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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Sondagem – PS volta a aumentar vantagem sobre o PSD



por estatuadesal
(Por Mariana Lima Cunha, in Expresso Diário, 04/08/2017)
passos_sovado
PSD estancou nos 28%. O PS vai subindo, devagarinho, consolidando o rumo a uma maioria que, somada toda a esquerda, já é mais do que absoluta. PS continua a subir nas intenções de voto, mesmo com a popularidade do Governo e do primeiro-ministro em queda. Barómetro da Eurosondagem para o Expresso e a SIC mostra uma maioria de esquerda reforçada e, sem surpresas, um Presidente imparável.

As intenções de voto no Partido Socialista continuam a subir — mesmo que, depois de semanas em que os casos de Pedrógão e Tancos assombraram o Executivo, tanto o Governo como o próprio António Costa vejam as suas taxas de popularidade a descer. As conclusões são do barómetro de agosto da Eurosondagem para o Expresso e a SIC, numa altura em que o Parlamento está de férias e parte dos políticos também.
Se houvesse eleições legislativas hoje, a maioria de esquerda sairia reforçada: juntos, PS, BE e PCP reúnem 56,8% das intenções de voto, mesmo que os parceiros do Governo registem pequenas descidas (uma variação de uma décima negativa para o Bloco de Esquerda e duas décimas para o PCP).

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Vem aí o menino Jesus



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 01/08/2017)
menino

Parece que Passos Coelho se zangou com o diabo, agora está otimista e não me admiraria de em vez e anunciar a vinda do diabo anunciasse o regresso de Jesus. A sua conversão é tal que já perdeu a esperança em eleições antecipadas, em vez de apostar numa crise no governo sugere que este pode durar até ao fim da legislatura.
Começou por garantir o aumento do desemprego, depois desvalorizou a diminuição da taxa de desemprego, chegou a sugerir que o emprego criado era só de trabalhadores que ganhavam o salário mínimo, agora diz que com ele haveria mais emprego. Isto é, o senhor que se opôs ao aumento do salário mínimo queixa-se agora que alguns novos empregos sejam remunerados com esse salário, o mesmo que garantiu que um aumento do salário mínio resultaria em desemprego diz agora que com ele haveria mais emprego.
É mais uma mudança de estratégia política de Passos, já não questiona a legitimidade de um governo apoiado numa maioria parlamentar que até ao momento teve menos crises do que as que enfrentou o seu governo. Depois de um atuação execrável durante a crise dos incêndios e após um desaparecimento higiénico, Passos regressa com um novo discurso, o primeiro-ministro no exílio morreu queimado nos incêndios de Pedrógão, agora há um novo líder da oposição.
O problema de Passos é que volta a não ter ideias e propostas, vive o drama do passado e em todos os seus discursos limita-se a comparar o presente com o seu governo, o tal governo que se limitou a cumprir um programa discutido entre Sócrates e a Troika. O problema de Passos é precisamente esse governo, fez demasiadas coisas que possam ser esquecidas. Quando desvaloriza o emprego os desempregados não esquecem o corte nos apoios aos desempregados, quando está preocupado com o pagamento de pensões os pensionistas não se esquecem dos cortes que fez à margem das instituições.
O problema de Passos não está apenas no mau cheiro do seu passado, está na sua falta de inteligência, que se evidencia quando inventa suicídios, quando desvaloriza o desemprego ou quando se mostra preocupado com os pensionistas. De pouco lhe serve anunciar a vinda de Jesus, depois de dois anos em que não esconde o desejo de ver o país no inferno.



sábado, 29 de julho de 2017

Segura-me depressa se não eu bato-lhe



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 27/07/2017)
HUGO

Se o leitor ou a leitora tem estado com atenção, estes dias recentes têm demonstrado uma das características mais divertidas do discurso político em Portugal: essa curiosa mistura de presunção e pesporrência, que tem erguido brilhantes carreiras pelo menos desde o Conde de Abranhos. Se para mais tivermos alguém que precise de se afirmar neste campeonato do peito feito, então a receita é certa, vai haver superlativos.
Hugo Soares, novel líder parlamentar do PSD, logo que Montenegro decidiu antecipar a sua preparação para a disputa pela liderança do partido, sagrou-se campeão neste tormentoso caminho, ao anunciar um ultimato mal tomou posse: aqui estou e de voz grossa, ou o governo cede em 24 horas, nem mais uma, ou então cai o Carmo e a Trindade, nem imaginem o que vai acontecer. O atrevimento merece consideração, pois representa toda uma educação, um savoir faire, um treino que vem de longe e uma ambição que aponta para voos altos. Na frase pesada, na pose solene, no queixo aprumado, está toda uma política. Ou se chegam em 24 horas, ou nem sabem o que vai acontecer.

Sinais de Fogo



por estatuadesal
(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 29/07/2017)
fogo
ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

1 Portugal arde sem cessar. Arde visto de terra ou do ar, arde dia e noite, semana após semana, Verão após Verão, ano após ano. Se isto é uma guerra — e eu acho que é — estamos a perdê-la em toda a linha.
Mas Portugal arde também nas televisões, que dia a dia, incessantemente, nos bombardeiam com as imagens dos incêndios, substituindo com elas a falta de notícias da época, enchendo os ecrãs de labaredas de tragédia que potenciam audiências, fazendo dos jornalistas uma espécie de repórteres de guerra, sempre em busca da imagem mais dramática ou do drama humano mais pungente. Sentados no sofá, impotentes e silenciosos, assistimos a isto com a sensação de fatalidade de uma morte lenta e previsível.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Carta do Belzebu ao diabrete de Massamá



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 28/07/2017)
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Querido Diabrete de Massamá,
Eu sei que deves andar zangado aqui com o teu tio Belzebu, prometi aparecer em Setembro de 2016 e atrasei-me quase um ano, mas para te compensar em vez de infernizar o Centeno optei por um incêndio em Pedrógão que fez lembrar o meu jardim. Ainda tive esperança de que entre os mortos, os falsos suicidas e a maluquinha dos cem ainda chegavas a primeiro-ministro, para não falar do roubo da sucata de Tancos.
Mas, ou ando em baixo ou o Costa é bem mais difícil de entalar do que o Sócrates; mas fica descansado, garanto-te que ele juntou-se ao PCP e ao BE, mas não tem nenhum pacto com o diabo, estou tanto ao teu lado como o Cavaco, outro diabrete levado da breca, ainda que já um pouco cansado. Mas quero ajudar-te a ganhar autarquias, não vá o Montenegro escurecer a tua carreira política, para não falar do afilhado do falecido Amorim que ainda não te deve ter perdoado não ter sido ministro e em vez dele teres escolhido o Lambretas para a pasta do Trabalho.
Mas diz-me o que queres, o que achas de uns mortos por pneumonia para te ajudarem a ganhares a Anadia, vê lá se queres mesmos mortos ou almas penadas por contabilizar, talvez as denúncias da maluquinha te ajudem a ganhar ponta Delgada. Mas se em vez de mortos vivos preferes mesmo finados devidamente selados pelo MP, então sempre se pode arranjar uma epidemia de sarampo, e talvez arranjes mortos para ganhares Vila Franca do Campo.
Se fosse o Menino Jesus recebia-te no meu regaço mais a devota da Assunção, mas deixa lá, sendo o Belzebu ainda te dou uns finados no próximo incêndio para ganhares a câmara do Tabuaço. Mas se não queres Tabuaço fica descansado, arranjo-te já uns quantos AVC e ganhas a freguesia das Mercês. Até pode ser que arranje umas vítimas de dores e ajudamos o diabrete que escolheste para Loures.
Conta comigo porque não faltarão mortos para te ajudar nas autárquicas e mesmo para chegares a São bento, morrem velhos e novos, na estrada e em casa, no hospital e no trabalho, novos e velhos, o que não faltarão em Portugal são mortos danadinhos para que voltes ao governo. Os articulistas do Observador, o diretor do Expresso, a maluquinha dos cem, o que não falta são mortinhos por te ver voltar ao poder.
Deixa de ler o Expresso e o Observador, escolhe antes jornais dignos da tua ambição, jornais com oblituário que é lá que estão aqueles que te elegerão, já que os vivos parecem preferir a Geringonça.

Sordid season



por estatuadesal
(João Quadros, in Jornal de Negócios, 28/07/2017)
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Infelizmente, este Verão, uma pessoa tem a televisão ligada e parece que tem uma daquelas lareiras falsas. Impressionante, em termos estatísticos, é ainda não ter ardido nenhuma padaria portuguesa. Mas é triste e medonho ver cavalgar politicamente o número de mortos de Pedrógão.
Esta foi uma semana de política necrófila. Fiquei assustado. Porque uns indivíduos que acusam o Governo de esconder mortos para não perder a popularidade são capazes de tudo, incluindo usar mortos para serem populares.
Do nada, o jornal Expresso fez manchete com os mortos da tragédia de Pedrógão Grande, afirmando que seriam mais do que o que havia sido divulgado. Segundo o Expresso, havia pelo menos uma senhora que foi atropelada, um senhor que morreu passado um mês com tuberculose e um indivíduo no Feijó que saiu à pressa da banheira para ir ver o incêndio de Pedrógão, na CMTV, e escorregou no chão molhado. No Expresso, um colunista falava em 100 mortos e demissão do Governo. Até no jornal Crime diziam - "eh pá, 100, calma, isso é demasiado sensacionalista." O jornal Expresso devia usar aquela calculadora da devolução da taxa extra do IRS para contar os mortos de Pedrógão.
De imediato, Hugo Soares, como um javali numa loja de porcelanas, deu 24 horas ao Governo para divulgar a lista nominal dos mortos. O PSD ameaçava contratar uma espírita para contar os mortos de Pedrógão. Hugo Soares queria estrear-se com uma entrada a pés juntos e só faltou exigir uma lista nominal de mortos, até agora, no Game of Thrones, e dar 24 horas a Paco Bandeira para revelar o número de discos que queimou.
Depois da divulgação da lista, pela PGR, Hugo Soares disse: "Finalmente foi posto um ponto final numa especulação criada pelo Governo." Criada por quem?! Estão a confundir os Costa. Este é o irmão, o do Expresso. Eu tenho uma lista de 64 nomes, que gostava de chamar ao Hugo Soares. A esta hora, está a desgraçada da mulher do Hugo Soares a querer dormir e ele a ler a lista dos mortos - "Ao menos, vai para a sala ver o Walking Dead". "Sozinho, não consigo. Tenho medo. Vou levar o sapo de peluche que o André Ventura me ofereceu."
Esta estratégia de transformar a "silly season" numa "sordid season" começou com os suicidas de Passos e continuou com os mortos escondidos pelo Governo. Toda esta celeuma nasceu de uma lista publicada no facebook por uma empresária que tinha andando a contar campas frescas. O chamado jornalismo de investigação.
A notícia tinha por base a informação de uma empresária fixe que estava a pensar propor um monumento às vítimas de Pedrógão e tinha feito uma lista de pelo menos 73 mortos no facebook, mas afinal havia repetidos. Eu imagino o estado em que está a contabilidade da empresária de Pedrógão. No estado a que isto chegou, estamos com sorte, porque ainda nenhum jornal se lembrou de aproveitar a tragédia e fazer uma colecção da panini com as vítimas de Pedrógão.

TOP-5
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1. Pedrógão Grande: Assunção Cristas não exclui moção de censura ao Governo.Caso não esteja bom na praia.
2. Passos Coelho diz que o PSD precisa "pôr todas as forças no terreno". Vão limpar matas.
3. Marques Mendes "anuncia" descida da taxa de desemprego em maio para 9,4%. Só ele tem 20 empregos.
4. Vaticano fechou as fontes devido à seca prolongada em Itália. É rezar para que chova. É o sítio indicado.
5.  A "empresária" que "conta mortos" é a dona da Dialectus, empresa que ficou a dever mais de 250 mil euros a trabalhadores. O melhor é ela fazer um memorial a quem ficou sem a massa.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Passos, o Coelho, prometeu ou previu a chegada do Diabo para abater o governo atual



por estatuadesal
(Dieter Dillinger, in Facebook, 25/07/2017)
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Todos pensámos que se referia a uma nova crise financeira, um resgate, um aumento do desemprego, uma queda do PIB. Mas, nada disso, o Diabo veio através de uma caixa de fósforos. Talvez, por isso, admito que o incêndio de Pedrógão Grande surgiu a pedido de um mandatário do Diabo (Passos, o Coelho) para incendiar a Pátria de todos os portugueses que ele julgava ser só dele e que lha roubaram na Assembleia da República.
Nunca o clima esteve tão bom para o diabo aparecer com as vestes do inferno dos pecadores, o fogo, e o pecador para o Coelho é, naturalmente, António Costa que se atreveu a governar e a iniciar um processo de recuperação da economia nacional e dos rendimentos dos portugueses.
A Joana Marques Vidal agarrou-se logo a esse diabo e fez aquilo que nunca tinha feito, nem com os mortos da legionela, colocou-o em segredo de justiça e alimenta assim a polémica nefasta para quem não tem culpa nenhuma.
Sim, desde que eu era criança, há muitas décadas atrás, vi pessoalmente fogos e um até junto a uma casa de campo/praia da família.
A Joana com o seu "segredo de justiça" permite que os pasquins digam que morreu muita gente mais, como se o número divulgado não fosse já se si dramático. Um só morto seria demais quanto mais os sessenta e tal.
Cristas quer mais mortos, revelando ser mulher de nenhuma cabeça. Joana Marques Vidal fecha-se em copas e não deixa divulgar os nomes dos mortos como se as vítimas que todos lamentamos tivessem alguma culpa no cartório.
Mesmo que, por acaso, um incendiário tivesse sido apanhado pelas chamas que ateou não vale a pena não divulgar o seu nome porque os procuradores da Joana e a PJ provavelmente nunca chegarão a saber quem foi.
Claro que a ministra mostra-se pouco enérgica perante a Joana Marques Vidal.
O combate aos incêndios é tarefa do Governo e o pagamento de indemnizações que passa pela identificação dos pobres falecidos, tal como o apoio psicológico aos familiares.
Nada disso é da conta da Joana, mas sim da Constança Urbano de Sousa. Não acredito que haja algo que permita à Joana Marques Vidal intrometer-se de tal maneira naquilo que é o trabalho de gestão do Governo.
Compete à Joana encontrar quem acendeu aquilo, mas é óbvio que os mortos não devem ter sido. Ela sabe que só pode ter sido gente da oposição e, por isso, mantém um segredo de justiça que não tem explicação.
De resto, Joana é a pior magistrada de sempre que a democracia teve, não só no sentido do direito como também no caráter da pessoa. Pior que ela, talvez o pai que condenava gente com as falsas provas apresentadas pela pide.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

O perdão imaginário



por estatuadesal
(João Galamba, in Expresso Diário, 24/07/2017)
galamba

Quando não se tem argumentos, inventa-se. A mais recente invenção é a de um alegado perdão à banca, que a UTAO estimou ter causado um rombo aos contribuintes no valor de 633 milhões, resultante da reestruturação do empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução (FdR).
É verdade que a UTAO calculou o valor atualizado líquido (VAL) do empréstimo do Estado ao FdR. E também é verdade que, no cenário central, a UTAO estima que o novo empréstimo tem um VAL negativo de 633 milhões. Acontece que isto não constitui nenhum perdão aos bancos, nem é um rombo no défice, por queda da receita, no valor de 633 milhões de euros.

Os necrófagos



por estatuadesal
(Por Estátua de Sal, 24/07/2017)
necrófagos

A direita alimenta-se de cadáveres. É necrófaga. Alimenta-se de fogo, é pirófaga. Alimenta-se de sangue, tem laivos de vampiro. Andam ululantes à procura de mais mortos na tragédia do Pedrogão. Uivam pedindo que mais fogos e desgraças se abatam sobre o país. Esta gente é um bando de canalhas à solta. São capazes de vender a mãe em troca de mais faíscas, de mais raios e mais coriscos.
O seu bando de jornaleiros das televisões querem mais cadáveres. Se calhar para os mostrar em directo, como fez a outra, a Judite, desvendando perante os olhos do público a sua falta de humanidade e de decoro, a sua abjecção ambulante.
As Cristas, os Passos, os Montenegros, os Hugos, todos eles cavalgam a onda. O Balsemão, que já viu qual vai ser o destino do seu grupo de comunicação social depois de ver o que se está a passar com a TVI, também quer mais mortos e transformou a pouca decência que ainda restava ao Expresso no grau zero do jornalismo, na edição do último fim de semana. Todos querem mais mortos e mais sangue.
Mais que a miséria económica que os anos da troika nos trouxeram, essa nefasta gestão do país que a direita produziu, trouxe-nos a miséria moral. E se a miséria económica está a ser revertida por este governo, conduzindo o país a taxas de crescimento económico que nunca ocorreram neste século, a miséria moral dessa gentalha, essa, não há crescimento que a reverta.

É preciso queimar os jornalistas?



por estatuadesal
(António Guerreiro, in Público, 21/07/2017)
Guerreiro

Numa das suas edições da semana passada, o jornal francês Libération ocupou a primeira página com uma questão provocatória, colocada a propósito de um debate sobre o jornalismo que decorreu na cidade de Autun: Faut-il brûler les journalistes?, “é necessário queimar os jornalistas?”. E fazia um diagnóstico da situação, enumerando algumas razões fundamentais que levaram ao descrédito em que caiu uma profissão outrora respeitada, bem patente numa série de neologismos insultuosos que os franceses inventaram para nomear os jornalistas: merdias, journalops, presstiputes. E as figuras mediáticas que estão sempre na televisão, em debates e como comentadores, são chamados panélistes (porque integram “painéis”). Este ambiente onde se cultiva a suspeita e o desprezo pelo jornalismo e pelo sistema mediático, muito especialmente pela numerosa oligarquia que tem a seu cargo o comentário político e o editorialismo, está instalado em Portugal. A diferença em relação à França é que por cá os jornalistas não ousam colocar a questão publicamente e assimilaram com força de lei este mandamento: “Não farás auto-crítica: o jornalismo é ofício de auto-celebração”. É hoje bem visível que a insurreição contra o poder jornalístico, a que o Libération se referia, está bem activa em Portugal e não consiste apenas numa atitude arrogante das elites intelectuais. Mas a situação portuguesa tem as suas especificidade: sobre a ausência ou a rarefacção de alguns géneros jornalísticos tradicionais, ergueu-se a opinião e o comentário políticos, uma multidão de gente que transita da esfera política para o jornalismo e vice-versa, e começa o dia no jornal, passa à tarde pela rádio e está à noite na televisão. Este sistema conduz ao discurso histérico e à ausência de diversidade intelectual, muitas vezes confundido com a falta de pluralismo político, mas mais grave do que este porque está muito mais naturalizado e dissimulado. E é, além disso, responsável por uma esterilização da esfera pública mediática.

domingo, 23 de julho de 2017

Porquê? Porque ele adora



por estatuadesal
(Por Penélope, in Blog AspirinaB, 20/07/2017)
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Viva o Populismo - In Blog 77 Colinas

Passos testa em Loures as hipóteses de um Geert Wilders português.
Em 2011, Passos apresentou-se a eleições com um discurso por muitos considerado novo e fresco: ia acabar com a preguiça, com a dependência do Estado, com a intromissão do Estado na Economia, com as gorduras do Estado, com a ditadura do ensino público e da saúde pública e demais “frescuras” que, a par com mentiras descaradas como a não necessidade de cortar salários nem pensões face a um pedido de resgate por ele desejado, apesar da situação financeira nacional bem conhecida, convenceu demasiados incautos a votarem nele. Acresceu a esta estratégia o desgaste do adversário através da campanha ad hominem mais agressiva de que há memória, aqui com a ajuda dos amigos do CDS e da Justiça. Pois bem, ganhou. Manteve depois, no governo, a linguagem acusatória da preguiça (esquecendo e fazendo demasiada gente esquecer que ele próprio é um exemplo de chupismo que o deveria manter tímido, no mínimo, no desafio aos portugueses para que se desenvencilhassem, trabalhando mais, de preferência indo embora). Enfim. Quanto ao Estado na economia, viram-se e veem-se cada vez mais os extraordinários benefícios para os clientes das vendas que fez das maiores empresas e o parco contributo dessas vendas para a resolução dos problemas financeiros do país. As gorduras foram afinal um colossal aumento de impostos. Além disso, por alegadamente não querer saber dos bancos (sendo ele o Estado), nem dos privados nem do público, passou várias pesadas facturas aos portugueses cujo interesse dizia defender.

Semanada



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 23/07/2017)
sardinha

A semana termina da melhor forma para Passos Coelho, depois de não se terem concretizado os aparentemente desejados suicídios em massa de Pedrógão Grande, eis que é encontrada mais uma vítima, ainda que apenas estatística. Pela forma como o PSD reagiu até se fica com a impressão de que se procuram o maior número possível de vítimas, como se a vida dos portugueses que faleceram fosse convertível em votos em Passos Coelho. O líder do PSD chegou a anunciar a vinda do diabo, afinal foram os cavaleiros do apocalipse que apareceram sob a forma de dirigentes do PSD. Como é costume a Catarina Martins também não resistiu a servir-nos com as suas postinhas de pescada.
Compreende-se o desespero da direita, há que aderir ao luto das vítimas dos incêndios para que os portugueses não discutam temas que a incomodam, como os bons resultados económicos ou as várias investigações por suspeitas de corrupção que envolvem figuras autárquicas do PSD.
Os portugueses podem ir mais uma vez para suas férias descansados, não voltarão a ter de ouvir as comunicações dramáticas de Cavaco, nem correm o risco de se cruzar com o seu jipe a abarrotar de processos, não serão surpreendidos com a resolução de mais um banco enquanto o primeiro-ministro anda com os burrinhos na areia, os funcionários públicos e os pensionistas voltam a ter o subsídio de férias.
A normalidade tem o seu preço e se não fosse o oportunismo dos andam em busca de vítimas esta semana quase não teria nada para encher jornais e televisões, a única notícia foi a escassez de sardinha na nossa costa, com os cientistas a alertar para a necessidade de suspender a sua captura. Mas o país pode estar descansado porque só comerá sardinha fresca, Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, assegurou que há sardinha quanto baste, nem que seja a comprada em Vigo ou em Isla Cristina e depois é vendida como sendo de Matosinhos ou de Olhão.

sábado, 22 de julho de 2017

Um virtuoso do racismo



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 22/07/2017)
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A propósito das declarações homofóbicas de Gentil Martins, médico, ou das declarações xenófobas de André Ventura, dirigente e candidato do PSD em Loures, houve quem ensaiasse uma fuga indiscreta com um protesto contra o “politicamente correcto”, uma espécie de censura que intimidaria a liberdade de expressão dos coitadinhos. Aceitar essa discussão admitiria que se trate de um simples problema de linguagem, quando é uma questão de atitude social e de discriminação que fere porque pretende ferir. Lastimo esse nevoeiro, tanto mais que se conhece bem como os termos mobilizam os significados: se hoje ninguém usa a sério uma expressão do tipo “fazer judiarias”, é simplesmente porque sabemos o que foi a perseguição a judeus ao longo de séculos e que culminou nos tempos da nossa perigosa civilização.
A linguagem deste caso só é interessante porque o dirigente do PSD, tendo provocado uma tempestade política, veio reafirmar a sua posição, amparado pelo apoio de Passos Coelho e da chefatura laranja. Ou seja, fez questão de manter as suas palavras e de as realçar com mais boçalidades (desejar que o primeiro-ministro vá de férias para sempre, o que é que isso quer dizer?). Ele, doutorado em Direito e professor universitário, quer fazer-se notar por ser boçal. É o estilo que faz a sua candidatura, é aí que joga o seu destino. Ele quer ser conhecido no país pelo modo Trump.
A sua defesa pelo PSD é um risco político. O CDS, que agradece esta possibilidade de se apresentar mais o centro, foge da aliança. Mas até se poderia explicar que, na dúvida, os partidos tendem a defender-se: o autarca socialista de Loures, antes da eleição de Bernardino Soares do PCP, já tinha dado alguns passos no mesmo caminho, e o presidente de junta de Cabeço Gordo, do PCP, impediu o funeral de um cigano na sua terra usando qualquer pretexto (e foi defendido pelo partido).
No entanto, o caso de Ventura é de outra dimensão. Fazer-se amado pela extrema-direita (“é um dos nossos”, diz com orgulho o PNR) é um sinal político, aliás prejudicial do ponto de vista eleitoral, mas acho que há muito mais nesta história.
Ventura é um produto de outra escola: do partido, certamente, admito que até dessas juventudes onde se aprende a matreirice e o carreirismo, mas o que determina a sua pose é a televisão e o comentário desportivo onde iniciou a sua carreira pública. É na pesporrência, na ligeireza, no fanatismo que determina os lugares da normalidade no comentário desportivo (há excepções), que Ventura aprendeu a lançar achas para a fogueira.
Como os dirigentes dos clubes, Ventura percebeu que, para ser notícia, é preciso saber ser detestável. O facínora é quem vence na comunicação clubística. E o futebol é um bom caminho para a política (esta semana abri a televisão e vi um debate entre apoiantes dos três maiores clubes, dois deles eram dirigentes do CDS, que sabem por onde vai a sua carreira).
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Que a grande maioria dos ciganos trabalhe e não depende de prestações sociais (vd. o gráfico), que importa isso para Ventura? Ele já se colocou no mapa nacional, graças à sua exibição xenófoba. Sairá depressa, é certo, a sua derrota nas eleições em Loures é inexorável, mas ele pensa em outros voos. Para isso, só precisa de ficar agarrado a um clube de futebol numa televisão perto de si e ir proferindo uns dislates ofensivos, para que alguém vá reagindo e se fale dele.

A Altice não é flor que se cheire



por estatuadesal
(Nicolau Santos, in Expresso, 22/07/2017)
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A preocupação do primeiro-ministro e dos partidos de esquerda com o destino da PT vem tarde. Com efeito, a Altice comprou a PT Portugal por €5,7 mil milhões aos brasileiros da Oi em 2015. Foi um negócio entre empresas estrangeiras. Sim, a operação teve a bênção do Governo de então, mas o Estado português não pode vir agora colocá-la em causa. E quando a Altice avança para a compra da TVI, detida pela Prisa, é de um negócio entre duas empresas europeias que se trata.
A preocupação com a PT vem tarde. A compra foi em 2015. E o nome vai mudar para Altice. A PT, como a conhecemos, já não existe
Dito isto, há ou não razões de preocupação? Há e são muitas. Desde logo pelo perfil do fundador e presidente da Altice, Patrick Drahi, que tem nacionalidade israelita, francesa e portuguesa. Quando comprou a Cabovisão em 2015, a sua primeira aquisição em Portugal, disse: “Não gosto de pagar salários. Pago o menos possível.”
E um excelente trabalho publicado esta semana na revista “Visão” diz que ele “trata as pessoas com desprezo desde o primeiro dia”. Poderiam ser só palavras do próprio ou de quem não gosta dele. Mas não são. Na Cabovisão, na ONI e depois na PT, as empresas que já comprou em Portugal, a Altice tem-se comportado como um típico raider financeiro: lança de imediato um ultimato aos fornecedores, impondo-lhes uma descida drástica no preço dos serviços que fornecem (no caso da PT, o corte foi de 30%); e faz despedimentos coletivos ou cria situações de enorme desconforto aos trabalhadores (retirada de benefícios sociais e de fringe benefits, cortes de parte dos salários, eliminação de postos de chefia, colocação noutras empresas do grupo ou associadas) que levam muitos deles a demitir-se. A estratégia tem um único objetivo: obter rapidamente cash pelo corte dos custos para fazer face à montanha de endividamento do grupo, que ascende a €82,1 mil milhões (!). É que Drahi faz aquisições atrás de aquisições, mas com base no dinheiro dos bancos (a quem deve perto de €50 mil milhões), uma corrida que tem tanto de embriagadora como de perigosa. Drahi discorda, claro: “Se parar com o meu desenvolvimento ‘bulímico’, por assim dizer, dentro de cinco anos não terei dívidas. E depois? Isso seria idiota porque durante cinco anos não teria registado crescimento”, disse na Assembleia Nacional francesa.
O que Drahi pretende é desenvolver um grupo multinacional de telecomunicações e media, para combater gigantes como a Google, Facebook, Amazon, WhatsApp e Yahoo, que utilizam sem pagar os suportes digitais construídos e pagos pelas telecoms e os conteúdos produzidos pelos media. Só que esta estratégia de integração já foi tentada e correu mal em todo o mundo. Com Drahi vai correr bem? Logo veremos. Mas quando se começa a pagar mais pelo que se compra do que aquilo que vale (caso da TVI), isso é sinal senão de desespero, pelo menos de fuga para a frente, que costuma acabar sempre mal.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

O PSD e a questão cigana



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 21/07/2017)
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Em Portugal não há extrema-direita, as dezenas de milhares de pessoas que sustentavam o antigo regime converteram-se num ápice em social-democratas  liderados por aqueles que eram a ala liberal de um partido fascista e chegaram ao desplante de pedir a adesão à Internacional socialista. Em Portugal todos adoramos os ciganos, os indianos, os chineses e os africanos, pensamos maravilhas de todos eles. Já nem vale a pena entrar noutros domínios das desigualdades.
No caso da Le Pen de Loures o problema poderia ter sido sanado rapidamente, o candidato pedia desculpa e o presidente do partido demarcava-se claramente do candidato. O Ventura ainda ensaiou um esclarecimento, mas quando percebeu que Passos o apoiava e que o seu populismo criava um ambiente aparentemente favorável à sua candidatura, rapidamente retrocedeu e insistiu no seu discurso como se em Portugal existisse uma questão judaica. Toda uma etnia que vivia de forma parasitária e que se comportava à margem da lei.
Ventura tem um mérito, pela primeira vez um político da extrema-direita assume claramente ao que vem e quais são as suas ideias, desencadeando, como disse o próprio, um movimento de apoio local e nacional em torno da sua candidatura. Não tenho dúvidas de que Ventura fala verdade quando diz que sente um grande apoio. Se defendesse que os gays deviam ser capados ou que Portugal devia exigir às ex-colónias que indemnizassem todos os que perderam as suas propriedades coloniais teria ainda mais apoio; afinal num programa de televisão que escolhia o maior português de sempre o eleito foi Salazar.
Dantes os ciganos eram proibidos de pernoitar em muitos concelhos do país, agora são detestados por receberem os apoios sociais que mais de um milhão de portugueses recebem, dantes eram ladrões, agora são gatunos malcheiroso. O mesmo partido que na minha junta de freguesia dá apoios financeiros extras para ganhar os votos de uma importante comunidade cigana com peso para inclinar a balança eleitoral, assume onde lhe convém um discurso que pressupõe que tem uma agenda condicionada por aquilo que parece ser uma questão cigana.
Passos protegeu o seu candidato de Loures; se as sondagens naquele concelho favorecerem esta opção, não me admiraria que escolhesse Loures para encerrar a campanha eleitoral e elegesse a questão cigana como a bandeira autárquica de um partido que entrou em decadência moral. Depois de se ter aproveitado dos que morreram em Pedrógão Grande e da forma oportunista como abordou o assalto a Tancos é de esperar tudo de um politico desesperado e sem escrúpulos na hora de conseguir votos.

Imprensa e os “Truques”: um poder de pés de barro, em crise e acossado


(Daniel Oliveira in Expresso Diário, 21/07/2017)
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Caro Daniel Oliveira
O teu texto aponta sintomas mas não vai ás causas do mal. Quanto maior for a concentração da riqueza nas mãos de uma minoria a nível global, fenómeno que é cada mais intenso, menos lugar haverá para a existência de instâncias independentes, sejam partidos ou outras formas de representação política, sejam meios de comunicação social. A razão é simples: numa economia de mercado só há concorrência quando o número de compradores e de vendedores for suficientemente grande (atomicidade) para que nenhum deles possa determinar o funcionamento do mercado, nomeadamente dos preços. Se concentramos o poder de compra, logo de financiamento, nas mãos de uma minoria, qualquer instância de mediação fica subordinada a essa minoria. Só há orgãos de comunicação social com alguma independência quando a sua sustentação depende de um conjunto de leitores tão diverso e alargado que nenhum grupo lhes poderá determinar a orientação, já que têm que atender a um conjunto amplo e multifacetado de destinatários. Com o incremento da desigualdade na repartição do rendimento, o público leitor capaz de ser o sustentáculo dos meios de comunicação social é cada vez menor, para já não falar das mutações tecnológicas.
Mas há uma questão que ignoras e que também justifica a reacção exarcebada da comunicação social contra as redes sociais e contra a internet. Durante décadas a comunicação social foi usada de forma oculta para manipular a opinião pública, e nem sempre de forma ingénua (vide a grande mentira sobre a guerra do Iraque e as armas químicas do Sadam).
Ou seja, a comunicação social "respeitável", tinha o monopólio das "fake news", e também elas faziam parte do seu "core business". Neste momento perdeu esse monopólio. E quando se passa de monopólio para um mercado de concorrência, o trauma é sempre enorme.
Estátua de Sal, 21/07/2017

O humor de Marcelo e a saudação a Cavaco Silva



por estatuadesal
(Por Carlos Esperança, in Facebook, 20/07/2017)
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Marcelo tem um humor refinado e desconcertante. Nem sempre a sua pontaria é tão certeira como a que dispara ósculos para anelões episcopais, com particular acuidade para o do papa, onde, à precisão, acrescenta abundante secreção de saliva pia, em pleno alvo.
A atribuição do mais alto grau da Ordem da Liberdade a Cavaco Silva foi o mais alto e refinado momento de humor. Parecia o Pedro dos Leitões a condecorar um vegetariano, e houve quem não lhe apreciasse o humor… negro!
Não se pode negar a quem tem manifestado notável sentido de Estado, e a quem o País deve parte do ambiente descontraído que o ressentido antecessor perturbou até ao último dia, que continue a brindar-nos com inofensivos rasgos de sofisticado humor.
Ao saudar Cavaco Silva "de forma muito especial e calorosa", pelo 30.º aniversário da primeira maioria absoluta monopartidária da democracia portuguesa, conquistada pelo PSD a 19 e julho de 1987, humilha Passos Coelho e sabe que o País não corre o risco de voltar a ver Cavaco nem como vogal de uma Junta de Freguesia.
Com este ato de humor, Marcelo há de ter-se divertido, por ter sido ele próprio o criador de Cavaco, na Figueira da Foz, e sabe que a sua popularidade se deve também à comparação com o inculto e rancoroso antecessor.
E foi o único a lembrar-se do defunto político!

A comparação desleal entre Marcelo e governo


por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 20/07/2017)
daniel2
Como diria Herman José, as dinâmicas mediáticas são como os interruptores: umas vezes para cima outras vezes para baixo. E se há um mês e meio o Super Mário fazia as maravilhas dos jornalistas, que se ririam de quem não vaticinasse todos os sucessos para este governo, agora não há nada que não confirme a dinâmica do desastre. Até outra coisa voltar fazer mudar o tom. Sendo certo, isso nem António Costa ignora, que Pedrógão deixará marca permanente, mesmo que ela não seja eleitoral, é sempre bom relativizar este mundo muito próprio em que vivem jornalistas, comentadores e políticos. As sondagens conhecidas recordam isso mesmo.
A última novidade é o facto do Presidente da República ter respondido a uma carta de uma sobrevivente de Pedrógão, que justamente se queixava de várias falhas do Estado, e o governo não o ter feito. Na SIC, Clara de Sousa até perguntou a Pedro Marques se o executivo não se sentia “humilhado”. A partir disto construiu-se uma nova narrativa, diferente daquela que punha o Presidente a reboque do governo, sempre pronto para aparar os seus golpes: num mar de incompetência que assola, como nunca antes aconteceu, o Estado, há um Presidente absolutamente excecional. Uma ilha de competência e sensibilidade.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Seguranças privados a defender quartéis: a “contenção” que privatiza o Estado



por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 19/07/2017)
Autor
  Daniel Oliveira

A polémica em torno de Tancos trouxe para a imprensa uma informação que, apesar de ser pública há bastantes anos, nunca mereceu qualquer debate político: as Forças Armadas contratam empresas privadas para garantir a segurança de instalações militares tão sensíveis como o quartel-general da força naval da NATO. Para além do absurdo de termos as Forças Armadas a contratar empresas para fazer aquilo que é supostamente a sua especialidade, este facto levanta evidentes problemas à segurança nacional e até à soberania do Estado. Se andarmos por muitos serviços públicos reparamos, aliás, que temos estas empresas de segurança a cumprirem cada vez mais funções, incluindo atendimento ao público. Mas saber que também cumprem funções militares deveria ser um sinal de alerta para começar um verdadeiro debate nacional.
Segundo a Associação Nacional de Sargentos, há uma relação direta e temporal entre a contratação de empresas de segurança privada e as políticas de “contenção de despesa” que têm sido aplicadas no Estado. Trata-se de uma privatização encapotada de funções de soberania. Sempre que falamos de privatizações dos serviços públicos imaginamos um processo formal, como foi a privatização dos aeroportos, do monopólio da distribuição de eletricidade (REN) ou dos Correios. Mas há uma privatização lenta e invisível conseguida por via das regras orçamentais que levam a formas menos pesadas (e com menos garantias) de contratação de serviços ou a Parcerias Público-Privado que entregam a privados o esforço do investimento.
Como se vê pela contratação de empresas para garantir a segurança de instalações militares por falta de recursos próprios das Forças Armadas, a privatização de todas as funções do Estado está inscrita no DNA das chamadas "reformas estruturais" e da "contenção orçamental"
Esta privatização invisível das funções do Estado não tem nem terá limites e levará, na prática, ao fim de um Estado autónomo dos negócios privados. Da Segurança Social (vejam "I, Daniel Blake") à educação (foi esse o debate em torno dos colégios com contratos de associação), da saúde às prisões (existem nos EUA). Até acabarmos por, de uma vez por todas, privatizar a democracia.
Muitos preferem discutir este caminho concentrando o debate na corrupção. É o mais fácil. Sendo um assunto relevante, a corrupção é uma consequência: a tomada do Estado pelo poder económico não podia, pela sua natureza, deixar de promover a compra dos decisores políticos. Mas, como se vê pela contratação de empresas privadas para garantir a segurança de instalações militares por falta de recursos próprios das Forças Armadas, esta privatização não resulta apenas de decisões circunstanciais erradas. Ela está inscrita no DNA das chamadas "reformas estruturais" e da "contenção orçamental".
Seguranças privados a guardar quartéis é apenas o inicio deste novo mundo em que todas as funções do Estado serão entregues a empresas. Não é preciso que ninguém o decida. Basta tirar ao Estado todos os instrumentos para garantir o seu funcionamento. O saque vem depois.

terça-feira, 18 de julho de 2017

As desventuras do Ventura


por estatuadesal
(Por Estátua de Sal, 18/07/2017)
ventura

Passos Coelho não acerta uma. Com alguma pompa e circunstância escolheu como cabeça da lista de candidatos à câmara de Loures para as próximas eleições autárquicas, um tal Ventura, de seu nome André, acreditando que o ungido seria uma mais-valia eleitoral de peso.
Sendo o Ventura comentador residente da CMTV, onde discorre lesto sobre bola, política e justiça, e fazendo parte da seita dos especialistas em Sócrates no caso Marquês; sendo o Ventura um jurista poliglota, de pena fácil, tão fácil que até consegue escrever livros em parceria com essa sumidade da CMTV que é a taróloga Maya (Ver aqui), Passos deve ter achado que o reinado do camarada Bernardino em Loures estaria próximo do fim.
Ora, o Ventura, não desiludiu e começou a campanha em grande força e estilo. Veio dizer, alto e bom som, que não gosta de ciganos. Que as comunidades ciganas são um problema para os municípios, mormente para Loures, e que os ciganos vivem essencialmente à custa do Estado. Foi sucesso imediato. O Ventura, que só era conhecido no grupo dos fiéis da CMTV passou a ser conhecido do país, ainda que o seja pelos piores motivos. É a escola do Correio da Manhã a funcionar: todos os motivos são bons, mesmo os mais torpes, desde que vendam ou façam vender.
Ficámos a saber que, o PSD de Passos Coelho, agora também patrocina candidatos racistas e xenófobos. A sociedade portuguesa, onde o único partido de extrema-direita, o PNR, não tem qualquer expressão, ficou agora a saber que o principal partido da oposição também perfilha os valores da extrema-direita.
Passos Coelho conseguiu ultrapassar Assunção Cristas pela direita, pois o CDS já retirou o seu apoio ao personagem (Ver aqui).
É esta a gente de Passos e na qual ele vê mais-valias. Diz então o Ventura que os ciganos vivem essencialmente à custa do Estado, e apresenta isso como algo censurável e que convém discutir.
Pois é, ó Ventura, se forem os ciganos a viver à custa do Estado é mau. Mas se forem os bancos e os banqueiros a viver à custa do Estado e dos contribuintes já é bom, não é? E se forem as sociedades de advogados que vivem à custa da consultoria e pareceres que dão ao Estado também já é bom, não é? E se for a EDP a viver das rendas excessivas à custa do Estado, também já é bom, não é? E se forem as empresas que têm PPP's com o Estado e que vivem à custa dele também já é bom, não é?
Para o Ventura, para Passos Coelho e para outra canalha do mesma estirpe, o Estado deve deixar de apoiar os ciganos e todos os que vivem à custa do Estado, como os velhos, os pensionistas, os desempregados, os deficientes, as crianças e os doentes.
Mas vê lá se és coerente, ó Ventura, também vives à custa do Estado. Se o dono do Correio da Manhã pagasse o que deve ao Estado (Ver aqui) se calhar não teria dinheiro para te pagar a ti pela verborreia que debitas na CMTV.