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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Assunção Cristas e o Ridículo

Alvaro Martins partilhou uma ligação.

17 h

Esta senhora não tem o mínimo de bom censo, será que sofre de amnésia? Chega a roçar o ridículo as suas intervenções, cada uma pior do que a outra, não está à altura da vida politica e social do nosso país. Sra. Cristas esqueceu as vitimas de Vila Franca de Xira? O que fez o governo do qual a senhora fazia parte?

Recorde-lhe que ainda hoje as vitimas e as suas familias aguardam as devidas compensações. Mas o seu partido e a Senhora já começam a cansar Portugal, com tantas atitudes anti-governo, moção censura chumbada, voto contra o orçamento de estado chumbado, as palavras, xenofobas, racistas e anti-sociais do presidente da JP dirigidas ao primeiro ministro, esqueceu-se certamente de Narana Coissoro, deputado de CDS, a democracia para o seu partido ainda está na gaveta da velha senhora, pois o CDS, não passa de um partido fascista, xenófobo e anti-patriotico.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Tentações

ladroes de bicicletas

Posted: 19 Oct 2017 07:13 AM PDT

Quando se aceleram os ritmos de trabalho na comunicação social, há coisas que ficam pelo caminho.
Uma delas é capacidade de resistir à tentação de ser ligeiro e rápido. E o risco que se corre é o de - na versão mais benigna - haver uma colagem ao sabor das ondas que passam pela comunicação social - e pelas estratégias político-partidárias - superficializando o jornal que se faz.
Títulos que se tornam autênticos editorais, opiniões que se duplicam e se complementam, na prática, numa estratégia de promoção partidária...

.. em que questões pertinentes que ficam arredadas do título - se houve concertação entre CDS e Marcelo Rebelo de Sousa ou a interpretação do CDS do discurso do PR em que o coloca como estando de acordo com a direita - são tapadas com discurso político que já se ouviu em toda a parte. 
O dilema das Direcções Editoriais muito orientadas é que, mais dia menos dia, se tornam excessivamente presentes e acabam por colar a sua própria imagem à do jornal, até ao ponto em que os seus donos acharem que seja demasiado, porque degrada o produto. O seu destino fica então marcado com o destino do que se passa na conjuntura externa ao jornal. Ou não, mas nessa altura, tornam-se em algo completamente diferente do que aquilo para que foram criados.

sábado, 23 de setembro de 2017

É isto

Posted: 22 Sep 2017 06:17 AM PDT
(Vídeo de Luís Vargas, no Geringonça)

«Há muito tempo que o PSD não tem discurso. O PSD perdeu o discurso desde o momento em que António Costa inventou esta história da geringonça. O PSD ficou sempre preso a esse passado, a essa "ilegitimidade" deste governo, a esse "direito próprio" de formar governo, embora não tivessem maioria na Assembleia da República. Depois apostou tudo num discurso económico catastrofista. Vinha aí o diabo, íamos parar a um segundo resgate, ia haver sanções, ia haver tudo e mais alguma coisa. Ora isto não resultou e o PSD agora diz: "não, resultou porque eles fizeram o mesmo que nós fizemos". Portanto o PSD tem um discurso perfeitamente contraditório: ora diz que este governo fez tudo mal, e portanto atrasou e com eles teria sido tudo; ora diz que este governo fez tudo bem porque fez tudo o que eles estavam a fazer e não mudou em nada. Os dois discursos não são compatíveis.

Tudo isto poderia passar por um desacordo legítimo de opiniões se não se juntasse aqui um caso, que eu acho que dá outra dimensão ao discurso de Passos Coelho. É o caso de Loures e do apoio do PSD a André Ventura. André Ventura era um candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS, que fez declarações nitidamente xenófobas e racistas em relação aos ciganos, que defendeu posições inqualificáveis para quem é do PSD, como a pena de morte, a prisão perpétua, a castração química de pedófilos, tudo matérias que estão a milhas do que é o programa eleitoral do PSD. Assunção Cristas e o CDS decidiram tirar-lhe o apoio e o PSD manteve o apoio. E isto é muito significativo, porque mostra uma coisa: nós já tínhamos tido umas experiências, aqui e ali, deste tipo de discurso, mas eram experiências marginais. E isto é que é importante: é a primeira vez que um partido que é um dos pilares da democracia portuguesa, um dos partidos fundadores da democracia portuguesa, apoia um candidato com este tipo de discurso. Isto tem consequências».
Constança Cunha e Sá (21ª hora, TVI24)

Fonte: Ladrões de Bicicletas

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

No PSD de Passos tudo como dantes (ou talvez não)

Posted: 15 Aug 2017 04:57 PM PDT

Duas notas sobressaem no discurso de Passos Coelho no Pontal. Por um lado, o regresso ao passado em termos de narrativa: o ex-primeiro ministro volta a assumir as reformas estruturais como linha política do partido, acusando a atual maioria de imobilismo e o Governo de «não ter um espírito reformista», correndo-se o risco de «ter perdido uma legislatura a viver à conta do que se fez no passado e da conjuntura e nada a preparar o futuro». Para o Passos Coelho, era agora necessário «prosseguir algumas reformas lançadas pelo seu executivo com o CDS», para que o país pudesse «ter “fôlego” no futuro». Contudo, para o ex-primeiro ministro, a preferência da atual maioria de esquerda «pela estatização e pela coletivização» está a impedir o avanço de reformas na área do Estado, na Saúde, na Segurança Social e no emprego.
Desta forma, e ao arrepio de tudo o que foi dito durante o último ano sobre supostos cortes nos serviços públicos e a deterioração do Estado Social, ou sobre a excessiva rapidez na reposição de rendimentos, Passos Coelho volta a falar no seu projeto político para o país, fazendo-nos recordar de imediato o Guião para a Reforma do Estado de Paulo Portas, a ideia de que os cortes em salários e pensões deveriam tornar-se permanentes ou, recuando um pouco mais no tempo, a proposta radical de revisão da Constituição discutida em 2010, que entre outras medidas propunha a total liberalização dos despedimentos. E de pouco serve sugerir, de novo, que os bons resultados alcançados pela atual maioria e pelo atual Governo, na economia e no emprego, são mérito das «reformas» empreendidas pela anterior maioria de direita. Como já demonstrámos aqui, o «empobrecimento competitivo» e a «austeridade expansionista» terminaram em 2013, por força do travão do Tribunal Constitucional a uma nova dose de cortes nos salários e nas pensões e pela aproximação das eleições de 2015, que levou o Governo de direita a suspender a fúria austeritária.
Passos pode e deve voltar a assumir publicamente as suas ideias para o país. É politicamente mais honesto e claramente preferível ao vazio de propostas em que o seu partido mergulhou nos últimos dois anos. Mas como o ex-primeiro ministro tem hoje noção de que essas ideias perderam apoio eleitoral (não só pelo seu comprovado fracasso mas também pela demonstração de que afinal havia alternativa), vale tudo para tentar conquistar votos. E é nesse contexto que surge a segunda nota digna de registo no discurso do Pontal: a deriva populista e xenófoba que a frase da noite proferida por Passos encerra, e cuja análise - no seu significado e demagogia - é feita de modo certeiro aqui e aqui. Sim, há algo de novo no PSD para lá da ideia de regresso ao empobrecimento e à austeridade: o apoio a André Ventura em Loures não foi uma coisa circunstancial, foi mesmo o primeiro passo para «testar Trump» no nosso país.

Fonte: Ladrões de Bicicletas

domingo, 30 de julho de 2017

Falsa semanada



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 30/07/2017)

Julho foi o mês das falsidades pelo que a melhor forma de o terminar é com uma falsa semanada:
O comandante de Tancos decidiu colocar um aviso junto ao buraco da vedação anunciado que aceita devoluções, bastando para tal que os ladrões apresentem os devidos comprovativos. O comandante prometeu ainda aos ladrões que os paióis serão geridos com o mesmo rigor que a zona dos iogurtes do supermercado, todos os equipamentos terão uma etiqueta indicando o prazo de validade e se algum produto não for retirado esse prazo, os utentes podem fazer queixa na ASAE ou pedir o livro amarelo do paiol junto do oficial de serviço.
Ao fim de uma semana de estar desaparecido e quando o deputado Amorim já sugeria que tinha sido umas das vítimas que António Costa escondeu no galinheiro dos pavões, na residência oficial de São bento, ao mesmo tempo que Ricardo Costa mandou um jornalista estagiário do Expresso verificar as listas da maluquinha dos cem mortos, para se certificar que o líder do PSD não estaria contabilizado como uma das vítimas de Pedrógão, eis que os fuzileiros encontraram o líder do PSD, estava numa aldeia remota de Pedrógão, tentando convencer a população a não se suicidar, podiam ficar descansado porque daqui a 6 anos, quando voltar ao poder o Estado vai cumprir com as suas obrigações.
Passos prometeu num jantar de lombo assado que com os seus governos os portugueses não esperam um ano por uma pensão de sobrevivência,. Aliás, por nenhuma pensão. Se voltar ao governo resolve o problema na hora acabando com as pensões de sobrevivência, pelo que os velhotes deixam de estar preocupados. Caramba, na hora das decisões é com Passos Coelho que os pensionistas contam!
Depois de se ter associado a Passos Coelho e à maluquinha dos cem na preocupação com as vítimas não contabilizadas dos incêndios, a líder do CDS prometeu dar sentido aos seus valores cristãos e promoverá uma missa na Sé de Lisboa em memória das vítimas dos incêndio, incluindo aqueles que por se terem suicidado morreram em pecado. Passos Coelho, em solidariedade pelos que ele próprio encontrou mortos depois de se terem suicidado, estará presente na missa. Marcelo informou que não estará presente, ao que parece só vai a procissões.
Passo Coelho assegurou que os serviços públicos funcionam agora pior do que nos tempos do resgate, com destaque para o SNS. O líder do PSD assegurou que os mortos nas urgências dos hospitais nos tempos do Paulo Macedo faleceram na sequência de suicídios e que a recusa em tratar os doentes com hepatite C  não aconteceu, foi mentira de 1.º de Abril.

domingo, 16 de julho de 2017

Filipe Gonçalves apresenta a Candidatura “Ovar quer Mais” com Auditório cheio

Filipe Gonçalves         Auditório Orfeão de Ovar


Os ovarenses expressaram em massa o apoio a Filipe Gonçalves, um jovem advogado que afirma “querer mais” para o concelho que o viu nascer e crescer, liderando um projeto onde a “proximidade e a transparência” são as palavras de ordem.

Em Ovar, a noite de sexta-feira, 14 de julho, ficou marcada pela apresentação oficial da candidatura liderada por Filipe Gonçalves às eleições autárquicas deste ano. O ovarense foi calorosamente recebido pelos seus apoiantes num auditório completamente lotado e, durante o seu discurso, revelou alguns dos eixos gerais do seu programa, que irá desenvolver em pormenor até ao dia 1 de outubro.

O candidato – que detém uma vasta experiência em áreas como o direito e fiscalidade, o associativismo e a política autárquica – começou por destacar no discurso que “na altura de irem às urnas, os ovarenses terão a possibilidade de escolher uma candidatura virada para o futuro e para as reais necessidades das pessoas.” Filipe Gonçalves acrescentou, ainda, que “este projeto pretende dar respostas estruturais eficazes e efetivas a todos, promover a participação cívica dos munícipes, combater a pobreza e a exclusão social, atrair investimento e apostar no turismo como um dos principais vetores de desenvolvimento para o concelho”.

Presentes na iniciativa estiveram Raúl Almeida, dirigente nacional do CDS-PP, ex-deputado à Assembleia da República e mandatário da candidatura «Ovar Quer Mais»; João Pinho de Almeida e António Carlos Monteiro, deputados à Assembleia da República pelo CDS-PP e ainda Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da Juventude Popular. De destacar um ponto em comum às intervenções públicas destas personalidades: a ressalva da “capacidade de trabalho e de entrega, da competência, seriedade e humildade” de Filipe Gonçalves.


Na cerimónia foi, ainda, apresentado o candidato à presidência da Assembleia Municipal, Fernando Camelo de Almeida. O ovarense de 42 anos preside a Comissão Política Concelhia do CDS-PP de Ovar e assume estas eleições "com confiança num futuro melhor para o concelho".

Para completar a apresentação pública da equipa, subiram ao palco todos os candidatos às assembleias de freguesia do concelho: Maceda (Jorge Marques), Válega (Manuel Gonçalves), Esmoriz (Carlos Alexandre) e a União de Freguesias de Ovar, São João, Arada e São Vicente Pereira (Jorge Maia), partilhando aquilo que os move neste desafio.

A equipa «Ovar Quer Mais/CDS-PP» apresentou-se em bloco e de forma muito equitativa, tendo todos os candidatos discursado e apresentado as suas ideias para as diferentes áreas geográficas do concelho. Desta forma, ficou patente o espírito de equipa e a harmonia que os une. “Temos todos manifestado total disponibilidade para servir o concelho de Ovar, abdicando de parte da nossa vida pessoal, familiar e social em prol deste projeto, porque todos nós queremos mais. Os candidatos às assembleias de freguesia são um garante de competência, de respeito pela causa pública, pela cidadania e pela implementação de políticas de proximidade”, referiu Filipe Gonçalves no final da sua intervenção, altura em que toda a equipa subiu ao palco para se juntar a ele e celebrar o momento da formalização da candidatura «Ovar Quer Mais/CDS-PP».


Clique, para ler:
Comunicado da Candidatura "Ovar Quer Mais"

Clique, para ler:
Discurso de Filipe Gonçalves

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Cara por cara, não gostamos da sua (estatuadesal)

 

(Por Estátua de Sal, 26/04/2017)
jpc
Estive a ver o debate quinzenal na Assembleia da República e fiquei com um sentimento de alguma perplexidade. Explico. Nas interpelações ao Governo, na pessoa de António Costa, as questões mais críticas e melhor articuladas sobre as políticas do governo vieram do PCP e do BE, que apoiam o governo, e não do PSD nem do CDS. Quer dizer, a oposição da direita é um flop, um bluff, não consegue dizer nada de substantivo que vá além do episódio de circunstância. Quais as razões?
António Costa é um hábil político. No que toca às questões de fundo, que derivam da condução das políticas económicas de acordo com as regras europeias quanto ao déficit, Costa assumiu a agenda da direita, quer ser cumpridor, e mostrar que o consegue ser com mais eficácia e melhores resultados. Até ao momento tem conseguido atingir tal objectivo. Logo, como pode a direita, neste tema, criticar o governo? Fica sem discurso e limita-se a trazer ao debate pormenores de somenos que não atrasam nem adiantam coisa alguma. E mesmo aí tem pouca ou nenhuma legitimidade para criticar as opções do governo que permitiram ao país atingir o déficit mais baixo de sempre, na medida em que, se as alternativas da direita fossem melhores, então teriam dado resultado durante os quatro anos que governaram o que na verdade não aconteceu. Assim sendo, o que lhes resta para criticar, já que não podem defender - apesar de ser o que pensam -, que repor salários e pensões tem sido uma política errada, sob pena de serem penalizados eleitoralmente mais do que o que já foram? Só lhes resta dizer que o déficit de 2% não foi de 2% ou que é sol de pouca dura, ou que foi conseguido à custa da redução do investimento público, ou que os serviços públicos estão depauperados, ou que o diabo ainda não veio, porque teve uma avaria na viatura demoníaca, mas que já chamou a OK TELESEGUROS e a Marta já providenciou uma viatura de substituição e chegará dentro de momentos.
Em suma, a direita não é capaz de fazer oposição eficaz a António Costa porque teria que fazer oposição a si própria, no que às políticas europeias concerne. Também não pode criticar a política de rendimentos frontalmente porque tal seria um suicídio eleitoral. Resta-lhes dizer que executariam melhor as mesmas políticas. Mas com o péssimo currículo que apresentam e que deriva dos quatro anos da sua malfadada governação, caem no ridículo e são facilmente alvo de chacota,  hoje já até para sectores tradicionalmente seus apoiantes, como franjas significativas do empresariado.
É por isso que as críticas mais contundentes, e de fundo, partem do BE e do PCP. Elas vão ao cerne do problema do país que é a dívida, a necessidade de a financiar a custos mais baixos, e simultaneamente crescer economicamente sem basear esse crescimento em salários mais baixos, maior exploração dos trabalhadores, tornando Portugal numa espécie de Singapura da Europa, como era o sonho de Passos Coelho.
António Costa nunca defendeu nem defenderá esse modelo de crescimento - e a esquerda sabe-o -, mas é um gradualista e um táctico. Um pequeno país não pode isolado pretender alterar as regras europeias na actual correlação de forças a nível político na Europa. Seria uma luta de David contra Golias de mais que provável insucesso. Mas a esquerda também sabe isso mesmo, ainda que não possa, nem deva, abdicar do seu discurso próprio, nem que seja para manter viva a chama da sua militância.
É por isso que as críticas da esquerda ao governo, sendo as mais contundentes, não põem em causa a coesão parlamentar da Geringonça, para desespero da direita que tudo faz para enfatizar tais criticas, tentando desse modo criar brechas na muralha. Se o objectivo da esquerda é colocar no debate o problema da dívida e desafiar os ditames do Tratado Orçamental, retirar o apoio a este governo em nada contribuiria para esse desiderato. Apenas mudariam os rostos de quem iria cumprir essas mesmas regras mas dando ao mesmo tempo prevalência às políticas de ataque aos rendimentos do trabalho.
Ao menos com António Costa ainda a esquerda pode negociar e obter ganhos de causa, por limitados que possam ser.
O que Jerónimo e Catarina deveriam dizer a Passos, quando ele lhes aponta a contradição de criticarem um governo ao qual dão suporte seria só isto: políticas, políticas, caras à parte. E cara por cara não gostamos da sua.
 
Ovar, 26 de abril de 2017
Álvaro Teixeira

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

As lágrimas furtivas de Fernandes

 

(José Soeiro in Expresso Diário, 24/02/2017)
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José Manuel Fernandes, que se celebrizou nos tempos em que, enquanto diretor do Público, fez dos editoriais do jornal uma apologia da ocupação e da guerra de Bush Jr. (quem não se lembra da revelação sobre “a lágrima furtiva” de comoção que lhe rolou pelo rosto quando a invasão se consumou?), vive agora numa irritação permanente, de que nos vai dando conta a partir do cantinho do Observador onde se refugiou.
O pobre cronista sente-se perseguido por tudo. São os cartazes do Bloco contra a precariedade que é obrigado a ver de cada vez que entra em Lisboa. É Catarina Martins que lhe entra pela casa adentro a falar do tema “todos os dias”, quando não mesmo “todas as horas”. É o PS que, depois da auspiciosa Terceira Via na Europa, estaria agora “colonizado pelas ideias radicais” dos bloquistas. E é até a Direita, que teria deixado de ser uma reserva de bom senso: apesar de votar contra as medidas de combate à precariedade, o que esta aponta ao Governo é o defeito de este não ter ainda diminuído a precariedade tanto quanto apregoou. “Porque não se calam com isso dos precários?”, pergunta Fernandes em tom de desespero. O Universo está de pernas para o ar e o cronista sente-se abandonado por toda a gente, não há sequer PSD e CDS que lhe valham. O vírus do esquerdismo invadiu todos os cérebros e o mundo conspira contra ele: “a linguagem que utilizamos todos os dias está corrompida, foi contaminada pela ideologia de bloquistas e comunistas e nem demos por isso”.
O tom é apocalíptico, mas tem o mérito de denunciar como o campo político a que Fernandes pertence se sente derrotado. Durante anos, apresentaram a precarização como uma fatalidade que liberta e como um imperativo para combater a “segmentação do mercado de trabalho”. A solução da Direita era arrasar com os direitos laborais de todos e promover uma harmonização no retrocesso: “o nosso problema não é acabar com o trabalho precário – é tornar menos definitivos todos os restantes contratos de trabalho. O problema está a ser colocado de pernas para o ar”, explica o cronista, desconsolado. Só que essa ideia, que a Direita política e académica tentou vulgarizar, foi derrotada na sociedade portuguesa. Ninguém a deseja. Surpresa das surpresas, as pessoas compreenderam que era uma trapaça que só tinha um efeito: comprimir salários, instalar a insegurança no quotidiano, promover uma competição que mais não era que uma domesticação pelo medo, tornar a vida uma aflição permanente. E, facto incontestável, a precarização só produziu desemprego: mais de 60% dos pedidos de subsídio de desemprego resultaram da cessação de um contrato a prazo. A realidade não para de fazer desfeitas aos nossos liberais.
Com uma maioria negociada à esquerda e uma Direita em retirada, Fernandes agarra-se à única tábua de salvação que parece ter encontrado no caminho: a OCDE e os seus relatórios.
É certo que a OCDE continua a combinar uma recolha interessante de dados com o seu pressuposto de sempre, que é a ideologia da flexibilização laboral como solução para o mundo do trabalho. Sugere aliás o que a Direita portuguesa não tem coragem de verbalizar: acabar com os limites ao despedimento que estão na própria Constituição e demolir a contratação coletiva. Só que até a OCDE reconhece que a precarização real foi tão longe em Portugal, nomeadamente por via da transgressão à lei, que no meio do relatório lá vai dizendo que a fiscalização do trabalho devia ser reforçada. Correndo o risco de agravar o estado de exasperação de Fernandes, não resisto a dar-lhe mais esta má notícia, que uma leitura menos atenta do relatório pode ter deixado escapar: mesmo a OCDE, que é o que se sabe, considera excessivo o recurso dos patrões portugueses aos contratos a prazo e sugere que se agravem as contribuições para a segurança social dos empregadores que recorrem a esta modalidade precária de emprego.
O último ano e meio, é certo, não tem sido um paraíso e muitos problemas estruturais do país e do seu atraso económico mantêm-se: salários médios muito baixos, níveis inadmissíveis de precariedade, uma percentagem insustentável de desempregados sem apoio, o fardo da dívida a impedir um investimento público consistente capaz de promover mais emprego. Mas uma coisa é certa: a ideologia da precarização foi derrotada no campo das ideias.
A solução da Direita, que era responder à precariedade abolindo os direitos do trabalho, não tem adeptos entre o povo. É isso que a deixa com os nervos à flor da pele. Agora, é a hora da Esquerda. Por mais que Fernandes desespere, o combate à precariedade é mesmo para continuar. Por isso, meu caro José Manuel, vai ouvir falar muito dele, porque está ainda a dar os primeiros passos. O melhor é ir-se habituando.
 
Ovar 26 de fevereiro de 2017
Álvaro Teixeira

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Contar zeros para adormecer

 

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 24/02/2017)
 
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Foi uma espécie de virar de mesa. Quando o PSD e o CDS tentavam prolongar a novela das SMS de Domingues e Centeno, surge a notícia de que houve vinte declarações de IRS que não foram fiscalizadas, e transferidas para "offshores", no valor de dez mil milhões de euros entre 2011 e 2015. Este: "Vinte declarações no valor de dez mil milhões de euros" faz-me largar de imediato o cadáver das SMS da CGD e começar salivar de curiosidade: vinte declarações, de quem são?! Tenho mais curiosidade em saber o que raio se passou aqui do que conhecer as SMS do Domingues e do Centeno mesmo que incluíssem "nudes" da Monica Bellucci.
O antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, veio dizer que não teve conhecimento de falhas no tratamento dado pelo Fisco a transferências relativas a "offshores". Já foi assim com a lista VIP das Finanças. Núncio não fazia ideia de nada. Na altura, quem se demitiu foi o director-geral da Autoridade Tributária. A lista era VIP, mas demitiu-se o mexilhão. Tenho a teoria de que o problema do Núncio foi ter andado a sortear carros. O pessoal das finanças não lhe passa cartão porque pensam que ele tem a sagacidade de uma apresentadora do Euromilhões.
Neste momento, já surge a hipótese de ter sido "um erro informático das Finanças". Tinham demasiados zeros e a máquina das finanças só está afinada para menos. Foi feita para estar de olho, e apitar desalmadamente, em contas com dois zeros. Curioso que os alarmes soavam quando alguém espreitava as finanças dos VIP, mas adormecia com declarações de mil milhões. Provavelmente, o sistema informático adormece a contar zeros.
O CDS, partido dos contribuintes, reagiu de imediato a este escândalo, Cristas veio dizer: "O Governo plantou notícias para vir aqui fazer o número." E que número, Dona Cristas, 10 mil milhões. Na SIC Notícias, João Vieira Pereira não pôs de parte a hipótese de notícias plantadas pelo jornal Público, dizendo que esta notícia deu jeito ao Centeno e que não sabe se foi propositado e que "não sou de teorias de conspiração, mas...".
Resumindo, o jornalista do canal e jornal, que não revela quem são os jornalistas avençados do BES, porque são inocentes até prova em contrário, diz que coiso e tal, os seus colegas do Público, se calhar, plantaram notícias para ajudar o Governo. É também o mesmo canal onde Marques Mendes debita recados e notícias falsas ao domingo e onde andam a explorar as SMS do Centeno até ao tutano "porque é o que nós queremos ver".
Não sei quem é o "nós". Por mim, só queria ver tanta dedicação aos avençados dos Panama/BES como às SMS. E troco ver a declaração de rendimentos do Domingues por ver a parte da massa que fugiu voltar a casa. Eu sei, sou um anjinho, mas tenho esperanças de que o Lobo Xavier também tenha cópias de SMS com esta temática.


26 de fevereiro de 2017
Álvaro Teixeira