê-lo pelo crime de corrupção, de que também é acusado por Madrid. Em resultado disso, o ex-presidente do Governo catalão sai em liberdade, mediante pagamento de fiança, e fica obrigado a permanecer na Alemanha a aguardar a deliberação do Tribunal Supremo do estado de Schleswig-Holstein. Filipe Vasconcelos Romão, comentador da Antena 1 para Assuntos Internacionais, fala de uma derrota para a Justiça espanhola.


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A guerra comercial entre os EUA e a China segue a todo o vapor e, apesar de nesta altura decorrer essencialmente no plano político, já afeta os mercados internacionais. O mais recente episódio deste caso é a jura chinesa de ir até às últimas consequências, se Donald Trump insistir nas medidas protecionistas, que incluem fortes penalizações fiscais e aduaneiras às importações para os Estados Unidos. A escalada da tensão levou já o secretário-geral das Nações Unidas a apelar à calma, defendendo as virtudes do livre comércio, em oposição ao protecionismo.


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Letizia está “desolada e preocupada” com o momento de tensão com a rainha Sofia

5/4/2018, 14:26690

Uma das amigas mais próximas da rainha de Espanha revelou que Letizia está "desolada e preocupada" com o momento tenso que protagonizou com a rainha emérita Sofia. O vídeo da situação tornou-se viral.

O momento protagonizado pelas duas rainhas ficou gravado em vídeo

Getty Images

Autor
  • Observador
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O momento de tensão que a rainha de Espanha e a rainha emérita protagonizaram este domingo, depois da missa pascal em Palma de Maiorca, espalhou-se um pouco por todo o mundo. Alguns jornais espanhóis contrataram até especialistas em ler lábios para descobrir o que disse Sofia a Letizia quando esta impediu que a primeira tirasse uma fotografia com as duas netas. Agora, uma das amigas mais próximas da mulher do rei Felipe VI foi convidada de um programa de televisão e revelou qual é o estado de espírito da rainha.

De acordo com Imma Aguilar, Letizia está “desolada e preocupada”com a situação. A jornalista, que conheceu a rainha quando esta trabalhou na CNN+, entre 1999 e 2000, falou ao telemóvel com Letizia e reproduziu depois a conversa no programa “El Círculo”, do canal Telemadrid.

Eu acho que estas são imagens de uma mãe que está preocupada com a imagem das suas filhas. Falei há pouco com a rainha Letizia e está bastante desolada e preocupada com esta situação. Ela está muito comprometida em cuidar das filhas, com a proteção da sua imagem, preocupa-a quem tira fotos, preocupa-a onde saem, quem é que se aproxima delas. É uma reação de mãe”, defendeu Imma Aguilar, que agora trabalha como consultora política.

A Hola conta que, segundo a amiga da rainha, Letizia acha que toda a situação foi uma “tonteria” e acredita que se tratou de um “gesto natural”. Imma Aguilar explicou ainda que a mulher de Felipe VI “não é uma pessoa que tenha sido educada desde o início para ter determinado comportamento público e é muito difícil não poder explicar-se”.

O momento tenso aconteceu este domingo, no final da missa pascal em que a família real marcou presença. À saída da missa, a rainha emérita Sofia preparava-se para posar para a fotografia com as netas, Leonor e Sofia, que abraçava pelos ombros. Nesse momento, a rainha Letizia colocou-se em frente às três impedindo o momento fotográfico e a neta retirou a mão da avó do ombro.

Lula da Silva reage ao mandado de prisão e acusa Sérgio Moro de “sonhar” com a sua detenção

6/4/2018, 7:11

O ex-Presidente Lula da Silva reagiu ao mandado de prisão de que é alvo: considera-a um "absurdo" e acusou o juiz Sérgio Moro "de sonhar" com a sua detenção.

Fernando Bizerra Jr./EPA

Autor
  • Agência Lusa
    Lula da Silva já reagiu ao mandado de prisão ordenado de que é alvo e ordenado pelo juiz Sérgio Moro. Considerou-o um “absurdo” e acusou o juiz Sérgio Moro “de sonhar” com a sua detenção.

O antigo presidente acusou ainda Sérgio Moro de estar a agir politicamente para impedir o seu “direito à defesa”, de acordo com declarações à estação de rádio CBN, as primeiras desde que o Supremo Tribunal Federal negou um recurso para ficar em liberdade até à decisão final do processo

Na noite de quinta-feira, o juiz Sérgio Moro decretou a prisão de Lula da Silva, na sequência de uma autorização do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). O juiz emitiu um mandado no qual determinou que Lula da Silva deve entregar-se voluntariamente na sede da Polícia Federal em Curitiba até às 17h00 (21h00 Lisboa) de hoje. Lula da Silva declarou ainda que vai aguardar orientações dos advogados, para decidir se vai entregar-se, ou não, às autoridades, tal como foi decretado.

Menos de 24 horas antes, o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil tinha negado um recurso de Lula, condenado em duas instâncias judiciais, para ficar em liberdade até à decisão final do processo. A prisão do ex-chefe de Estado está relacionada com um dos processos da Operação Lava Jato, o maior escândalo de corrupção do Brasil.Lula da Silva foi condenado por ter recebido um apartamento de luxo como suborno da construtora OAS em troca de favorecer contratos com a petrolífera estatal Petrobras e sentenciado a 12 anos e um mês de prisão.

Ao início da madrugada de hoje (hora de Lisboa), Lula encontrava-se na sede do Partido dos Trabalhadores (PT), em São Bernardo do Campo, a cerca de 20 quilómetros de São Paulo, onde estavam concentradas centenas de pessoas, entre as quais a ex-presidente Dilma Rousseff.

Prisão de Lula da Silva é “perseguição política” e uma “injustiça”, diz Dilma Roussef

6/4/2018, 7:49

Dilma Roussef afirma que a prisão de Lula é "perseguição política" e "uma injustiça". O juiz decretou que Lula da Silva se deve entregar até às 17h de hoje. Enfrenta 12 anos e um mês de prisão.

Fernando Bizerra/

Antiga Presidente do Brasil Dilma Rousseff disse esta sexta-feira que o mandado de prisão contra o antigo chefe de Estado Lula da Silva é fruto de uma perseguição política e faz parte de um golpe.

Lula [da Silva] é vítima de uma das mais graves ações contra uma pessoa, que é a perseguição política e a injustiça. [A sua prisão] é parte do golpe que começou quando me tiraram da Presidência e colocaram no [Palácio do] Planalto uma quadrilha”, disse, perante centenas de pessoas.

Dilma Rousseff faz parte de um grupo de políticos e líderes de esquerda, que se encontram com Luiz Inácio Lula da Silva na sede do Partido dos Trabalhadores (PT)em São Bernardo do Campo, a cerca de 20 quilómetros de São Paulo, onde estão concentradas centenas de pessoas.

“O que assistimos hoje é a rapidez com que decidiram privar o maior Presidente desse país do direito que a Constituição brasileira reconhece para todos, que é a liberdade”, acrescentou.

Lula da Silva lançou Dilma Rousseff como candidata à Presidência do Brasil, em 2009, quando ainda era uma desconhecida. Dilma foi eleita duas vezes para a chefia do Estado, mas o último mandato foi interrompido por um processo de destituição, em 2016, que colocou Michel Temer no poder.

Na noite de quinta-feira, o juiz Sérgio Moro decretou a prisão de Lula da Silva, na sequência de uma autorização do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). O juiz emitiu um mandado no qual determinou que Lula da Silva deve entregar-se voluntariamente na sede da Polícia Federal em Curitiba até às 17h00 (21h00 Lisboa) deste dia.

Menos de 24 horas antes, o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil negou um recurso do ex-Presidente Lula da Silva, condenado em duas instâncias judiciais, para ficar em liberdade até à decisão final do processo.

A prisão do ex-chefe de Estado está relacionada com um dos processos da Operação Lava Jato, o maior escândalo de corrupção do Brasil. Lula da Silva foi condenado por ter recebido um apartamento de luxo como suborno da construtora OAS em troca de favorecer contratos com a petrolífera estatal Petrobras e sentenciado a 12 anos e um mês de prisão.

Isolado em 15 m2. Como será a prisão de Lula

6/4/2018, 8:52

A cela onde ficará o antigo presidente brasileiro foi preparada nos últimos meses. Por razões de segurança, Lula fará os seus dias isolado dos outros presos na sede da Polícia Federal de Curitiba.

Autor

A cela onde Lula vai ficar, na sede da Polícia Federal de Curitiba, foi preparada nos últimos meses. Era até agora uma sala, com um beliche, onde ficavam os agentes deslocados em missão, mas a cama dupla foi substituída por uma individual, entre a parede que tem duas pequenas janelas com grades e a da casa-de-banho privada que tem no espaço de 15 metros quadrados (3 metros por 5 metros) onde o antigo presidente brasileiro deverá ficar a partir desta sexta-feira.

Está tudo preparado para receber Lula da Silva quando este se entregar ou for detido, depois da ordem de prisão efetiva decretada pelo juiz federal Sérgio Mouro esta quinta-feira. A sala fica no quarto andar do Núcleo de Inteligência Policial, afastada do local dos outros presos no âmbito na operação Lava-Jato, como mostra a infografia publicada pelo Estadão. O edifício, na capital do estado do Paraná, foi inaugurado em 2007 durante a gestão de Lula da Silva como presidente do Brasil.

O ex-ministro António Palocci ou Renato Duque, ex-diretor da Petrobrás estão noutra ponta do mesmo complexo que também já recebeu figuras como o ex-ministro José Dirceu e o empresário Marcelo Odebrecht. Lula ficará no centro do edifício, dois pisos acima, e terá um agente policial à porta da sua cela 24 horas por dia, para garantir a sua própria segurança.


No despacho em que executou a ordem de prisão do antigo presidente e atual candidato à presidência do Brasil, Sérgio Moro explicou que “em razão da dignidade do cargo ocupado, foi previamente preparada uma sala reservada, espécie de Sala de Estado Maior, na própria Superintência da Polícia Federal, para o início do cumprimento da pena, e na qual o ex-Presidente ficará separado dos demais presos, sem qualquer risco para a integridade moral ou física”.

Assim, Lula não vai estar, pelo menos no início, em contacto com os outros presos. Terá duas horas diárias de acesso a uma zona exterior, mas isolado, e o mesmo vai acontecer no horário de visitas. Normalmente, as visitas acontecem às quartas-feiras, e a regra mantém-se igual para todos, embora as visitas de Lula não aconteçam no espaço comum aos outros presos.

Adeus Lula

Ladrões de Bicicletas


Posted: 05 Apr 2018 11:31 AM PDT

O que está em jogo é também a capacidade inesgotável por parte das elites do país de fingir a indignação a fim de criar mais espaço para restabelecer os seus interesses e manter os seus privilégios intactos. Por isso, o problema do Brasil não é este conflito particular, antes o fracasso em lidar com os conflitos reais. Estes incluem o processo incompleto de abolição da escravatura, a desigualdade económica abissal e o apartheid racial e social que são debates inexistentes. Os governos de Lula e Dilma optaram por acomodar-se a estas estruturas históricas em vez de as enfrentar decididamente.
Eliane, Brum, jornalista brasileira
O juiz, ou Super Moro como é chamado pelos brasileiros, reacendeu as chamas de uma antiga tradição brasileira: o linchamento. Em vez de justiça, sempre mais lenta do que os pregadores do ódio gostariam, ele deu às pessoas que clamavam por sangue o que elas queriam. Mesmo sendo um linchamento moral, a imagem simbólica produziu resultados muito concretos, como as manifestações mostram.
Eliane Brum
Este não é apenas um momento de brutalidade extrema no Brasil. É também um momento de potências emergindo. E começos de alianças até então impensáveis. É preciso perceber onde estão as possibilidades - e fazer frente àqueles que, diante da democracia corrompida do país, avançam sobre os corpos humanos.
Eliane Brum
O perigo real aqui é o retorno duradouro a um estado oligárquico como o do Brasil no século XIX, no qual as rendas de uma economia de exportação relativamente estagnada eram distribuídas entre umas poucas famílias poderosas, enquanto a grande maioria era deixada de fora. Na versão contemporânea, em vez da escravidão, uma massa de desempregados sobrevive nas favelas à mercê de um estado policial repressivo. O patrocínio e o uso de empresas estatais para ganho pessoal aumentariam, e a justiça e os media teriam desempenhado o seu papel permitindo que organizações ilegais penetrassem no estado. O brasil tornar-se-ia mais um narco-estado no qual os cartéis da droga teriam um papel menor do que na Colômbia ou no México, mas onde uma extorsão similar seria obscurecida por uma fachada de legalidade sob as instituições oficiais. Seria a mexicanização do Brasil e a entronização do que tem sido descrito como a "ditadura perfeita".
Matías Vernengo, economista argentino

As contas públicas e o garrote fiscal

06/04/2018 by João Mendes

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Via Diário de Notícias

O governo reviu em baixa os valores do défice para 2018, que passa de 1% para 0,7% do PIB, sendo que a mais recente projecção para o crescimento económico deste ano cresce uma décima face ao previsto no Orçamento de Estado, com o PIB a avançar 2,3%.

Perante esta sucessão de números animadores, os mais animadores em muitos anos, seria expectável uma maior folga orçamental para a população portuguesa. Seria expectável uma diminuição mais acentuada da carga fiscal e uma melhoria dos serviços públicos, que cada vez menos se distinguem dos tempos da Troika, nomeadamente em áreas como a Saúde e a Educação.

É importante ter contas públicas saudáveis (e aparentemente elas são possíveis com qualquer geometria partidária no poder), até porque dívida já temos de sobra. Mas é igualmente importante que o país real sinta também o efeito da saúde financeira que vem sendo apregoada, e que deixe de viver neste sufoco fiscal que não parece tem fim. Se podemos continuar a sacrificar as contas públicas para alimentar parcerias de prejuízo público e lucro privado, ou injectar milhões em fraudes bancárias que herdamos de cidadãos acima da lei, estou certo que haverá por aí mais algum para aliviar este garrote. O que vale é que 2019 é ano de eleições.

Eduardo Catroga, um liberal ao serviço do regime comuno-capitalista chinês

06/04/2018 by João Mendes

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via ECO

Eduardo Catroga esteve 12 anos no topo da hierarquia da EDP, tendo lá chegado uns anos antes da avalanche privatizadora do governo de Pedro Passos Coelho, do qual foi conselheiro e emissário ao mais alto nível, ter entregue a maior fatia da outrora eléctrica portuguesa ao gigante energético China Three Gorges, uma empresa estatal de um daqueles países que, se não ordena execuções em Londres com gás Novichok, faz parecido com localizações e ferramentas diferentes.

Porém, foi com a chegada do regime chinês ao comando das operações da EDP que Catroga chegou mais alto, chamado a exercer funções de presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, em 2012. Resta saber se pelas suas qualidades técnicas, se por algum eventual contributo para o programa eleitoral que o PSD levou a sufrágio em 2011, no seio do qual a política de privatizações era todo um programa em si. Ou não fosse Catroga um homem que percebe de corredores.

O reinado, porém, chegou por estes dias ao fim. Foram anos de salários milionários, que terão com certeza resultado num generoso pé-de-meia, e Catroga, num comovente rasgo final de abnegação, faz saber que pretende continuar a trabalhar, “mas não pelo dinheiro”, porque “podia viver sem ordenado e sem pensões”. Claro que podia! Afinal de contas, sai da EDP, mas continua a trabalhar para o mesmo patrão, o regime ditatorial chinês, como consultor da mesma China Three Gorges que detém a maior posição na estrutura accionista da EDP. E parece que ainda mantém o salário do qual aparentemente não precisa. Não é fácil, a vida de um liberal ao serviço do regime comuno-capitalista chinês.

Artistas: o mal menor da desgraça

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por vitorcunha

Eu sou daqueles que são a favor de subsídios para a cultura, mas, felizmente, não tenho que escolher quem subsidiar, uma tarefa impossível dado o panorama tão amplo de mediocridade. O problema não está no princípio do subsídio, que um contribuinte já subsidia tanta coisa que não será mais um filme - felizmente nunca terá que ver - que o incomodará. Incomoda-me mais subsidiar bancos dispostos a arruinar o país com TGVs da dupla megalómana Sócrates & Buraco de Compal do que a subsidiar um canastrão que não sabe ser mau noutro ofício. Em certos aspectos é uma benção subsidiar artistas: é uma forma de assegurar que a maioria volta ao silêncio da pacata existência diária que consiste na produção de peças de teatro representadas para moscas e espelhos.

Por outro lado, um povo é a sua cultura. A preservação desta é essencial à continuidade da identidade nacional, o que, como desgraça planetária, temos vindo a fazer bem há já muito tempo. Claro, têm havido excepções, meros frutos do acaso pela lei dos grandes números, excepções que acidentalmente acabam a confirmar a regra. Uma destas foi João César Monteiro que em tempos idos disse, em resposta a intrépida repórter do decoro do regime, que “eu quero que o público se foda”. Nunca antes alguém expressou tão bem à vontade de uma nação: não é mesmo o que queremos todos?

Brasil, uma justiça totalitária

por estatuadesal

(Manuel Carvalho, in Público, 06/04/2018)

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A pressa do juiz Sérgio Moro em prender Lula é gratuita e perigosa. Num país com fracturas sociais e políticas cada vez mais expostas, a Justiça devia servir de catalisador de consensos.

Lula ainda é o rosto de um partido poderoso, mas a sua condenação por corrupção em segunda instância acabou irremediavelmente com a possibilidade de se candidatar à presidência e, acto contínuo, acabou com a sua carreira política. Tarde ou cedo, à luz da lei Lula acabará na prisão. Acelerar o processo só serve para legitimar as suspeitas sobre um pérfido instinto punitivo e persecutório de Moro, não para mostrar a celeridade ou a imparcialidade da Justiça.

Sendo um activo político com mero valor facial, Lula não deixa de ser um ícone, nem perdeu o estatuto de ex-Presidente. Qualquer juiz de qualquer tribunal deveria ter estes factos em consideração e o próprio Sérgio Moro não se eximiu a essa realidade, impedindo que seja algemado, reservando-lhe uma sala, concedendo-lhe a possibilidade de se apresentar na polícia pelo seu próprio pé.

Então, por que é que Sérgio Moro decide apanhar à pressa a boleia de uma decisão polémica do Supremo Tribunal Federal que, ao recusar o habeas corpus a Lula, se baseou numa jurisprudência duvidosa e recusou analisar o espírito do preceito constitucional que, lá como cá, garante a todos os cidadãos o direito à presunção de inocência até que a sentença transite em julgado? Porque é que não deu tempo a que a defesa esgotasse todos os seus recursos no tribunal de segunda instância, que poderiam ficar decididos já na próxima semana? Por que é que optou por uma atitude drástica em relação a prazos, sabendo que com essa atitude vai afrontar uma parte significativa da população brasileira?

Moro age como age porque age como um político. Porque se sente investido do mesmo poder esclarecido que outrora investiu os déspotas. Porque não se preocupa em estar a acentuar as fracturas de um país que precisa de distensão, de calma e de paz institucional. Ao tratar Lula com este desprezo institucional através de uma interpretação processual monolítica e simpática à maioria (e ao radicalismo de direita), Moro expõe a visão plenipotenciária e redentora que tem da Justiça. As ditaduras e os totalitarismos do passado também começaram por aí.

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Novo artigo em BLASFÉMIAS


por rui a.

Os comentários de Pacheco Pereira e de Jorge Coelho sobre o processo de Lula da Silva, hoje proferidos na Quadratura do Círculo, só podem ser fruto de ignorância ou de má-fé. Ou de ambas as coisas juntas, claro. Tomemos apenas três exemplos dos muitos disparates ditos.

Primeiro, dizem os dois que «não estão dentro do processo, que não sabem se Lula da Silva é ou não culpado e que vão aguardar que a justiça brasileira se pronuncie». Nesta última parte da afirmação está obviamente implícito que os recursos ainda não esgotaram a matéria de facto e que é ainda possível que uma última instância dê os factos como não provados ou que conclua pela inocência do ex-presidente. Pois bem, há já duas sentenças que dão os factos como provados e que condenam Lula da Silva à pena de prisão. A segunda sentença, em resultado de recurso apresentado sobre a primeira, agrava mesmo em dois anos a medida da pena anteriormente aplicada. Por outro lado, o recurso para a última instância já não poderá alterar matéria de facto, cuja prova está feita e a decisão de culpabilidade decretada, mas somente matéria de direito, isto é, dizendo de uma forma elementar, avaliará se o direito decretado para os factos anteriormente comprovados está bem ou mal determinado.

Segundo, «este julgamento é político», afirmaram os dois, de tal modo político é que, disse Coelho, os juízes que ontem se pronunciaram foram nomeados, se calhar, por presidentes desafectos ao petista. Pois bem, 5 dos 6 juízes que votaram contra a concessão do habeas corpus a Lula foram nomeados por governos do PT, o partido de Lula da Silva.

Terceiro, «os juízes condenaram ontem Lula à pena de prisão», foi sendo dito nas várias intervenções. Pois bem, e no seguimento do que já foi dito sobre o estado da matéria de facto, ontem os juízes do Supremo em momento algum se pronunciaram sobre o mérito das decisões das duas instâncias que já julgaram o processo: limitaram-se a decidir sobre o pedido de habeas corpus aplicado a este caso. Explicando melhor: tratou-se de decidir se a prisão pode ser decretada havendo duas sentenças de duas instâncias diferentes no mesmo processo, com idêntica decisão («dupla conforme»), ou se devem deixar esgotar-se todos os recursos para se decretar a prisão. Note-se que, nesta fase do processo, os recursos já não poderão incidir sobre os factos, que estão considerados, neste processo, provados. Os juízes entenderam que sim, indo, de resto, ao encontro da jurisprudência do tribunal, que já decidira do mesmo modo em casos semelhantes. Decisão contrária, que fosse favorável à pretensão de Lula, seria, assim, uma excepção à tendência das decisões deste tribunal para casos semelhantes proferidas nos últimos anos. Foi isso mesmo que foi dito pela juíza Rosa Weber, nomeada juíza deste tribunal por Dilma Roussef, em 2011, para explicar o sentido do seu voto de ontem, contrário à concessão do habeas corpus e, aliás, contrário às suas convicções pessoais, como ela mesmo enfatizou. De resto, Aliás, se a decisão fosse diferente, isto é, se coincidisse com as pretensões do ex-presidente Lula, outros detidos, como Eduardo Cunha, teriam necessariamente que beneficiar do novo sentido jurisprudencial da Corte.

O Colonialismo e o século XXI

por estatuadesal

(Boaventura de Sousa Santos, in OutrasPalavras, 05/04/2018)

racismo

Para Marielle Franco, in memoriam

O termo alemão Zeitgeist é hoje usado em diferentes línguas para designar o clima cultural, intelectual e moral de uma dada época, literalmente, o espírito do tempo, o conjunto de crenças e de ideias que compõem a especificidade de um período histórico. Na Idade Moderna, dada a persistência da ideia do progresso, uma das maiores dificuldades em captar o espírito de uma dada época reside em identificar as continuidades com épocas anteriores, quase sempre disfarçadas de descontinuidades, inovações, rupturas. E para complicar ainda mais a análise, o que permanece de períodos anteriores é sempre metamorfoseado em algo que simultaneamente o denuncia e dissimula e, por isso, permanece sempre como algo diferente do que foi sem deixar de ser o mesmo. As categorias que usamos para caracterizar uma dada época são demasiado toscas para captar esta complexidade, porque elas próprias são parte do mesmo espírito do tempo que supostamente devem caracterizar a partir de fora. Correm sempre o risco de serem anacrônicas, pelo peso da inércia, ou utópicas, pela leveza da antecipação.

Tenho defendido que vivemos em sociedades capitalistas, coloniais e patriarcais, por referência aos três principais modos de dominação da era moderna: capitalismo, colonialismo e patriarcado ou, mais precisamente, hetero-patriarcado. Nenhuma destas categorias é tão controversa, quer entre os movimentos sociais, quer na comunidade científica, quanto a de colonialismo.

Fomos todos tão socializados na ideia de que as lutas de libertação anti-colonial do século XX puseram fim ao colonialismo que é quase uma heresia pensar que afinal o colonialismo não acabou, apenas mudou de forma ou de roupagem, e que a nossa dificuldade é sobretudo a de nomear adequadamente este complexo processo de continuidade e mudança.

É certo que os analistas e os políticos mais avisados dos últimos cinquenta anos tiveram a percepção aguda desta complexidade, mas as suas vozes não foram suficientemente fortes para pôr em causa a ideia convencional de que o colonialismo propriamente dito acabara, com exceção de alguns poucos casos, os mais dramáticos sendo possivelmente o Sahara Ocidental, a colônia hispano-marroquina que continua subjugando o povo saharaui e a ocupação da Palestina por Israel. Entre essas vozes, é de salientar a do grande sociólogo mexicano Pablo Gonzalez Casanova com o seu conceito de colonialismo interno para caraterizar a permanência de estruturas de poder colonial nas sociedades que emergiram no século XIX das lutas de independência das antigas colônias americanas da Espanha. E também a voz do grande líder africano, Kwame Nkrumah,  primeiro presidente da República do Gana, com o seu conceito de neocolonialismo para caracterizar o domínio que as antigas potências coloniais continuavam a deter sobre as suas antigas colônias, agora países supostamente independentes.

Uma reflexão mais aprofundada dos últimos 60 anos leva-me a concluir que o que quase terminou com os processos de independência do século XX foi uma forma específica de colonialismo, e não o colonialismo como modo de dominação. A forma que quase terminou foi o que se pode designar por colonialismo histórico caracterizado pela ocupação territorial estrangeira. Mas o modo de dominação colonial continuou sob outras formas e, se as considerarmos como tal, o colonialismo está talvez hoje tão vigente e violento como no passado. Para justificar esta asserção é necessário especificar em que consiste o colonialismo enquanto modo de dominação. Colonialismo é todo o modo de dominação assente na degradação ontológica das populações dominadas por razões etno-raciais. Às populações e aos corpos racializados não é reconhecida a mesma dignidade humana que é atribuída aos que os dominam. São populações e corpos que, apesar de todas as declarações universais dos direitos humanos, são existencialmente considerados sub-humanos, seres inferiores na escala do ser, e as suas vidas pouco valor têm para quem os oprime, sendo, por isso, facilmente descartáveis. Foram inicialmente concebidos como parte da paisagem das terras “descobertas” pelos conquistadores, terras que, apesar de habitadas por populações indígenas desde tempos imemoriais, foram consideradas como terras de ninguém, terra nullius. Foram também considerados como objetos de propriedade individual, de que é prova histórica a escravatura. E continuam hoje a ser populações e corpos vítimas do racismo, da xenofobia, da expulsão das suas terras para abrir caminho aos megaprojetos mineiros e agroindustriais e à especulação imobiliária, da violência policial e das milícias paramilitares, do tráfico de pessoas e de órgãos, do trabalho escravo designado eufemisticamente como “trabalho análogo ao trabalho escravo” para satisfazer a hipocrisia  bem-pensante das relações internacionais, da conversão das suas comunidades de rios cristalinos e florestas idílicas em infernos tóxicos de degradação ambiental. Vivem em zonas de sacrifício, a cada momento em risco de se transformarem em zonas de não-ser.

As novas formas de colonialismo são mais insidiosas porque ocorrem no âmago de relações sociais, econômicas e políticas dominadas pelas ideologias do anti-racismo, dos direitos humanos universais, da igualdade de todos perante a lei, da não-discriminação, da igual dignidade dos filhos e filhas de qualquer deus ou deusa. O colonialismo insidioso é gasoso e evanescente, tão invasivo quanto evasivo, em suma, ardiloso. Mas nem por isso engana ou minora o sofrimento de quem é dele vítima na sua vida quotidiana. Floresce em apartheids sociais não institucionais, mesmo que sistemáticos. Tanto ocorre nas ruas como nas casas, nas prisões e nas universidades como nos supermercados e nos batalhões de polícia. Disfarça-se facilmente de outras formas de dominação tais como diferenças de classe e de sexo ou sexualidade mesmo sendo sempre um componente constitutivo delas. Verdadeiramente só é captável em close-ups, instantâneos do dia-a-dia. Em alguns deles, o colonialismo insidioso surge como saudade do colonialismo, como se fosse uma espécie em extinção que tem de ser protegida e multiplicada. Eis alguns desses instantâneos.

Primeiro instantâneo. Um dos últimos números de 2017 da respeitável revista científica Third World Quarterly, dedicada aos estudos pós-coloniais, incluía um artigo de autoria de Bruce Gilley, da Universidade Estadual de Portland, intitulado “Em defesa do colonialismo”. Eis o resumo do artigo: “Nos últimos cem anos, o colonialismo ocidental tem sido muito maltratado. É chegada a hora de contestar esta ortodoxia. Considerando realisticamente os respectivos conceitos, o colonialismo ocidental foi, em regra, tanto objetivamente benéfico como subjetivamente legítimo na maior parte dos lugares onde ocorreu. Em geral, os países que abraçaram a sua herança colonial tiveram mais êxito do que aqueles que a desprezaram. A ideologia anti-colonial impôs graves prejuízos aos povos a ela sujeitos e continua a impedir, em muitos lugares, um desenvolvimento sustentado e um encontro produtivo com a modernidade. Há três formas de estados fracos e frágeis recuperarem hoje o colonialismo: reclamando modos coloniais de governação; recolonizando certas áreas; e criando novas colônias ocidentais”. O artigo causou uma indignação geral e quinze membros do conselho editorial da revista demitiram-se. A pressão foi tão grande que o autor acabou por retirar o artigo da versão eletrônica da revista, mas permaneceu na versão já impressa. Foi um sinal dos tempos? Afinal, o artigo fora sujeito a revisão anônima por pares. A controvérsia mostrou que a defesa do colonialismo estava longe de ser um ato isolado de um autor tresloucado.

Segundo instantâneo. O Wall Street Journal de 22 de março passado publicou uma reportagem intitulada “Procura de sêmen americano disparou no Brasil”.  Segundo a jornalista, a importação de sêmen americano por mulheres solteiras e casais de lésbicas brasileiras ricas aumentou extraordinariamente nos últimos sete anos e os perfis dos doadores selecionados mostram a preferência por crianças brancas e com olhos azuis. E acrescenta: “A preferência por dadores brancos reflete uma persistente preocupação com a raça num país em que a classe social e a cor da pele coincidem com grande rigor. Mais de 50% dos brasileiros são negros ou mestiços, uma herança que resultou de o Brasil ter importado dez vezes mais escravos africanos do que os Estados Unidos; foi o último país a abolir a escravatura, em 1888. Os descendentes de colonos e imigrantes brancos – muitos dos quais foram atraídos para o Brasil no final do século XIX e princípio do século XX quando as elites no governo procuraram explicitamente ‘branquear’ a população – controlam a maior parte do poder político e da riqueza do país. Numa sociedade tão racialmente dividida, ter descendência de pele clara é visto muitas vezes como um modo de providenciar às crianças melhores perspectivas, seja um salário mais elevado ou um tratamento policial mais justo”.

Terceiro instantâneo. Em 24 de março o mais influente jornal da Africa do Sul, Mail & Guardian, publicou uma reportagem intitulada “Genocídio branco: como a grande mentira se espalhou para os Estados Unidos e outros países”. Segundo o jornalista, “O Suidlanders, um grupo sul-africano de extrema direita, tem estabelecido contato com outros grupos extremistas nos Estados Unidos e na Austrália, fabricando uma teoria da conspiração sobre genocídio branco com o objectivo de conseguir apoio internacional para sul-africanos brancos. O grupo, que se auto-descreve como ‘uma iniciativa-plano de emergência’ para preparar uma minoria sul-africana de cristãos protestantes para uma suposta revolução violenta, tem-se relacionado com vários grupos extremistas (alt-right) e seus influentes contatos midiáticos nos Estados Unidos para erguer uma oposição global à alegada perseguição a brancos na África do Sul… Na semana passada, o, ministro australiano dos Assuntos Internos, disse ao Daily Telegraphque estava considerando a concessão de vistos rápidos para agricultores sul-africanos brancos, os quais, alegava o ministro, precisavam de ‘fugir de circunstâncias atrozes’ para ‘um país civilizado’. Segundo o ministro, os ditos agricultores ‘merecem atenção especial’ por causa de ocupação de terras e violência …  Tem também sido dada mais atenção a agricultores sul-africanos brancos na Europa, onde políticos da extrema direita com contatos diretos com a extrema direita (alt-right) nos Estados Unidos têm solicitado ao Parlamento Europeu que intervenha na África do Sul. Agentes políticos contra os refugiados no Reino Unido estão igualmente ligados à causa”.

A grande armadilha do colonialismo insidioso é dar a impressão de um regresso, quando o que regressa nunca deixou de estar.