por estatuadesal |
(José Pedro Teixeira Fernandes, in Púbico, 05/09/2017)
A China espera um passo errado de Donald Trump na crise coreana para tirar vantagem. Um erro de cálculo poderá ser o princípio do fim da hegemonia dos EUA na Ásia-Pacífico. E trágico para o mundo.
1. Só é possível perceber a crise da Coreia do Norte no quadro mais vasto da política mundial, marcado pela competição entre a China e os EUA, e da natureza complexa das alianças. Há uma tendência de olhar para esta crise perdendo de vista o quadro da política mundial e esquecendo o que dá consistência às alianças militares: a permanência de interesses estratégicos no longo prazo. Sobrevalorizar o que são conflitos pontuais, ou desentendimentos conjunturais, entre aliados — neste caso, a China e a Coreia do Norte —, não ajuda a perceber a dimensão do problema. Subestimar a especificidade e sofisticação da cultura estratégica chinesa também não. É uma cultura estratégica não obcecada pelo sucesso de curto prazo, como os ocidentais. Contém objectivos nacionais de longo prazo, prosseguidos com determinação e habilidade, por múltiplos meios. No caso da aliança entre a China e a Coreia do Norte, é inadequado vê-la como obsoleta e apenas uma fonte de problemas para o governo chinês. É uma visão superficial do problema: focaliza nos riscos e negligência as oportunidades estratégicas. Uma comparação com outras alianças pode ser um bom ponto de partida para compreender a relação complexa entre a China e a Coreia do Norte. Olhando, por exemplo, para as alianças dos EUA com Israel, ou, talvez melhor, dos EUA com a Arábia Saudita, podemos ver o que está em causa.