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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A democracia catalã está em prisão preventiva

Estátua de Sal

por estatuadesal
(Daniel Oliveira, In Expresso Diário, 06/11/2017)
daniel2
Com metade do governo catalão preso, instalou-se um debate semântico que é, como quase todos as disputas sobre palavras em política, um conflito político. Serão os ministros “políticos presos” ou “presos políticos”? A ideia de que são políticos presos nasce de um equívoco: a de que não há, em democracias, comportamentos ditatoriais.
Mais: a de que basta estar respaldado pela lei e pelos tribunais para que uma determinada ação seja aceitável em democracia. Até as ditaduras têm leis e tribunais. Isso não chega. A história das democracias, a começar pelas democracias coloniais (não pretendo fazer um paralelo com a relação de Espanha com a Catalunha), está cheia de abusos políticos utilizando os tribunais e as leis para os levar a cabo.
Os governantes catalães tomaram decisões políticas. São apenas e só decisões políticas. E tomaram-nas respaldados no mandato que receberam e onde se comprometeram a iniciar este processo. Podemos ser contra as suas aspirações. Podemos até considerá-las ilegítimas e inaceitáveis. Ou mesmo ilegais, como são sempre e em todo o lado todos os processos de autodeterminação não consentidos. Mas não podemos retirar aos atos destes governantes a sua natureza política. Um político preso é alguém que é, por exemplo, condenado por corrupção. Suspeita-se que Puigdemont poderia ser e que Rajoy também. Mas não é isso que está em causa aqui.
Não brinquemos com as palavras. Alguém que cumpre o mandato para que foi eleito e é preso por isso, criminalizando assim a vontade de parte do eleitorado, é um preso político. Não quer isto dizer que a decisão que tomou, por ter o apoio de quem nele votou, seja certa. Nem sequer quer dizer que seja legítima. Quer apenas dizer que estamos a falar de política e que estas prisões são políticas. E o facto de serem presos políticos numa democracia torna a situação mais grave - e não menos.
Os tribunais costumam impedir decisões inconstitucionais, usando até ao limite todos os instrumentos que estão ao seu alcance e no total respeito pela separação de poderes, para não confundir a ilegitimidade de um ato político com a criminalização dos eleitos. Não é habitual, como bem sabemos, prenderem os seus autores. É, aliás, uma das razões porque garantimos imunidade parlamentar. Porque isso transformaria as disputas políticas em disputas criminais e os argumentos políticos em perseguições policiais. Mesmo que haja prisões, em casos graves de violação dos direitos humanos ou do Estado de Direito, elas não se fazem de forma expedita, preventivamente e em vésperas de eleições. Neste momento, é a democracia catalã que está em prisão preventiva.
Tentemos não fingir que não percebemos o óbvio. Madrid marcou eleições antecipadas e, poucas semanas depois, a menos de dois meses do escrutínio e a dias do começo da campanha, metade do governo eleito e uma parte significativa dos dirigentes independentistas está presa preventivamente, sem julgamento e sem direito a fiança.
Estas prisões preventivas, mesmo tendo sido tomadas pelos tribunais, têm um objetivo político, não um objetivo judicial. E a manterem-se até ao ato eleitoral transformam as eleições catalãs numa farsa. Nenhum país democrático aceitaria um ato eleitoral onde os representantes de pelo menos metade da população são, a semanas do voto, postos atrás das grades.
O passo seguinte e mais perigoso foi dado ao transportar este conflito para o resto da Europa, envolvendo-a nesta espiral de loucura que um chefe de governo fraco e com pouco apoio popular não se importa de alimentar, até pela pouca relevância do PP na Catalunha. Rajoy encontrou na demonstração de força na Catalunha a sua tábua de salvação. E tudo indica que a Europa vai falhar de novo. Em vez de ser um elemento apaziguador e um possível mediador para que se encontre uma solução do problema, aceitará ser instrumento de repressão, chantagem e judicialização do conflito.

sábado, 23 de setembro de 2017

O que é que se passa na Europa e em Portugal face à Catalunha?



por estatuadesal
(José Pacheco Pereira, in Público, 23/09/2017)
JPP
Pacheco Pereira
Os catalães mereciam mais dos portugueses. Por interesse nacional, pela democracia e pela liberdade.

Não se percebe o que é que se passa na Europa e em Portugal perante os acontecimentos na Catalunha. Ou melhor, percebe-se bem de mais. O governo e a Assembleia catalã pretendem realizar um referendo para perguntar aos seus cidadãos se querem ou não uma Catalunha independente. Do ponto de vista do Estado espanhol, e da Constituição espanhola, o referendo é ilegal, o que implicaria que deste ponto de vista os seus resultados seriam juridicamente nulos. Impedir a realização do referendo é uma coisa de natureza muito diferente e destina-se a impedir não os seus efeitos jurídicos, mas os seus efeitos políticos. Por isso, o problema é eminentemente político e o modo como tem sido tratado é igualmente significativo no plano político.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Esta Europa está a ficar, cada vez, mais difícil


Depois do irreversível BREXIT, continua a crise dos refugiados numa União Europeia que, cada vez, para mais uma Desunião Europeia.

Na Áustria, que parece estar a caminhar para um novo “Anschluss”, o candidato da extrema direita já leva uma margem confortável nas sondagens para as eleições presidenciais do próximo mês de Outubro.

Na Espanha ninguém se consegue entender para a formação de um governo. O Senhor Rajoy quer continuar a governar, mesmo contra a vontade da maioria dos espanhóis. Os outros partidos acham
Mariano Rajoy
que ele não é solução, mas o problema. A esquerda continua a não se entender nem a ter deputados suficientes para formar governo, porque não pode contar com o apoio dos Ciudadanos, de Albert Rivera. Enquanto isso, as movimentações na Catalunha, com vista à independência, crescem de dia para dia, porque a Espanha deixou de ser uma nação, para ser um conjunto de povos, a puxar cada um para o seu lado, porque a indefinição governamental é o gérmen para o reviver destes todos nacionalismos.

Na França assiste-se a algo que será, do meu ponto de vista, de todo impossível que é o de separar o “Islão bom” do “Islão mau”. É necessário que os “religiosos islâmicos” que passam os dias a pregar
Manuel Valls, primeiro ministro da França
nas suas mesquitas o ódio contra o Ocidente e a incitar os seus seguidores à revolta,  devam ser expulsos do país. Mas este não é um problema de hoje, é um problema de décadas e que tem raízes na França e na Inglaterra.

Há poucos dias, o “The Guardian” publicou um artigo que terá passado despercebido a muita gente, mas cujo assunto é de uma gravidade extrema. O jornal afirma que os países de Leste e dos Balcãs terão vendido armamento a países do Médio Oriente, no valor de mil e duzentos milhões de Euros e que, uma grande parte terá ido para às mãos do DAESH. Este armamento pertenceria ao extinto Pacto de Varsóvia, mas apesar de obsoleto, era e é extramente letal. Toda a Europa fechou os olhos a esta situação.

Racip Erdogan, "ditador" da Turquia

Nos confins da Europa, na Turquia, vive-se um momento estranho, mas terrível. As imagens que vi no MSN do cemitério que está a ser preparado para os os opositores do regime autoritário do Erdogan são demasiado impressionantes, para serem verdadeiras.  O muro de pedra que cerca o cemitério, construído no meio de uma mata imensa e com sepulturas já abertas prenunciam o que há de pior no espírito destes “Otomanos” que chacinaram o povo arménio.

Não quero ser pessimista, mas os factos não contribuem nada para o otimismo.


Ovar, 3 de Agosto de 2016
Álvaro Teixeira