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sexta-feira, 21 de julho de 2017

O PSD e a questão cigana



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 21/07/2017)
ciganos

Em Portugal não há extrema-direita, as dezenas de milhares de pessoas que sustentavam o antigo regime converteram-se num ápice em social-democratas  liderados por aqueles que eram a ala liberal de um partido fascista e chegaram ao desplante de pedir a adesão à Internacional socialista. Em Portugal todos adoramos os ciganos, os indianos, os chineses e os africanos, pensamos maravilhas de todos eles. Já nem vale a pena entrar noutros domínios das desigualdades.
No caso da Le Pen de Loures o problema poderia ter sido sanado rapidamente, o candidato pedia desculpa e o presidente do partido demarcava-se claramente do candidato. O Ventura ainda ensaiou um esclarecimento, mas quando percebeu que Passos o apoiava e que o seu populismo criava um ambiente aparentemente favorável à sua candidatura, rapidamente retrocedeu e insistiu no seu discurso como se em Portugal existisse uma questão judaica. Toda uma etnia que vivia de forma parasitária e que se comportava à margem da lei.
Ventura tem um mérito, pela primeira vez um político da extrema-direita assume claramente ao que vem e quais são as suas ideias, desencadeando, como disse o próprio, um movimento de apoio local e nacional em torno da sua candidatura. Não tenho dúvidas de que Ventura fala verdade quando diz que sente um grande apoio. Se defendesse que os gays deviam ser capados ou que Portugal devia exigir às ex-colónias que indemnizassem todos os que perderam as suas propriedades coloniais teria ainda mais apoio; afinal num programa de televisão que escolhia o maior português de sempre o eleito foi Salazar.
Dantes os ciganos eram proibidos de pernoitar em muitos concelhos do país, agora são detestados por receberem os apoios sociais que mais de um milhão de portugueses recebem, dantes eram ladrões, agora são gatunos malcheiroso. O mesmo partido que na minha junta de freguesia dá apoios financeiros extras para ganhar os votos de uma importante comunidade cigana com peso para inclinar a balança eleitoral, assume onde lhe convém um discurso que pressupõe que tem uma agenda condicionada por aquilo que parece ser uma questão cigana.
Passos protegeu o seu candidato de Loures; se as sondagens naquele concelho favorecerem esta opção, não me admiraria que escolhesse Loures para encerrar a campanha eleitoral e elegesse a questão cigana como a bandeira autárquica de um partido que entrou em decadência moral. Depois de se ter aproveitado dos que morreram em Pedrógão Grande e da forma oportunista como abordou o assalto a Tancos é de esperar tudo de um politico desesperado e sem escrúpulos na hora de conseguir votos.

Imprensa e os “Truques”: um poder de pés de barro, em crise e acossado


(Daniel Oliveira in Expresso Diário, 21/07/2017)
daniel2
Caro Daniel Oliveira
O teu texto aponta sintomas mas não vai ás causas do mal. Quanto maior for a concentração da riqueza nas mãos de uma minoria a nível global, fenómeno que é cada mais intenso, menos lugar haverá para a existência de instâncias independentes, sejam partidos ou outras formas de representação política, sejam meios de comunicação social. A razão é simples: numa economia de mercado só há concorrência quando o número de compradores e de vendedores for suficientemente grande (atomicidade) para que nenhum deles possa determinar o funcionamento do mercado, nomeadamente dos preços. Se concentramos o poder de compra, logo de financiamento, nas mãos de uma minoria, qualquer instância de mediação fica subordinada a essa minoria. Só há orgãos de comunicação social com alguma independência quando a sua sustentação depende de um conjunto de leitores tão diverso e alargado que nenhum grupo lhes poderá determinar a orientação, já que têm que atender a um conjunto amplo e multifacetado de destinatários. Com o incremento da desigualdade na repartição do rendimento, o público leitor capaz de ser o sustentáculo dos meios de comunicação social é cada vez menor, para já não falar das mutações tecnológicas.
Mas há uma questão que ignoras e que também justifica a reacção exarcebada da comunicação social contra as redes sociais e contra a internet. Durante décadas a comunicação social foi usada de forma oculta para manipular a opinião pública, e nem sempre de forma ingénua (vide a grande mentira sobre a guerra do Iraque e as armas químicas do Sadam).
Ou seja, a comunicação social "respeitável", tinha o monopólio das "fake news", e também elas faziam parte do seu "core business". Neste momento perdeu esse monopólio. E quando se passa de monopólio para um mercado de concorrência, o trauma é sempre enorme.
Estátua de Sal, 21/07/2017

Um PSD de contrafacção



por estatuadesal

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 21/07/2017)

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João Quadros

Acho que foi Trump que inaugurou oficialmente a época em que ser racista, xenófobo, homofóbico, machista, etc, é fugir ao politicamente correcto. Temos de ser compreensíveis para com quem transborda preconceitos. Uma espécie de "até tenho um amigo que é racista."

Confesso que sou racista com racistas. Até tenho um amigo que é racista mas... Sabem como eles são. Histéricos com aquilo que é diferente e que sentem que os ameaça. Sempre com aqueles trejeitos de apontar com a mãozinha para as minorias. Sempre preocupados com a cor dos outros. Aquilo não pode ser por escolha, é uma anomalia.

O PSD arranjou um paineleiro desportivo, e não tenho nada contra paineleiros, até tenho um amigo que é, que foi politicamente incorrecto para com a comunidade cigana. Chamar politicamente incorrecto ao que disse um tal de André Ventura é contrafacção de xenofobia. Tal como os dados que André Ventura apresenta parecem ser da Pordaca.

A prova de que estas críticas aos ciganos assentam em estereótipos é que já passaram 72 horas e o André Ventura não levou uma naifada. Perante o discurso do candidato a Loures, o CDS-PP chegou-se à frente e resolveu seguir "um caminho próprio no concelho de Loures nestas eleições autárquicas de 2017". Ou seja, trocando por miúdos, e fugindo ao politicamente correcto, deu um pontapé no rabo ao André Ventura. O PSD fez o mesmo. Não, não fez, estava a tentar enganar o leitor. É mais forte que eu, a minha bisavó era cigana e o meu bisavô banqueiro.

O PSD (as siglas significam Partido Social Democrata, de vez em quando convém lembrar), numa perigosa ultrapassagem ao CDS pela direita, continuou a apoiar o tal Ventura. Com mais uma destas, Nuno Melo não aguenta e muda para o PSD. Passos Coelho escolheu continuar a apoiar o Ventura, pelo menos até ele começar a embirrar com as minorias negras de Massamá... Com personagens como este Ventura, o Hugo Soares, etc, o PSD de Passos Coelho ensaia uma espécie de Trumpismo à portuguesa. Hugo Soares, eleito líder da bancada do PSD, é o exemplo de um direito que devia ser referendado.

Atingimos o ponto mais baixo, a bancada do Partido de Sá Carneiro está entregue a um indivíduo que acha que todos os direitos podem ser referendados. Bem sei que podem dizer: não é o pior momento, já lá esteve o Duarte Lima, e o Hugo Soares até tem ar de estimar velhinhas. Aliás, ele, com um lenço na cabeça e aquele discurso, parece uma senhora de idade mas, olhando para todos estes sinais, chegamos à conclusão de que este PSD é de contrafacção. O original não tem nada a ver com isto. Ver o partido de Sá Carneiro a apoiar um candidato com um discurso racista até impressiona a Comissão de Camarate.


TOP 5

Loures

1. Morreu o homem mais rico de Portugal. - Pelo menos, quando os meus pais ouvirem a notícia: "morreu o homem mais rico de Portugal", ficam descansados porque já sabem que não fui eu.

2. Salgado escreve memórias para repor a verdade e a honra da família. - Olha, afinal tem memória. Ninguém diria, depois da audiência na comissão da AR...

3. Casal deixa neto preso no carro e reclama por polícia partir o vidro. - A melhor metáfora para a oposição PSD/CDS.

4. Cartaz de Teresa Leal Coelho tem o slogan "Por uma senhora Lisboa". - Isto faria sentido se Lisboa estivesse insuportável só 5 dias por mês.

5. Morreu Américo Amorim - Morreu o homem mais rico de Portugal e o mais pobre continua a tentar sobreviver.

O poder que voltou

André  Veríssimo
André Veríssimo | averissimo@negocios.pt 21 de julho de 2017 às 00:0´

Antes de a banca cair do pedestal do poder em Portugal já ele se tinha esvaído. Nos tempos que correm só o dinheiro garante a autonomia e quando deixou de o haver entregámo-la. Partiu para outras geografias, Berlim, Frankfurt, Washington, Bruxelas. Mas está a voltar.
Não todo o poder, porque o fomos cedendo em nome de um projecto europeu sobre o qual crescem dúvidas, mas que soube atravessar aquela que foi a sua maior provação. A soberania sobre o sistema financeiro foi a última a partir.
Não todo, porque há fragilidades que ainda nos tolhem e independências por firmar – vivemos ainda no aconchego do BCE.
Não todo, porque na míngua de dinheiro português venderam-se a capital estrangeiro valiosos anéis empresariais e vários dedos dessa mão poderosa da economia que é a banca .
Há, ainda assim, um regresso, construído à força do cumprimento de metas orçamentais, da recuperação do acesso aos mercados, de um crescimento económico mais robusto. Um esforço colectivo, sofrido, teimosia de vários anos, seguindo obedientemente as regras do jogo que outros desenharam. Mas emergimos.
A maior confiança, esse sentimento que os matemáticos aprenderam a medir e as estatísticas colocam agora nos píncaros, bebe também dessa maior autonomia. Está na auto-estima. Está na capacidade para tomar opções.
Liberdade é poder. Lisboa tem mais poder. E quem diz Lisboa, diz São Bento, diz Belém. Os actores políticos são hoje mais protagonistas e menos intérpretes de um papel secundário. Podem escrever um argumento mais original. António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa têm mais poder do que teve Pedro Passos Coelho ou Cavaco Silva. Também por espessura própria, deve reconhecer-se.
Há também novos protagonistas, uns saídos da destruição criativa da crise, outros da retoma. A convulsão trouxe um maior equilíbrio. O Estado é menos imponente, a banca menos influente, o poder judiciário está mais presente. Eminências pardas ainda as há, mas o poder é mais difuso, há mais matizes. O que é até mais saudável, pode é ser passageiro.
São os rostos desta nova ordem, mestiça ainda da antiga, que o Negócios vai dar a conhecer nas próximas semanas em mais uma edição de "Os mais poderosos".

Fonte: Jornal de Negócios

Nota do Blogue: As nossas Televisões, incluindo a RTP que todos nós pagamos, não falam deste assunto, enfeudadas que estão ao serviço da Direita que nos martirizou durante quatro e meio.

O humor de Marcelo e a saudação a Cavaco Silva



por estatuadesal
(Por Carlos Esperança, in Facebook, 20/07/2017)
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Marcelo tem um humor refinado e desconcertante. Nem sempre a sua pontaria é tão certeira como a que dispara ósculos para anelões episcopais, com particular acuidade para o do papa, onde, à precisão, acrescenta abundante secreção de saliva pia, em pleno alvo.
A atribuição do mais alto grau da Ordem da Liberdade a Cavaco Silva foi o mais alto e refinado momento de humor. Parecia o Pedro dos Leitões a condecorar um vegetariano, e houve quem não lhe apreciasse o humor… negro!
Não se pode negar a quem tem manifestado notável sentido de Estado, e a quem o País deve parte do ambiente descontraído que o ressentido antecessor perturbou até ao último dia, que continue a brindar-nos com inofensivos rasgos de sofisticado humor.
Ao saudar Cavaco Silva "de forma muito especial e calorosa", pelo 30.º aniversário da primeira maioria absoluta monopartidária da democracia portuguesa, conquistada pelo PSD a 19 e julho de 1987, humilha Passos Coelho e sabe que o País não corre o risco de voltar a ver Cavaco nem como vogal de uma Junta de Freguesia.
Com este ato de humor, Marcelo há de ter-se divertido, por ter sido ele próprio o criador de Cavaco, na Figueira da Foz, e sabe que a sua popularidade se deve também à comparação com o inculto e rancoroso antecessor.
E foi o único a lembrar-se do defunto político!