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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

MACRON, MON AMOUR


por estatuadesal
(Soares Novais, in a Viagem dos Argonautas, 03/09/2017)
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O Dr. Cavaco saiu de Albufeira às seis e meia da manhã para ir dar uma “aula” a Castelo de Vide. Foi o que disse ao Dr. Passos quando este lhe abriu a porta do carro que usa e nós pagamos. A “aula” do Dr. Cavaco não foi uma “aula”, dando de barato que ele tem dotes para leccionar. Foi, isso sim, um rosário de asneiras, mentiras e pesporrência.
Disse, o “prof” reformado da Aldeia da Coelha, segundo a RR:
1. “[Tenham] a força e a coragem para combaterem o regresso da censura.”
2. “Apesar das coisas estranhas que têm acontecido no nosso país, apesar de vozes credíveis afirmarem que a censura está de volta, estou convencido que os portugueses ainda valorizam a verdade, a honestidade, a competência, o trabalho sério, a dedicação a servirem as populações.”
3. “[As fake news] Não existem apenas na América do senhor Trump, mas também na generalidade dos países europeus e em Portugal.”
4. “[Na zona euro] A realidade acaba sempre por derrotar a ideologia”
5. “[A realidade] Tem uma tal força contra a retórica dos que, no governo, querem realizar a revolução socialista, que eles acabam por perder o pio ou fingem apenas que piam, mas são pios que não têm qualquer realidade e reflectem meras jogadas partidárias”.
6. “Se perguntassem aos partidos da coligação que defendem a saída de Portugal do euro para onde iria Portugal se saísse dessa galáxia, talvez respondessem para a galáxia onde se encontra agora a Venezuela.”
7. “[O Estado português] Não é só indisciplinado [economicamente], mas também demasiado gordo”.
8. “Na política não há certezas, ninguém deve esperar da política gratidão ou reconhecimento”
9. “Se o poder político conseguir controlar estas entidades [como o Conselho das Finanças Públicas] o retrocesso na transparência da nossa democracia será muito significativo.”
10. “[Emmanuel Macron] Contrasta com a verborreia frenética da maioria dos políticos europeus dos nossos dias, ainda que não digam nada de relevante.”
Sabe-se: o Dr. Cavaco tem muita dificuldade em expressar-se e graves problemas de dicção, apesar das aulas que recebeu da “mestra” Glória da Matos. Mas sobra-lhe rancor e perfídia. Tanta que esqueceu as condecorações e os elogios com que tem sido brindado pelo seu sucessor em Belém.
Para o Dr. Cavaco o mundo gira à volta do seu umbigo e das suas certezas. Ele é o “maior” e o “mais sério”. Apesar das suas relações de amizade com o impoluto Oliveira e Costa, do BPN; e das mais valias das acções preferenciais da Sociedade Lusa de Negócios que teve o seu ex-amigo Dias Loureiro como “cabeça de cartaz”. Só para citar dois exemplos.
Apesar de os alunos da dita “universidade” serem siameses do ex-doutor Relvas, a verdade é que não mereciam ter uma “aula” com um “prof” de tão baixo nível. Já lhes basta ter de ouvir o “sotôr” Rangel e a agência de empregos ser presidida pelo “sotôr” Coelho.
A “aula” só teve um mérito: a declaração de amor a Macron. O filho do senhor da “bomba” de Boliqueime gosta do petit. Talvez por ele gastar 288 euros por dia em serviços de maquilhagem. (A revelação foi feita pela revista “Le Point” e o Palácio do Eliseu confirmou.)
Percebo a declaração de amor de Cavaco: ele, que é um habitué em cosmética, sempre usou máscara anti-politico…

sábado, 15 de julho de 2017

Macromania



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 14/07/2017)
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A macromania é um dos iô-iôs mais demonstrativos da meteorologia política europeia. Há umas semanas, os euro-institucionalistas anunciavam a catástrofe iminente e declaravam-se sem meios de a esconjurar: em poucos dias, ou em poucas semanas, segundo as versões, a União entraria na sua derrocada moral ou no abismo sem regresso, sendo irreversível o “esboroamento” e as “crises sufocantes”. Agora, bastou uma parada solene nos Campos Elísios no dia da tomada da Bastilha e ao lado de Trump e Merkel, e temos de novo a redenção à vista.
Desde a vitória eleitoral de Macron em França, esse discurso salvífico foi relançado com um alívio indisfarçado. Maria João Rodrigues, uma europeísta experiente, anunciava no Expresso que “finalmente – ao fim de oito anos – surge alguma luz ao fundo do túnel da zona euro”, e retomava o menu já conhecido, toca a completar a União Bancária. Aqui no PÚBLICO, um escritor austríaco, Robert Menasse, explicava como foi crítico da União e se converteu, deliciado, compreendendo que é preciso matar a democracia nacional para haver ordem europeia. Todo este triunfalismo e mesmo o atrevimento vem da vitória de Macron.
Ele é o homem de que a Europa precisa, ele é o homem da parceria com a Alemanha, ele é o homem das soluções. Será mesmo? Permitam-me a desconfiança, é que já me deram este golpe, com Hollande foi exactamente este guião. Será agora o resultado diferente?

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Vem aí uma nova Europa?

Celso  Filipe
Celso Filipe | cfilipe@negocios.pt 05 de julho de 2017 às 00:01

França arquitectada por Emmanuel Macron é um dado novo que promete desviar ainda mais o eixo do poder da União Europeia para a latitude alemã. Por razões ideológicas ou de conveniência, a França vinha sendo, até à eleição de Macron, um contra-poder à Alemanha. Macron pretende mudar este posicionamento e para mostrar a Angela Merkel que está empenhado em concretizar a sua visão promete uma reforma do trabalho em França, destinada a tornar o país mais competitivo.


Macron-Presidente
Emmanuel Macron
França arquitectada por Emmanuel Macron é um dado novo que promete desviar ainda mais o eixo do poder da União Europeia para a latitude alemã. Por razões ideológicas ou de conveniência, a França vinha sendo, até à eleição de Macron, um contra-poder à Alemanha. Macron pretende mudar este posicionamento e para mostrar a Angela Merkel que está empenhado em concretizar a sua visão promete uma reforma do trabalho em França, destinada a tornar o país mais competitivo.
Philippe Aghion, economista e conselheiro de Emmanuel Macron na elaboração do programa eleitoral, é claro nesta matéria. "A prioridade [do Presidente francês] é o mercado de trabalho e ganhar a confiança da Alemanha", disse Aghion numa entrevista ao Negócios publicada esta terça-feira.
A estratégia de Macron foi legitimada pelos franceses, sobretudo nas eleições legislativas, onde o partido do Presidente francês, "En Marche" obteve uma vitória esmagadora. Mais, numa atitude de inequívoca confiança, anunciou a possibilidade de recorrer a referendos para pôr em marcha a reforma das instituições que propõe, entre as quais a redução do número de parlamentares nas duas câmaras e o fim do Tribunal de Justiça da República.
"Ele virou do avesso o sistema político francês, juntando todos os reformistas da direita e da esquerda. Por isso tem uma grande representatividade eleitoral para reformar", sublinhou Philippe Aghion na referida entrevista.
A França de Macron é, neste quadro, uma novidade absoluta e um desafio para países como Portugal, Espanha, Itália e Grécia, que têm vindo a apostar naquele país como uma força de bloqueio a uma linha dura de férreo controlo das contas públicas sempre defendida pela Alemanha.
Para Macron, o alinhamento com Berlim é fundamental para a França recuperar o seu peso político e o estatuto de potência. Paris não quer ser o rosto dos países do Sul, mas co-líder da União Europeia, estatuto que perdeu há muito.
É claro que Angela Merkel só comprará esta aliança depois do Presidente francês passar das palavras aos actos, mas o que aí vem, caso Emmanuel Macron atinja os seus objectivos, é uma União Europeia reforçadamente ortodoxa em matérias económicas e mais flexível ao nível do mercado de trabalho, sendo que a incógnita é o casamento dos interesses da França e da Alemanha na questão da política externa. Macron quer ser líder do mundo livre, por oposição a Donald Trump. À Alemanha basta-lhe ser líder da Europa.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Gulliver e a Europa liliputiana (estatuadesal)

 

(Viriato Soromenho Marques, in Diário de Notícias, 26/04/2017)
soromenho
Imaginemos um cidadão europeu, de nome Gulliver, que tivesse tombado em coma em 2002, no mesmo ano em que o euro entrou em circulação e a convenção que visava estabelecer um tratado constitucional para a Europa iniciou os seus trabalhos. No ano em que intelectuais como Charles Kupchan, da Universidade de Georgetown, profetizavam que a UE seria o próximo farol do Ocidente, dada a inevitável queda dos EUA, de que a presidência de G.W. Bush era a definitiva prova. Imaginemos, ainda, que Gulliver despertava nesta Europa de 2017. Confirmaria a justeza de Kupchan, pois Trump promete ser uma mais incisiva prova de decadência do que Bush. Mas ficaria surpreendido com as brutais metamorfoses ocorridas no projeto europeu. Saberia que na UE o impacto regional da crise financeira de 2008 ficaria conhecido como "crise da dívida soberana". Muito embora a dívida dos Estados europeus tivesse escalado para acudir à derrocada do sistema bancário, e o dinheiro emprestado aos países pelos planos de resgate da troika tivesse sido menos de um décimo da quantia retirada aos contribuintes europeus para salvar a banca (uma significativa parte a fundo perdido...), o diretório europeu preferiu batizar a crise pelo nome da consequência (dívida pública) e não da causa (exuberância de imparidades de um setor financeiro deixado à rédea solta pelo péssimo desenho do euro). Gulliver ficaria também estarrecido por verificar que desde 2010 o nacionalismo e a xenofobia - as mesmas doenças europeias que devastaram o mundo em duas guerras mundiais - regressaram em força ao discurso político, começando debaixo da ideia farisaica de que povos inteiros gastaram para lá das suas possibilidades, sendo por isso a austeridade, simultaneamente, um remédio e uma merecida punição. Em vez das promessas de desenvolvimento da Agenda de Lisboa para 2010, a UE tornou-se um ciclópico centro correcional para promover a disciplina orçamental dos povos, sob os ditames de um novo tratado (2013), que promete um futuro sombrio, sem nenhuma perspetiva de investimento ou solidariedade social.
Ficaria também assustado por ver que a moeda comum se transformou num fator de divergência entre países, e entre grupos sociais, dentro do mesmo país. Perceberia que a desigualdade crescera, que o desemprego, sobretudo o jovem, atingia assimetricamente a UE, sem causar alarme nos países onde os excedentes externos funcionavam como um muro abafando as dores dos vizinhos.
Gulliver ficaria boquiaberto ao constatar que os políticos defensores deste desequilibrado "europeísmo" têm como opositores novos protagonistas, considerados "populistas", para quem bastaria um gesto mágico de supremacia da vontade nacional soberana para corrigir todos os males, como se pisar o campo minado da zona euro não implicasse um perigo mortal inaceitável. Gulliver sentir--se-ia, de facto, entre liliputianos na Europa de 2017. Ele pressentiria, com um pavor frio, que os horrores da Europa, geralmente causados por gente desmesurada e sequiosa de império, com mais vontade do que entendimento, poderiam igualmente ser provocados por gente pequenina em tudo, tanto nas suas ambições como no escasso pecúlio epistémico. Ele não saberia dizer, tal como nenhum de nós, se Emmanuel Macron, o próximo presidente francês, terá engenho e arte para impedir a única coisa gigantesca neste triste e imenso drama: o preço em sofrimento que todos teríamos de pagar se a Europa do futuro, finalmente, tombasse até ao patamar de irrelevância dos seus recentes e atuais regedores.
 
Ovar 26 de abril de 2017
Álvaro Teixeira