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quarta-feira, 7 de junho de 2017

Testemunhos para memória futura


por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 07/06/2017)
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António Mexia

Mal rebentou o caso EDP Passos Coelho apressou-se a limpar-se declarando que o seu governo tinha sido o único a baixar as rendas da energia elétrica; depois dele o Sor Álvaro, ministro da Economia até que o Portas correu com ele para promover Pires de Lima, também veio a público fazer o seu autoelogio, repetindo a declaração de Passos Coelho.
Mas vale a pena recuar a Março de 2012, nesse dia era anunciada a demissão de Henrique Gomes, o então secretário de Estado da Energia. À boa moda soviética uma fonte não identificada dizia à Lusa que a demissão se devia a «motivos de índole pessoal e familiar». Mas a TSF esclarecia que «Henrique Gomes tinha em mãos um plano com potencial para incomodar muita gente. O objetivo, imposto pelo acordo assinado com a troika, é reduzir as rendas que o Estado paga aos produtores no setor energético e que o secretário de estado classificava como «excessivas» [TSF]. Isto é, o secretário de Estado era demitido a pedido da EDP.
As causas da demissão foram abafadas e o PSD e o CDS chumbaram hoje uma proposta do PCP para ouvir no Parlamento o ex-secretário de Estado da Energia, Henrique Gomes, e o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira. António Mexia terá festejado a saída do governante com champanhe; quem o declarou foi o Sor Álvaro num livro que escreveu mais tarde “Sei que a saída de Henrique Gomes do Governo causou polémica e sei mesmo que houve até produtores de energia que chegaram a celebrar com champanhe a sua partida” [Expresso]. O que ele não explicou foi porque razão não teve a coragem de defender o seu secretário de Estado.
Para o lugar de Henrique Gomes foi Paulo Trindade e, coincidência das coincidências, em 2015 era notícia que «o pai do secretário de Estado da Energia, Artur Trindade, é consultor da EDP desde 2013, confirmou à Lusa fonte oficial da elétrica, na sequência de uma denúncia feita hoje pelo empresário Manuel Champalimaud.» [Jornal de Negócios]. Isto é, o rapaz não perdeu tempo, o mesmo sucedeu, aliás, com Maria Luís Albuquerque que meteu o marido a ganhar uns cobres na EDP.
É uma pena que o Sor Álvaro se tenha esquecido de esclarecer duas coisinhas, o motivo porque demitiu o seu secretário de Estado das Energia e que o corte das rendas feito pelo seu governo estava decidido no memorando com a Troika, mas ficou aquém do desejado. Aliás, o mesmo Henrique Gomes declarava em 2015 que "em vez do corte das rendas e redução de custos, o Governo aumentou os preços da energia aos consumidores" [Jornal de Negócios]. E quanto aos cortes nas rendas as suas contas diferem muito das do Sor Álvaro:
«Faz as contas para dizer que em vez dos cortes que o Governo reclama de 4,4 mil milhões de euros até 2020 nessas rendas, o que se conseguiu cortar foram 1.600 milhões, tendo conseguido, por outro lado, uma receita adicional com a contribuição extraordinária (CESE) de 200 milhões. "No total teremos 1.800 milhões que se contrapõem aos 4.400 milhões de euros que o Governo reclama", escreve o ex-governante.»
Longe de mim pensar que o Sor Álvaro também terá bebido Champanhe com Mexias ou que haja algo de corrupção no emprego do pai do secretário de Estado nomeado para o lugar do governante mandado sanear ou no lugar que do marido da ministra das Finanças conseguiu na EDP, já para não referir que a presidencia da EDP atribuída a Catroga, o negociador do memorando com a Troika em representação de Passos Coelho, tivesse algo de corrupto. Digamos que em tempo de crise e de cortes de rendimento se tratou de atos de generosidade por parte de Mexia. Ninguém terá mandado uma cartinha anónima para a PGR?


terça-feira, 6 de junho de 2017

BULE BRITÂNIA…


por estatuadesal

(Por José Gabriel, in Facebook, 06/06/2017)

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Só faltava esta: comentadores a defender que a queda eleitoral de Theresa May e correspondente subida de Jeremy Corbyn se deve aos atentados terroristas - alguns dos mesmos comentadores que os classificava, há poucos dias, como uma vantagem para os Conservadores. Parece que não conseguem interiorizar o simples facto de que os eleitores preferirem as mensagens e projectos de Corbyn por razões políticas. Independentemente do valor que se possa atribuir ao programa Trabalhista e aos comportamentos do seu líder e não havendo, em alguns tópicos, tanta distância como alguns de nós - e deles...- gostaríamos, há diferenças fundamentais e, o que mata os neurónios de muitos comentadores, Corbyn é um candidato muito mais à esquerda que a tralha blairista. Quer dizer, valha o que valer o seu programa, um bom resultado dos Trabalhistas com tal candidato tem um significado que ultrapassa em muito a conjuntura britânica. Theresa May, pelo seu lado, tem representado tudo o que há de repulsivo num político: catavento político e moral, capaz de defender tudo e o seu contrário desde que obtenha uma vantagem conjuntural, socialmente insensível e isolacionista em modo Trump.
Parece ser insuportável para muitos dos nossos opinantes esta situação. Assim, recorrem, como os jornalistas do Público e outras folhas de couve, à velha treta do modelo teórico da moda. As coisas são boas ou más consoante estão "a dar" ou não. É assim que pensa a nossa direita coelhista que, quanto mais reaccionária é, mais insiste em proclamar a sua "modernidade"."Foram buscar Corbyn ao frigorífico", "está fora do tempo", e outras apreciações que tais. Não é novo este recurso argumentativo. É que uma análise procedente dá um trabalho dos diabos e o seu resultado pode não ser do agrado dos patrões. Assim, rasteja-se no senso comum.
Parece, para muitos, insuportável a visão da coerência e do carácter. Mas aqueles que de nós que têm memória, lembram-se que o "velho" Corbyn foi um dos 13 - entre 650! - que levantou a voz - e o voto! - e se opôs às aventuras criminosas na Líbia e à invasão do Iraque, fontes de muitos dos problemas que agora enfrentamos, entre os quais releva o da escalada terrorista. A maioria dos terroristólogos que por aí anda raramente lembra estes factos. As raízes do terrorismo são tão desconfortáveis...
Não se trata aqui de subscrever tudo o que Corbyn propõe e afirma, cujo conteúdo deve ser julgado pelos seus méritos, mas de saudar esta aragem de decência política. Renovadora, venha de onde vier no espaço e no tempo, porque, ao contrário do que pensam os tolos, não se trata de saber se as ideias são velhas ou novas, mas se são justas. Nos sentidos de justeza e de justiça.

Apoio à destituição de Trump já é superior à sua taxa de popularidade

Decisão de retirar EUA do Acordo de Paris sobre o Clima explica nova queda na popularidade de Donald Trump.
A recente primeira viagem de Donald Trump ao estrangeiro elevara os seus níveis de popularidade para os 42%. Um recorde. Mas no fim de semana regressou aos 35% e o apoio dos norte-americanos à sua destituição ronda os 43%.
Este é o resultado das últimas sondagens publicadas nos EUA, nomeadamente esta segunda-feira pela Gallup e que se segue ao anúncio de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o Clima - tendo ainda em pano de fundo a investigação sobre as eventuais ligações da sua campanha eleitoral à Rússia.
Segundo a publicação Newsweek, mesmo empresas de sondagens conotadas com a direita norte-americana como a Rasmussen Reports revelam uma quebra no apoio ao desempenho de Donald Trump como presidente dos EUA: 54% dos norte-americanos criticam a sua atuação.

© EPA/MICHAEL REYNOLDS

Embora os resultados difiram entre as várias sondagens, todas elas revelam uma tendência de queda significativa na popularidade de Trump durante o fim de semana e na sequência da decisão sobre o acordo climático.
O crescente apoio à abertura do processo de destituição de Donald Trump coincide com a defesa pública dessa medida por vários congressistas democratas.

Fonte: DN

Detida alegada autora de fuga de informação sobre eleições nos EUA

Donald Trump

O Departamento de Justiça dos EUA anunciou na segunda-feira que deteve e acusou uma analista de revelar informação classificada de um serviço de informações, sobre um eventual envolvimento da espionagem russa nas eleições presidenciais.
Em comunicado, o Departamento adiantou que a contratada Reality L. Winner, de 25 anos, foi detida este fim de semana no Estado da Geórgia e acusada de um delito contra a segurança nacional.
Winner trabalhava para a consultora Pluribus International e tinha autorização para manipular informação classificada como "muito secreta".
Ainda segundo o Departamento de Justiça, a acusada imprimiu, em 09 de maio, informação classificada e retirou-a das instalações para a entregar a um meio de comunicação.
Distribuir material classificado sem autorização ameaça a segurança da nossa nação e mina a confiança pública no governo", assegurou, em comunicado, o número dois do Departamento, Rod Rosenstein.
O meio digital The Intercept publicou na segunda-feira documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) em que se detalham as intenções do governo russo de atacar informaticamente atores envolvidos no sistema de votação nos EUA, bem como para se infiltrar nas comunicações de funcionários relacionados com o sistema eleitoral.
Estas informações constam de um documento "muito secreto" da NSA, com cinco páginas, em que se explicam as técnicas de infiltração e 'phishing' (correio eletrónico malicioso) utilizadas pela Rússia.
No relatório da NSA, datado de 05 de maio, afirma-se que a espionagem militar russa atacou uma empresa de programas informáticos ('software') para eleições e enviou mensagens de correio eletrónico malicioso para mais de 100 dirigentes locais envolvidos no processo eleitoral, no fim de outubro ou início de novembro.

Fonte: JN

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Keep calm and carry on


por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 05/06/2017)
Autor
                        Daniel Oliveira
Em plena campanha eleitoral, em queda nas sondagens e vendo o seu opositor a conseguir mudar o tema da campanha para os assuntos sociais (graças ao arrojado programa eleitoral trabalhista), Theresa May aproveitou os atentados de Londres para endurecer o seu discurso em matéria de segurança. Jeremy Corbyn fez o mesmo, acusando os conservadores pelos cortes feitos nas forças de segurança. Líderes de todo o mundo transmitiram a sua solidariedade aos londrinos. O idiota supremo aproveitou o momento para atacar o presidente da câmara da enlutada capital britânica que teve de declarar que tinha mais que fazer do que responder aos twittes de Donald Trump.
Os atentados, de que resultaram sete mortos e 48 feridos, são também uma oportunidade para os media de todo o mundo. Durante dois dias assistimos a diretos à escala global, com e sem informação, em que, para além dos factos relatados e que são notícia, se fizeram horas de análise. Horas em que não foi dito nada que não tivesse sido dito nos últimos atentados, numa espécie de ritual sazonal que vai perdendo cada vez mais o sentido.
Ariana Grande voltou a subir ao palco para o concerto “One Love Manchester”, em que, com Robbie Williams, Katy Perry, Miley Cyrus, Justin Bieber ou os Cold Play, prestou homenagem aos 22 mortos de há duas semanas. Foi recolhido muito dinheiro para o fundo de emergência instituído pela câmara da cidade e pela Cruz Vermelha britânica e muitos canais de televisão, incluindo a nossa RTP, transmitiram o espetáculo carregado de emoção.
Se para um ou outro político os atentados terroristas são uma oportunidade, a maioria das reações aos trágicos acontecimentos de Londres resultam de gestos generosos ou de um sincero sentido de dever. Os diretos, as declarações públicas, os rituais simbólicos de solidariedade, tudo é compreensível e sinal do melhor que temos. Mas é mau para nós.
Se não queremos ser fantoches dos terroristas, temos de dosear o festival em torno de cada atentado. Evitando diretos televisivos vazios de conteúdo, recusando a construção coreografada de momentos de emoção coletiva, fugindo de discursos que tentam traduzir a mensagem que os terroristas nos querem fazer passar
Quando eu era bastante novo a Europa era palco muito frequente de atentados terroristas. Do IRA, dos unionistas da Irlanda do Norte, da ETA, das Brigadas Vermelhas, do Baader-Meinhof ou de grupos palestinianos, as notícias de atentados eram muito frequentes. 1979 até foi o ano em que se registaram mais atentados em solo europeu até hoje. Mais de mil. É verdade que se tratava de um tipo de terrorismo diferente. Tinha reivindicações políticas e isso tornava-o, por assim dizer, mais inteligível. Mas, tirando casos muito extraordinários, como o dos Jogos Olímpicos de Munique ou o sequestro e assassinato de Aldo Moro, eram notícias de um dia com algumas repercussões nos noticiários seguintes. Não tomavam estas proporções mediáticas porque estes meios mediáticos não existiam. E como as proporções mediáticas não eram estas a sensação de insegurança era menor e as reações políticas também não eram tão fortes.
Não podemos fazer com que o mundo volte para um tempo em que tínhamos mais controlo sobre a dose mediática que cada assunto merecia. Mas, se não queremos ser fantoches dos terroristas, temos de dosear o festival em torno de cada atentado. Evitando diretos televisivos vazios de conteúdo, recusando a construção coreografada de momentos de emoção coletiva, fugindo de discursos que tentam traduzir a mensagem que os terroristas nos querem fazer passar. E nunca procurando, um ou dois dias depois de cada atentado, definir políticas que com ele se relacionem.
Os terroristas já não precisam de grandes meios para os seus ataques. E nós tratamos de lhes garantir a produção mediática e estética, dando sentido, dimensão e até banda sonora ao seu terror. E criando as condições emocionais para sermos obrigados a reagir politicamente como eles querem. Eles disparam sobre os nossos pés e nós dançamos ao ritmo dos tiros. Temos de decidir se queremos recuperar o controlo. Se sim, temos de tentar deixar de querer mostrar quem sente mais, quem é capaz de comover-se mais e comover mais os outros. Temos de ser mais fleumáticos. Porque é com a nossa emoção coletiva que eles jogam. E parece que nós a queremos amplificar. Talvez seja o medo de deixarmos de sentir qualquer coisa. E, por mais terrível que isto pareça (e de facto é sinistro), é quando deixarmos de sentir tanto que eles deixarão de nos manipular.
Em 1939 o Ministério da Informação britânico produziu um cartaz que se destinava a dar força à população em caso de invasão alemã. “Keep calm and carry on” (“tenha calma e siga em frente”), foi um cartaz visto por muito pouca gente durante o Blitz. Não era um apelo à resignação nem uma frase para ser usada em t-shirts. Era um apelo à resistência e à inteligência coletiva. Perante o terrorismo, não se pede a inação. Pede-se, na exibição de tantas emoções e momentos mediáticos, alguma contenção.