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sexta-feira, 28 de julho de 2017

Sordid season



por estatuadesal
(João Quadros, in Jornal de Negócios, 28/07/2017)
quadros
Infelizmente, este Verão, uma pessoa tem a televisão ligada e parece que tem uma daquelas lareiras falsas. Impressionante, em termos estatísticos, é ainda não ter ardido nenhuma padaria portuguesa. Mas é triste e medonho ver cavalgar politicamente o número de mortos de Pedrógão.
Esta foi uma semana de política necrófila. Fiquei assustado. Porque uns indivíduos que acusam o Governo de esconder mortos para não perder a popularidade são capazes de tudo, incluindo usar mortos para serem populares.
Do nada, o jornal Expresso fez manchete com os mortos da tragédia de Pedrógão Grande, afirmando que seriam mais do que o que havia sido divulgado. Segundo o Expresso, havia pelo menos uma senhora que foi atropelada, um senhor que morreu passado um mês com tuberculose e um indivíduo no Feijó que saiu à pressa da banheira para ir ver o incêndio de Pedrógão, na CMTV, e escorregou no chão molhado. No Expresso, um colunista falava em 100 mortos e demissão do Governo. Até no jornal Crime diziam - "eh pá, 100, calma, isso é demasiado sensacionalista." O jornal Expresso devia usar aquela calculadora da devolução da taxa extra do IRS para contar os mortos de Pedrógão.
De imediato, Hugo Soares, como um javali numa loja de porcelanas, deu 24 horas ao Governo para divulgar a lista nominal dos mortos. O PSD ameaçava contratar uma espírita para contar os mortos de Pedrógão. Hugo Soares queria estrear-se com uma entrada a pés juntos e só faltou exigir uma lista nominal de mortos, até agora, no Game of Thrones, e dar 24 horas a Paco Bandeira para revelar o número de discos que queimou.
Depois da divulgação da lista, pela PGR, Hugo Soares disse: "Finalmente foi posto um ponto final numa especulação criada pelo Governo." Criada por quem?! Estão a confundir os Costa. Este é o irmão, o do Expresso. Eu tenho uma lista de 64 nomes, que gostava de chamar ao Hugo Soares. A esta hora, está a desgraçada da mulher do Hugo Soares a querer dormir e ele a ler a lista dos mortos - "Ao menos, vai para a sala ver o Walking Dead". "Sozinho, não consigo. Tenho medo. Vou levar o sapo de peluche que o André Ventura me ofereceu."
Esta estratégia de transformar a "silly season" numa "sordid season" começou com os suicidas de Passos e continuou com os mortos escondidos pelo Governo. Toda esta celeuma nasceu de uma lista publicada no facebook por uma empresária que tinha andando a contar campas frescas. O chamado jornalismo de investigação.
A notícia tinha por base a informação de uma empresária fixe que estava a pensar propor um monumento às vítimas de Pedrógão e tinha feito uma lista de pelo menos 73 mortos no facebook, mas afinal havia repetidos. Eu imagino o estado em que está a contabilidade da empresária de Pedrógão. No estado a que isto chegou, estamos com sorte, porque ainda nenhum jornal se lembrou de aproveitar a tragédia e fazer uma colecção da panini com as vítimas de Pedrógão.

TOP-5
Esgravatar sepulturas
1. Pedrógão Grande: Assunção Cristas não exclui moção de censura ao Governo.Caso não esteja bom na praia.
2. Passos Coelho diz que o PSD precisa "pôr todas as forças no terreno". Vão limpar matas.
3. Marques Mendes "anuncia" descida da taxa de desemprego em maio para 9,4%. Só ele tem 20 empregos.
4. Vaticano fechou as fontes devido à seca prolongada em Itália. É rezar para que chova. É o sítio indicado.
5.  A "empresária" que "conta mortos" é a dona da Dialectus, empresa que ficou a dever mais de 250 mil euros a trabalhadores. O melhor é ela fazer um memorial a quem ficou sem a massa.

Assunção Cristas, ombro a ombro com Hugo Soares no ranking da falta de noção do ridículo

por João Mendes


Recorte: TSF via Uma Página Numa Rede Social
Enquanto milhares sofrem e lutam contra o flagelo dos fogos florestais, um bando de oportunistas sem vergonha na cara ou noção do ridículo continua a instrumentalizar a tragédia com vista à obtenção de mais-valias político-partidárias e eleitorais. Hoje foi a vez de Assunção Cristas, que acusou o governo de "não saber lidar com situações sérias, difíceis e onde é preciso ter comando e autoridade". Sim, esta pérola tem como autora a mesma senhora que assinou de cruz a resolução do BES. A mesma que, perante a seca de 2012, tranquilizava o país com a sua fé inabalável de que a chuva estaria para chegar. Que se calou bem caladinha quando o seu irrevogável líder lançou o país e a governação no caos, ao apresentar uma demissão de ocasião, apenas para colher dividendos para si e para o CDS-PP, à custa de uma subida de juros como não há memória desde que este executivo assumiu funções. Que atulhou a Parque Expo com as suas clientelas partidárias. Eis como Assunção Cristas lida com situações sérias, difíceis e onde é preciso ter comando e autoridade. Só ao alcance de quem não tem noção do ridículo.

Fonte: Aventar


Taxa de Desemprego 9,2%




A taxa de desemprego de maio de 2017 situou-se em 9,2%, para baixo de 0,3 pontos percentuais (p.p.) do nível do mês anterior e por 0.7 p.p. de três meses antes. Esse valor corresponde a uma revisão em baixa de 0,2 p.p. da estimativa provisória lançado um mês atrás e é a mais baixa estimativa observada desde novembro de 2008 (8,9%).
De maio a população desempregada foi estimada em 473.7 mil pessoas, tendo diminuído de 3,3% face ao mês anterior nível (menos 16,2 mil pessoas), enquanto a população empregada foi estimada em 4,670.3 milhares de pessoas, tendo aumentado em 0,1% (mais de 5,9 mil pessoas) do nível do mês anterior.
a estimativa de taxa de desemprego provisório para de 2017 de junho foi de 9,0%. Para este mês, a estimativa provisória para a população desempregada foi 462.6 mil pessoas e para a população de trabalhadores assalariada era 4,672.3 milhares de pessoas.

Enviado para o meu Twitter @alvaroteixeira

E se o publicitário corrupto trabalhasse para a esquerda?

28/07/2017 por João Mendes




Isto é, obviamente, uma não-notícia. Pelo menos no que a Pedro Passos Coelho diz respeito. O homem pode ser culpado de muita coisa, mas seguramente não será responsável pelas alegadas maroscas em que um publicitário que em tempos trabalhou para si se mete ou deixa de meter. Claro que a imprensa não deixa passar em branco, porque, não-notícia ou não, vende mais se lhe for associado o nome do líder da oposição. Como venderia com o nome de outra figura de destaque do panorama político nacional.
Mas há uma questão que fica por esclarecer: quanto spin vomitaria a direita, de braço dado com a imprensa que a serve, que é quase toda, caso o nome associado fosse o de António Costa? Ou, pior, de Catarina Martins ou Jerónimo de Sousa? Se fosse o Sócrates dava aí umas 15 capas consecutivas no Correio da Manhã, mas qualquer um dos anteriores daria pano para mangas para teorias da conspiração naquelas páginas manhosas ligadas e dirigidas por altos oficiais laranjas no Facebook. Seria um manancial de factos alternativos para os fundamentalistas do Culto da Vinda do Diabo que Nunca Mais Chega. As Marias Luz desta vida, essas grandes putas, arrancariam cabelos, histéricas. E a ligação seria por demais óbvia: publicitário corrupto, Lula da Silva, comunistas, União Soviética, totalitarismo. E a frase batida da Thatcher, tipo cereja em cima do bolo, partilhada em massa nas redes sociais por militantes e dirigentes de partidos que duram enquanto durar o dinheiro dos outros.

Fonte: Aventar

Fogo férreo

sexta-feira, 28 de julho de 2017




Este gráfico ilustra bem a percepção que qualquer espectador tem ao mudar de canal. E isso daria pano para mangas numa investigação académica. E até política.
O número de minutos representado no gráfico abrange todos aqueles subtemas a que as televisões deram atenção nos últimos oito dias: incêndios propriamente ditos, o caso de Pedrógão e o número das suas vítimas, a reforma florestal, SIRESP, reacções políticas, declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, etc., etc.
Mas como é que é possível que redacções distintas, com jornalistas profissionais independentes , consigam um grau de sintonia tão apurado? Verifica-se mesmo uma sintonia nos dias em que o tema é abertura dos jornais nocturnos (23, 24, 25, 26 e 27/7) ou quando apenas aparece no meio do jornal (dias 20, 21 e 22/7) e até na hora em que surge.
A realidade no terreno dos incêndios explicará parte dessa sintonia, Mas como explicar os mesmos tempos de cobertura, a ponto de monopolizarem metade dos jornais?
Além desse, muitos outros factores poderão influir: uniformização de fontes de informação, uniformização de factos políticos (caso do jornal Expresso no sábado, 22/7, quando suscitou a questão do número de mortos em Pedrógão), mimetismo de informação (fruto da luta entre empresas de comunicação por um mesmo mercado), silly season (quando o futebol acaba os jornais ficam com um buraco, como lembrou o José Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo) , etc.
O resultado é que a informação passada não se distingue muito entre canais, quando - segundo a ideia passada que levou à privatização do espaço público - a concorrência entre canais deveria suscitar, sim, uma maior variedade de informação...
As ditaduras percepcionam-se também pela uniformização da informação. E essa uniformização existe igualmente com a centralização das decisões num número reduzido de pessoas e no afunilamento de temas a que conduziu a concorrência entre empresas que contaminou todo o processo de produção de informação e os comportamentos dos jornalistas.
Algo tem de ser feito, porque este dispositivo será usado no dia em que se queira que os povos embarquem para uma guerra que não é sua ou para legitimar políticas pouco discutidas e que os prejudicam.

Fonte: Ladrões de Bicicletas