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terça-feira, 27 de junho de 2017

Quem mente uma vez, mente sempre


por estatuadesal

(Por Estátua de Sal, 26/06/2017)
passos_burro
Que Passos Coelho era o rei dos aldrabões já era conhecido. Nada de novo. Chegou ao poder em 2011 prometendo o mel aos portugueses, e criticando as medidas austeritárias do governo de Sócrates, e deu-lhes quatro anos de medidas de fel, ao lado das quais a austeridade de Sócrates era coisa de brincar.
Que não tem limites morais na sua voracidade pelo poder também já se sabia. Para ele vale tudo, mesmo que seja apoiar o Arquitecto Saraiva no lançamento de um livro de mexericos sórdidos sobre a vida de personagens públicas, como se propunha fazer, só desistindo à última hora por indicação dos seus conselheiros mais sensatos.
O que não sabíamos é que pudesse ir tão longe como hoje, usando a desgraça alheia dos que morreram, e dos que ele julgou terem sido vítimas colaterais da tragédia dos fogos para atacar o governo e fazer da mais rasca política que se viu nas últimas décadas.
Passos, veio falar em suicídios causados pela amargura causada a alguns pelo terror da tragédia. Para ele, estes suicídios seriam culpa do governo e revelariam a ineficácia funcional do mesmo governo. Nada mais falso. Não houve suicídios nenhuns. Até ver e que se saiba. O mais grave não é Passos ter mentido. O mais grave é, se tivessem existido suicídios, ele usá-los como arma de arremesso político, esquecendo o sofrimento das pessoas e o desespero que as teria levado a esse fatal e funesto acto de acabar com a vida.
Passos é um amoral, uma espécie de amiba ética, um calhau de insensibilidade. Para ele vale tudo para regressar ao poder, vendeu o país à troika, vendeu os velhos à amargura, vendeu os novos à emigração, e venderá o pai e a mãe se preciso for para ser de novo primeiro-ministro.
E já agora, deve dizer-se que, se suicídios houve, muitos ocorreram sim, durante a governação pafiosa. De muitos que perderam o emprego, a casa, a família, os filhos e toda a vida organizada que tinham e não aguentaram as agruras dessa nova situação de penúria.
Mentiroso, amoral e por fim, incompetente. Não fosse a sofreguidão do poder que o faz salivar com a desgraça alheia desde que a possa usar em benefício próprio, Passos teria verificado previamente a informação, antes de se arriscar à humilhação pública de ser desmentido por toda a gente e de ter que se retratar. Mas a avidez retirou-lhe o bom senso e a pressão da cáfila laranja, cada vez mais impaciente, atirou-o para a frente imprudentemente.
Passos que se retire e que se cale. Que faça votos de silêncio e se afaste para o Convento do Sacramento, fazendo companhia a Cavaco,  onde este lhe arranjará, certamente, uma secretária e um cilício para se auto-penitenciar.
É que, quando Passos fala, ou entra mosca ou sai asneira. Como o fogo levou as moscas e tudo o mais, já nem moscas entram, só sai asneira.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

As Promessas Eleitorais de Salvador Malheiro em 2013 (parte 3)


Hoje, dia 29/06, tal como prometi, vou apresentar as promessas eleitorais do Presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro, e lançar um desafio aos visitantes deste Blog, para que apontem as que foram e estão a ser cumpridas e aquelas e aquelas que já não vão ser implementadas neste mandato:
Aqui vão as terceiras:
EIXO 3 - FORTALECIMENTO DA COESÃO SOCIAL E TERRITORIAL, POTENCIANDO A DIVERSIDADE E OS RECURSOS ENDÓGENOS
24. Plano estratégico de “Habitação Social”:
• Promoção de novas políticas tendo por base a necessidade de conceder melhores condições habitacionais a agregados que se encontram em situação de vulnerabilidade económica e social;
• Priorizar melhores condições de sociabilidade, vizinhança e integração;
• Criar políticas que englobem o sector de arrendamento e a reabilitação urbana;
• Uniformizar critérios de aplicação das rendas sociais;
25. Concretização da habitação social na praia de Esmoriz e Praia de Cortegaça bem como a manutenção e reabilitação da habilitação social municipal existente;
26. Concretização do Plano Municipal para a Igualdade;
27. Reforço da cultura de rede que possibilite um planeamento estratégico e uma intervenção concertada na criação, otimização de respostas e serviços sociais no Município de Ovar;
28. Promoção de uma verdadeira estratégia para a acção social (e não de apoio social) englobando neste modelo todas as instituições de solidariedade social existentes no Município de Ovar, apostando numa monitorização constante no terreno e num diálogo permanente com as pessoas consideradas em situação de vulnerabilidade;
29. Estudo e implementação de um modelo de gestão e acompanhamento de atendimento municipal que promova a eficácia das equipas através da racionalização, otimização e articulação entre elas ou criação de equipas integradas para acompanhamento às famílias multiproblemáticas e multiassistidas;
30. Implementar/desenvolver programas estruturados de prevenção em meio escolar que possibilitem dotar as nossas crianças de capacidades que lhes permitam adotar atitudes e comportamentos saudáveis, inibindo precocemente os fatores de risco que levam à iniciação do consumo de drogas;
31. Fomentar projetos, intervenções, ações e candidaturas com relevância estratégicas que possam atuar nas necessidades sociais diagnosticadas no Município de Ovar;
32. Obter parcerias com instituições do sector empresarial de forma a estimular a certificação de responsabilidade social;
33. Concessão de incentivos e benefícios às famílias numerosas (3 ou mais filhos) nos programas municipais de apoio social;
34. Reforçar, melhorar e qualificar as respostas sociais dirigidas à população sénior, estimular o envelhecimento ativo, as atividades inter-geracionais e ações de cooperação interinstitucional;
35. Motivar a realização de fóruns de partilha de boas práticas entre profissionais das diversas instituições do concelho e de outros concelhos vizinhos, envolvendo os vários elos da mesma teia representada pelas entidades da Economia Social como forma de promover a qualidade do funcionamento das instituições;
36. Aproveitar os recursos das instituições existentes no Município de Ovar para apoio à população com problemas mentais e suas famílias;
37. Preparação da candidatura de Ovar a cidade amiga das crianças em parceria com a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) - UNICEF, comprometendo o Município de Ovar ao cumprimento da Convenção sobre os Direitos da Criança;
38. Desenvolvimento de ações e políticas locais que aumentem a participação das crianças com a criação de um quadro legislativo amigo das crianças, com a produção de relatórios regulares sobre a situação das crianças em Ovar, Assim como, coma criação de uma entidade/departamento de coordenação e orçamento para a infância;
39. Definir e implementar Plano de Melhoria da Mobilidade/Acessibilidade da População com Deficiência;
40. Promoção do projeto Empresários pela Inclusão Social (EPIS) que desenvolvem ações baseadas na figura do mediador escolar para combater o insucesso e o abandono escolar em jovens;
41. Regeneração urbana na globalidade do Município de Ovar contemplando todos os aglomerados urbanos designadamente: Furadouro sul, Campo Grande, Gondesende, Bairro dos Pescadores, centro de Válega, São João de Ovar, Cortegaça, Maceda (centro e largo de S. Geraldo), Arada e São Vicente de Pereira;
42. Garantir junto da Águas da Região de Aveiro, S.A. (AdRA) a cobertura integral em todos os lugares do Município de Ovar do saneamento básico e reabilitação das redes antigas já existentes;
43. Manter a identidade e as tradições de cada uma das nossas actuais freguesias, melhorando os serviços de proximidade existentes, diminuindo a burocracia e os tempos de resposta das Juntas de Freguesia, com a criação de rede informática de ligação da Câmara Municipal de Ovar a todas as freguesias;
44. Dotar as nossas associações desportivas com espaços e infraestruturas condignos para a prática das suas modalidades e espaços de formação, designadamente com o apoio à construção de relvados sintéticos em São Vicente Pereira, Esmoriz, Cortegaça, Arada, Ovar e Válega.
45. Recuperação e modernização da pista de atletismo de Arada, afirmando esta infraestrutura como a referência para a prática da modalidade no Município de Ovar;
46. Requalificação do Pavilhão Gimnodesportivo de Válega;
47. Apoio na reabilitação e modernização do edifício da Junta de Freguesia de Cortegaça;
48. Requalificar o edifício do Centro Cívico de Arada;
49. Reabilitação do edifício Esmoriztur afirmando-o como espaço cultural do Município de Ovar;
50. Retomar o projeto do Plano de Urbanização do Sportsforum (área nascente à Arena Multiusos);
51. Elaborar o plano geral de urbanização estratégico de Esmoriz;
52. Revindicar junto das entidades competentes a requalificação das estações e apeadeiros do caminho-de-ferro do Município de Ovar;


Como este post ficaria demasiado longo e fastidioso, na próxima segunda-feira, publicarei as restantes.
As mensagens e comentários podem ser colocados no Facebook ou no rodapé deste Post.
Vá lá. Atrevam-se!!!

Ovar, 26 de junho de 2017
Álvaro Teixeira

Passos diz que há "pessoas que puseram termo à vida" por falta de apoio em Pedrógão


Foto: Arquivo
Fonte: Jornal de Notícias
26 Junho 2017
Atualizada às 13h09
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As declarações foram feitas aos jornalistas, esta segunda-feira, ao comentar a atuação do Estado na resposta ao incêndio em Pedrógão Grande.
"Não é necessária nenhuma auditoria para saber que o Estado falhou. O Estado falhou", afirmou. "Tenho conhecimento de que há vítimas indiretas, pessoas que puseram termo à vida, que em desespero se suicidaram, que não receberam apoio em tempo devido", declarou o líder do PSD, durante uma visita a Castanheira de Pêra, sem especificar onde e em que momento essas pessoas terão morrido.

Presidente da Câmara de Pedrógão  nega

Valdemar Alves garante não ter conhecimento de qualquer caso de suicídio relacionado com o incêndio de Pedrógão Grande. "Há boatos, há muito boatos",a circular, diz o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, que garante não ter tido qualquer informação nesse sentido. "Peço às pessoas que não acreditem em boateiros", acrescentou.
António Costa também reagiu às afirmações de Pedro Passos Coelho, recomendando cautela. "Devemos ser todos muito prudentes nas afirmações que fazemos", aconselha o primeiro-ministro. "Não com base em rumores, notícias avulsas e no diz-que-disse", concluiu.

A Origem do Grande Incêndio Florestal de Pedrógão Grande

Junho 24, 2017


Muito se tem falado e especulado sobre a origem da ignição e a propagação inicial do Grande Incêndio Florestal de Pedrógão Grande. Uns procuram buscar respostas às inúmeras questões sobre o acontecido e, se de algum modo seria evitável o triste desfecho que vitimou mortalmente 64 pessoas e mais de duas centenas de feridos. Outros, porém, alimentados pelo mediatismo procuram fazer justiça na praça pública e inflamar a opinião dos cidadãos e, na maioria dos casos com um profundo desconhecimento do comportamento do fogo, em geral e, sobretudo sobre incêndios convectivos. Publicidade

Aos olhos do analista, este incêndio tratou-se sem dúvida alguma de um incêndio inédito, dado o domínio de um comportamento convectivo, ou seja, um incêndio conduzido pelo estado fenológico e carga disponível do combustível, e associado a uma instabilidade atmosférica previsível que favorecia e sustentaria a coluna convectiva em caso de incêndio. Este tipo de incêndios, de comportamento extremo do fogo, origina consequentemente elevada complexidade nas operações de controlo e extinção. Não existem grandes receitas, a não ser a proteção de aglomerados. Por alguma razão, os analistas de incêndios americanos denominam de “Hungry Fires”, uma vez que terminam quando acabam com o combustível que os alimenta ou então a situação sinóptica muda e permite que os meios de combate possam exercer manobras eficazes e seguras.
Associado a este tipo de incêndio, ocorrem fenómenos meteorológicos que aumentam a complexidade do controlo, tais como a geração de ventos erráticos, normalmente soprando com intervalos de elevada intensidade e de direção variável. A coluna de fumo (pluma) rapidamente eleva-se verticalmente, sendo tridimensional e muito densa e escura, transportando material incandescente que não se apaga dada a temperatura dentro da coluna, permitindo o lançamento de projeções a longas distâncias e produzindo inúmeros focos secundários em várias direções no raio do incêndio.

ORIGEM PROVÁVEL
O Semanário Expresso de 23 de junho destaca a seguinte manchete «Daniel viu o fogo começar. Ligou para o 112 às 14h38. Tirou-lhe a primeira fotografia. “E não havia trovoada no ar”» e descreve o seguinte: «Daniel Saúde tirou a primeira fotografia ao incêndio 39 minutos depois de ligar para o 112. Diz que esteve uma semana à espera de ser contactado pela PJ – “afinal fui eu que liguei para o 112” – e que por isso vai ser ele agora a ligar à polícia. A história do momento zero do fogo em Pedrógão».





A partir daqui podemos começar a tentar explicar, fundamentando nos dados meteorológicos recolhidos.
Antes de mais importa referir que existem dois tipos de raios – raios negativos e raios positivos.
Normalmente, entre 90 a 95% dos raios são do tipo negativo.
Os raios negativos produzem-se quando a base da nuvem (parte mais escura) está carregada negativamente e a superfície do solo por baixo da nuvem tem uma carga positiva. Neste caso vai produzir-se uma descarga da base da nuvem para o solo.

Alguns raios – os positivos – formam-se no topo da nuvem, na parte branca do cúmulo-nimbos, onde se concentram as cargas positivas. Nesta situação ocorre uma transferência do topo da nuvem que alcança uma elevada altitude (14 kms) para o solo, sendo os mais perigosos uma vez que podem alcançar uma zona da superfície terrestre a longas distâncias do local da trovoada (entre 30 a 95 kms) e, uma vez que a camada de atmosfera que atravessam é maior, a descarga elétrica pode ser até 10 vezes superior aos raios negativos. Igualmente, importa referir que o fenómeno de queda de raio sem se ouvir o trovão é definido como relâmpago térmico e ocorre com maior frequência no verão.

Segundo a agência americana para a observação da atmosfera – NOAA – os raios positivos são considerados responsáveis por uma grande percentagem de incêndios florestais.
Logo, a afirmação de que não se ouviu qualquer trovão não significa que não tenha ocorrido uma descarga de raio positivo, pois a distância entre a trovoada e o local da descarga é de dezenas de quilómetros.
A imagem abaixo do Meteosat mostra a instabilidade às 14:00 UTC do dia 17 de junho, onde se pode verificar a formação de nuvens de evolução que dão origem a trovoadas na proximidade da zona do GIF de Pedrógão Grande.


Fonte: EUMETSAT
Considerando os registos meteorológicos do Meteosat referente à queda de raios, observamos que no dia 17 de junho de 2017, ocorreu precisamente na zona do incêndio, por volta das 13:45 UTC, uma descarga de raio positivo. O horário registado pelo popular entrevistado pelo Semanário Expresso refere-se às 14:38, isto é 13:38 UTC +1, ou seja, muito próximo dos registos da agência EUMETSAT através do satélite Meteosat.


Sendo assim, a afirmação do Diretor da Polícia Judiciária com base em evidências físicas encontra-se bem fundamentada: «“A PJ, em perfeita articulação com a GNR, conseguiu determinar a origem do incêndio e tudo aponta muito claramente para que sejam causas naturais. Inclusivamente encontrámos a árvore que foi atingida por um raio”, disse Almeida Rodrigues.». Sendo um raio positivo, muito provavelmente não se tenha ouvido o trovão dada a distância à nuvem.

HORA DO ALERTA
Igualmente, segundo fontes oficiais e já divulgadas nos media pela ANPC, o Alerta foi dado às 14:43 (13:43 UTC +1), um tempo muito aproximado ao referido na informação relatada na referida notícia. Se observarmos os dados do sensor VIIRS a bordo do satélite Suomi-National Polar-orbiting Partnership (S-NPP), o qual permite a deteção de focos ativos a 375 metros de resolução espacial, este detetou às 13:42 UTC do dia 17 de junho um foco ativo muito próximo do local do ponto provável de início do incêndio.


Dado o estado fenológico e a disponibilidade de combustível, bem como as condições meteorológicas nesse período, o fogo facilmente se propagou, alcançando uma elevada intensidade e alta velocidade de propagação. Pelo que foi possível em poucos minutos ser detetado pelo sensor VIIRS. Importa referir que o desvio mais a norte do local do início provável de incêndio deve-se ao calor emanado na cabeça do incêndio e da própria coluna de fumo. Considerando os dados de registos espaciais, estes permitem fundamentar as declarações das entidades oficiais, pelo que existem fortes evidências para a «tese meteorológica».

Por: Emanuel de Oliveira in Fogos Florestais

Só quando isto já for história



por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 25/06/2017)
Autor
                             Daniel Oliveira

Em janeiro deste ano deu-se a discussão pública da maior reforma legislativa florestal apresentada nas últimas décadas. Viram debates na televisão, entrevistas ao ministro e a técnicos, intervenções políticas de líderes partidários? Estou incluído nos faltosos: soube e nem uma linha escrevi. Como não há fome que não dê em fartura, Marcelo quer estas 12 leis complexas e discutíveis aprovadas antes do verão. Diz quem sabe que as causas dos problemas da nossa floresta são profundas e, tirando algumas medidas de segurança mais evidentes, as soluções são difíceis e demoram. Se fizermos tudo certo, só sentiremos os efeitos quando Pedrógão Grande já for história.
Comecemos pelo inimigo justo mas demasiado fácil: o eucalipto. O eucalipto e o pinheiro-bravo correspondem a quase metade da nossa floresta — o primeiro tem crescido sobretudo à custa do segundo. Apesar de serem terríveis propagadores do fogo, a opção por estas espécies é fácil de explicar. O sobreiro e o pinheiro-manso dão mais rendimento, mas o retorno é demorado. Com a quantidade de incêndios que temos, esse retorno pode não chegar antes de o investimento ter ardido todo. Sim, há um lóbi da celulose. Mas convém não esquecer, quando se procuram soluções, a racionalidade económica das escolhas que as pessoas fazem. É também na economia que pode estar parte da solução para a limpeza das matas. Com centrais de biomassa, os resíduos florestais passariam a ser rentáveis. Mas a maior doença da floresta portuguesa é o minifúndio. É impossível gerir, rentabilizar e tratar a floresta quando a área média da propriedade que não é gerida pela celulose é de cinco hectares e a maior parte tem menos de um hectare. Portugal é o país europeu com maior percentagem de área florestal privada e com as mais baixas dimensões por propriedade. A única solução é integrar as pequenas áreas em unidades de gestão semelhantes a zonas de intervenção florestal ou às entidades de gestão florestal, em troca de uma renda, dando dimensão às explorações sem que as pessoas percam a propriedade. Mas a intervenção do Estado pode ter de ser coerciva. Estamos dispostos a aceitar que há valores mais importantes do que o direito absoluto à propriedade? E há, por fim, um dos maiores problemas do país: o despovoamento de grande parte do território, que demoraria décadas a resolver. Se não há pessoas, não há quem trate e defenda a floresta. Cerca de um quarto dos proprietários florestais nem sequer vive na região da sua propriedade e, sem um verdadeiro cadastro, muitos nem sabem o que têm.
Tenho algumas dúvidas em relação à reforma proposta por Capoulas Santos. A principal é a da municipalização da gestão florestal: as autarquias onde a situação é mais dramática não têm dimensão política, técnica e financeira para esta empreitada, e isso pode deitar tudo a perder. Mas esta reforma, que trata de muitos dos assuntos de que aqui falei e à qual ninguém ligou pevide, merece mais do que um debate rápido em cima da emoção. Nada do que ali está evitará incêndios neste agosto. E, mesmo assim, é apenas uma pequena parte do que temos de fazer.
Porque o estado da nossa floresta é consequência do modelo de desenvolvimento que escolhemos, da economia que temos e do território que abandonámos. Isto não se muda ao ritmo da nossa indignação.