Translate

Mostrar mensagens com a etiqueta PT. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta PT. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Henrique Granadeiro


por João Mendes

Passeou-se pelos salões políticos do fascismo, fez a transição pacífica para a democracia, durante a qual somou nomeações social-democratas e socialistas, foi embaixador, chefe da Casa Civil de Ramalho Eanes, gestor, conselheiro, administrador e CEO de empresas públicas e privadas, e era um dos homens fortes da PT, quando aquela que já foi uma das maiores empresas nacionais decidiu torrar 900 milhões de euros na Rioforte.

Hoje é arguido na Operação Marquês, lado a lado com gente tão recomendável como José Sócrates ou Ricardo Salgado, acusado de crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Acusado de ser um mero capacho, ao serviço do Dono Disto Tudo, de quem terá recebido milhões para gerir a PT em função dos apetites do Grupo Espírito Santo, arrastando-a para a ruína.

Parte desse dinheiro terá sido usado na compra de um apartamento em Lisboa, cuja história, relatada pelo Expresso, daria um belo argumento para o grande ecrã. Tudo bons rapazes.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

“Não vem ao caso”*


por estatuadesal

(José Sócrates, in Público, 17/08/2017)
socratesx
A propósito da maliciosa reportagem do Público sobre a “velha PT” gostaria de fazer os seguintes comentários:
1. É falso que o Governo da altura, e em particular eu próprio, como primeiro-ministro, se tenha oposto à OPA da Sonae. Este é um embuste que a Sonae, o Ministério Público e os jornais afetos repetem com frequência, não deixando, por isso, de ser uma descarada mentira. Durante todo o processo, o Governo sempre se portou com total imparcialidade, nunca tomando partido e ordenando o voto de abstenção ao representante do Estado. Acontece, aliás, que um dos momentos em que o Governo teve que reafirmar essa equidistância aconteceu justamente poucos dias antes da data da Assembleia Geral em que se tomaria a decisão e na sequência de um telefonema do Dr. Paulo Azevedo, durante o qual pediu expressamente a minha intervenção para que a Caixa Geral de Depósitos votasse a favor da OPA. Respondi-lhe que o Governo não tinha nenhuma razão para o fazer e não o iria fazer. Para o Público e a para a jornalista, que conhecem a história, este episódio não vem ao caso.
Suspeitas de gestão danosa na antiga PT
Suspeitas de gestão danosa na antiga PT
2. É falso que eu próprio, ou alguém em nome do Governo, tenha dado qualquer indicação de voto à Administração da Caixa Geral de Depósitos ou a qualquer dos seus membros. Isso foi já desmentido pelos Administradores, que confirmam que a decisão foi tomada em reunião do Conselho de Administração e com o único fundamento de ser esse o melhor interesse da instituição. Acresce - novo ponto que não vem ao caso, para o Público - que mesmo que a Caixa tivesse votado a favor da OPA ela teria sido recusada.


sábado, 22 de julho de 2017

A Altice não é flor que se cheire



por estatuadesal
(Nicolau Santos, in Expresso, 22/07/2017)
nicolau

A preocupação do primeiro-ministro e dos partidos de esquerda com o destino da PT vem tarde. Com efeito, a Altice comprou a PT Portugal por €5,7 mil milhões aos brasileiros da Oi em 2015. Foi um negócio entre empresas estrangeiras. Sim, a operação teve a bênção do Governo de então, mas o Estado português não pode vir agora colocá-la em causa. E quando a Altice avança para a compra da TVI, detida pela Prisa, é de um negócio entre duas empresas europeias que se trata.
A preocupação com a PT vem tarde. A compra foi em 2015. E o nome vai mudar para Altice. A PT, como a conhecemos, já não existe
Dito isto, há ou não razões de preocupação? Há e são muitas. Desde logo pelo perfil do fundador e presidente da Altice, Patrick Drahi, que tem nacionalidade israelita, francesa e portuguesa. Quando comprou a Cabovisão em 2015, a sua primeira aquisição em Portugal, disse: “Não gosto de pagar salários. Pago o menos possível.”
E um excelente trabalho publicado esta semana na revista “Visão” diz que ele “trata as pessoas com desprezo desde o primeiro dia”. Poderiam ser só palavras do próprio ou de quem não gosta dele. Mas não são. Na Cabovisão, na ONI e depois na PT, as empresas que já comprou em Portugal, a Altice tem-se comportado como um típico raider financeiro: lança de imediato um ultimato aos fornecedores, impondo-lhes uma descida drástica no preço dos serviços que fornecem (no caso da PT, o corte foi de 30%); e faz despedimentos coletivos ou cria situações de enorme desconforto aos trabalhadores (retirada de benefícios sociais e de fringe benefits, cortes de parte dos salários, eliminação de postos de chefia, colocação noutras empresas do grupo ou associadas) que levam muitos deles a demitir-se. A estratégia tem um único objetivo: obter rapidamente cash pelo corte dos custos para fazer face à montanha de endividamento do grupo, que ascende a €82,1 mil milhões (!). É que Drahi faz aquisições atrás de aquisições, mas com base no dinheiro dos bancos (a quem deve perto de €50 mil milhões), uma corrida que tem tanto de embriagadora como de perigosa. Drahi discorda, claro: “Se parar com o meu desenvolvimento ‘bulímico’, por assim dizer, dentro de cinco anos não terei dívidas. E depois? Isso seria idiota porque durante cinco anos não teria registado crescimento”, disse na Assembleia Nacional francesa.
O que Drahi pretende é desenvolver um grupo multinacional de telecomunicações e media, para combater gigantes como a Google, Facebook, Amazon, WhatsApp e Yahoo, que utilizam sem pagar os suportes digitais construídos e pagos pelas telecoms e os conteúdos produzidos pelos media. Só que esta estratégia de integração já foi tentada e correu mal em todo o mundo. Com Drahi vai correr bem? Logo veremos. Mas quando se começa a pagar mais pelo que se compra do que aquilo que vale (caso da TVI), isso é sinal senão de desespero, pelo menos de fuga para a frente, que costuma acabar sempre mal.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

A estratégia de jogador compulsivo da Altice



por estatuadesal
(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 17/07/2017)
nicolau
Caro Nicolau
Dois reparos: 1) Essa de que António Costa não devia ter criticado a Altice, é um tiro no teu próprio texto e nos argumentos que avanças. Perante um desenlace que será - segundo tudo indica, e até pelos dados que apresentas - contrário ao interesse nacional, deve um primeiro ministro calar-se e agir de acordo com o "politicamente correcto"? Penso que não. Para primeiro ministro castrador do interesse nacional já nos bastou Passos Coelho, de triste memória. 2) E se, de facto, tudo isto começou "várias jogadas atrás", a última jogada, aquela que faz transbordar o copo, é sempre a mais decisiva. E essa foi da autoria de Passos quando entregou, a troco de nada, a golden share que o Estado detinha na PT. Se a golden share hoje existisse, o Estado tinha um mecanismo directo de intervenção na empresa, em termos de decisões estratégicas, e nada disto estaria a acontecer.
Estátua de Sal, 17/07/2017

A compra da TVI pela Altice era um negócio há muito anunciado. A espanhola Prisa, dona da TVI, estava há muito pressionadrása para vender um dos seus melhores activos, sobretudo após ter falhado a alienação da editora Santillana; e a Altice, com uma dívida brutal às costas, estava desejosa de comprar a televisão líder de audiências no mercado português. Para fazer o quê, eis a questão.
A estratégia da Altice é uma fuga em frente, típica dos jogadores compulsivos e esperando que a estratégia resulte: compra, compra, compra com base numa montanha de dívida que se vai acumulando de ano para ano, ultrapassando já os €50 mil milhões. E depois, como está fortemente pressionada pelos credores e pelos accionistas para apresentar resultados, entra a matar em tudo o que compra, intimidando fornecedores, clientes e trabalhadores.
Em Portugal, foi exatamente isso que a Altice fez na Cabovisão e na PT, em que impôs de imediato uma redução de 30% nos preços dos fornecedores – e quem não quis ficou sem o cliente; e criou de imediato o desconforto no limite da legalidade para obrigar os trabalhadores a aceitarem a rescisão dos contratos de trabalho, a diminuição dos “fringe benefict” e a passagem para outras empresas da Altice ou de accionistas da PT, sob o argumento da “agilização” das relações laborais.
A Altice, como todos os operadores nas áreas das telecomunicações, está a ter rendimentos decrescentes no seu negócio central – e definiu a integração vertical no setor dos media como a forma de compensar essa quebra. Acontece que já houve várias tentativas de integração das telcos com os media em anos não muito distantes e as coisas não correram bem, tendo regredido a esmagadora maioria das experiências. Aconteceu nos Estados Unidos, mas também na Europa. Em Espanha, a Telefonica avançou para a Endemol e não correu bem. A própria PT lançou um canal de televisão, o Canal Lisboa, e acabou por vendê-lo ao Grupo Impresa, tornando-se o embrião da SIC Notícias; e também comprou o Grupo Lusomundo e igualmente não correu bem.
Assim como a Cimpor foi destruída, a PT está na mesma senda, a começar pela mudança de nome. E ninguém vai travar esse caminho, que foi traçado várias jogadas atrás.
É claro que pode sempre acontecer que resulte. E é verdade que tanto as telcos como os media estão a perder dinheiro para os grandes agregadores de conteúdos, como o Google, Facebook, Whatsapp, Instagram ou Apple, que andam em cima das redes que outros construíram e pagaram sem ter de despender nada por isso ou que utilizam conteúdos que outros produzem sem também nada pagar.
Logo, alguma coisa tem de ser feita. Mas a estratégia da Altice é não só muito arriscada (a integração vertical de telcos e conteúdos não deu bons resultados anteriormente) como híper-agressiva, porque precisa de fazer muito dinheiro rapidamente. Daí a forma abrasiva como trata fornecedores, clientes e trabalhadores.
Na compra da TVI, as coisas não começam bem. O preço anunciado (€440 milhões) é claramente acima do que os analistas consideram que o canal de televisão vale. Há uns anos, a Ongoing pagou 27 milhões pelo Semanário e Diário Económico. Queria fazer jornalismo? Não, queria utilizá-los para ter influência e alavancar outros negócios. Acabou como se sabe: num valente estoiro. A Altice não é a Ongoing mas a compra da TVI não é porque Patrick Drahi, o multimilionário francês que fundou o grupo, queira desenvolver o jornalismo independente. Mas a estratégia de integração vertical do grupo de comunicações e de empresas de conteúdos, assente numa enorme alavancagem, é tão arriscada que um pequeno solavanco pode deitá-la por terra.
É neste quadro que se pode entender as críticas de António Costa à Altice, embora seja completamente despropositado fazê-las em público e ainda por cima na Assembleia da República. Além do mais, as preocupações do primeiro-ministro não chegarão para travar o negócio. Se alguém o pode fazer é a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), a Autoridade da Concorrência ou a Comissão Europeia. Uma coisa é certa: a PT, tal como era, já não existe, depois de ter saído do mercado brasileiro na sequência da compra da Vivo pela Telefonica e do colapso do investimento que fez na Oi. Mas mesmo a PT que ainda existe vai desaparecer, sendo substituída pelo nome Altice (o que também vai acontecer a outra marca que os portugueses bem conhecem, a Meo). Ah, e porque a PT e a Meo vão ser obrigadas a mudar de nome para Altice, vão ter de pagar a essa mesmíssima Altice entre 50 a 70 milhões de euros anuais para usarem o novo nome (que o acionista as obriga a usar). Ou seja, mais uma maneira de desnatar e tirar rapidamente todo o dinheiro que for possível da PT.
Sim, assim como a Cimpor foi destruída, a PT está na mesma senda, a começar pela mudança de nome. E ninguém vai travar esse caminho, que foi traçado várias jogadas atrás.

domingo, 16 de julho de 2017

Semanada



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 16/07/2017)
PRIVATIZAÇÕES

(Depois de vender a PT, de ter dado a Golden share de borla, agora vem defender os seus amigos da Altice, contra os trabalhadores e a favor dos despedimentos. Como é que esta alimária ainda consegue ter audiência no país?
Estátua de Sal, 16/07/2017)

A direita usou a alcunha dada à maioria parlamentar por Vasco Pulido Valente, um comentador da direita conservadora que detesta governos que não sejam de direita. Paulo Portas aproveitou-se e apelidou o governo. A esquerda gostou da alcunha e fez à provocação de Paulo Portas o que os ratos fazem ao veneno, aproveitou-se da ideia e tirou partido dela. Passos Coelho ainda se referiu à gerigonça no seu discurso policopiado no debate do estado da nação, mas Montenegro parece que quer tirar esta alcunha, agora o governo passou a ser um tuc tuc.
Passos Coelho e Assunção Cristas sentiram-se muito incomodados porque António Costa decidiu criticar o desempenho das infraestruturas da Altice que suportam o SIRESP, parece que um governante não pode criticar uma empresa, é um pecado mortal. Mas chamar clientelas a funcionários públicos e pensionistas, alcunhar os portugueses de piegas, falar mal do Estado e das suas instituição quase todos os dias ou difamar a CGD não faz mal.
A preocupação com Tancos e com Pedrógrão está a esmorecer na direita, até porque para além dos que se "suicidaram" por causa do governo, não estamos perante vítimas do governo.
A nova grande batalha de Passos é a Altice, só porque o primeiro-ministro se queixou da qualidade dos seus serviços. Compreende-se o empenho de Passos em defender a Altice, foi o seu governo que apadrinhou o negócio com a PT e a possibilidade de controlar uma boa parte da comunicação social dá alento a Passos. Passos está preocupado com o que Costa disse ou está "feito" com a Altice?
A direita tem novo candidato à sua liderança, para além da Assunção Cristas. Montenegro declarou o seu empenho na candidatura de Passos Coelho a primeiro-ministro nas próximas legislativas. Isso significa que o apoia até àquelas legislações, depois vai aparecer como alguém que nunca combateu o PSD e candidatar-se-á à liderança do PSD no dia seguinte às legislativas.

sábado, 15 de julho de 2017

Outros tempos



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 15/07/2017)
tvi2

Quando a PT era PT e tentou comprar a TVI caiu o Carmo e a Trindade, até deu direito aos zelosos inquéritos policiais com grande destaque nos órgão oficiosos do MP. Agora que a TVI24 vai ser comprada pelos saloios franceses e afrancesados endinheirados não há comentários, dizem que é o mercado. Desta vez não há perseguições nem inquéritos judiciais, estão todos felizes porque os montanheiros da Altice vão fazer na Media Capital o que estão a fazer na PT.
Mas neste país com elevada densidade de idiotas há quem dê crédito à declaração dos montanheiros que dizem que a Media Capital vai concorrer com o Facebook e com a Google. Até fazem lembrar o Passos Coelho quando foi ao Japão declarar que em breve Portugal iria ser um dos países mais competitivos do mundo.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Usar a TVI para destruir um já existente e comprá-lo a preço de saldo?



Em 2015, o grupo Altice passou pela quermesse de Passos Coelho e levou a PT, por um simpático valor que rumou, na sua quase totalidade, para o Brasil. Para isso e para pagar dívidas que a meritocracia capitalista – leia-se boys & girls do regime – nos deixou de herança, como forma de agradecimentos pelos milhões em bónus que lhes pagamos ao longo dos anos. Maravilhas da boa nova liberal.
Dois anos volvidos, a Altice adquiriu hoje uma posição maioritária na Media Capital, acumulando assim o controle da MEO com o da TVI, o canal português que se encontra no patamar de sensacionalismo e parolice imediatamente anterior ao do Correio da Manha.
O próximo passo, revelou ontem o Expresso, será a entrada no sector da banca, através do lançamento do Alticebank. Estará a compra da TVI relacionada com a decisão do grupo francês? É que, a julgar pelo papel decisivo que estação televisiva teve na derrocada do Banif, imediatamente adquirido pelo Santander, accionista do grupo Prisa, que detinha até hoje a TVI, quer me parecer que poderá haver aqui alguma relação. Assim, em vez de criar um novo banco de raiz, poderá a Altice limitar-se a arruinar um dos já fragilizados bancos portugueses, que são quase todos, senão mesmo todos, e resolve-se a coisa por meia-dúzia de milhões. Para pagar o remanescente estamos cá nós.
Eric Piermont/Getty@Expresso
Fonte: Aventar

quinta-feira, 13 de julho de 2017

A lei da selva na PT



por estatuadesal
(Pedro Filipe Soares, in Diário de Notícias, 13/07/2017)pedro_filipe
Assistimos a um corrupio de privatizações nas últimas décadas. Setores estratégicos, funções essenciais, monopólios naturais... muito pouco ficou a salvo desta rapina. A cada privatização era aclamado o exemplo da gestão privada, a introdução de inovação, a garantia da manutenção dos centros de decisão em Portugal e um serviço à economia e às pessoas redobrado. Uma gigante mentira como vemos atualmente.
Uma das grandes empresas privatizadas foi a Portugal Telecom (PT). A gigante das telecomunicações mudou de mãos no turno de António Guterres, para gáudio dos privados e garantia de rendimentos chorudos. O que se seguiu é digno de um filme de terror. Nas décadas posteriores assistimos ao desmantelar da empresa, espartilhada entre interesses de acionistas e o crime de gestores.
Ainda se lembra de Zeinal Bava, o supergestor que se engasgou em direto na comissão de inquérito do BES? Foi um dos autores da gestão danosa na PT: quando ele entrou para a gestão, a empresa estava avaliada em 12 800 milhões de euros; quando ele saiu da PT a empresa valia menos de 1500 milhões de euros. E enquanto se cometiam os crimes na PT os acionistas calavam-se, rendidos ao jackpot de dividendos distribuídos, de 9500 milhões só desde 2006. Outros acionistas eram intervenientes na gestão danosa: as vendas de ativos foram feitas para garantir a liquidez de acionistas contra o interesse da própria empresa.
O engodo da manutenção dos centros de decisão no país é agora inequívoco. Os acionistas nacionais da PT foram engolidos pela sofreguidão do lucro fácil e consequente descapitalização da empresa. Agora, manda apenas a Altice, um fundo abutre que faz negócios especulativos com empresas de telecomunicações em dificuldades. Pelo meio, desapareceu a Golden Share que prometia a participação pública em decisões estratégicas, atropelada pelo desprezo que Passos Coelho e Assunção Cristas tinham do que era público.
A crónica desta empresa conclui-se com a atitude selvagem com que está a tratar os seus trabalhadores e trabalhadoras. Em maio, a PT pediu ao governo para realizar um despedimento coletivo. Pretendiam despedir três mil pessoas, nada menos do que um terço de todos os trabalhadores, e que fosse o Estado a pagar esse despedimento. O governo fechou a porta a essa vontade e a lei impediu a PT de fazer esse despedimento coletivo, que seria um dos maiores da história do país. Mas onde se fechou a porta à administração da PT a criatividade legal da Altice procura agora abrir uma janela.
A gestão da Altice está a criar um cenário de repressão no seio da empresa, num claro assédio moral sobre os seus trabalhadores: colocou trabalhadores sem funções, na expectativa de que isso conduza ao desânimo e ao despedimento voluntário, e criou uma unidade de trabalho temporário para onde enviou cerca de 300 trabalhadores, novamente sem tarefas atribuídas. A intenção é tornar incontornável a figura miserável da "rescisão amigável" para fugir ao desespero que se instala. A amizade nesta proposta é apenas um cínico recurso de linguagem para esconder a violência do assédio moral em causa.
O cúmulo da atuação da PT é a forma retorcida como interpreta o Código do Trabalho para conseguir o despedimento coletivo que havia sido negado. O Código do Trabalho tem um artigo criado para defender os direitos dos trabalhadores quando determinado estabelecimento ou empresa é vendido ou concessionado. Esse artigo da "Transmissão de Empresa ou Estabelecimento" garante que exista a manutenção dos postos de trabalho. Contudo, a PT criou em cima deste artigo da lei um esquema fraudulento.
O esquema é o seguinte: A PT vende determinado departamento a um testa-de-ferro ou a uma empresa sem património; com essa venda e a coberto da lei, são transferidos também os trabalhadores; concretizada a venda, é realizado um despedimento coletivo; com esse despedimento coletivo, e como não há património da empresa, os trabalhadores não recebem qualquer indemnização, ficando apenas com o subsídio de desemprego que é pago pelo Estado.
A gestão desumana que a Altice está a fazer da PT está a ser combatida pelos trabalhadores, que já marcaram uma greve para o próximo dia 21 de julho. Têm também denunciado o assédio moral à Autoridade para as Condições do Trabalho, que já levantou mais de 70 autos de notícia. Merecem toda a nossa solidariedade, mas é necessário mais. Exige-se que o governo faça cumprir a lei e rejeite os despedimentos selvagens na PT. A Altice não está acima da lei e não pode tratar os trabalhadores como lixo.