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terça-feira, 4 de julho de 2017

Este Costa é mesmo um mafarrico



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 04/07/2017)
COSTA_MAFARRICO

Este António Costa é mesmo o diabo, enganou o FMI, conseguiu levar o ministro das Finanças alemão a dizer que o Centeno é o Ronaldo do Eurogrupo, empanturrou-nos com propaganda, fazendo passar a ideia de que o défice estava controlado, que os investidores estavam a vir, que as exportações estavam a aumentar, que se tinha estancado a fuga de quadros.
O país estava de tal forma endrominado que comentadores com uma inteligência superior, como o José Manuel Fernandes ou o João Miguel Tavares, durante meses e meses encontraram na linha amarela do Metropolitano de Lisboa a grande desgraça nacional. Mas, finalmente aconteceu algo que provou que tudo era publicidade enganosa, que o país não era o das maravilhas.
Em vez de ter andando a testar o SIRESP, a comprar aviões e a formar bombeiros, instalando um quartel por cada cem hectares de eucaliptos, o Costa andou por aí a tirar selfies com o Marcelo e quando a desgraça ocorreu na sombra do seu desleixo, foram a correr fazer festinhas no dói-dói de Pedrógão.
Mas o Costa é o diabo em pessoa; quase aposto que foi ele que encheu uma caixa de pilhas Duracell e foi para Pedrógão fazer uma faísca tão grande que se parecesse com um trovão seco, desencadeando um incêndio. Assim o país não reparava nas críticas do João Miguel Tavares à linha amarela. Quando o pessoal percebeu que o SIRESP era uma espécie de BPN das florestas porque tudo onde os banqueiros do PSD se abonaram ardeu, o Costa encomendou ao mafarrico um assalto a Tancos.
De um dia para o outro os jornalistas mudaram-se de Pedrógão para Constança, os mortos da EN286 já estão enterrados e agora o que está a dar são as granadas e as munições de 9 mm. E o mafarrico do Costa foi de férias; com os incêndios pediam-lhe a cabeça da ministra da Administração Interna, mas com a tropa o problema não é dele. O big chefe da tropa é o Presidente e a alta distinção não serve só para ver cagarras com um blusão de almirante chefe.
E enquanto o Marcelo não vai saber o que fazer a tanta espada de oficiais zangados, o Costa está nas selfies com o pessoal de mama ao léu em Palma de Maiorca!

segunda-feira, 3 de julho de 2017

A queixinhas



(Por Estátua de Sal, 03/07/2017)
cristas9
A Dona Cristas parece uma daquelas meninas mimadas a quem um menino mau puxou os cabelos e vai logo fazer queixa ao paizinho. Hoje lá foi ao beija-mão ao Professor Marcelo para fazer queixa do governo das esquerdas (Ver noticia aqui). O Costa é o chefe da quadrilha dos meninos maus, e dentro da quadrilha foi a menina Constança e o menino Azeredo que puxaram os cabelos à Assunçãozinha.
Vai daí, ela pede a demissão dos ministros com um ar muito sério para demonstrar que não é uma questão de birra infantil mas sim uma grave questão de Estado, um assunto para pessoas crescidas e não para meninas mimadas. Gostava de ter visto a cara do Célinho a ouvir tanta aleivosia. Provavelmente deve ter-lhe dito que fazer queixinhas é muito feio, que uma boa cristã não faz queixinhas.  e que ainda não chegámos ao Brasil e não premiamos a delação.
As minhas perguntas, para a D. Cristas, são as seguintes:
1. Se o mau do Costa não demitir os ministros a Assunção pede a demissão do primeiro-ministro e a queda do governo?
2. Se, a seguir, o Costa assobiar para o ar e não se for embora - satisfazendo o pedido (ordem?!) da menina zangada -, e Marcelo não o demitir, irá pedir a demissão do Presidente da República?!
Como ambos os cenários acima são ridículos, fica a claro a caricata figura que a oposição anda a fazer em todo este folhetim, o triste papel que a D. Cristas, mais o Coelho, andam a desempenhar. Alguém os viu apresentar alguma proposta para resolver os problemas do fogo e das armas roubadas que andam a cavalgar? Apenas os ouvimos a pedir responsabilidades, a empolar o caos e a pedir demissões.
Triste país, onde ninguém discute a causa das coisas. A desagregação do Estado e dos serviços públicos que decorre da asfixia financeira que o serviço da dívida nos impõe, mais a exigência da redução do déficit público a mata-cavalos. Mas isso a D. Cristas não diz: ajoelha de mãos-postas no regaço do Schauble, pede-lhe a benção e que lhe seja ungida a testa, por ser muito devota e cumpridora.
Perante este cenário, e perante esta oposição de opereta, antes de demitir os ministros dever-se-ia por começar por demitir os líderes da oposição. Parece que Passos já está em queda livre, e já começaram a afiar-se as espadas dentro do PSD. A D. Cristas quer ter o chinelo maior que o pé e fala demasiado grosso, tendo em conta a valia eleitoral do CDS.
É que, como dizia Benjamim Disraeli, não há governo seguro sem forte oposição. E a oposição que temos não chega sequer a ser uma tragédia triste. É mais uma comédia de mau gosto.

domingo, 2 de julho de 2017

Senhor eucalipto



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 30/06/2017)
jose_manuel_fernandes

Assistir ao espetáculo de um adulto a comportar-se como um garoto cria uma certa vergonha alheia. Quando se trata de um debate importante para a comunidade, essa vergonha alheia transforma-se em pena. Tenho por isso pena do Dr. José Manuel Fernandes.
O Dr. Fernandes, que tem pergaminhos na imprensa – eu conheci-o na Voz do Povo, depois no Expresso e depois director do Público – capitaneia agora um projecto de agit-prop, o Observador, e nele entendeu que o incêndio de Pedrógão Grande seria a oportunidade de sacudir o país com uma intestina vaga de indignação. Se quem lê estas linhas deita os olhos a essa publicação online, já conhece o estilo da casa: Portugal é sempre uma crise alucinante, um governo trágico, um primeiro-ministro criminoso, tudo uma pepineira, pelo menos desde que Passos Coelho perdeu a maioria nas eleições. Portanto, nada de novo: na opinião da sempre fogosa brigada neoconservadora do Observador, este incêndio é só mais um fogo que arde para se ver, queime-se o governo e salvem-se os eucaliptos.
A querela é esta: os eucaliptos são ou não perigosos para a nossa floresta? Vejamos os factos. Diz o INE que Portugal tem 23% da sua área florestal entregue aos eucaliptos, ou cerca de 760 mil hectares. Só quatro países do mundo têm mais eucaliptal em termos absolutos do que Portugal: a China (mas é 104 vezes maior do que Portugal), o Brasil (92 vezes), a Austrália (83 vezes) e a Índia (36 vezes). Em termos relativos, nenhum país no mundo tem a superfície de eucaliptos de Portugal. Aos que me respondem com o argumento de “dá dinheiro”, pergunto só por que é que a Alemanha ou a Espanha não correm para este El Dorado. A resposta é que é perigoso, não é que os empresários alemães ou espanhóis sejam estúpidos. Sim, o nosso desordenamento florestal é grave, o abandono rural gravíssimo – mas é um desordenamento que promove os eucaliptos (77% do investimento na floresta em 2015 foi para eucaliptos), que são perigosamente combustíveis, sobretudo se plantados como o estão a ser. Portanto, mais vale travar a fundo e salvar a floresta deste negócio pirómano.
Mas o Dr. Fernandes não quer conversar. Quer bombardear. Por isso, ao teorizar sobre as razões para estarmos gratos aos eucaliptos, o Dr. Fernandes sente a necessidade de nos explicar, sobriamente, que não é um “miserável avençado das empresas de celulose”, do que não tenho dúvida. Mas, vai daí, acha-se obrigado a tratar os pontos de vista contrários como prova de “ignorância” (e repete “ignorantes”), “obsessão”, “arrogância”, “preconceito” e “confusão” de “cabeças conspirativas” (sic). Quem dele discorda, supremo atrevimento, são os “bota-faladura” (sic) (agradeço por isso que ele me inclua nesta lista como “sumo sacerdote”, o que pensariam os meus amigos se ele me esquecesse). Ler um texto de alguém que assina como jornalista e tão cheio de classificações insultuosas é confrangedor. O homem não se lembra de nada de quando foi director de um jornal de referência?
Mas ainda estava só a começar. Vem aí o melhor. São as “carinhas larocas” (sic) que o tiram do sério: “Quando a Catarina ou uma das manas Mortágua investe contra a chamada eucaliptolândia, os jornalistas que seguram os microfones quase acenam com as cabeças e depressa se esquecem de confrontar a sua doçura de hoje (quando morreram 64 pessoas num incêndio florestal) com a lendária agressividade dos tempos em que até as suas unhas encravadas eram culpa de Passos Coelho”.
O homem não gosta de ninguém, sobram os eucaliptos. Nem “da Catarina” nem das “manas Mortágua”, cuja “doçura” vitupera, pois contrasta com a sua “lendária agressividade” a respeito das “unhas encravadas”, nem dos jornalistas que, patetas, “acenam com a cabeça”. Se já chegou às “unhas encravadas”, não devemos mesmo ter pena do Dr. Fernandes?

sábado, 1 de julho de 2017

O Caso Marquês



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 01/07/2017)
sócrates1


(O prazo dado pela Procuradora para sair a acusação a Sócrates terminava ontem. Não houve acusação nenhuma, a Procuradora "aos costumes disse nada", e na comunicação social ninguém deu por nada, a não ser a RTP3. Estranho. Será que o processo e as "provas contundentes" arderam no fogo do Pedrogão?  Ou não houve acusação para não retirar da primazia da agenda mediática o caso do fogo e das armas roubadas, e o ataque cerrado ao Governo que está a ser feito pela direita?
Estátua de Sal, 01/07/2017)

Parece que a acusação do Caso Marquês aguarda a resposta a cartas rogatórias, sinal de que que dessas mesmas cartas depende a produção de prova. Enquanto as respostas não chegam inicia-se o caso EDP. Está-se mesmo a ver, mais dia, menos dia, o caso EDP vai bater à porta de Sócrates e o Caso Marquês tem direito a mais três anos de investigações.
A dúvida está em saber o que vai acontecer primeiro:
· a aposentação do procurador,
· a mudança de profissão do fiscal das finanças,
· a substituição da Procuradora-Geral,
· a instituição de um regime político de magistrados, ou
· o falecimento por velhice de José Sócrates.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Pedro e o abutre



por estatuadesal
(João Quadros, in Jornal de Negócios, 30/06/2017)
quadros
De repente, abriu-se uma nesga. Uma nesga na couraça de sorte e resultados positivos de António Costa. Passos Coelho vislumbrou um calcanhar de Ulisses na geringonça e atacou. Podemos dizer que o resultado foi uma espécie de burro de Tróia.

Baseado numa informação falsa, dada pelo responsável pela Santa Casa de Pedrógão Grande, o líder da oposição acusou o Governo, e a ausência de apoio psicológico aos familiares das vítimas, de serem responsáveis por suicídios ocorridos após o incêndio. Tudo isto é muito difícil de explicar, a não ser que Santana Lopes ainda aspire ao cargo de líder do PSD. Com tantos factos relacionados com o que falhou em Pedrogão Grande, Passos vai além do ocorrido e resolve inventar e usar o que não lembraria ao diabo.
Passos Coelho é o SIRESP de António Costa. Sempre que se vislumbra algum perigo, ele aparece e, com as suas acções, salva a geringonça. Mais uma vez com o seu discurso de tragédia, Passos fez de maluquinho da aldeia: "Vem lá o segundo resgaste! Vem lá o diabo! Há gente a suicidar-se por desespero!". Dá a sensação de que está na altura de alguém pagar um copo ao Passos.
Vinte e quatro horas depois, Passos Coelho veio pedir desculpa por não ter havido suicidas e de ter sido mal informado. Não chega. Passos não percebe que pior do que ter usado informação errada foi o que fez com ela. Passos Coelho pode ter lido a "Fenomenologia do Ser", de Sartre, mas ainda não entendeu a moral da história do Pedro e o Lobo.
E aproveito e recordo que o FMI considerou que "não anteviu a magnitude dos riscos" que Portugal, Grécia e Irlanda enfrentaram durante a crise, e que os programas português e grego "incorporaram projecções de crescimento demasiado optimistas" – ou seja, já não é a primeira vez que Passos confia em informações erradas e se dá mal. Vá lá que desta vez foi só ele.
Não é preciso inventar fantasmas, há muitas perguntas sobre a realidade que têm de ser feitas e respondidas. Não me interessa se, segundo o Relatório do SIRESP, o SIRESP foi absolutamente espectacular. O SIRESP pode funcionar muito mal, mas tem uma grande auto-estima. Conheço tanta gente assim. Se o SIRESP custou o que custou, deve achar que é muita bom.
Este é um daqueles momentos em que faz falta um bom líder da oposição. Se Passos Coelho não está capaz, se José Gomes Ferreira não tem tempo, e se Cristas é a mãe de todos os eucaliptos, está na altura de pensar em reformular a floresta e o deserto que é a oposição.

TOP 5  SIRESP
1. Costa admite indemnizar famílias das vítimas de Pedrógão se o Estado tiver responsabilidade dos lesados do SIRESP.
2. Polícias dizem que SIRESP não funciona de forma eficaz no Colombo e Meo Arena
- a grande questão é se o SIRESP funciona na Assembleia da República.
3. Relatório do SIRESP sobre o SIRESP diz que não houve falhas
- o SIRESP é como a minha empregada: nunca foi ela que partiu nada.
4. Aeroporto de Lisboa entre "zonas sombra" do SIRESP
- é por essas zonas-sombra que se piram os argelinos e marroquinos.
5. "Junto por todos foi um sucesso e angariou um milhão"
- conseguiu angariar para Pedrógão o equivalente ao subsídio de férias do Mexia. E aposto que foi culpa do SIRESP a Catarina Furtado estar tão vestida.

Quem tem medo compra um cão



por estatuadesal
(Por Estátua de Sal, 29/06/2017)
lobo3

Estive a ver a Quadratura do Círculo e fiquei um pouco perplexo. Foram todos atrás do Lobo (o Xavier) - talvez por o assunto ser o fogo de Pedrogão e é normal ser nas florestas que se perseguem os lobos -, e só o Jorge Coelho conseguiu, em parte, deixar de morder o isco.
Xavier, está muito preocupado. Diz que a gestão da crise pelo governo de António Costa é deplorável, e a sua preocupação e a grande questão que lançou para o debate, para provar a ineficácia do governo foi esta: Podem as pessoas estar seguras daqui para a frente? Sentem-se as pessoas seguras, em função da actuação do governo?
Ora, esta pergunta é um malabarismo de publicitário rasca, mas todos os intervenientes lhe deram corda. Vejamos.
Onde é que existe um governo que possa dar segurança aos cidadãos perante um terramoto, um tsunami, um incêndio ou uma outra catástrofe natural de grandes dimensões?! Esta análise parte do princípio que a Natureza é perfeitamente domesticável pelas acções da governação e pretende passar a ideia de que os malefícios decorrentes das catástrofes são todos imputáveis à acção humana, nomeadamente à acção (ou inacção) dos governantes. Se a PAF fosse governo, o Xavier diria que a Natureza é inclemente, onde se viu um governo conseguir domesticar furacões, que com o vento não se brinca, e que fogos a somar a ventos em fortes rajadas são ainda muito menos domáveis e controláveis.
O senso comum sabe isso. Que perante um acidente grave, uma intempérie, não pode estar à espera que seja o governo a servir-lhe de para-raios. Logo, nesse sentido, ninguém se pode sentir seguro e, por isso, a pergunta do Xavier, não tem qualquer cabimento nem utilidade.
A não ser a utilidade que a direita retira de tentar semear a intranquilidade tirando benefícios políticos da tragédia, quais hienas prontas a refastelar-se num festim à custa dos cadáveres das vítimas.  De tal forma que, para Xavier, a actuação de Passos Coelho, usando a notícia de suicídios como forma de combate político, é perfeitamente aceitável, só pecando por a notícia ser falsa. Conclusão: foi execrável Passos, mas ficámos a saber que Xavier não lhe fica atrás.
Deveria usar um adjectivo mais forte para qualificar tais actos, mas limito-me a qualificar este "folhetim" do Xavier como ridículo. Tão ridículo que ele deve julgar que os cidadãos quando acordam de manhã, a primeira pergunta que fazem a si próprios é : Vejamos, sinto-me seguro? Sinto-me mais seguro hoje do que ontem?
E nós já sabemos qual a resposta que o cidadão Xavier dá a si próprio. Desde que o PS é governo com o apoio da esquerda, sente-se muito mais inseguro. Mas de certeza que não é por receio que António Costa não saiba apagar fogos. Deve ser mais por sentir a falta na governação da protecção da mão amiga do seu correlegionário, Pires de Lima, o ministro Super Bock.

A tragédia de Pedrógão e a vertigem necrófaga do PSD


por estatuadesal
(Por Carlos Esperança, in Facebook, 28/06/2017)
joão_marques
O Provedor de Pedrogão - Um pequeno cordeiro imolado para salvar a pele do Coelho

Hoje já não tenho dúvidas de que o aproveitamento político da tragédia nacional que enlutou o País e levou a morte e a desolação, especialmente ao concelho de Pedrógão Grande, foi urdido na reunião da bancada do PSD onde um deputado lamentou que o PR fosse “o primeiro a lançar a ideia de que foi feito tudo o que era possível”, quando se limitou, como devia, nesse momento, a procurar acalmar as populações.
Pedro Pimpão e Maurício Marques, respetivamente deputados por Leira e Coimbra, visitaram os locais da tragédia. O primeiro disse logo que “Os deputados do PSD têm o dever de não deixar isto ser silenciado” lançando o mote para o aproveitamento político, até à exaustão, de uma tragédia de dimensões dantescas.
O deputado Maurício Marques, ex-presidente da Câmara de Penacova afirmou de forma ungente que “…teve de se fazer à estrada para acudir a familiares que não conseguiam o apoio das autoridades”, acrescentando que a sua própria filha “foi encaminhada para a "estrada da morte", e só se salvou porque passou por debaixo dessa estrada e se dirigiu para a A13, em vez de seguir o caminho fatal de outros automobilistas”, afirmação a exigir investigação sobre o eventual crime de quem fez o alegado encaminhamento.
Enquanto as autoridades procuravam os suicídios [plural] atribuídos por Passos Coelho à ausência de apoio psicológico às vítimas do incêndio, e o ainda presidente da Câmara de Pedrógão, Valdemar Alves, um independente eleito pelo PSD, pedia que ‘corressem com os boateiros’, Duarte Marques, deputado eleito por Santarém, insistia no boato em conversa online: “É verdade”. E, antecipando já que PPC não chegará às legislativas, acrescentava: “Eu não o diria em público”.
A ânsia de aproveitar os cadáveres para efeitos eleitorais levou Passos Coelho a afirmar: “Tenho conhecimento de vítimas indiretas deste processo, pessoas [plural] que puseram termo à vida, que em desespero se suicidaram e que não receberam o apoio psicológico que deviam. Devia haver um mecanismo para isso. Tem havido dificuldades. Ninguém me convence de que não há responsabilidades. O Estado falhou e continua a falhar.”
O “familiar” que o informou foi um correligionário que a comunicação social referiu de forma neutra, “Provedor da Santa Casa da Misericórdia”, sem indicar que João Marques é também o líder da comissão política do PSD de Pedrógão, que durante 16 anos foi o presidente da Câmara Municipal”, cargo a que não pôde concorrer no último mandato, por imposição legal, e que é de novo candidato, designado em 4 de janeiro pela referida comissão política, a que ele próprio presidiu, com 9 votos a favor e duas abstenções.
Enquanto assistimos ao suicídio político de Passos Coelho, João Marques continuará a ser presidente da Santa Casa da Misericórdia, por vontade episcopal, e voltará a ser o Presidente da Câmara de Pedrógão Grande, pelo PSD, se o eleitorado reincidir no voto.

Cuidado, agora os comunistas comem eucaliptos!



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 29/06/2017)
eucal

Ao segundo dia do incêndio de Pedrogão avisei aqui que iríamos ouvir muitas vozes em defesa do eucalipto, só não esperava que no dia seguinte aos suicídios supostamente ocorridos naquela localidade fosse o próprio divulgador dos mesmos que mudasse tão rapidamente de tema, para se dedicar á defesa do eucalipto, uma árvore de que o próprio diz não gostar.
Passos Coelho que faltou deliberadamente a uma reunião com o primeiro-ministro para debater a floresta, tentando depois criar um falso incidente dizendo que não tinha sido convidado, vem agora fazer insinuações imbecis, acusando o governo de odiar o eucalipto por causa de um acordo com os Verdes. Estamos perante mais uma estratégia manhosa e desonesta do líder da oposição.
Em vez de debater a floresta Passos Coelho opta por se aproveitar dos incêndios e de uma iniciativa legislativa que ignorou e sobre a qual nunca se pronunciou, depois de se aproveitar dos mortos, depois de inventar suicídios, Passos mata dois coelhos com uma cajadada, vai de encontro aos interesses das empresas de celulose e lança o pânico entre os pequenos proprietários rurais que encontram no eucalipto uma importante fonte de rendimentos.
Passos acha que a melhor forma de debater os incêndios e uma reforma eleitoral é fazendo discursos incendiários nos jantares de lombo assado de apresentação de candidatos autarcas, como o seu comparsa de Pedrogão que durante a manhã faz rezas e juras de misericórdia e à tarde inventa mortos para ajudar o seu líder a sobreviver.
É óbvio que o eucalipto faz falta, é óbvio que as estevas ou os pinheiros ardem tão bem quanto os eucaliptos, é óbvio que todas as madeiras e matos ardem, é óbvio que sempre houve incêndios. Mas uma coisa é plantar uma floresta com regras e outra é encher as bermas da EN236 de eucaliptos, transformando-a num gigantesco inferno.
Mas Passos Coelho é um homem que não gosta de regras, não gosta da regra da boa educação e mente dizendo que não recebeu um convite, não gosta das regras constitucionais e queria governar contra a maioria parlamentar, não gosta de regras legais e cortou pensões sem respeitar promessas e leis, não gosta de regras de segurança e quer que se plantem eucaliptos em qualquer lado, não gosta de regras de decência e aproveita-se da desgraça para ajudar o lóbi das celuloses, não gosta das regras da honestidade política e lança o medo entre os pequenos proprietários rurais para se salvar.
É uma vergonha que depois da morte de 64 portugueses numa estrada nacional transformada em eucaliptal o país tenha agora um líder da oposição a recorrer a uma manobra suja para usar esses mortos em defesa da indústria interessada na promoção do eucalipto. Enoja-me que ainda antes da missa do sétimo dia dos mortos de Pedrogão e depois de centenas de imagens como a de cima, onde se pode ver um eucaliptal plantado até ao alcatrão, um líder partidário esteja tão preocupado com os eucaliptos e se recuse a discutir a floresta.
Estará preocupado com os portugueses ou com o negócio do eucalipto' Por este andar ainda algum familiar ou provedor de uma qualquer Santa Casa o avisa que há pequenos agricultores a suicidarem-se por não poderem plantar eucaliptos.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

A 65ª vítima



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 28/06/2017)
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Perante a calamidade nacional o líder do PSD foi incapaz de conter a sua ansiedade e acabou por não esconder o desejo de ver mais vítimas para que as pudesse atribuir ao Estado. Foi um comportamento vergonhoso, irresponsável e indigno de um candidato a primeiro-ministro. Passos queria que os incêndios fizessem mais vítimas e conseguiu-o, ele é a 65ª vítima.
Quando se esperava contenção e disponibilidade para servir o país, postura que só traria benefícios eleitorais, Passos teve mais olhos do que barriga e num passe de mágica proporcionou ao país o seu próprio suicídio, em direto, nas televisões. O partido que poderia sair incólume dos incêndios acabou por não lhes resistir.
Foram três dias dramáticos, primeiro foi a detenção de altos dirigentes do PSD ligados às autarquias, uma notícia que quase passou despercebida, mas já há quem diga que se os eucaliptos são uma espécie florestal que queima as nossas florestas, os loureiros estão a incendiar o PSD, depois do major, de Dias Loureiro, eis que este partido volta a arder devido a outro Loureiro, desta vez o Hermínio.
Se o caso de Hermínio Loureiro quase passou despercebido, o mesmo não se pode dizer da mentira dos suicídios e as consequências ainda estão por avaliar em toda a sua extensão. Mas o PSD não se podia ficar por aqui, tinha de encontrar motivos para lançar uma guerrilha, quando se esperava disponibilidade para discutir um tema tão sensível como o da reforma das florestas.
Revelando grande falta de inteligência Passos disse aos jornalistas que não tinha sido contactado pelo primeiro-ministro para discutir o tema, fez o mesmo que já tinha feito no passado com o PEC IV. Só que desta vez deu mau resultado, todos os partidos reuniram com o primeiro-ministro e o PSD ficou a tentar inventar um motivo para guerrilha, pensando que assim seriam esquecidos os suicídios de Pedrogão. Poderia ter havido um equívoco, nada que não se resolvesse com um telefonema, mas Passos achou que um contacto por mensagem poderia ser ignorado de má fé.
Quando está na hora de encontrar soluções o líder do PSD comporta-se como se fosse candidato à associação de estudantes de uma escola do ensino básico. Não percebe que não se brinca com a vida de cidadãos em dificuldades, que o interesse nacional está acima de pequenas guerrilhas. Passos revela-se um gaiato irresponsável que não está à altura da liderança do PSD. Passos talvez não tenha percebido, como político já morreu só que o seu partido anda de tal forma desorientado que se esqueceram de lhe fazer o funeral.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Sebastián Pereyra no meio do fogo



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 26/06/2017)
louca
Francisco Louçã
Do nosso correspondente na Andaluzia (ou em Madrid, não se sabe) – Património universal da UNESCO, a reserva de Doñana está a arder há vários dias. No terreno, é o caos. Já foram retiradas duas mil pessoas e há estradas fechadas que isolam 50 mil pessoas na estância turística de Matalascañas. Segundo um jornal de Madrid, parece que a localidade de Mazagón “praticamente se esvaziou de gente”. E ainda se espera que algum dirigente partidário anuncie suicídios imaginários.
Várias fontes anónimas confirmaram a este jornalista, também anónimo, que estão a ser preparadas desculpas esfarrapadas para proteger a incompetência das autoridades. Escreve por exemplo o PÚBLICO em Lisboa: “‘Há um vendaval’, disse por telefone ao El Pais, a partir do local, Juanjo Carmona, da organização de defesa do ambiente WWF, sem que quase fosse possível perceber as suas palavras, por causa do vento”. Um responsável ambiental do governo da Andaluzia, que vai pelo nome de José Fiscal, disse que “tudo aponta que a mão humana esteja por detrás” do incêndio, pois que “ontem à noite não se detectou nenhum raio na zona”. Vento a mais e fogo posto, são as desculpas de sempre.
O meu colega português e quase homónimo Sebastião Pereira, também ele sob pseudónimo, encontrou a mesma muralha de justificações no caso do incêndio luso de Pedrógão Grande. Fogo quente, vento forte e impreparação dos meios locais também foram evocados. Do mesmo modo, as autoridades da Andaluzia queixam-se agora das condições naturais mas também da letargia do governo central, que no passado recente foi impondo cortes aos serviços florestais, corpo de guardas especializados e outros meios de prevenção e de combate aos incêndios.
No meio deste labirinto de justificações, admitem as nossas fontes anónimas que a desastrosa gestão da tragédia poderia por fim à carreira política do primeiro-ministro Mariano Rajoy, que tem sobrevivido à prisão de alguns dos dirigentes do seu partido por acusações de corrupção, mas que dificilmente escaparia à condenação da opinião pública pela inacção na defesa da floresta.
No entanto, alguns comentadores anónimos sugerem que as críticas ao governo Rajoy são inspiradas anonimamente por agentes de Lisboa, dado que o governo luso teria levado a mal a pressão do Partido Popular espanhol que, temeroso sobre o resultado da recente moção de censura e registando a derrota nas primárias do PSOE de Susana Diaz, presidente da Andaluzia, contra Pedro Sanchez, partidário de uma iniciativa parlamentar para afastar Rajoy, procuraria atingir António Costa através do meu colega anónimo e só para evitar precedentes embaraçosos. De facto, o artigo de Sebastião, anónimo, serviu sobretudo para ser citado por alguma imprensa portuguesa como prova da vaga de indignação que estaria a varrer Espanha, o que é sempre deveras ameaçador, sobretudo se a dita vaga for anónima.
Ainda sob anonimato, as nossas fontes reconhecem que tudo é muito confuso, mas acrescentam com algum indisfarçado pesar que é assim a “entente cordiale” ibérica, na boa tradição de procurar defenestrar os maus exemplos.
Sebastián Pereyra, anónimo
Nota esclarecedora: “Sebastián Pereyra” é um jornalista conhecido da nossa redacção, que escreve sob pseudónimo por razões que não vêm ao caso e que só a incompetência do presente cronista permite vislumbrar no caso vertente. Sebastián prossegue a melhor tradição ibérica de reportagem anónima e, se nos perguntarem , já sabem a resposta, ninguém nos dá lições.

SAIA AÍ UM PSICÓLOGO PRÓ PASSOS!



por estatuadesal
(Por Joaquim Vassalo Abreu, 26/06/2017)
Passos_no_Coelho
E com urgência! É que eu temo pelo seu futuro. Não político, porque desse estou-me completamente nas tintas, mas psicológico! Temo pelo Passos, mas temo mesmo. E isto é sério: ou o Estado lhe fornece já um psicólogo ou não há mesmo “Estado” que lhe valha.
Porque, na verdade, havendo para o Passos três tipos de “Estados”, por falta de apoio psicológico, ele já não se consegue reconhecer em nenhum. Senão vejamos: Primeiramente o Estado, o Estado propriamente dito, o tal Estado a que ele pertence, nem que seja como Conselheiro ou suposto líder da oposição, mas ao qual não pertence, nem se lembra de ter pertencido; depois há o chamado “Estado das coisas”, das quais demonstra não fazer a mínima ideia e, por fim, o seu “Estado”. E aqui é que está o verdadeiro “busílis” da questão!
Tornando-se um “aproveitador” de um boato que um Provedor lhe soltou ao ouvido, não requerendo a ajuda imediata de um psicólogo, ele disse saber de fonte segura que havia pessoas a suicidarem-se (depois na forma de tentativa apenas) porque o “Estado” não lhes garantia o apoio psicológico necessário. E que o “Estado” tinha falhado.
E não olhou para si mesmo, como que dizendo: Eu, Psicólogo? Eu não preciso, eu sempre levanto a cabeça e sempre sigo em frente…
Porque, no fundo, no emaranhado de laços que deverão ir lá pela sua cabeça, ele lá pensará e bem: Mas para que diabo serve um psicólogo, se ele só me manda erguer a cabeça e seguir em frente? Isso já eu faço, pensará ele…
Mas lá está, ele é como aqueles animais de raça asinina, que também erguem a cabeça, seguem em frente e coiso mas, com uma pequena diferença: enquanto estes, mesmo que com palas, em enfrentando uma parede arretam, o Passos não: o Passos vai contra ela!
Porquê? Porque em vez de se tornar num “aproveitador” de um Provedor e sem conselheiros argutos ao dispor, que lhe dissessem que, em vez de ir em frente, podia virar à esquerda ou mesmo à direita à mão, ele deveria ter consigo, e sempre, isso sim, um Psicólogo!
Que até, em última análise, dada a precariedade da sua cabeça, por tantos nós entrelaçada, lhe poderia aconselhar uma baixa à Caixa de modo a evitar assim a tal tentada tentativa de esmurraço na parede.
Mas o seu “Estado” falhou, o Psicólogo não lhe enviou e contra a parede o estrepou!
Maldito este “Estado”, diz ele, mas englobando os três: o de todos, o das coisas e o dele! E o Estado desse Costa que tudo açambarcou e só o Provedor boateiro lhe deixou!
De modos que eu só tenho um conselho, um último conselho a dar-lhe: vá uns tempos para umas Caldas!
E “ele” há por aí muitas Caldas: As da Saúde, as do Gerês, as de Vizela, as das Taipas, isto só para falar aqui para norte porque, lá mais para o centro, tem umas famosas: as Caldas da Rainha!
Arranje, portanto, e de uma vez por todas, umas Caldas à medida, mas acompanhado de um psicólogo à séria,
A sério Dr. Passos, é importante que vá uns tempos para uma Caldas, mas…nunca se esqueça do respectivo acompanhamento psicológico!
Mas tudo isto à séria!

Quem mente uma vez, mente sempre


por estatuadesal

(Por Estátua de Sal, 26/06/2017)
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Que Passos Coelho era o rei dos aldrabões já era conhecido. Nada de novo. Chegou ao poder em 2011 prometendo o mel aos portugueses, e criticando as medidas austeritárias do governo de Sócrates, e deu-lhes quatro anos de medidas de fel, ao lado das quais a austeridade de Sócrates era coisa de brincar.
Que não tem limites morais na sua voracidade pelo poder também já se sabia. Para ele vale tudo, mesmo que seja apoiar o Arquitecto Saraiva no lançamento de um livro de mexericos sórdidos sobre a vida de personagens públicas, como se propunha fazer, só desistindo à última hora por indicação dos seus conselheiros mais sensatos.
O que não sabíamos é que pudesse ir tão longe como hoje, usando a desgraça alheia dos que morreram, e dos que ele julgou terem sido vítimas colaterais da tragédia dos fogos para atacar o governo e fazer da mais rasca política que se viu nas últimas décadas.
Passos, veio falar em suicídios causados pela amargura causada a alguns pelo terror da tragédia. Para ele, estes suicídios seriam culpa do governo e revelariam a ineficácia funcional do mesmo governo. Nada mais falso. Não houve suicídios nenhuns. Até ver e que se saiba. O mais grave não é Passos ter mentido. O mais grave é, se tivessem existido suicídios, ele usá-los como arma de arremesso político, esquecendo o sofrimento das pessoas e o desespero que as teria levado a esse fatal e funesto acto de acabar com a vida.
Passos é um amoral, uma espécie de amiba ética, um calhau de insensibilidade. Para ele vale tudo para regressar ao poder, vendeu o país à troika, vendeu os velhos à amargura, vendeu os novos à emigração, e venderá o pai e a mãe se preciso for para ser de novo primeiro-ministro.
E já agora, deve dizer-se que, se suicídios houve, muitos ocorreram sim, durante a governação pafiosa. De muitos que perderam o emprego, a casa, a família, os filhos e toda a vida organizada que tinham e não aguentaram as agruras dessa nova situação de penúria.
Mentiroso, amoral e por fim, incompetente. Não fosse a sofreguidão do poder que o faz salivar com a desgraça alheia desde que a possa usar em benefício próprio, Passos teria verificado previamente a informação, antes de se arriscar à humilhação pública de ser desmentido por toda a gente e de ter que se retratar. Mas a avidez retirou-lhe o bom senso e a pressão da cáfila laranja, cada vez mais impaciente, atirou-o para a frente imprudentemente.
Passos que se retire e que se cale. Que faça votos de silêncio e se afaste para o Convento do Sacramento, fazendo companhia a Cavaco,  onde este lhe arranjará, certamente, uma secretária e um cilício para se auto-penitenciar.
É que, quando Passos fala, ou entra mosca ou sai asneira. Como o fogo levou as moscas e tudo o mais, já nem moscas entram, só sai asneira.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

A Origem do Grande Incêndio Florestal de Pedrógão Grande

Junho 24, 2017


Muito se tem falado e especulado sobre a origem da ignição e a propagação inicial do Grande Incêndio Florestal de Pedrógão Grande. Uns procuram buscar respostas às inúmeras questões sobre o acontecido e, se de algum modo seria evitável o triste desfecho que vitimou mortalmente 64 pessoas e mais de duas centenas de feridos. Outros, porém, alimentados pelo mediatismo procuram fazer justiça na praça pública e inflamar a opinião dos cidadãos e, na maioria dos casos com um profundo desconhecimento do comportamento do fogo, em geral e, sobretudo sobre incêndios convectivos. Publicidade

Aos olhos do analista, este incêndio tratou-se sem dúvida alguma de um incêndio inédito, dado o domínio de um comportamento convectivo, ou seja, um incêndio conduzido pelo estado fenológico e carga disponível do combustível, e associado a uma instabilidade atmosférica previsível que favorecia e sustentaria a coluna convectiva em caso de incêndio. Este tipo de incêndios, de comportamento extremo do fogo, origina consequentemente elevada complexidade nas operações de controlo e extinção. Não existem grandes receitas, a não ser a proteção de aglomerados. Por alguma razão, os analistas de incêndios americanos denominam de “Hungry Fires”, uma vez que terminam quando acabam com o combustível que os alimenta ou então a situação sinóptica muda e permite que os meios de combate possam exercer manobras eficazes e seguras.
Associado a este tipo de incêndio, ocorrem fenómenos meteorológicos que aumentam a complexidade do controlo, tais como a geração de ventos erráticos, normalmente soprando com intervalos de elevada intensidade e de direção variável. A coluna de fumo (pluma) rapidamente eleva-se verticalmente, sendo tridimensional e muito densa e escura, transportando material incandescente que não se apaga dada a temperatura dentro da coluna, permitindo o lançamento de projeções a longas distâncias e produzindo inúmeros focos secundários em várias direções no raio do incêndio.

ORIGEM PROVÁVEL
O Semanário Expresso de 23 de junho destaca a seguinte manchete «Daniel viu o fogo começar. Ligou para o 112 às 14h38. Tirou-lhe a primeira fotografia. “E não havia trovoada no ar”» e descreve o seguinte: «Daniel Saúde tirou a primeira fotografia ao incêndio 39 minutos depois de ligar para o 112. Diz que esteve uma semana à espera de ser contactado pela PJ – “afinal fui eu que liguei para o 112” – e que por isso vai ser ele agora a ligar à polícia. A história do momento zero do fogo em Pedrógão».





A partir daqui podemos começar a tentar explicar, fundamentando nos dados meteorológicos recolhidos.
Antes de mais importa referir que existem dois tipos de raios – raios negativos e raios positivos.
Normalmente, entre 90 a 95% dos raios são do tipo negativo.
Os raios negativos produzem-se quando a base da nuvem (parte mais escura) está carregada negativamente e a superfície do solo por baixo da nuvem tem uma carga positiva. Neste caso vai produzir-se uma descarga da base da nuvem para o solo.

Alguns raios – os positivos – formam-se no topo da nuvem, na parte branca do cúmulo-nimbos, onde se concentram as cargas positivas. Nesta situação ocorre uma transferência do topo da nuvem que alcança uma elevada altitude (14 kms) para o solo, sendo os mais perigosos uma vez que podem alcançar uma zona da superfície terrestre a longas distâncias do local da trovoada (entre 30 a 95 kms) e, uma vez que a camada de atmosfera que atravessam é maior, a descarga elétrica pode ser até 10 vezes superior aos raios negativos. Igualmente, importa referir que o fenómeno de queda de raio sem se ouvir o trovão é definido como relâmpago térmico e ocorre com maior frequência no verão.

Segundo a agência americana para a observação da atmosfera – NOAA – os raios positivos são considerados responsáveis por uma grande percentagem de incêndios florestais.
Logo, a afirmação de que não se ouviu qualquer trovão não significa que não tenha ocorrido uma descarga de raio positivo, pois a distância entre a trovoada e o local da descarga é de dezenas de quilómetros.
A imagem abaixo do Meteosat mostra a instabilidade às 14:00 UTC do dia 17 de junho, onde se pode verificar a formação de nuvens de evolução que dão origem a trovoadas na proximidade da zona do GIF de Pedrógão Grande.


Fonte: EUMETSAT
Considerando os registos meteorológicos do Meteosat referente à queda de raios, observamos que no dia 17 de junho de 2017, ocorreu precisamente na zona do incêndio, por volta das 13:45 UTC, uma descarga de raio positivo. O horário registado pelo popular entrevistado pelo Semanário Expresso refere-se às 14:38, isto é 13:38 UTC +1, ou seja, muito próximo dos registos da agência EUMETSAT através do satélite Meteosat.


Sendo assim, a afirmação do Diretor da Polícia Judiciária com base em evidências físicas encontra-se bem fundamentada: «“A PJ, em perfeita articulação com a GNR, conseguiu determinar a origem do incêndio e tudo aponta muito claramente para que sejam causas naturais. Inclusivamente encontrámos a árvore que foi atingida por um raio”, disse Almeida Rodrigues.». Sendo um raio positivo, muito provavelmente não se tenha ouvido o trovão dada a distância à nuvem.

HORA DO ALERTA
Igualmente, segundo fontes oficiais e já divulgadas nos media pela ANPC, o Alerta foi dado às 14:43 (13:43 UTC +1), um tempo muito aproximado ao referido na informação relatada na referida notícia. Se observarmos os dados do sensor VIIRS a bordo do satélite Suomi-National Polar-orbiting Partnership (S-NPP), o qual permite a deteção de focos ativos a 375 metros de resolução espacial, este detetou às 13:42 UTC do dia 17 de junho um foco ativo muito próximo do local do ponto provável de início do incêndio.


Dado o estado fenológico e a disponibilidade de combustível, bem como as condições meteorológicas nesse período, o fogo facilmente se propagou, alcançando uma elevada intensidade e alta velocidade de propagação. Pelo que foi possível em poucos minutos ser detetado pelo sensor VIIRS. Importa referir que o desvio mais a norte do local do início provável de incêndio deve-se ao calor emanado na cabeça do incêndio e da própria coluna de fumo. Considerando os dados de registos espaciais, estes permitem fundamentar as declarações das entidades oficiais, pelo que existem fortes evidências para a «tese meteorológica».

Por: Emanuel de Oliveira in Fogos Florestais

Só quando isto já for história



por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 25/06/2017)
Autor
                             Daniel Oliveira

Em janeiro deste ano deu-se a discussão pública da maior reforma legislativa florestal apresentada nas últimas décadas. Viram debates na televisão, entrevistas ao ministro e a técnicos, intervenções políticas de líderes partidários? Estou incluído nos faltosos: soube e nem uma linha escrevi. Como não há fome que não dê em fartura, Marcelo quer estas 12 leis complexas e discutíveis aprovadas antes do verão. Diz quem sabe que as causas dos problemas da nossa floresta são profundas e, tirando algumas medidas de segurança mais evidentes, as soluções são difíceis e demoram. Se fizermos tudo certo, só sentiremos os efeitos quando Pedrógão Grande já for história.
Comecemos pelo inimigo justo mas demasiado fácil: o eucalipto. O eucalipto e o pinheiro-bravo correspondem a quase metade da nossa floresta — o primeiro tem crescido sobretudo à custa do segundo. Apesar de serem terríveis propagadores do fogo, a opção por estas espécies é fácil de explicar. O sobreiro e o pinheiro-manso dão mais rendimento, mas o retorno é demorado. Com a quantidade de incêndios que temos, esse retorno pode não chegar antes de o investimento ter ardido todo. Sim, há um lóbi da celulose. Mas convém não esquecer, quando se procuram soluções, a racionalidade económica das escolhas que as pessoas fazem. É também na economia que pode estar parte da solução para a limpeza das matas. Com centrais de biomassa, os resíduos florestais passariam a ser rentáveis. Mas a maior doença da floresta portuguesa é o minifúndio. É impossível gerir, rentabilizar e tratar a floresta quando a área média da propriedade que não é gerida pela celulose é de cinco hectares e a maior parte tem menos de um hectare. Portugal é o país europeu com maior percentagem de área florestal privada e com as mais baixas dimensões por propriedade. A única solução é integrar as pequenas áreas em unidades de gestão semelhantes a zonas de intervenção florestal ou às entidades de gestão florestal, em troca de uma renda, dando dimensão às explorações sem que as pessoas percam a propriedade. Mas a intervenção do Estado pode ter de ser coerciva. Estamos dispostos a aceitar que há valores mais importantes do que o direito absoluto à propriedade? E há, por fim, um dos maiores problemas do país: o despovoamento de grande parte do território, que demoraria décadas a resolver. Se não há pessoas, não há quem trate e defenda a floresta. Cerca de um quarto dos proprietários florestais nem sequer vive na região da sua propriedade e, sem um verdadeiro cadastro, muitos nem sabem o que têm.
Tenho algumas dúvidas em relação à reforma proposta por Capoulas Santos. A principal é a da municipalização da gestão florestal: as autarquias onde a situação é mais dramática não têm dimensão política, técnica e financeira para esta empreitada, e isso pode deitar tudo a perder. Mas esta reforma, que trata de muitos dos assuntos de que aqui falei e à qual ninguém ligou pevide, merece mais do que um debate rápido em cima da emoção. Nada do que ali está evitará incêndios neste agosto. E, mesmo assim, é apenas uma pequena parte do que temos de fazer.
Porque o estado da nossa floresta é consequência do modelo de desenvolvimento que escolhemos, da economia que temos e do território que abandonámos. Isto não se muda ao ritmo da nossa indignação.

Semanada



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 25/06/2017)
HERMINIO
Esta foi a semana em que o diabo veio (finalmente), estava combinado aparecer em Setembro ali para os lados do ministério das Finanças, mas acabou por aparecer em Pedrógão Grande, uma localidade que em poucas horas se transformou numa imagem do inferno. O pessoal do PSD que estava instalado a tempo inteiro no terreiro do Paço, esperando pela queda de Centeno percebeu rapidamente a nova oportunidade, mudou-se de armas e bagagem para a Administração Interna.
Passos Coelho bem começou a encenação do político que não se aproveita da desgraça alheia, algo que já tinha feito com a crise financeira e com o Caso marquês. Mas a ansiedade dos seus deputados é tanta que desta vez o próprio Passos foi ultrapassado, propôs uma comissão técnica para avaliar os acontecimentos, mas o seu grupo parlamentar forçou um debate parlamentar sem quaisquer relatórios técnicos, só para aproveitar os acontecimentos.
Ninguém reparou, mas há uma figura grada do mundo autárquico do PSD que está a viver o seu próprio inferno, acompanhado de mais alguns companheiros. Hermínio Loureiro, homem forte de Oliveira de Azeméis e uma ponte entre o PSD e o mundo da bola está passando o fim de semana nas instalações hoteleiras da PJ.

sábado, 24 de junho de 2017

A agenda do rescaldo



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 24/06/2017)
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Francisco Louçã
Estamos em rescaldo do incêndio, depois de 64 mortos e muitos feridos, 150 famílias desalojadas e 46 mil hectares ardidos. O drama é demasiado e não se pode fechar os olhos. Já chegou a hora da política.
Começo pelas críticas a Marcelo. Na minha opinião, o Presidente fez bem em ir imediatamente ao local e em incentivar os que combatiam o incêndio. Acho desprezível o ataque que lhe foi feito em poucas horas por um deputado do CDS e por outros mandarins da direita. No mesmo sentido, a sugestão de um deputado do PSD (parece que vice da sua bancada) de que os feridos se curam depressa demais entra no domínio do Alien contra Predador.
Em contrapartida, Passos Coelho e Assunção Cristas foram cuidadosos nos primeiros dias. Tinham boas razões para isso, além do natural respeito pelos mortos e pelo sofrimento de quem ainda via o incêndio à porta. Quanto à dirigente do CDS, ela teme mais do que tudo que a sua passagem pelo ministério da agricultura, em que promoveu a extensão do eucaliptal, se torne um centro de atenção.
E ela como Passos Coelho temem ainda que o caso SIRESP seja tóxico para os partidos que criaram o negócio, que foi assinado já depois de o governo PSD-CDS ter perdido as eleições de 2005 e favorecendo um centro de negócios de homens do PSD (a SLN, dona do BPN), ao preço de 485 milhões, que terá sido cinco vezes o devido segundo o PÚBLICO de então, além de se assegurar uma renda de 100% na manutenção, pagando o dobro do devido (e que os governos PS aceitaram). Soube-se agora, também pelo PÚBLICO, que Passos Coelho pôs na gaveta uma redução de 25 milhões, já negociada com o consórcio do SIRESP. E, já agora, o SIRESP não funciona.
O PSD e o CDS, bem como o PCP, têm ainda outro problema em mãos: é que durante o ano, apesar das promessas solenes do final da época de fogos de 2016, escolheram não apresentar qualquer projecto no parlamento. Podem naturalmente alegar que a lei actual é suficiente, mas isso deixá-los-ia em situação difícil, forçados então a rejeitar as propostas que estão em consideração há vários meses – e é impossível alegar que está tudo bem e é só questão de corrigir meios e práticas para salvar a floresta.
O governo reagiu depressa, percebendo o caos que estava instalado na frente de combate ao fogo, envolvendo os ministros necessários e coordenando entre o primeiro-ministro e o presidente o apoio às populações. Mas hesitou no apuramento dos factos, mesmo que António Costa, com o seu instinto, tenha vindo a aceitar a sugestão de uma comissão independente. Ora, entendamo-nos: uma comissão parlamentar, que é o que o PSD propõe, é vagamente inútil. O que o governo devia ter feito era nomear logo uma comissão presidida por uma personalidade independente e com prestígio indiscutível, com o mandato de investigar as falhas de coordenação e os erros cometidos e de fazer recomendações num prazo curto.
Há ainda outro agente político que entrou em cena, e dá-se menos conta dele: as empresas do eucalipto estão a mover-se para proteger o seu baú. Cuidado com elas, são o poder sombra da floresta. Precisam que nunca entre na agenda política a única medida estrutural que salva Portugal: a reflorestação com a redução forçada das manchas de eucalipto e a reorganização da economia da floresta para sustentabilidade e a protecção dos pequenos proprietários. Por isso, querem aproveitar a necessidade de posse administrativa dos terrenos abandonados para um movimento de concentração da propriedade, à espera de um novo governo que lhes favoreça a eucaliptização, na esteira de Passos e Cristas. Assim, as leis que estão a ser discutidas devem ser muito bem ponderadas, e creio que a esquerda deve rejeitar qualquer caminho que conduza ao benefício dos eucaliptocratas. Não estamos livres disso.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

O rei dos camelos


por estatuadesal

(Dieter Dilinger, in Facebook, 23/06/2017)
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Foto: Prof. Drªa Constança Urbano de Sousa, a mulher de fibra que sabe COMANDAR. Pode bem adquirir o título de "La Comandante" por todos os militantes socialistas.

O jornaleiro Camelo Lourenço no Negócios de hoje (aqui) viu já o governo de António Costa desmoronar-se completamente.
Diz que tudo parecia correr de feição para António Costa e nos espaço de seis horas tudo mudou por causa dos incêndios.
Acrescenta que Costa resolveu com ligeireza uma série de crises que, não diz, mas foram heranças do GOVERNO PASSOS-PORTAS como o Banif, o BES, a CGD, etc.
O Camelo descreve com REGOZIJO a estrada que não foi cortada e conduziu os carros para um "crematório a céu aberto" (palavras do Camelo). Refere-se à ministra do Interior como patética e mais estupidezes deste quilate típicas do escrevente mais estúpido da nossa praça.
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Pergunta onde estava o BE e o PCP nesta tragédia. Tem razão, não estavam lá nem tinham de estar dado que não são governo como não estava o PSD nem o CDS. Estava apenas o Governo do PARTIDO SOCIALISTA com António Costa e Constança Urbano de Sousa mais Capoulas Santos a COMANDAREM e DIRIGIREM as operações.
O povo já tinha reconhecido nas sondagens quem é são os governantes e deu-lhes mais de 44% de intenções de votos e cerca de 20% ao PSD e os habituais cerca de 8% aos restantes.
Ao enfrentar as situações adversas com coragem e permanecer no posto é que se vê a FIBRA de quem governa.
Constança Urbano Sousa não se demitiu como queria ontem o idiota Celso Filipe do mesmo jornal.
Ao leme só se pode estar quem seja capaz de enfrentar tempestades e OS PIORES MOMENTOS SEPARAM os péssimos - como os críticos da Cofina tipo Camelo Lourenço, Passos Coelho, Cristas e outros -, dos verdadeiros heróis, os bombeiros, a GNR e quem os comandou 24 sobre 24 horas como fez a ministra Constança Urbano Sousa e o Primeiro Ministro mais outros membros do Governo.
De cobardes faladores como o Camelo Lourenço não reza a história.

Olhos não veem, coração ainda sente



por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 23/06/2017)
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Com diretos ininterruptos seria expectável que as televisões nos dessem, nos últimos seis dias, todos os ângulos do que está a acontecer em relação aos incêndios. Comparassem a situação da nossa floresta com outros países para perceber em que dimensão falha. Fizessem reportagens sobre os meios para percebermos se são suficientes e se o modelo de bombeiros voluntários é o melhor. Compreenderíamos, com trabalhos aprofundados feitos por jornalistas, os efeitos da ausência de cadastro, do minifúndio, da desertificação, do tipo de florestação, da dificuldade em garantir a limpeza. Os limites da intervenção do Estado e das autarquias, o poder das empresas de celulose e a racionalidade económica desta escolha. Com todos os meios concentrados nos fogos, as televisões poderiam começar a dar-nos o material para o debate que temos de fazer. E não chega convidar especialistas para falar. O trabalho de reportagem não é só o direto onde há ação. Se é para termos um banquete de informação que seja variado.
Mas as horas de diretos não têm essa função. Elas estão no domínio do espetáculo. Substitui a novela pelas notícias. Deixei de ver os diretos dos incêndios logo ao fim do segundo dia. Por um enorme cansaço. Cansaço pelo permanente apelo à emoção, em que jornalistas se tornam poetas e a tragédia real de pessoas reais tem banda sonora.
Cansaço pelo incómodo de ver jornalistas a pedirem às pessoas para relatarem o seu próprio sofrimento, em direto, ao ponto de lhes travarem a fuga com perguntas imbecis. Não me esqueço da imagem de um homem a ser puxado por mulheres para abandonar a casa com um jornalista plantado à sua frente, a apontar o microfone para um rosto ausente. Cansaço com a substituição do jornalismo anónimo, que relata e mostra ficando atrás da câmara, pelo estrelado que usa a tragédia como cenário e o cadáver como um adereço, e transforma o jornalista em protagonista.
O caso mais extraordinário causou indignação a muitos telespetadores, mostrando que o cidadão comum tem mais noção dos limites do que muitos jornalistas. Mais do que a exibição de um cadáver tapado – apesar disso ser discutível –, o problema é um cadáver ser transformado em adereço de um “vivo” de Judite de Sousa, na mais macabra exibição de desrespeito que se pode imaginar. Mas tem razão a TVI quando diz que não são os únicos a falhar e recorda que até houve quem exibisse a fotografia de uma criança que tinha morrido, mesmo sabendo-se que os seus pais nem sequer estão em Portugal.
Numa comunicação social em crise, que viu nesta tragédia um momento para respirar, os tropeções têm sido muitos. Temos falado e vamos continuar a falar de tudo o que falhou nos bombeiros, na proteção civil, no Governo. Mas pode dizer-se que a comunicação social não está a passar neste teste. E o jornalismo escrito foi o único que, apesar de algumas falhas graves, cumpriu minimamente a sua função.
Fiquei cansado porque já nada de realmente informativo me estava a ser dado. Só dor, para que a dor me prenda ao televisor. Em doses repetitivas até já não ser dor nenhuma. Até ser apenas uma coisa que se possa transformar num hashtag.
Para defender a minha capacidade humana de continuar a sentir compaixão pelos outros desliguei a televisão. Às vezes é preciso ver menos para se continuar a sentir. Também estou, como Henrique Monteiro, farto de histórias sobre sobreviventes e mortos do fogo. Preciso, nas televisões, de jornalismo com menos sentimentos e mais informação.

Pedrógão Enorme



por estatuadesal
(João Quadros, in Jornal de Negócios, 23/06/2017)
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É muito triste escrever sobre o tema desta semana. É triste e monótono. Incêndios em Portugal. Andamos há anos nisto. Gastámos milhões num tal de SIRESP que, em termos de comunicações, acabou por ser como o meu pai com o telemóvel. Dezasseis horas incontactável porque estava no modo silencioso.
Vamos ver o que é o SIRESP e sabemos que, na origem, foi adjudicado a uma holding do BPN. 17 de Junho de 2017 e morrem pessoas em incêndios e ouvimos falar no BPN. Os bancos fizeram-nos muito pior do que nós imaginamos. Por tudo o que tenho ouvido por aí, penso que aquele senhor redondo do SLB, o Pedro o Guerra, é que devia ir dirigir o SIRESP.
Para piorar tudo isto, a cobertura jornalística do incêndio mostrou que, além de reformular a floresta, precisamos de dar uma grande volta ao jornalismo. Estou tão farto de ver filmar pessoas a chorar que já não tenho sal no corpo e estou cansado de ouvir textos jornalísticos/poéticos que juntam lume com inferno e céu com penumbra de cinza. Vocês, jornalistas, estão a dar a notícia de um incêndio, não estão a fazer o prefácio de um livro do Chagas Freitas. Ainda nem fazem bem jornalismo e já querem ser escritores.
Não se filma, e entrevista, um homem que acabou de perder, carbonizados, a mulher e os filhos. Ele até pode responder às vossas perguntas, mas tanto falava para um microfone como para um sapato. Perguntar a uma pessoa desfeita como se sente depois de uma tragédia destas devia merecer uma tareia com um pau em brasa, dada pelos psicólogos, que deviam estar a evitar isto. Aliás, preocupa-me é se mande para o Pedrógão, no meio dos psicólogos, o Quintino Aires.
Aproveito para expressar aqui o meu ódio para com aquelas pessoas que vão "ver o fogo". As pessoas que vão ver o fogo... ui. A minha ideia era uma inundação em casa, até ao tecto, e filmada para eles verem quando voltassem de "ver os fogos."
A floresta em Portugal é o centro de mesa daquilo a que chamaram o arco da governação. É a personificação vegetal do centrão. Dos interesses e desinteresses.
Há tanta coisa para esclarecer, e vão ter de rolar cabeças, mas sabem por que é que muitas daquelas pessoas se safaram? Porque estão habituadas a andar 100 km para ter um médico, ficar sem água, etc. É uma luta, têm de improvisar. Aquilo é gente rija que não se queixa porque o metro está atrasado dez minutos ou porque fazem falta mais vinte estações. Viver um ano no interior abandonado de Portugal devia fazer parte do curso dos comandos.
Além dos interesses económicos, o interior vale meia dúzia de votos. Na verdade, se não fossem lá filmar os incêndios, nós nem dávamos pelo que tinha acontecido. Podiam arder aldeias que só saberíamos anos depois. Tirando a aldeia de Picha, que conhecemos porque gostamos de fazer trocadilhos, o resto não fazia parte dos nossos mapas. Estas pessoas que insistem em viver no interior são uma chatice. Aquilo já era para estar abandonado há anos. São uns teimosos. Tiram-lhes os médicos, os correios, as escolas, e elas insistem em viver ali. Chatas!

quinta-feira, 22 de junho de 2017

O eucalipto da Quinta da Coelha



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 22/06/2017)
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O país tinha acabado de entrar na CEE, iria receber milhões de ajudas para o setor agrícola que durante mais de meia década beneficiaria de um regime de transição. Estava em causa uma profunda revolução na política agrícola. Portugal tinha uma economia atrasada, com grandes problemas na qualificação de uma população ativa excessiva, sem uso de tecnologias, com grandes problemas na estrutura da propriedade fundiária.
Cavaco Silva era primeiro-ministro e escolheu um engenheiro civil da Soporcel, a grande empresa do setor da celulose, para o cargo de ministro da Agricultura do IX Governo Constitucional, que tomou posse em 1983, tendo sido renovado na pasta nos X e XI Governos Constitucionais, isto é,  foi o ministro da Agricultura do Cavaquismo, tendo assumido o cargo ainda antes da entrada de Portugal na CEE, condicionando, desde logo, todo o processo de transição.
Com a entrada na EU deu-se início a um processo de transformação forçada e acelerada no setor agrícola. Nada se fez na estrutura fundiária, quase nada se fez na promoção do setor agroindustrial, nada se fez na promoção do regadio (Cavaco boicotou de forma militante o projeto de Alqueva), nada se fez na qualificação dos trabalhadores e empresários agrícolas, nada se fez no domínio das universidades e investigação no setor.
Assistiu-se muito simplesmente a uma redução acelerada da população ativa que envelheceu ou foi absorvida pelo próspero setor da construção e obras públicas, os agricultores ou emigravam ou iam para serventes de pedreiro. Se nas cidades Cavaco elogiava o crescimento do setor dos serviços e, em especial, a banca, na agricultura apontava-se a redução brutal da população ativa como símbolo da sua modernização.
Só que esta redução da população agrícola, que levou á desertificação do interior, não resultou do aumento da produtividade no setor, mas sim a uma aposta no setor dos cereais em prejuízo de quase todos os outros, designadamente, das carnes. Contado com o apoio da poderosa CAP os cereais foram os grandes ganhadores. Por outro lado, compensava-se o abandono das terras com a plantação de eucaliptos. A busca de ajudas para alimentar a máquina de propaganda cavaquista levou os governos de Cavaco a aproveitarem as compensações que a CEE dava a tudo o que era abandono de produções agrícolas e da pesca.
Para ter dinheiro para estradas feitas à pressa, como a IP5, que eram inauguradas antes das eleições, de que hoje Cavaco se gaba de ter sido um campeão, destruíam-se os setores da agricultura e da pesca. Matavam-se dois coelhos com uma cajadada, Cavaco ganhava as eleições e a SOPORCEl transformou-se num império, transformando um pequeno país do Sul num grande exportador de papel.
Hoje Cavaco está tranquilamente a assistir aos incêndios na sua luxuosa e fresquinha vivenda na Quinta da Coelha, certamente orgulhoso da sua obra e a culpar os seus sucessores pelos incêndios que por aí vão queimando os seus queridos eucaliptos. Só é pena que o eucalipto mais resistente ao fogo seja aquele que em tempo ganhou a alcunha de eucalipto da classe política.