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domingo, 16 de julho de 2017

PASSOS, O MAGNÂNIMO EXPEDITO



por estatuadesal
(Por José Gabriel, in Facebook, 15/07/2017)
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O tempo de antena do PSD na RTP 3 - também designado, eufemisticamente, por Jornal das 12 - teve o privilégio de um triplo aparecimento do pin-dérico ex-primeiro ministro. Um dos quais surpreendendo (?) uma conversa privada passada tida , a dado passo, à mesa do Passos. Os outros dois, tiveram a forma de homilias. Para pessoas com dificuldade de compreensão das palavras do oficiante, comentadores sortidos zurziram, em sortidos estilos, o governo e os seus apoiantes. Não houve especial atenção à verdade ou à simples decência, mas a isso estamos habituados.
Das excitadas jaculatórias que enfeitaram os pouco imaginativos discursos do Passos, relevam as censuras à demora do governo na entrega dos milhões de euros - 13, segundo ele - às vítimas dos recentes incêndios. Passos não explica como faria as coisas mais lestamente, mas podemos imaginar. Posta de parte a hipótese de lançar as notas de avião, seria encontrada solução mais séria - estrutural, diria ele - caso, ó inclemência, fosse primeiro ministro. Era assim, acho eu:
- Nomeava-se uma comissão que, de pronto, escolheria as devidas sub-comissões.
- Logo de seguida, seriam decididas as pingues remunerações dos comissários, distribuídos os cartões de crédito de fundos ilimitados e deliberada a marca dos carros - já que submarinos não teriam, aqui, serventia - a comprar para todos estes elementos - com a austera limitação a duas marcas, BMW e Mercedes.
- Como as comissões não poderiam trabalhar no café e deveriam manter a independência, breve seriam inauguradas as instalações onde as actividades decorreriam, de uma qualidade consentânea com as altas funções humanitárias em causa.
- Uma vez que ambos os partidos da defunta PAF teriam membros nestas comissões, forçoso seria distribuir aos respectivos partidos a justa retribuição financeira pela cedência dos seus qualificados quadros.
- Logo depois - tudo isto se processaria num breve lapso de tempo - seria estabelecido com uma empresa privada acima de qualquer suspeita o protocolo de sub-concessão das funções distributivas no terreno, contrato esse previamente preparado por um estudo levado a cabo por uma outra empresa não menos privada.
Todo este processo seria supervisionado por uma competente e honestíssima sociedade de advogados a qual, para que se mantivesse o indispensável enlace institucional, não deixaria de incluir alguns deputados próximos do suposto primeiro ministro Passos Coelho.
- Todos estes e os mais actos cumpridos, não deixariam de, rapidamente, ser distribuídos os 13 milhões de euros. Não chegariam às vítimas, claro, mas o trabalho seria ágil, competente e proveitoso. Não se pode ter tudo...

sábado, 15 de julho de 2017

Macromania



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 14/07/2017)
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A macromania é um dos iô-iôs mais demonstrativos da meteorologia política europeia. Há umas semanas, os euro-institucionalistas anunciavam a catástrofe iminente e declaravam-se sem meios de a esconjurar: em poucos dias, ou em poucas semanas, segundo as versões, a União entraria na sua derrocada moral ou no abismo sem regresso, sendo irreversível o “esboroamento” e as “crises sufocantes”. Agora, bastou uma parada solene nos Campos Elísios no dia da tomada da Bastilha e ao lado de Trump e Merkel, e temos de novo a redenção à vista.
Desde a vitória eleitoral de Macron em França, esse discurso salvífico foi relançado com um alívio indisfarçado. Maria João Rodrigues, uma europeísta experiente, anunciava no Expresso que “finalmente – ao fim de oito anos – surge alguma luz ao fundo do túnel da zona euro”, e retomava o menu já conhecido, toca a completar a União Bancária. Aqui no PÚBLICO, um escritor austríaco, Robert Menasse, explicava como foi crítico da União e se converteu, deliciado, compreendendo que é preciso matar a democracia nacional para haver ordem europeia. Todo este triunfalismo e mesmo o atrevimento vem da vitória de Macron.
Ele é o homem de que a Europa precisa, ele é o homem da parceria com a Alemanha, ele é o homem das soluções. Será mesmo? Permitam-me a desconfiança, é que já me deram este golpe, com Hollande foi exactamente este guião. Será agora o resultado diferente?

Tremam de aborrecimento: vamos para a silly season em plena estagnação política



por estatuadesal
(José Pacheco Pereira, in Público, 15/07/2017)
Autor
                 Pacheco Pereira
Caro Pacheco Pereira,
Essa de dizeres que o "país está estagnado" é uma forma sibilina de dizer que só uma solução, "bloco central" pode ser fautora de mudanças de fundo. Na verdade, devias dizer que, no actual quadro económico-financeiro e tendo em conta a arquitectura jurídico-institucional do Euro e do quadro europeu, quaisquer mudanças de fundo tem que passar pela benção de Bruxelas e de Frankfurt. E por isso, qualquer governo, seja ele qual for, desde que não ponha em causa esse quadro, só pode "navegar à vista". Os portugueses já perceberam isso e preferem um governo que lute no quadro da nossa soberania limitada, do que um governo que se renda e seja conivente com os ocupantes. É por isso, sobretudo, que a Geringonça está e estará de pedra e cal, mais por isso do que pelo facto de os seus actores e encontrarem numa espécie de equilíbrio de Nash, que tu descreves, apesar de não nomeares o conceito.
Estátua de Sal, 15/07/2017)

Às vezes acontece que as coisas param, o que não é muito normal. Mas a verdade é que, no plano estritamente político, o país está parado, para não dizer estagnado. Esta linha flat não se estende para tudo, bem pelo contrário. No plano económico, social, cultural, e outros mesmos de intersecção entre a política e a sociedade, algumas coisas estão a mudar, mas a estagnação política reduz o ritmo de tudo. O que é que eu quero dizer quando afirmo que em matéria política tudo está parado? Que não estão em curso factores de mudança no plano político, nem no lado do Governo, nem da oposição, que permitam sair da estagnação. Podem acontecer amanhã — sei bem que a história faz-se por surpresas imprevisíveis —, mas não existem hoje.
Explico-me. Do lado do Governo, três partidos convergem numa solução política sui generis, mas muito estável. Há uma razão para essa estabilidade: o facto de esta aliança político-parlamentar-governativa ser vantajosa para todos os seus parceiros e nenhum achar que fora dela teria mais vantagens. Não há no PS, nem no BE, nem no PCP nenhum movimento interior que conteste a aliança actual. No PS, a oposição que veio do sector de António José Seguro está limitada a meia dúzia de vozes que se manifestam sempre que alguma coisa corre mal ao Governo e a António Costa, mas fala muito sozinha. Do lado do interior do PS está tudo morto, como, aliás, é normal que aconteça em partidos deste tipo quando estão no poder.

Outros tempos



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 15/07/2017)
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Quando a PT era PT e tentou comprar a TVI caiu o Carmo e a Trindade, até deu direito aos zelosos inquéritos policiais com grande destaque nos órgão oficiosos do MP. Agora que a TVI24 vai ser comprada pelos saloios franceses e afrancesados endinheirados não há comentários, dizem que é o mercado. Desta vez não há perseguições nem inquéritos judiciais, estão todos felizes porque os montanheiros da Altice vão fazer na Media Capital o que estão a fazer na PT.
Mas neste país com elevada densidade de idiotas há quem dê crédito à declaração dos montanheiros que dizem que a Media Capital vai concorrer com o Facebook e com a Google. Até fazem lembrar o Passos Coelho quando foi ao Japão declarar que em breve Portugal iria ser um dos países mais competitivos do mundo.

A propósito de empresários e políticos


Posted: 14 Jul 2017 05:21 PM PDT
Jornal Público, 30/9/2000, artigo de José Augusto Moreira


Um dia nos meus primeiros anos de jornalista, algures entre 1986 e 1989, estava no Diário de Lisboa, e chega um envelope, acho que endereçado ao José António Cerejo que, nessa altura, trabalhava na secção de Economia, com o Daniel Reis e eu.
Eram meia dúzia de folhas dactilografadas e agrafadas. Uma com organogramas do grupo Amorim, uma outra com uma lista de pessoas que trabalhavam no grupo, com os seus telefones e moradas. E noutra uma carta de denúncia, naquele estilo corrido, de desabafo, anónimo. Entre as denúncias, contava-se que o grupo Amorim andava a desviar dinheiros do Fundo Social Europeu (FSE) para a formação profissional.
Naqueles anos - como o próprio ex-ministro da Economia Mira Amaral reconheceu depois - o que interessava era que Portugal esgotasse as verbas possíveis do FSE. Eram dinheiros para os empresários nacionais...
No Diário de Lisboa, ainda demorámos a pensar o que fazer. O Cerejo disse-me para ir telefonando para aquelas pessoas, a ver o que dava. E assim foi. Fui ligando, um a um. Sem resultados. O quarto da lista - deveria ser o autor da denúncia - dispôs-se a conversar. Mas não pelo telefone. Fui para o norte, para a freguesia onde estava instalado o grupo Amorim. Já não me lembro onde nos encontrámos. Na conversa, o desabafo continuou. Um enorme grupo gerido de forma altamente centralizada na pessoa de Américo Amorim, com práticas nada abonatórias do que hoje é descrito na comunicação social como sendo um "empresário". E lá vinham as descrições do desvio de dinheiro do FSE. Supostamente, a formação era para jovens, mas o dinheiro ficava na empresa. Pude falar com trabalhadores que me confirmaram que tinham tido formação numa manhã, mas sem continuação.