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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Os geringonçólogos



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 19/09/2017)
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No tempo da União Soviética, que deus tenha, havia uma trupe de analistas encartados que se reconheciam como “sovietólogos”. Competia-lhes a tarefa árdua de olharem à lupa para as fotos, que a televisão era pouca, e de colecionarem boatos para poderem chegar à conclusão de que o secretário-geral estava com azia, se fosse o caso, ou outra infâmia qualquer. Da influência de casos desse tipo nos misteriosos destinos do planeta reza a história.
Suponho que, perante o inesperado, é assim que reagem as sociedades perfeitas e os seus mestres de cerimónias. Querem saber e, se não sabem, querem adivinhar. Se for coisa de Ficheiros Secretos, se for eco da Cidade Proibida de Pequim, se for boato da mansão de Futungo de Belas em Luanda, até se for de tumulto no parlamento de Brasília, é esta classe de analistas que é chamada ao palácio para traduzir os sinais, os hieróglifos e as entoações. Sinal dos tempos, agora dedicam-se a Trump e a outras surpresas, e não lhes faltará assunto.

domingo, 17 de setembro de 2017

‘Correio-da-manhização’



por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso, 16/09/2017)
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Não vou escalpelizar as notícias sobre a venda e compra das casas de Fernando Medina. A volatilidade do mercado imobiliário nos últimos anos, que passou de um bom momento para uma profunda depressão, seguido de uma euforia louca, torna qualquer insinuação sobre ganhos e perdas em compras de casa risível. O salto dado por alguns jornalistas, que foram procurar os negócios da Câmara com a empresa da família da vendedora, corresponde a um processo de ‘correiodamanhização’ da nossa comunicação social. Não basta que dois factos sejam verdadeiros para serem publicados juntos. Ainda mais se da associação entre dois atos legais e legítimos resultar a insinuação de um crime. Se assim for, a notícia está nessa relação de causalidade e esta tem de ser provada. Se ela não é estabelecida mas apenas insinuada, estamos no domínio do boato. O bom jornalismo não publica factos para que se investigue a relação entre eles, investiga a relação entre eles para os publicar. Não lança pistas, segue pistas.
Conhecemos o modo de fazer a coisa. Alguém faz uma denúncia anónima para a PGR. Como é natural, esta investiga. Em vésperas de eleições, alguém (provavelmente a mesma pessoa) passa para os jornais a mesma informação e o facto de a PGR estar a investigar dá credibilidade ao que é insinuado. A não ser que os compradores franceses estejam metidos na ‘marosca’, a notícia não é que Fernando Medina vendeu bem uma casa. Também não é que comprou bem outra, ao mesmo preço da casa do lado. Tem o dever de conhecer bem o mercado imobiliário da cidade que dirige. E a coisa faz ainda menos sentido quando o preço que serve de referência para calcular a aparente desvalorização da casa comprada resulta de uma transação anterior entre pessoas e empresas da mesma família, onde o mercado não teve qualquer papel. Nada no que foi publicado torna os valores da venda e da compra suspeitos. A notícia também não é o negócio da Câmara com uma construtura. Seria requentada e banal, tendo em conta a dimensão da Teixeira Duarte e da CML. Também não será o facto de a vendedora ser uma herdeira dessa construtora, coisa natural tendo em conta o seu ramo de atividade. A notícia é a relação entre os negócios da CML com a Teixeira Duarte e a compra da casa da herdeira desta construtora pelo presidente da Câmara. E sobre a relação entre os dois factos nada foi publicado. Trata-se, portanto, de uma insinuação transformada em notícia.
Não tenho intimidade com Fernando Medina para jurar da sua seriedade. Mas os documentos tornados públicos por ele deixam pouco espaço para especulações. Recuso que o papel do jornalismo seja o de alimentar a desconfiança à boleia da descrença popular na política e na democracia.
É investigar e provar. Provas diferentes das criminais, mas, ainda assim, provas. Recuso que a justiça seja um meio para dar credibilidade a insinuações em campanhas eleitorais. E recuso que a ocupação de cargos públicos implique viver sob a suspeita de ser criminoso e corrupto até prova em contrário. É por isso que não leio o “Correio da Manhã” e escolho jornais sérios para me informar: espero que quando surge a suspeita ela seja fundada e resulte de uma investigação sólida. Se assim não for, fico apenas com duas possibilidades: ou não acreditar em nenhum político ou não acreditar em nenhum jornal. Uma e outra condenam a democracia.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Porque nem todos devem pagar IRS



por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 06/09/2017)

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Miguel Sousa Tavares lançou o novo mantra que já encontrou vários seguidores: pôr os mais pobres a pagar IRS. Um valor simbólico que seja, diz ele. Podem ser 10 euros. Esta é a grande demanda pela justiça fiscal. Só assim teremos contribuintes responsáveis e só assim as pessoas darão valor aos apoios que recebem do Estado. Não sou insensível à necessidade de valorizar política e socialmente os gastos do Estado, apesar de ter a sensação que os mais pobres dão muito mais valor ao que lhes é oferecido pelo Estado – Serviço Nacional de Saúde ou Escola Pública, subsídio de desemprego ou reforma –, do que os mais ricos. Seria interessante verificar isso com dados sólidos.

Há uma razão para mais de metade dos portugueses não pagarem IRS: receberem muito pouco. O problema não está no sistema fiscal. O problema está na desigualdade salarial. Somos dos países da Europa em que o fosso entre o salário mais alto e o salário mais baixo é, dentro da mesma empresa, maior. O fardo fiscal cair sobre os ombros de uma minoria não resulta da injustiça do sistema fiscal, resulta da injustiça da distribuição da riqueza: a minoria que paga IRS é a minoria que recebe o suficiente para o pagar. É aí que está o problema.

Perante esta constatação de facto – de que a desigualdade salarial é tanta que a maioria nem recebe o suficiente para pagar IRS – seria normal concluir que o papel redistributivo dos impostos se torna ainda mais relevante. A conclusão é no entanto a oposta: como os impostos são pagos por uma minoria, temos de diminuir esse papel redistributivo.

O meu colega de colunas Henrique Monteiro deu um argumento que é em parte verdadeiro: “Quem ganha pouco, não pagando nem simbolicamente, tem direito a ajudas do Estado para as quais nem contribui. Quem contribui mais não tem direito a ajuda praticamente nenhuma.” Isso resolve-se de uma forma evidente: a não ser nos apoios à pobreza ou em subsídios não contributivos (que julgo representarem uma pequena parte das despesas sociais do Estado), os serviços públicos devem ser universais e o seu custo para cada cidadão não deve ser indexado ao rendimento. A progressividade e redistribuição garante-se nos impostos, não no pagamento de serviços públicos. O que contraria a ideia do utilizador/pagador, conforme o rendimento de cada um. Seja nas propinas ou nas taxas moderadoras. E ainda mais, passando para a segurança social, o plafonamento das reformas. Porque criticar esta “dupla tributação” e depois embarcar no discurso demagógico de que os mais ricos não devem ter acesso a serviços públicos gratuitos é, na prática, alimentar a “dupla tributação" que leva quem ganha mais a deixar de querer pagar impostos. Não podemos defender a injustiça e depois queixarmo-nos da injustiça.

Mas o que me espanta mais nesta polémica é mesmo o seu absurdo social e político. Num país onde, através de um labirinto de isenções e deduções, quem tem dinheiro para pagar a contabilistas leva um bónus; e num tempo em que a chantagem da globalização permite ao capital e aos grandes grupos económicos fugirem aos seus deveres fiscais, a prioridade não é o Pingo Doce pagar impostos em Portugal, é o caixa do supermercado dar a sua contribuição.

A desigualdade nunca é apenas económica. É sempre de poder e visibilidade. A maioria que ganha miseravelmente não tem voz nos media. Não tem quem fale por ela no telejornal. Uma imaginada “classe média”, que na bolha onde vivem muitos comentadores está nos dois escalões mais altos do IRS, tem tempo de antena ilimitado. O que cria uma imagem distorcida da realidade: a de que os mais pobres vivem às custas dos impostos pagos por uma minoria. Lamento, mas é o contrário: é a minoria que concentra nas suas mãos grande parte da riqueza deixando tão pouco para a maioria que nem para pagar IRS sobra. Os que mais recebem não são pessoalmente responsáveis pela desigualdade. Mas são moralmente responsáveis por não enviesar o debate, não transformando o privilegiado em vítima e a vítima em parasita.


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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O PSD e a vacuidade de uma oposição trauliteira e miguelista


por estatuadesal
(Carlos Esperança, in Facebook, 04/09/2017)
wgate
O Curso de Castelo de Vide terminou certamente com a aprovação dos alunos e a clara reprovação dos professores, sem qualquer utilidade para o País nem para o próprio PSD.
Do ex-PR, que jamais explicou as relações com o BPN, ao ex-PM que se julga ungido para governar, à revelia da Assembleia da República, ulularam docentes, alguns com qualificação académica, e que preferiram diatribes comicieiras à docência e à decência.
Quando se pensava que a revelação das redes de corrupção em autarquias do Norte teria reflexos no conclave, ecos na comunicação social e um comunicado da PGR, que viesse tranquilizar os portugueses quanto a investigações sobre 20 (vinte páginas) de denúncias da revista Visão, reinou o mais sepulcral silêncio, dentro e fora do conclave.
Que forças se moveram por trás do silêncio ensurdecedor às acusações a Marco António Costa, Luís Filipe Meneses, Agostinho Branquinho, Hermínio Loureiro, Virgílio Macedo e Valentim Loureiro que os próprios deviam estar interessados em esclarecer para salvaguarda do seu bom nome?
Os porta-vozes dos interesses desta direita limitaram-se a atenuar os danos para o PSD da inenarrável homilia de Cavaco Silva que não poupou o sucessor que lhe outorgou o Grande Colar da Ordem da Liberdade, como se tivesse lutado por ela, nem o Governo cuja legitimidade só um salazarista poderia pôr em causa.
Cavaco e Passos Coelho têm o direito de criticar quem os reduziu à sua insignificância, mas não têm legitimidade para falar de democracia ou de liberdade, quando lhes falta a credibilidade e a coragem cívica e ética para lutarem por esses valores.
O maior partido da AR, incapaz de apresentar um OE para ser confrontado com o que o PS apresentará, depois de negociado com o BE, PCP e PEV, só respondeu ao repto de António Costa para o desafiar para eventuais consensos na Justiça, Segurança Social e Saúde, quando, no Governo, pretendeu respetivamente violar a CRP, criar um teto aos descontos, para inviabilizar a SS e entregá-la aos privados, e destruir o SNS.
Este PSD não está interessado em defender a Constituição e a democracia, quer alterar a natureza do regime e esvaziar as bases programáticas da CRP que Cavaco Silva e Passos Coelho abominam.
Foi deprimente ver o ex-PR no comício partidário como agitprop da direita reacionária e vassalo de um líder esgotado, e este a defendê-lo depois.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O mestre da perfídia


por estatuadesal

(Por Estátua de Sal, 30/08/2017)
Mumia
Cartoon in Blog 77 Colinas
Confesso que nunca percebi muito bem esse acontecimento que dá pelo nome pomposo de "Universidade de Verão do PSD". Fico na dúvida se será uma fábrica de doutores que conseguem um canudo apenas a estudar durante um verão - na senda dos feitos doutorais do famigerado Miguel Relvas, esse doutor de alta prestação -, ou se será apenas uma reciclagem de doutores já feitos, jotinhas fresquinhos a precisar de actualizar o seu parco e anquilosado software.
Em qualquer dos casos, como as "aulas" não ocupam o verão inteiro e não duram mais que uma semana, são necessários mestres de grande qualidade e eloquência para em tão pouco tempo dar conta do recado. E assim tem sido. Por lá tem passado todas as pequenas e grandes sumidades da direita, desde Durão a Moedas, desde Passos a Maria Luís, tendo cabido desta vez a tarefa ao ressuscitado Cavaco Silva. A palestra foi triste e deprimente e,  como sempre ao bom estilo de Cavaco, uma peça de insidiosos recados. (Ver aqui)
A esquerda - nomeadamente o PS -, está encarniçada contra Cavaco. Pensa ela que a maioria dos recados de Cavaco lhe foram dirigidos. Talvez em parte. Cavaco, ressabiado como é, ainda não engoliu totalmente o sapo que foi ter que dar posse ao governo actual, ao qual vaticinou as maiores agruras e insucessos,  e que apesar de todas as pragas que lhe rogou, está a apresentar os melhores resultados económicos deste século. Quando um político fundamenta os seus discursos nos seus pequenos ódios em vez de os fundar na realidade, só podemos - para sermos magnânimos - receitar-lhe a aposentação. Eu sei que Cavaco já está aposentado - e bem -, mas seria bom que se convencesse disso em definitivo, o que parece que ainda não sucedeu.
Mas Cavaco não se ficou pelos recados ao Governo a quem ele continua a rogar pragas. Marcelo também não foi poupado. É o "presidente da verborreia". Comparar Marcelo a Macron, pela negativa, não lembra ao diabo, mas foi o que Cavaco fez para, de forma sibilina, se comparar ele próprio a Macron. Ora Macron é uma construção artificial em plástico dos meios de comunicação social franceses, a soldo dos grandes interesses financeiros internacionais, que o venderam ao eleitorado,  santificado, e ungido pelos deuses, uma espécie de reizinho gaulês descido dos céus. Pois bem, ficámos a saber que é nesse papel celestial que Cavaco sempre se reviu enquanto Presidente. O rei Cavaco era parco em palavras e distante da povo porque, para Cavaco, os reis não falam com a plebe, apenas a mandam ajoelhar quando esta se apresenta ao beija-mão real.
Mas a parte mais pérfida e oculta dos recados não foi em grande parte descodificada à esquerda. Tratou-se de uma mensagem para os jotinhas, e directamente dirigida para o interior do PSD. E a mensagem é simples: não alinhem nos cantos das sereias que vos querem vender propondo-vos nova liderança, meus jovens: eu sou grande, eu sou o vosso líder até à eternidade e Passos Coelho é o meu profeta.
E é nesse contexto que deve ser entendido o ataque de Cavaco à comunicação social, aos jornalistas, aos comentadores. Sim, porque os comentadores são praticamente todos de direita, e a orientação das televisões é empolar as falhas e limitações do actual governo e, ao mesmo tempo, minimizar ou ocultar mesmo,  os seus sucessos, e por isso Cavaco devia colocá-los no altar em vez de os denegrir. Mas não. A razão é simples: a direita já iniciou o processo de destituição de Passos Coelho, porque não quer apostar de novo num cavalo perdedor. Desde o Expresso/SIC, passando pelo Observador, até ao pequenote Marques Mendes, todos estão a trabalhar com denodo para acelerar a queda de Passos Coelho a curto prazo. E é por isso que Cavaco zurze nos comentadores e nos jornalistas. Estão a atacar o seu prosélito, dilecto filho e obediente seguidor.
Se isto foi uma aula, foi uma aula de perfídia e de insensatez. Nada que os jotinhas não admirem, mas que não mereceu mais do que sorrisos amarelos e aplausos tíbios.
Porque, para encerrar com pompa, Cavaco tirou da cartola, a segunda edição da sua célebre máxima da "asfixia democrática". Incentivou os jotas a lutar contra a censura que, segundo ele, está instalada em Portugal. Perante esta tirada, ocorreu-me de imediato a pergunta: o que é que ele anda a tomar? Alguma droga que lhe provoque alucinações? Cocaína adulterada porque o dinheiro da reforma não chega para comprar da pura?
Depois reflectir cheguei à conclusão seguinte: Se o governo tem sucessos e Cavaco não gosta é porque existe "censura" que oculta os insucessos da governação pois os supostos sucessos que vem nos jornais não podem ser reais.
Eu pensava que apenas Passos Coelho é que padecia de esquizofrenia grave, tendo continuado durante muitos meses a julgar que ainda era primeiro-ministro e a comportar-se como tal. Afinal, Passos está semi-perdoado. Apenas seguiu as instruções e as práticas do seu querido e dilecto mestre, o qual continua a achar que ainda é Presidente da República, e sobretudo que a forma como exerceu o cargo ficará para os anais da história como tendo sido exemplar.
Um personagem que não consegue ainda interiorizar que, fosse ele rei como gostaria ter sido, ficaria na história com o cognome de Cavaco, o de triste memória, como mostram os níveis de popularidade que tinha quando se retirou, não tem da realidade mais do que uma distorcida visão. Visão com que insensatamente persiste em incomodar o país, sempre que sai do seu refúgio dourado que todos pagamos.
Era bom que Cavaco se convencesse de uma vez por todas que se deve apenas dedicar a escrever as suas memórias. Mas que as guarde para si e para os seus descendentes e não as publique nem as partilhe com a Nação. Porque as memórias de Cavaco são tristes memórias que Portugal se esforça por esquecer, um pecadilho e uma falha dos portugueses que elegeram mais que uma vez para os governar  um personagem de tão limitadas qualidades e de tão mesquinho e provinciano ideário.